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O jovem Tenente sempre sentiu alguma aversão aos Orcs, mas vendo como essas criaturas repetidamente disseminavam tal crueldade, sem motivos, não conseguiu evitar encher seu coração de um profundo ódio em relação a elas. Estava claro que os corpos pendurados nas correntes da muralha, haviam sido mortos apenas por diversão.

Apesar do choque e do rancor que todos estavam sentindo, as tropas continuaram seguindo em frente, invadindo as ruas da cidade, em busca de inimigos.

Depois de cerca de duas horas, o exército de Wayne já havia dominado completamente Garância. Com exceção de alguns poucos Orcs solitários, que provavelmente haviam sido abandonados devido à velhice ou ferimentos, não encontraram mais inimigos, provando que a maioria havia evacuado pelo portão Sul.

No centro da cidade, no que antes era o Salão da Recepção, mas agora parecia mais um cemitério, cheio de sangue e restos mortais, os cinco Generais se reuniram. Zado caminhou com calma, pisando no sangue seco sem se importar, os outros não eram diferentes.

Como Generais, todos ali já tinham tido sua cota de cenas violentas como essa, então não estavam surpresos ou enojados com toda aquela visão.

“O que acham, será que ele continua lá?” Herin perguntou, olhando para o céu pela janela, referindo-se ao Campeão Élfico. Há algum tempo a fraca chuva havia cessado e as nuvens escuras sumiram.

“Quem sabe? Nunca consegui senti-lo para começar, agora não é diferente.” Zado comentou.

“O Arandur não é uma ameaça no momento. Nossa maior preocupação são os Orcs, se eles retornarem vai ser problemático. Então primeiro vamos consertar os portões e levantar a Matriz Defensiva.” Wayne declarou. “Após isso cuidaremos de todos os problemas pendentes.”

Ouvindo isso, Dimitri, Ramon, Herin e Zado acenaram com a cabeça concordando. A prioridade era garantir as defesas da cidade. Entretanto, de repente, Wayne lembrou de algo. As palavras de Calima antes de partir o deixaram pensativo. 

“Quanto aos corpos… devemos queimar todos, tanto aliados quanto inimigos.”

Era apenas uma sugestão que o Alto Elfo havia dado, mas como não havia motivos para recusá-la, o General decidiu segui-la.

Era de conhecimento comum que locais de guerra e onde havia muitos corpos atraíam Criaturas das Trevas. Logo, não era incomum queimar os mortos quando não havia possibilidade de enterrá-los, mas isso só era feito em alguns casos, já que a maioria ainda era tradicionalista sobre fazer enterros.

Menos de uma hora depois da reunião dos Generais, a Matriz Defensiva de Garância havia sido consertada e abastecida, criando uma penumbra defensiva em torno da cidade. Só após isso é que as tropas sentiram-se aliviadas e menos apreensivas.

Nas horas seguintes, antes da noite chegar, os Soldados já haviam recolhido a maioria dos Cristais de Dobats, bem como reunido os corpos dos aliados caídos e das vítimas de Garância, levando-os para fora das muralhas e criando enormes pilhas de fogo. Era um trabalho exaustivo e, ao mesmo tempo, psicologicamente difícil, principalmente após uma batalha como a que haviam enfrentado, mas não tinham escolha.

Além disso, os Magos que sabiam Magia de Água foram usados ao limite para a limpeza da cidade. Alguns Soldados estavam com as mãos vermelhas, enquanto esfregavam as paredes de uma casa, que estavam com enormes manchas de sangue,

Devido ao sangue e aos corpos, um cheiro forte e pútrido inundava toda a Garância, além de vários insetos estarem por todos os lados. No estado em que a cidade estava, com poucas casas e prédios limpos, seria difícil para as tropas descansarem, então encontrar um bom abrigo havia se tornado uma das prioridades para os vários líderes.

Em um dos prédios ao Sul, Fernando estava observando as condições em que o local se encontrava. Devido às suas contribuições e também pelo fato do Batalhão Zero ter tido um papel crucial na Quinta Divisão, Dimitri havia usado sua influência para garantir a ele e seu batalhão a sede de uma das antigas Guildas de Garância.

