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Passado

Belial

Enquanto todos se reuniam no amplo quarto preparado para Mana, não pude deixar de suspirar enquanto observava meus filhos, todos nervosos. Azrael, mantendo-se distante, observava Mana deitada na cama, enquanto Samael iniciava os preparativos.

Com todos os guardas protegendo a entrada do quarto, nos preparamos para nos despedir. A primeira pessoa a se aproximar de Mana foi Lilith, que a considerava uma de suas queridas filhas. Sentando-se ao lado da cama, Lilith acariciou a cabeça de Mana com um sorriso gentil.

“Como você está se sentindo?”, perguntou Lilith, surpreendendo-se com a resposta animada de sua filha adotiva.

“Estou muito bem. Muito bem mesmo, olha!”, disse Mana, criando uma pequena orbe de mana que começou a dançar pela sala, cativando a todos com a beleza de sua magia. “Por muito tempo, senti-me triste, pensando que talvez não acordasse novamente, mas sei que meu querido irmão e nossa família farão de tudo para me acordar no futuro.”

As palavras de Mana fizeram Lilith, que tentava manter-se forte, chorar. Lágrimas silenciosas escorriam por seus olhos enquanto acariciava suavemente o rosto delicado de Mana.

“Isso mesmo, minha criança. Quando acordar, estarei aqui para te receber com um abraço.”

“Mesmo que por pouco tempo, senti-me verdadeiramente grata por ter uma família. Por sentir como é ser amada… Obrigada por tudo, mãe…”, expressou Mana.

Lilith não conseguiu mais conter-se, deixando as lágrimas caírem enquanto observava o sorriso sereno de sua filha. Em seguida, abraçou-a e afastou-se, dando espaço para que Ex e Alice se aproximassem.

“Mana, espero que possamos nos ver em breve”, disse Ex, sem prolongar muito sua despedida, talvez por não saber o que dizer naquele momento.

Mana respondeu com um sorriso gentil. “Sim, Ex. Eu também te amo, meu irmão.”

Ex mordeu os lábios com raiva por não conseguir expressar o que desejava, mas Mana colocou a mão em seu rosto.

“Não se preocupe, eu sei como você se sente, meu irmão. Sei o que você quer dizer, mesmo que não consiga colocar em palavras.”

Ex apenas a observou com gratidão, feliz por sua irmã entendê-lo.

Então, Alice aproximou-se de Mana, e as duas ficaram se encarando por alguns segundos sem dizer uma palavra. O silêncio perdurou até Alice balançar a cabeça e sair ao lado de Ex.

As palavras não ditas naquele momento foram transmitidas. Alice queria parecer forte diante de sua irmã mais nova. No entanto, ao se virar, as lágrimas começaram a cair.

“Alice, obrigada por cuidar de mim e do meu irmão. Obrigada por me aceitar como parte de sua família”, disse Mana.

Ainda de costas para Mana, Alice parou de caminhar. Respirou fundo, tentando esconder que estava chorando.

“É isso que famílias fazem. Não precisa me agradecer por algo tão óbvio.”

Continuou a caminhar em direção à saída, seguida por Lilith e Ex.

“Não se preocupe, cuidarei bem do nosso irmão. Contudo, é melhor você acordar o mais rápido possível, afinal, você não quer que eu me torne a irmã preferida do Azrael, certo?”, brincou Alice.

“Terei isso em mente”, respondeu Mana com um sorriso.

Sem olhar para trás, Alice saiu da sala, seguida por Ex e Lilith. Ao atravessar a porta, não demorou muito para que eu escutasse as lágrimas dolorosas de minha filha. Mana não poderia ouvir devido à distância, mas, naquele momento, senti tristeza por possuir uma audição apurada.

Agora, restávamos apenas quatro pessoas no quarto: Mana, Samael, Azrael e eu. O silêncio tornou-se insuportável enquanto Mana observava Azrael, que continuava com a cabeça baixa.

“Está quase na hora…”, disse Samael, notando que suas preparações estavam quase prontas.

Então, Azrael olhou para Mana e começou a caminhar em sua direção. Mana se moveu um pouco na cama, abrindo espaço para que Azrael se sentasse ao seu lado.

“Será um até logo?”, perguntou Mana com um sorriso, que logo desapareceu ao perceber o silêncio de Azrael.

