Enquanto relembrava a conversa entre seu pai e seu irmão mais velho sobre a situação, Audrey colocou em suas próprias palavras:
— Eles acreditam que a estrutura do governo é muito caótica. A cada eleição, se houver mudança de partido no poder, haverá mudança de pessoal de cima para baixo. Isso torna as coisas uma bagunça e reduz muito a eficiência. Não só causa a perda das batalhas, mas também traz grande inconveniência para os civis.
Klein sabia muito bem que, como não havia um exemplo de referência, o Reino Loen ainda precisava evoluir para um sistema que examinasse servidores públicos. A situação política ainda estava em seus estágios preliminares; portanto, após cada vitória eleitoral, muitos dos chamados cargos seriam concedidos a membros e simpatizantes.
“Hmm, o Imperador Roselle não estabelecer tal instituição em Intis não combina com sua personalidade… Será que ele desviou seu foco para outras coisas mais tarde na vida?”
Quando o Enforcado, Alger, ouviu isso, ele interrompeu com uma risada suave:
— Eles acreditam? Então suas crenças são um pouco lentas. Talvez eles só sintam a coceira um ano depois de serem picados por mosquitos pretos.
Os mosquitos pretos eram um tipo de criatura que residia no sul do Reino Loen. Eram extremamente venenosos, e sua toxina fazia com que as vítimas tivessem vontade de rasgar a pele.
Audrey estendeu a palma da mão e cobriu a boca. Ignorando a zombaria do Enforcado, ela expressou a informação central do que disse:
— Infelizmente, eles são incapazes de encontrar uma boa solução para substituir este sistema no momento.
Klein ouviu com atenção e sentiu que o assunto estava no domínio de sua especialidade. Ele sorriu de leve e disse:
— Este é um problema simples.
O Império de Amantes de Comida1 e os países decadentes que estudaram o Império de Amantes de Comida tinham muitas experiências de sucesso.
— Simples? — Audrey voltou com uma pergunta confusa.
Embora sua educação não incluísse política, ela ouvia as discussões de seu pai, irmão e pessoas ao seu redor com frequência. Ela tinha uma compreensão suficiente de assuntos semelhantes.
Klein sentiu como se tivesse voltado aos quadros de mensagens do passado. Composto, ele disse:
— Um exame, assim como um vestibular. Faça um exame aberto ao público. Pode ser dividido em duas ou três rodadas. Use o método mais objetivo para selecionar a elite.
— Mas… — Audrey sabia que tipo de objeção esse método acarretaria.
Antes que ela tivesse a chance de organizar seus pensamentos, Klein continuou:
— Depois disso, use essas elites para preencher os cargos do Gabinete, do governo do condado, do governo municipal e de várias cidades. Sim, os cargos que tratam diretamente dos assuntos, como o de Secretário do Gabinete.
— Posições diferentes devem ter requisitos diferentes. As segunda ou terceira rodadas podem ser realizadas com base na localidade e região. Os assuntos profissionais devem ser deixados para os profissionais.
— Quanto aos cargos políticos, como ministros, governadores ou prefeitos, serão deixados para os partidos que vencerem a eleição. Essa é uma fatia do bolo que eles merecem.
Alger, que não tinha interesse em tais assuntos, virou a cabeça por instinto e ouviu com atenção. Audrey franziu um pouco a testa enquanto pensava profundamente.
— Não há pressa em substituir todos de uma vez. O gabinete e várias agências do serviço público serão prejudicados se isso acontecer. O governo pode fazer um exame a cada ano ou a cada três anos. Elas podem ser substituídas de forma gradual. Por fim, diante da expansão do reino e das renúncias de servidores assalariados que trarão vagas, pode-se sistematizar a distribuição de vagas — Klein expressou todo o seu talento como político de teclado. Ele então virou a palma da mão para fora e disse:
— Tal projeto pode trazer as elites perspicazes do reino para o governo. Independente do partido no poder ou de quem seja o ministro, o serviço público permitirá que o reino mantenha suas operações básicas e efetivas.
Claro, um efeito colateral foi o nascimento do demônio eterno que era a burocracia.
Considerando a sugestão, Audrey perguntou em dúvida:
— Você está insinuando que, mesmo que esses ministros se tornem macacos, os efeitos seriam insignificantes?
