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Na clareira, manchada com o sangue dos caçadores caídos, um vampiro ajoelhou-se diante de Elijah. Seu gesto era de submissão, como se esperasse por uma ordem ou julgamento. Elijah permaneceu imóvel, sem se virar para encará-lo, mas sua voz cortou o ar como uma lâmina afiada:

— Rowan — chamou ele, o nome do vampiro saindo de seus lábios sem hesitação.

Rowan ergueu-se, seus olhos vermelhos fixos em Elijah. Rowan é a personificação da lealdade e autoridade entre os vampiros sob o comando de Elijah. Com sua pele morena que irradia uma presença enigmática e cabelos curtos e escuros que emolduram um rosto marcado por séculos de conflitos e sabedoria, ele comanda respeito e obediência. Seu porte é de um líder nato, um general entre as sombras, cuja fidelidade a Elijah é tão inabalável quanto sua determinação em liderar a grande maioria dos vampiros sob seu domínio.

— Mestre Elijah, alguns dos caçadores… — ele hesitou, como se relutasse em revelar a verdade.

— Continue — ordenou Elijah, ainda sem se voltar para encará-lo.

— Eles têm a marca da cruz cravada em seus corpos, feita com ferro quente. Parece que a Santa Igreja tomou sua decisão. 

Elijah finalmente se virou para encarar o vampiro. Seus olhos, tão antigos quanto o próprio tempo, refletiam uma mistura de desdém e resignação.

— Eles são mesmo tolos — murmurou Elijah, enquanto observava a clareira manchada de sangue. — Fechem a fronteira. 

 ***

A garota corria pela floresta, seus pés descalços rasgados pelos espinhos das plantas. Cada passo era uma luta contra a dor e o cansaço, mas ela não parava. A fome a impulsionava, uma ânsia insaciável que queimava em seu peito vazio.

Os galhos retorcidos chicoteavam seu rosto, deixando arranhões profundos em sua pele pálida. Ela não se importava. Seu único objetivo era escapar.

Quando finalmente chegou ao ponto em que não conseguia mais enxergar o topo da mansão, a garota escorou em uma árvore centenária. Seus joelhos cederam, e ela deslizou lentamente até estar sentada no chão úmido. O ar fresco da noite invadiu seus pulmões, e ela fechou os olhos, tentando recuperar o fôlego.

O silêncio da floresta foi quebrado pelo som de galhos quebrando, como se algo se aproximasse dela. Ela ergueu os olhos, o coração acelerando, enquanto tentava discernir a origem do ruído.

O som, inicialmente vindo de uma única direção, dividiu-se em dois. Os galhos estalavam à sua esquerda e à sua direita, formando um círculo invisível ao seu redor. Ela sentiu-se encurralada, cercada por uma presença que parecia observá-la com interesse.

Com a respiração entrecortada, ela se levantou, ainda escorada na árvore. Seus olhos percorreram a escuridão, buscando qualquer sinal do que a cercava. Suas garras se estenderam, prontas para lutar por sua vida. Ela não sabia o que estava prestes a enfrentar, mas estava determinada a resistir até o último suspiro.

Um par de olhos brilhantes observavam a garota de longe, emergindo dos arbustos escuros como duas brasas ardentes. Era uma fera, um predador que se movia com a graça silenciosa da noite. Seu corpo extenso, coberto de pelos negros como a própria escuridão, ondulava em movimentos sinuosos. As presas afiadas, como navalhas prontas para destroçar carne, eram visíveis mesmo à distância.

A jovem sentiu o cheiro antes de vê-lo. Um odor pútrido, nauseante, que se infiltrou em suas narinas e se espalhou por todo o seu ser. Era o cheiro da morte.

A fera se aproximava, suas garras afundando na terra úmida. Ela estava faminta, seus olhos fixos na garota como se a visse não mais do que mais uma presa. 