Nenhuma palavra foi dita. Azrael permaneceu em silêncio, e a tensão no ar se tornou palpável, como se o próprio ambiente estivesse carregado com o peso das emoções não expressas. Mana, geralmente tão eloquente e alegre, agora parecia perdida, seus olhos buscando desesperadamente alguma pista nos de Azrael.

Quando Azrael finalmente ergueu o olhar, vi uma tempestade de dor e amor em seus olhos, um turbilhão de sentimentos que ele parecia incapaz de conter. A cada segundo de silêncio, a intensidade aumentava, sufocando a todos nós com a gravidade da situação. Ele estendeu a mão, tremendo levemente, e segurou a de Mana com uma ternura desesperada.

“Mana…”, ele começou, sua voz quebrando no meio do silêncio opressivo. “Eu… eu não sei como dizer… Eu não sei se posso. Cada parte de mim está lutando contra isso, e sinto como se meu coração estivesse sendo arrancado do peito.”

Mana tentou sorrir, mas suas lágrimas traíam o esforço. “Então não diga”, ela sussurrou, a voz entrecortada pela emoção. “Diga que nos veremos novamente. Diga que há uma chance, mesmo que pequena.”

Azrael fechou os olhos, respirando fundo, como se estivesse tentando absorver toda a força possível do momento. “Eu prometo que farei de tudo para que você volte”, ele disse finalmente, sua voz carregada de uma determinação quase palpável. “Mesmo que tenha que atravessar os próprios portões do inferno, eu trarei você de volta e estarei aqui para você.”

As palavras de Azrael ecoaram no quarto, carregadas de uma emoção tão intensa que senti um nó se formar na minha garganta. Era como se o próprio tempo tivesse parado, esperando para ver o que aconteceria a seguir. A dor e o amor entre eles eram tão tangíveis que quase podíamos tocá-los, e a promessa de Azrael ressoava como um juramento sagrado, um voto inquebrável feito na mais pura sinceridade do coração.

Ali, no silêncio que se seguiu, todos nós entendemos a profundidade do sacrifício e da esperança que estavam em jogo. Azrael não estava apenas prometendo voltar; ele estava entregando sua alma àquela promessa, tornando-a parte de si mesmo. E naquele momento, a gravidade de suas palavras, a intensidade de suas emoções, tornou-se uma âncora, algo que todos nós pudemos sentir e, de alguma forma, compartilhar.

O silêncio voltou a cair, mas desta vez, estava carregado de uma nova esperança, uma esperança que, apesar de frágil, era poderosa o suficiente para manter viva a chama da união entre eles.

“Sabe, não quero uma promessa sobre o meu despertar”, disse Mana, tentando conter as lágrimas. “Quero que me prometa ser feliz.” Suas palavras pareciam pesadas, como se ela estivesse se forçando a falar. “Me prometa que vai encontrar alguém, que vai se apaixonar, ser feliz, criar uma família, encontrar amigos, aliados, que irá ser feliz, sem se importar com o que eu pensaria. Como eu me sentiria.”

Mana sabia que, no momento em que Azrael se permitisse ser feliz, pensamentos como ‘Enquanto estou sorrindo, Mana está em um sono profundo sem conseguir despertar’, ou ‘Se Mana não pode ser feliz até que desperte, eu também não serei’, o assombrariam. Era evidente no rosto de Azrael que era isso que ele estava pensando.

“Mana… Eu…”

“Me prometa. Me prometa que será feliz, me prometa que fará de tudo para alcançar a felicidade.” As lágrimas que caíam tornavam cada vez mais difícil continuar com suas palavras. “Para que, quando eu acordar, você possa me mostrar sua família. Me mostrar o quão feliz está e o quanto cresceu.”

Azrael levantou da cama, suas emoções inatingíveis, o rosto pálido como se estivesse fazendo um esforço insuportável para se controlar. Olhando em direção a Mana, um leve sorriso apareceu em seu rosto.

“Eu prometo… Prometo que te mostrarei a minha evolução. Prometo que mostrarei o homem que me tornei, contarei histórias sobre minhas aventuras. Contarei como enfrentei cada desafio. E quando esse momento chegar, estarei diante dos seus olhos, feliz por ter conseguido criar um antídoto e te curar. Então… Mana, poderia esperar o seu irmão idiota, apenas mais uma vez?”

