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Passado

Na manhã seguinte, o acampamento de mercenários estava em alvoroço. O boato de que Azrael havia passado a noite com ninguém menos que a rainha dos demônios, Belzebu, se espalhou rapidamente. Os sussurros aumentavam a cada minuto, e seus companheiros o cercaram com olhares curiosos assim que ele saiu de seu quarto.

“Então, Azrael… o que aconteceu exatamente?”, perguntou um dos mercenários com um sorriso malicioso.

“Não seja tímido, rapaz!”, outro insistiu, cutucando-o com o cotovelo. “Foi mesmo com ela? Como conseguiu isso?”

Azrael, como de costume, evitou responder, sua expressão séria e inabalável. Ele apenas balançou a cabeça e continuou andando, mas o assédio de perguntas não cessava. Mesmo assim, manteve sua calma, não se deixando envolver pelas provocações. Seu foco estava em outra coisa: no treinamento e na tarefa que, sem dúvida, o aguardava.

Naquela tarde, enquanto o sol castigava o campo de treinamento, algo inusitado aconteceu. Uma comitiva real, composta por carruagens e guardas demoníacos, adentrou o acampamento. À frente, Belzebu, com seu sorriso provocante e seus longos cabelos vermelhos balançando ao vento, caminhava ao lado de Samael.

Os olhares de todos os mercenários seguiram cada passo da rainha. O comandante rapidamente se aproximou, curvando-se profundamente diante dela.

“Majestade Belzebu, é uma honra recebê-la em nosso humilde acampamento. A que devemos a honra dessa visita?”

Belzebu, com um ar de formalidade impecável, sorriu educadamente ao comandante antes de falar.

“Comandante, estamos aqui por uma razão específica. Preciso de seu mercenário mais recente, Azrael,” ela disse, sua voz cheia de autoridade. “Ele possui uma habilidade bastante especial que pode ser útil para nós.”

Samael, ao seu lado, apenas observava enquanto Belzebu explicava. Quando Azrael foi chamado à presença delas, Belzebu não conseguiu evitar lançar um olhar travesso em sua direção, o que o deixou ligeiramente desconfortável.

“Bem, meu jovem, tenho uma missão para você. Nada muito difícil, prometo. Apenas algo… especial, como você,” Belzebu disse, piscando discretamente para ele. Samael revirou os olhos.

“Azrael,” Samael interrompeu, ignorando a provocação, “há um general aposentado vivendo em uma vila distante. Ele está muito doente, mas possui uma habilidade rara que precisamos que você copie. Essa habilidade de purificação será essencial para ajudar uma das servas da rainha, que foi amaldiçoada durante uma missão recente.”

“Sim, sim,” acrescentou Belzebu, girando uma mecha de cabelo com os dedos enquanto falava. “E já que a serva está presa no palácio devido à maldição, e o general está morrendo de velhice, eu pensei: por que não enviar o meu… ‘talentoso’ Azrael para resolver tudo? Afinal, quem melhor para lidar com algo tão… íntimo?” Ela sorriu, claramente se divertindo com suas próprias palavras de duplo sentido.

Azrael permaneceu impassível, mas Samael não pôde evitar um pequeno suspiro de cansaço. Belzebu adorava testar os limites, especialmente na presença dela.

“O general não sobreviverá por muito tempo, então você deve ser rápido,” continuou Samael, focada na missão. “Após copiar a habilidade, você voltará ao palácio e a usará para purificar a serva. Isso é vital, Azrael. Esperamos que entenda a seriedade da situação.”

“Mas claro, não precisa ser tudo trabalho,” acrescentou Belzebu, se aproximando de Azrael com um sorriso travesso. “Tenho certeza de que haverá… recompensas por seu esforço. Se é que me entende.”

Azrael assentiu, ouvindo atentamente, mas não reagindo às provocações de Belzebu. Ele já estava acostumado com o jeito brincalhão dela, mas sabia que havia uma missão séria em jogo.

Samael, vendo que Azrael estava pronto, finalmente o dispensou. “Prepare-se, partiremos em breve.”

Antes de se afastar, Belzebu lançou mais um olhar a Azrael, piscando. “Não demore, querido. Estou ansiosa para ver o que você pode fazer.”

Azrael caminhava em silêncio pela estrada de terra que o levava à vila. Não havia necessidade de uma escolta; ele era mais do que capaz de se proteger e de lidar com qualquer situação que surgisse. O sol já começava a se pôr no horizonte, lançando uma luz dourada sobre os campos e casas simples da vila. O vento suave balançava as árvores, e o ar estava carregado com o cheiro de terra e folhas.

Ao chegar na vila, foi recebido pelo líder local, um homem de expressão cansada e olhos que refletiam anos de dificuldades. Ele o guiou pelo vilarejo até uma casa isolada, de aparência humilde, onde o antigo general vivia. Enquanto caminhavam, o líder explicou a situação, descrevendo o general como alguém que já havia liderado grandes exércitos, mas que agora estava acamado, apenas esperando seu fim.