— Não — Alger interrompeu de repente. — Acredito que os macacos são uma escolha melhor do que os atuais ministros.
Ele fez uma pausa antes de acrescentar:
— Afinal, os macacos só precisam comer, dormir e acasalar. Eles não teriam ideias tolas e insistiriam em projetos sem cérebro.
“Sr. Enforcado, parece que você tem um péssimo superior…” Klein sentou-se em seu lugar de honra e balançou a cabeça em silenciosa diversão.
Audrey refletiu sobre a sugestão que o Sr. Louco havia oferecido e, depois de um tempo, disse surpresa:
— Parece que pode mesmo funcionar…
— É uma solução muito simples, mas eficaz!
Ela olhou para Klein e ficou sinceramente maravilhada:
— Sr. Louco, você deve ser um ancião de inteligência excepcional e muito experiente na vida!
… Os cantos da boca de Klein se contraíram um pouco enquanto ele olhava para o Enforcado e a Justiça por alguns segundos silenciosos.
— Vamos terminar a reunião de hoje por aqui.
“Se a Srta. Justiça for capaz de influenciar sua família e efetuar mudanças neste assunto, posso orientar Benson com antecedência e dar a ele uma chance de se tornar um funcionário público.”
“Pensando bem, Benson era de fato adequado para tal carreira.”
“No entanto, é improvável que a Justiça tome a iniciativa. Isso ocorre porque o Enforcado e eu poderemos descobrir com facilidade qual nobre sugeriu isso e basicamente adivinhar sua identidade.”
Claro, ela poderia fazer isso de maneira indireta e secreta.
— Por sua vontade — Audrey e Alger levantaram-se juntos.
Klein inclinou-se um pouco para trás e cortou a conexão. Ele viu as figuras ilusórias e borradas da Justiça e do Enforcado se despedaçarem e se dissiparem no mesmo instante.
Acima da névoa cinzenta, no opulento palácio onde os deuses pareciam viver, ele era o único sentado em silêncio à cabeceira da mesa de bronze.
Klein não mergulhou na névoa cinzenta como da outra vez para sair. Isso porque sua mente ainda estava enérgica o suficiente depois de se tornar um Beyonder.
A razão pela qual ele encerrou o Clube de Tarô cedo foi porque aprendeu a verdadeira atitude que os Falcões Noturnos tinham em relação ao caderno Antigonus. Ele decidiu que deveria procurá-lo a sério e não dormir o tempo todo. Fazer isso faria Dunn Smith suspeitar de suas atividades em casa.
Além disso, ele se beneficiou bastante desta vez.
Klein sentou-se na cadeira de espaldar alto à cabeceira da mesa de bronze. Seus braços se apoiaram no apoio de braço enquanto ele cruzava os dedos e observava com cuidado a névoa cinza sem limites. Ele achou o lugar sereno, como se ninguém tivesse pisado nele por dez milhões de anos.
Quando ele estabeleceu a conexão para convocar o Enforcado e a Justiça, notou algo de forma aguda.
Esse era o fato de que, como um Beyonder, ele tinha a habilidade de tocar outra estrela vermelha escura!
— Isso significa que posso convocar mais um? — Klein relembrou a sensação e murmurou em confirmação.
No entanto, ele não teve vontade de tentar, pois não sabia qual seria a identidade do recém-chegado ou que tipo de atitude ele teria. Afinal, nem todo mundo era como a Justiça ou o Enforcado, que tinham personalidades únicas que se misturavam com facilidade e pegavam o que precisavam. Eles até pareciam dispostos a esconder o assunto. Se ele puxasse alguém como Dunn Smith, a misteriosa organização que ele acabara de estabelecer ficaria sob a vigilância de uma igreja no mesmo instante.
Como chefe de uma organização do mal, seu futuro seria preocupante.
Klein sabia que a névoa cinza era especial. Ele sabia que não era algo que um Beyonder na Sequência de Dunn Smith pudesse ver. Mas o problema era que, como ele tinha os poderes de um Beyonder, tinha que considerar a existência dos deuses.
Klein escolheu acreditar com cautela que os sete deuses ortodoxos existiam na realidade. Claro, ele defendia mais a crença de que esses deuses eram apenas mais poderosos do que os Beyonders de Alta Sequência. Além disso, eles estavam sob limitações estritas. No mínimo, desde a Quinta Época, exceto por meio de alguns oráculos, eles não atuaram de novo.