As lágrimas de Mana não cessaram, e ela então sorriu enquanto observava com os olhos vermelhos devido às lágrimas incessantes.

“Obrigado, meu irmão.”

Azrael então saiu do quarto. Contudo, ele não saiu do corredor como os outros. Notei que Azrael estava atrás da porta, parado, esperando que tudo desse certo. Usei minha magia para que Azrael pudesse escutar o que estava sendo dito no quarto. Samael logo notou o que fiz, mas não deixou transparecer para Mana, que continuava a chorar como uma criança.

“Mana, eu vou começar,” disse Samael, enquanto preparava sua magia. “Não quero que você durma com os sentimentos que está guardando apenas para você, então… Coloque para fora o que você está sentindo agora.”

As palavras de Samael fizeram Mana vacilar. Com a voz fraca, as palavras que foram ditas fizeram meu coração tremer.

“Estou com medo,” ela disse, sua voz audível e seu corpo tremendo. “Eu não poderei ver Azrael crescer, não poderei ver ele se tornar um homem magnífico. Estarei aqui, dormindo enquanto ele vive a sua vida e conhece pessoas maravilhosas.”

Por um momento, pensei em recolocar a magia para que Azrael não escutasse mais, e até o fiz. Contudo, foi a vez de Samael retirar a magia e me olhar, como se pedisse apenas para escutar.

“Se arrepende?”, perguntou Samael de forma séria.

“Não! Eu quero que ele seja feliz. O Azrael é a pessoa que mais amo.”

A voz de Mana era um misto de desespero e determinação, uma luta interna entre a vontade de proteger seu irmão e a necessidade de deixá-lo viver. Lá fora, atrás da porta, Azrael ouvia cada palavra, e eu podia sentir o impacto que elas tinham sobre ele. Cada sílaba carregada de amor e medo, cada lágrima derramada em nome de um futuro incerto. E ali, no corredor, ele estava de joelhos, suas próprias lágrimas caindo silenciosamente, o coração pesado com a dor da separação e a promessa de um reencontro que ele estava determinado a cumprir.

Mana fechou os olhos, respirando fundo enquanto Samael começava a entoar as palavras de encantamento. A magia envolveu o quarto, e um brilho suave emanou de suas mãos, envolvendo Mana em um casulo de luz.

“Belial…”, disse Mana, sua voz um pouco fraca. “Obrigado por tudo, Pai.” Com essas palavras, até mesmo eu, que me mantive forte até o momento, senti meu rosto vacilar. Não sabia que tipo de expressão eu estava fazendo nesse momento.

“Durma bem, Mana, minha criança,” meu peito doía, a sensação desconfortante era corrosiva.

“Mana, poderia ativar sua magia,” pediu Samael.

{Campo de Manutenção.}

Todo o quarto foi envolto em uma fraca luz, atingindo todos que estavam no ambiente. A magia nascente de Mana era, ‘Mana Infinita’, permitindo ao usuário possuir uma capacidade infinita de mana e até mesmo compartilhar sua reserva com outras pessoas.

O “Campo de Manutenção” era uma habilidade que criava uma zona onde a mana era constantemente restaurada. Assim, Samael conseguia usar sua magia da forma mais eficiente possível.

“Belial…”, ouvindo a voz de Samael, eu sabia o que precisava ser feito.

Sai do quarto, permitindo que Samael trabalhasse. Ao sair, notei Azrael sentado com as costas na parede e a cabeça entre as pernas. Sem dizer uma palavra, sentei ao seu lado e coloquei a mão em sua cabeça, esperando até que tudo acabasse.

Samael me explicou que Mana possuía duas Habilidades Nascentes, sendo elas, ‘Mana infinita’ e ‘Registro Akashico’. A segunda possuía uma área dentro de um espaço no mundo além da realidade. A consciência de Mana seria enviada para dentro dos ‘registros’, podendo assim, se manter viva enquanto seu corpo sofreria os efeitos do veneno. Claro, seria colocado uma série de feitiços em seu corpo para que ela não despertasse e enquanto estivesse inconsciente, não sofresse a dor intensa do veneno.

Tudo foi calculado por Samael. Não havia possibilidades de falha.

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Olá, eu sou Monarca!

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