Os olhos de Rose se abriram com dificuldade, fitando o brilho do sol que se refletia pela janela do banco do passageiro do Jeep. Instintivamente, ela levou a mão ao rosto para proteger-se da luz intensa.
Ao ver sua mão, antes suja de sangue e agora limpa, seus olhos se arregalaram em surpresa ao perceber a mudança na situação.
“Onde estou?” pensou, enquanto observava os arredores.
Com algum esforço, Rose se sentou, notando uma jaqueta escura dobrada ao seu lado, que havia servido de travesseiro. A desorientação tomava conta dela, sem saber por quanto tempo havia estado desacordada.
Anny vendo o despertar da garota trazida por Renier, logo ficou suspirou de alívio por vê-la acordada.
— Você finalmente acordou, — comentou ela, com um leve aceno de mão.
— Quem é você? — indagou ela confusa, enquanto observava os arredores.
Sorrindo ela diz. — Sou Anny, Renier trouxe você, após encontrá-la toda ferida é coberta de sangue próximo daqui, — informou, cruzando os braços enquanto observava Rose.
— Coberta de sangue… — disse Rose, levando a mão a cabeça, com sua desorientação, os olhos acabaram ficando embaçados conforme ela tentava se lembrar.
Rose sentiu uma onda de tristeza e desespero ao lembrar do que havia acontecido. Ela apertou os olhos com força, tentando afastar as imagens de Noelle sendo atacada.
— Noelle… — murmurou ela, a voz carregada de angústia. — Ela foi ferida, disse para eu buscar ajuda, mas… — Sua voz falhou, e ela respirou fundo, tentando manter a compostura. — Não sei se está viva ou morta.
Anny observou a jovem com uma expressão de compreensão e preocupação. — Renier fez o que pôde para te ajudar, e agora ele e Aurora estão seguindo o rastro de sangue que você deixou, para ver se encontram mais sobreviventes, — explicou Anny, sua voz suave mas firme. — Eles são bons em lidar com situações perigosas. Se houver alguém vivo, eles os encontrarão.
Rose assentiu lentamente, absorvendo a informação. O alívio de saber que alguém estava procurando por Noelle e outros possíveis sobreviventes se misturava com o medo de qual poderia ser o resultado. Ela olhou para Anny, buscando algum tipo de conforto ou garantia.
— E quanto a você? — perguntou Anny, inclinando-se ligeiramente. — Você está bem? Precisa de mais alguma coisa?
Rose olhou para suas mãos trêmulas e balançou a cabeça. — Eu… não sei. Ainda estou tentando processar tudo. — Ela olhou para Anny, com uma expressão de súplica. — Por favor, me diga que eles vão conseguir.
Anny sorriu gentilmente, colocando uma mão reconfortante no ombro de Rose. — Renier é o melhor que temos, e Aurora é uma força a ser reconhecida. Se há uma chance, eles a encontrarão.
O peso da situação parecia diminuir um pouco com as palavras de Anny, mas a incerteza ainda pairava no ar.
Rose se sentia fraca e exausta, mas uma pequena faísca de esperança começava a se acender dentro dela.
Ela sabia que precisava ser forte, não apenas por si mesma, mas também por Noelle que ainda poderia estar lá fora, esperando por ajuda.
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Renier e Aurora caminhavam em silêncio pela estrada deserta, cercados pelos escombros de uma cidade que outrora fora vibrante. Renier mantinha uma expressão tranquila, seus olhos observando os altos prédios que, apesar da decadência e da corrosão causada pela energia, ainda se erguiam como monumentos da persistência da humanidade.
Aurora, ao seu lado, franzia o cenho enquanto olhava ao redor. A paisagem desolada parecia pesar sobre seus ombros, e ela finalmente quebrou o silêncio, sua voz tingida de amargura e tristeza.
— É difícil acreditar que uma única criatura conseguiu fazer o que levou a humanidade centenas de anos para construir, cair em tão pouco tempo, — comentou, sua voz vacilando ligeiramente. — Não só essa cidade, mas também as outras quatro nações imperiais… tudo destruído.
Renier continuou a caminhar, seus passos firmes e seguros. Ele sentia a dor na voz de Aurora, uma dor que ele próprio conhecia bem. Observando o cenário que parecia saído de um filme pós-apocalíptico, ele finalmente respondeu, sua voz suave e calma, carregando uma sabedoria que parecia além de seus anos.
— A vida sempre lutou para sobreviver, Aurora. Esse é o paradoxo da existência, — disse ele, seus olhos refletindo o brilho suave da luz filtrada pelas nuvens de poeira. — A destruição é um lembrete doloroso da fragilidade da vida e da criação. Mas, mesmo quando tudo parece perdido, a luta deve continuar. Porque é isso que significa viver.