Ela continuava a andar em círculos, seus olhos brilhantes fixos na garota. Cada passo que ela dava parecia um aviso silencioso: qualquer movimento brusco e a besta atacaria. A garota estava paralisada, seus instintos gritando para permanecer imóvel, para não provocar o predador que a cercava.

Mas então, como se o próprio universo conspirasse contra ela, outros pares de olhos surgiram das sombras. Duas outras feras, tão silenciosas quanto fantasmas, emergiram de trás das árvores. Seus movimentos eram coordenados, como se compartilhassem uma mente única. Eram caçadores natos, treinados para rastrear e eliminar suas presas como a que encaravam agora.

O corpo da garota estremeceu. Ela estava encurralada, cercada por três predadores implacáveis. A fome, a dor e a exaustão pesavam sobre ela, mas algo mais a impelia a lutar. Uma pergunta ecoava em sua mente, uma semente de dúvida que havia sido plantada muito tempo atrás:

“Por que estou tentando viver?”

Ela já havia sonhado com liberdade, com a sensação do sol em sua pele, com o cheiro da grama e o canto dos pássaros. Mas agora, diante da morte iminente, ela se perguntava se tudo aquilo valia a pena. Por que continuar lutando quando não havia nada a ganhar? Por que persistir quando a solidão e o sofrimento eram seus únicos companheiros?

A vida dela era um fio tênue, esticado entre o vazio e a escuridão. Por onze anos, ela suportou o sofrimento, acreditando que alguém viria resgatá-la. Mas ninguém veio. Ela estava sozinha, uma alma solitária, pendurada em uma esperança frágil que sempre soube que nunca existiu. Por que continuar lutando quando não havia nada a ganhar? Por que se permitir ser capturada, torturada e esquecida naquele buraco escuro novamente? A resposta estava em algum lugar entre a coragem e o desespero, entre a vontade de viver e o desejo de desaparecer. Mas talvez, no fim, a verdadeira pergunta fosse: por que ela ainda tentava?

“Certo”, pensou ela.

Talvez isso fosse o destino que a aguardava: morrer, não importando o que fizesse. Que cruel. Para que nasceu, afinal? Seu destino parecia selado, uma morte precoce inevitável. Ela não pediu para existir, não pediu para ser o que era, não pediu por nada disso. E, no entanto, ali estava, em um estado patético de sobrevivência. Viver era uma piada sem graça, uma dor incessante e uma tortura.

Mas… será que ela ainda estava viva? Depois de tudo o que passou, era difícil dizer. Sua mente estava exausta, seu corpo mal sustentava sua própria existência, e seu espírito estava destroçado. 

“Desisto”, ecoou em seus pensamentos enquanto seu corpo se entregava à exaustão. 

Ela se sentou novamente, recostada na árvore, indiferente à proximidade das feras cujos hálitos repugnantes queimavam suas narinas.

O olhar da garota se elevou para o céu estrelado. Era uma noite tão magnífica que ela se perguntou se aquilo era real. Nunca tinha visto tamanha beleza antes.

A floresta, que até então parecia um palco para o desfecho trágico da garota, foi invadida por uma nova presença. Uma voz familiar cortou a tensão.

— Então era aqui que você estava — disse a mulher, com uma calma que contrastava com o caos ao redor.

A garota, surpresa, virou-se na direção da voz e viu a mulher que havia prometido não lhe fazer mal. Ela estava ali, uma silhueta imponente contra a escuridão, os olhos fixos nas feras à frente.

— É perigoso sair assim no meio da noite, existem muitos predadores aqui fora — comentou, olhando para as feras com um olhar de desprezo.

As feras, sentindo a ameaça na voz da mulher, olharam para trás. Seus olhos selvagens encontraram os dela, mas não havia medo, apenas um silencioso desprezo. A mulher não se intimidou; pelo contrário, parecia pronta para enfrentar o que quer que viesse a seguir.

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Olá, eu sou Victorie!

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