Assim como o restante da população da cidade, as Guildas que não fugiram antes do cerco foram completamente erradicadas.

“E-eu não aguento mais isso…” Uma Soldado reclamou, enojada, enquanto esfregava o sangue nas paredes.

“Estamos quase acabando!” Outro respondeu, incentivando-a.

Mesmo após retirarem os restos mortais ali, o cheiro ainda era forte e o sangue seco parecia ter se infiltrado no chão e nas paredes, causando náuseas em todos.

Aparentemente os remanescentes dessa guilda haviam se refugiado no edifício, usando-o como forte após os Orcs invadirem a cidade. Então uma grande batalha havia acontecido lá dentro.

Felizmente, a luta havia acontecido principalmente no hall principal, na entrada e no pátio externo, então a maioria dos quartos permaneceram intactos.

Todos os membros do Batalhão Zero estavam tensos, muitos pareciam até sobrecarregados, ao terem que lidar com as vítimas dos Orcs durante todo o dia. Toda a alegria da vitória havia sido completamente diluída, fazendo com que muitos até se questionassem se deveriam continuar no exército. Se permanecessem, teriam que lidar com mais cenas como a que haviam visto durante todo dia.

Em especial, os antigos membros da Guilda Valorosos, como Trayan e Lenny, ficaram abalados, sabendo que esse poderia ter sido o destino deles, caso Belai tivesse caído.

No centro do salão, Fernando notou o clima pesado no ambiente, mesmo Emily, Lance e muitos outros que comumente eram animados e faziam piada com tudo, estavam desanimados.

O jovem Tenente suspirou, sabendo que não havia o que ser feito. Mesmo ele, que acreditava estar acostumado ao derramamento de sangue, estava levemente em choque com tudo aquilo.

“Tenente, o Sargento Damon retornou!” Um Soldado informou. Ao ouvir isso, Fernando assentiu, indo em seu encontro.

Devido ao enorme número de mortos do lado de fora da cidade, o General Comandante, Wayne, havia declarado que após a remoção dos Cristais e as partes mais valiosas dos Orcs, seus corpos deveriam ser queimados.

Entretanto, Damon havia insistido com Fernando que algo assim seria um desperdício, então levou a Unidade de Logística para reunir mais materiais. Cada parte do corpo de um Orc era valiosa no mercado, desde seus ossos, tendões, órgãos e até mesmo sangue, tudo poderia ser aproveitado.

“Tenente, reunimos tudo que foi possível, devemos ter os restos de pelo menos 500 Dobats, incluindo Orcs Líderes e Líderes Inferiores.” Damon relatou. “Infelizmente já está escurecendo e as tropas do General Comandante insistiram em queimar tudo que não pudéssemos levar…”

Ouvindo isso, Fernando suspirou, achando que era uma pena que não pudessem ter obtido mais saques. Eles já estavam com várias Pulseiras de Armazenamento cheias, então não havia muito o que pudessem fazer.

“Tudo bem, fizemos o possível. Vocês todos trabalharam bem hoje.” O jovem Tenente elogiou. Além dos saques, o velho homem e o restante da Unidade de Logística também haviam ocultado alguns Cristais recolhidos.

Normalmente seria necessário relatar isso aos superiores, pois os espólios deveriam ser enviados à Legião para que as recompensas fossem distribuídas. Mas como eram apenas cerca de 200 cristais, o jovem Tenente decidiu por não o fazer. Além disso, ele não era tão bondoso a ponto de entregar os espólios a eles, principalmente depois do que o QG havia feito com a Quinta Divisão.

Fernando sabia que se quisesse evitar que seu pessoal caísse em situações como essa novamente, deveria aumentar a sua força e a de todos o mais rápido possível e para isso, era necessário mais dinheiro e recursos. Sendo assim, ele estava decidido a não abrir mão de qualquer moeda de prata que fosse.

Após discutir alguns detalhes sobre os saques com Damon, Fernando foi até uma ala mais limpa que havia sido separada para os feridos. Alguns estavam em condições tão péssimas, que mesmo com as Poções de Cura, levaria algumas horas para que estivessem completamente recuperados.