“Ele está fraco,” disse o líder com um suspiro, parando na frente da porta. “Mas tenho certeza de que ainda pode ser útil. Ele sabe que você viria.”

Azrael assentiu em silêncio, empurrando a porta de madeira e entrando na casa. O ambiente estava calmo, exceto pelo som suave da respiração do homem que jazia na cama. O ex-general, cujo nome era Velgor, estava deitado entre travesseiros desgastados, seu rosto marcado pela idade e pelos muitos anos de batalha.

Os olhos de Velgor se abriram lentamente ao ouvir a aproximação de Azrael, e um sorriso cansado surgiu em seus lábios.

“Então… você é o jovem de quem tanto ouvi falar,” Velgor disse, sua voz rouca e fraca, mas ainda carregada de dignidade.

Azrael se aproximou da cama, observando o homem por um momento antes de responder. “Sim. Vim copiar sua habilidade, como solicitado.”

Velgor soltou uma risada curta, mas sincera, e gesticulou para que Azrael se sentasse em uma cadeira próxima. “Direto ao ponto, hein? Gosto disso. A maioria das pessoas olha para mim como se eu já estivesse morto. Mas você… você me encara como se eu ainda fosse útil.”

Azrael, sempre direto, respondeu com uma honestidade simples. “Sua condição não importa. O que você tem a ensinar é o que eu preciso.”

O sorriso de Velgor se alargou um pouco mais, e ele fechou os olhos por um momento, apreciando a franqueza do jovem à sua frente. “Poucos têm essa visão, garoto. Você não tem ideia de como é reconfortante não ser tratado com pena.”

Azrael manteve o silêncio, mas havia uma compreensão mútua entre os dois. Velgor, sem mais demora, começou a explicar a habilidade que possuía. Uma magia antiga, que poucos conseguiram dominar, capaz de purificar qualquer maldição. Um poder de cura tão profundo que podia livrar até o corpo mais corrompido.

“Agora, preste atenção,” disse Velgor, estendendo uma mão trêmula. Um brilho suave emergiu de suas palmas, e Azrael imediatamente ativou sua habilidade. Seus olhos brilharam levemente enquanto observava o fluxo de mana no corpo do general.

Ele viu cada detalhe — a forma como a energia fluía através dos canais do corpo de Velgor, as intricadas rotações da mana que resultavam na manifestação da habilidade. Azrael absorvia cada movimento, cada nuance, sua mente trabalhando com uma precisão quase mecânica. Em poucos segundos, ele havia copiado perfeitamente a técnica.

Velgor, com um sorriso satisfeito, deixou o brilho em sua mão desaparecer. “Você conseguiu… posso ver em seus olhos. Você realmente é um prodígio, garoto.”

Azrael se levantou, olhando para o homem que, mesmo em seus últimos dias, havia contribuído para algo maior. “Obrigado por compartilhar sua habilidade. Vou usá-la como foi pedido.”

O general assentiu lentamente, com um suspiro pesado. “Saber que algo de mim continuará por meio de você é um alívio. A vida é cheia de batalhas, mas conhecer alguém como você… me faz sentir que, talvez, minha história não tenha sido em vão.”

Azrael, sem responder, fez uma leve reverência em respeito antes de se virar para sair. Velgor o observou, sentindo que o fim estava próximo, mas satisfeito por ter conhecido um jovem tão excepcional em seus últimos momentos.

Quando Azrael partiu da vila, o vento parecia mais frio, o ar mais denso, como se a própria natureza reconhecesse a passagem de algo importante. Ele sabia que sua próxima parada seria o palácio, onde a habilidade que acabara de adquirir seria colocada em uso. Mas, por um breve momento, ele refletiu sobre o encontro com Velgor, sentindo que, de alguma forma, tinha aprendido algo além da habilidade de purificação.

Ele acelerou o passo, determinado a completar sua missão e retornar ao lado de Samael e Belzebu.

No último dia do ano estipulado por Samael, Azrael reuniu seus pertences com a habitual precisão e foco. Ele havia completado todas as missões designadas, treinado incessantemente e até feito amigos entre os mercenários, algo que, inicialmente, parecia impossível para alguém tão reservado quanto ele. No entanto, agora era hora de se despedir.

Os mercenários, acostumados à presença calma e direta de Azrael, estavam reunidos no acampamento para uma despedida simples, mas sincera. Muitos o respeitavam, não apenas por sua força, mas pela forma como cumpria suas missões com seriedade inabalável. Eles sabiam que ele não era como os outros, e isso o destacava.

“Azrael,” chamou um dos mercenários mais próximos dele, Ragnar, um homem robusto com uma cicatriz no rosto. “Você sempre foi um cara quieto, mas nós apreciamos seu tempo aqui. Não se esqueça de nós, hein?”

Azrael, como sempre, acenou brevemente com a cabeça. “Obrigado. Não esquecerei.”