— Heh, puxar as pessoas aqui à força não é uma coisa boa. Ninguém gostaria de ser puxado para o mistério por algum motivo desconcertante… Vamos esperar e ver como as coisas ocorrerão no futuro… — Klein suspirou e se levantou.
Ele liberou sua espiritualidade e sentiu a existência de seu corpo. Então, começou a imitar a sensação pesada de mergulhar rapidamente.
As cenas à sua frente mudaram. A névoa cinza e o vermelho escuro o deixaram no mesmo momento. Klein sentiu como se tivesse rasgado infinitas membranas de água antes de enfim ver o mundo real, seu quarto na escuridão.
Dessa vez, ele estava totalmente acordado e levou a sério toda a experiência.
— Estranho… Existem algumas diferenças entre a névoa cinza e o mundo espiritual… — Klein moveu seus membros e sentiu a existência de seu corpo.
Depois de pensar seriamente na experiência, ele balançou a cabeça, caminhou até a mesa e abriu as cortinas.
Whoosh!
As cortinas foram fechadas quando a luz do sol entrou, iluminando a sala.
Enquanto olhava para a rua do lado de fora da janela e para os pedestres que iam e vinham, Klein respirou fundo e murmurou em silêncio:
— É hora de sair e trabalhar.
— Como devo atuar como um Vidente?
— Não posso ser apressado… Tudo o que posso fazer agora é usar a Visão Espiritual…
…
Backlund, Burgo Imperatriz.
Audrey Hall se olhou no espelho. Ela viu suas bochechas vermelhas de excitação e seus olhos tão brilhantes que teriam intimidado qualquer um de olhar para eles.
Ela não examinou nada disso, enquanto relembrava com pressa. Ela pegou a caneta-tinteiro cravejada de rubis e escreveu a fórmula da poção de Espectador no requintado pergaminho de pele de cabra.
“80 mililitros de água pura. 5 gotas de essência de crocus de outono, 13 gramas de pó de paeonol de dentes de vaca. 7 pétalas de flores élficas. O globo ocular de um peixe Manhal adulto. 35 mililitros de sangue de peixe preto com chifres de cabra.”
— Ufa…
Audrey soltou um suspiro de alívio ao ler algumas vezes para confirmar que não havia cometido nenhum erro.
Ela teve vontade de dançar de novo, mas lembrou-se de permanecer contida.
Depois de pensar um pouco, ela começou a escrever vários nomes químicos em torno da fórmula da poção. Ela então falsificou a página em uma química complicada e confusa.
“Sim, desde que não leia com atenção, quem a folhear aleatoriamente não descobrirá os detalhes que escondi aqui… Excelente!” Audrey se elogiou e voltou sua mente para a aquisição dos materiais.
— Vou primeiro procurar nos poucos cofres que temos. Vou então tentar trocar as partes que faltam com outras pessoas…
— Se eu ainda não conseguir reunir todos, só posso pedir ajuda ao Enforcado ou ao Louco… O que posso oferecer como pagamento?
Depois de pensar um pouco, Audrey fechou o caderno e o colocou em uma pequena estante. Depois disso, ela caminhou rapidamente até a porta e a abriu.
Uma golden retriever estava sentada com obediência do lado de fora.
Os cantos da boca de Audrey se curvaram quando ela revelou um sorriso radiante.
— Susie, você completou a missão perfeitamente!
— Nas histórias serializadas nos jornais, os detetives costumavam ter um assistente capaz. Eu acho que deveria haver uma cadela enorme apoiando uma verdadeira Espectadora.
…
Em um porão subterrâneo iluminado apenas por uma vela bruxuleante, Alger Wilson ergueu a palma da mão e olhou para ela com cuidado.
Depois de um longo tempo, ele soltou um suspiro.
— Ainda é tão milagroso. Não consegui descobrir nenhum detalhe específico…
Apesar de ter feito preparativos suficientes, ele não conseguiu entender como o Louco realizou a convocação…
Ele baixou o olhar e observou o pergaminho de pele de cabra na mesa à sua frente.
No cabeçalho do pergaminho marrom-amarelado, havia uma frase escrita em Hermes com tinta azul escura.
— 7. Navegador.
- China[↩]