Aurora olhou para Renier, absorvendo suas palavras. Havia uma calma em sua voz que trazia um estranho conforto, como se ele compreendesse as nuances da existência de uma maneira que poucos conseguiam. Ela suspirou, tentando agarrar aquele fio de esperança.
— Você sempre tem uma maneira de ver as coisas de uma perspectiva mais ampla, — murmurou ela, um pequeno sorriso se formando em seus lábios. — É reconfortante, de certa forma. Faz parecer que há um propósito, mesmo no caos.
Renier dá um sorriso, mas logo desvia o olhar. “Criar e Destruir, mas isso…” pensou ele olhando para toda essa destruição.
— Não é natural, nem mesmo tem um propósito… — murmurou mais para si mesmo, vendo a degradação de toda a vida não só humana, mas vendo essa energia negativa destruindo e afetando aquilo que antes era fazia parte de Yggdrasil como um ser.
Aurora o observou, seus olhos se estreitaram levemente, Renier tinha um conhecimento mais aprofundado sobre toda a situação que envolvia a queda dos Impérios, porém a dúvida de Aurora sobre como algo que nem mesmo as Imperatrizes tinham ciência um garoto como ele tinha tantas informações sobre as sombras.
Enquanto caminhavam entre as ruínas de uma civilização outrora grandiosa, Aurora não podia deixar de notar o peso nas palavras de Renier. Aquela frase dita quase como um sussurro “Não é natural, nem mesmo tem um propósito” ressoava em sua mente. Ela podia sentir que havia mais por trás desse garoto misterioso do que ele deixava transparecer.
O silêncio entre eles foi quebrado novamente, desta vez por Aurora, sua voz carregada de cautela e determinação.
— Renier, — começou ela, hesitando por um momento, como se ponderasse suas próximas palavras. — Você sabe mais do que está dizendo, não sabe? Sobre o que realmente causou tudo isso… sobre as sombras que mencionou. Como pode um garoto como você… saber tanto? — Ela olhou diretamente para ele, esperando por respostas.
Renier parou de caminhar, os olhos focados no horizonte, onde o sol pálido tentava furar as nuvens carregadas de poeira. Ele sabia que esse momento chegaria, o momento em que as perguntas não poderiam mais ser evitadas. Um suspiro escapou de seus lábios enquanto ele se virava para encarar Aurora.
— Nem tudo é o que parece, Aurora, — disse ele, a calma habitual em sua voz, mas agora havia uma gravidade que ela não tinha ouvido antes. — Há segredos enterrados sob camadas de história, verdades que nem as Imperatrizes conhecem. E essas sombras… elas não são apenas forças destrutivas. Elas são ecos de algo muito mais antigo, muito mais perigoso do que qualquer um de nós pode compreender.
Aurora sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela não sabia se era pelas palavras de Renier ou pelo tom sombrio com que ele as proferiu. Mas uma coisa era clara ele sabia demais, muito mais do que deveria.
— E você? — insistiu ela, dando um passo à frente. — Como sabe de tudo isso? Quem… ou o que… é você, Renier?
Renier a observou por um momento, seus olhos profundos e insondáveis. Ele sabia que essa pergunta viria, mas as respostas… ah, as respostas não seriam fáceis de aceitar.
— Eu sou… uma parte disso tudo, Aurora, — respondeu ele finalmente, suas palavras escolhidas com cuidado. — Mas a verdade… é que ainda há muito que nem eu sei. Estou em busca de respostas, assim como você. Mas as respostas que encontraremos podem não ser as que queremos ouvir.
Aurora sentiu a frustração crescer dentro dela. Renier falava em enigmas, deixando mais perguntas no ar do que respondendo às que já existiam. Mas, ao mesmo tempo, havia algo nele que a impedia de insistir mais. Um instinto profundo que dizia que Renier não estava pronto para revelar tudo e talvez ela mesma não estivesse pronta para ouvir.
— Muito bem, — disse ela, recuando ligeiramente, embora a determinação ainda queimava em seus olhos. — Mas saiba que, seja lá o que estiver acontecendo, estou com você como cavaleira, mas ainda… Não estou satisfeita com tudo isso.
Renier deu um leve aceno de cabeça, um sorriso sombrio brincando em seus lábios.
— Seu dever é proteger sua Imperatriz e suas filhas, meu dever é semelhante, — afirmou ele. — Estamos do mesmo lado, e entendo sua preocupação e cautela comigo, então quando chegar o momento vou revelar a vocês…
Aurora tomou isso como uma aceitação, entendendo que talvez seja difícil para Renier, por isso apenas acenando com a cabeça.
— Todo mundo tem segredos… não vou forçar você, por enquanto — afirmou ela dando um sorriso quase que convencido.
Um sorriso surgiu no rosto de Renier, apesar de ter soado como uma ameaça, ele não se sentiu ofendido, mas gostando de como ela se portava. Enquanto a conversa de ambos continuava, os passos de ambos estavam sendo diminuídos pelo mal que se aproximava para perto deles.
Continua…