Os demais soltaram risadas e palmas nos ombros de Azrael, embora soubessem que ele não era de expressar grandes emoções. Mesmo assim, ele se permitiu um pequeno sorriso, um gesto raro que demonstrava que, de alguma forma, ele valorizava aquelas conexões.

Antes de partir, no entanto, Azrael recebeu uma mensagem. Belzebu o havia convidado ao seu palácio para uma despedida informal. Sabendo como a rainha dos demônios gostava de eventos festivos e, principalmente, de provocar tanto ele quanto Samael, Azrael não esperava algo convencional.

Quando chegou ao grandioso palácio de Belzebu, foi recebido por um grupo de criados e conduzido diretamente aos jardins internos, onde Belzebu e Samael o aguardavam. O ambiente estava adornado com luzes suaves, e a decoração refletia um misto de elegância e exuberância que era a marca registrada de Belzebu.

“Ah, finalmente chegou!” exclamou Belzebu ao vê-lo, seus olhos brilhando com o costumeiro tom de malícia. Ela estava vestida de forma deslumbrante, com um vestido negro que parecia feito de sombras vivas, realçando sua aura intimidadora e misteriosa.

Samael, ao lado, vestia algo mais simples, mas não menos impressionante. Seus olhos o observavam com a mesma serenidade de sempre, embora houvesse algo de nostálgico em sua expressão.

“Não poderíamos deixar você partir sem uma despedida apropriada,” continuou Belzebu, andando em volta de Azrael de forma graciosa, mas sempre com aquele sorriso que parecia esconder um segundo significado. “E, claro, sem algumas últimas… provocações.”

Samael soltou um suspiro, já acostumada com as brincadeiras da amiga. “Não dê ouvidos a ela, Azrael. Esta é apenas uma maneira de Belzebu se divertir às suas custas.”

Belzebu riu, inclinando-se ligeiramente para Azrael. “Oh, querida Samael, você me conhece tão bem. Mas, vamos lá, Azrael, não pode me culpar por querer me despedir de alguém tão… talentoso. Talvez um pouco mais do que deveria ser, em alguns aspectos, não acha?”

Azrael permaneceu impassível, como de costume. Ele já havia se acostumado às brincadeiras de duplo sentido da rainha dos demônios e sabia que, apesar de seu tom provocador, havia um profundo respeito por trás de suas palavras.

“Foi um ano interessante,” comentou Samael, desviando a conversa para algo mais sério. “Você cresceu muito, Azrael. Aprendeu mais do que a força bruta. Este é apenas o começo de sua verdadeira jornada.”

Belzebu, balançando uma taça de vinho nas mãos, lançou um olhar enigmático a Samael antes de voltar sua atenção para Azrael. “Ela está certa, você sabe. Mas, honestamente, estou curiosa. Qual será o seu próximo grande passo, querido Azrael? Alguma grande aventura planejada? Ou talvez algo mais… íntimo?” Ela riu levemente, piscando para ele.

Azrael, como sempre, ignorou o comentário provocador e respondeu com simplicidade. “O que vier a seguir, enfrentarei como sempre. Não penso muito sobre o que virá.”

Samael, satisfeita com a resposta, assentiu. “Esse é o espírito. Continue sendo fiel a si mesmo. O caminho à frente será cheio de desafios, mas você está preparado.”

“Ah, Samael, sempre tão séria,” Belzebu comentou, tomando um gole de sua taça. “Mas não se preocupe, Azrael. Quando precisar de um… descanso da vida de aventureiro, meu palácio sempre estará de portas abertas. E eu sempre estarei por aqui, pronta para te receber da maneira mais… calorosa possível.”

Azrael permaneceu firme, sem esboçar qualquer reação às palavras de Belzebu. Ele sabia que ela não perderia a oportunidade de brincar até o último momento.

Enquanto a noite avançava, a despedida foi marcada por risos, conversas e o tom leve que Belzebu sempre trazia para suas interações. No entanto, por trás de cada provocação, havia um sentimento genuíno de despedida. Belzebu, por mais brincalhona que fosse, admirava a força e a determinação de Azrael, e Samael, sempre sendo mais reservada, sabia que aquela era uma etapa importante na jornada dele.

No final, quando a noite chegou ao fim, Belzebu deu um passo à frente e, surpreendentemente, em vez de fazer mais uma piada, ofereceu a Azrael um sorriso suave. “Cuide-se, querido. Tenho certeza de que o destino reserva grandes coisas para você.”

Azrael, em sua maneira contida, apenas inclinou a cabeça em sinal de respeito antes de virar-se para partir, deixando para trás o palácio e aquelas duas figuras tão importantes em sua jornada.

Enquanto ele se afastava, Belzebu o observou: “Ele vai deixar saudades, não acha?”, comentou para uma de suas servas, que foi salva por Azrael. 

“Ele é especial. Mas sua jornada está apenas começando.”

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