Assim que o rapaz apareceu na entrada, Theodora, que estava cuidando do lugar, aproximou-se.

“Líder!”

“Tenente!”

Os vários Soldados ao redor, mesmo alguns de cama, levantaram-se para cumprimentá-lo ao ver adentrando.

“Como estão as coisas aqui?” Fernando perguntou, com interesse, enquanto olhava em volta. Havia alguns Soldados praticamente recuperados e apenas descansando, esses estavam relativamente bem, mas o principal problema era aqueles que haviam sido mutilados, perdendo braços e pernas.

“A maioria já está se recuperando, apenas dois homens estavam num estado muito ruim, enviamos eles para receberem tratamento de Magos de Cura, mas um deles não pôde ser salvo.” A Subtenente disse, com uma expressão calma.

Ouvindo isso, Fernando franziu a testa, pensando que se sua Magia de Cura fosse melhor, ele poderia ter feito algo a respeito, mas logo balançou a cabeça.

Não adianta lamentar sobre o que não tenho controle. pensou consigo mesmo.

“Quantos ficaram aleijados?” perguntou, com um rosto calmo.

“Cerca de doze homens.” A Medusa respondeu, após pensar brevemente a respeito.

Ouvindo isso, o jovem pálido assentiu.

“Assim que possível devemos fornecer próteses a eles. Aqueles que não puderem mais lutar, caso queiram, podem ser transferidos para a Unidade de Logística. Os que não quiserem, devemos pagar uma compensação por seus serviços.”

“Vou organizar isso com os outros.” Theodora disse.

Alguns Soldados que estavam próximos, ouvindo a conversa, ficaram comovidos ao ouvirem isso. Em Belai, o jovem Tenente já havia criado um sistema de compensação a família dos mortos. Agora ele estava até mesmo ajudando aqueles que não poderiam mais lutar!

Em Avalon, a morte era algo recorrente, então as legiões não estavam dispostas a pagar quaisquer benefícios a família de falecidos, muito menos compensações por invalidez. Então quando um Soldado ficava impossibilitado de lutar, seu destino não seria dos melhores.

Depois de uma breve conversa com Theodora, a atenção de Fernando voltou-se a uma das camas, onde um sujeito loiro estava deitado, dormindo, então caminhou em sua direção.

Vendo isso, a Medusa sorriu fracamente, o seguindo.

A pessoa deitada na cama era Ilgner. Seus dois braços estavam enfaixados, assim como seu peito.

“Até quando vai fingir que está dormindo? O Líder está aqui!” A mulher falou, com uma voz alta e incisiva.

Ela e o bárbaro loiro comumente não se davam tão bem, mas desde que sua vida foi salva na última batalha por ele, sabia que estava em dívida.

“Um homem não pode dormir em paz, mesmo depois de ser atropelado por um maldito Orc Líder?” Ilgner reclamou, de forma brincalhona.

Fernando sorriu ao ver o bárbaro loiro agindo como de costume, se ele tinha forças para brincar, então deveria estar bem.

“Como estão seus braços?” O jovem Tenente perguntou.

“Um pouco quebrado aqui, um pouco rachado ali, mas nada que eu não consiga lidar.” Ilgner respondeu, estirando-se na cama. “Pelo menos eu tenho uma folga agora, não é de todo mal.”

Ouvindo isso, Theodora franziu a testa, já que ela estava lidando com as responsabilidades dele.

Vendo que seu Subtenente estava bem, Fernando ficou aliviado. Com Poções de Cura seria simples curar esse tipo de ferimento, ainda mais para Ilgner, que era um Usuário de Habilidades e deveria conseguir se recuperar mais rápido que uma pessoa normal.

Depois de saber que o sujeito estava bem, assim como conferir a situação dos feridos em geral, o jovem pálido pensou em algo.

“Quantas perdas tivemos dessa vez?”

A expressão de Theodora era séria, assim como a de Ilgner.

“Perdemos cerca de 120 homens.”

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