Enquanto Mana continuava a acariciar minha cabeça, um sentimento de alívio e conforto se espalhava por meu corpo. Seus toques eram como uma carícia do passado, um gesto de ternura que eu não experimentava há tanto tempo. Era como se, naquele momento, todas as cicatrizes emocionais e físicas que carregava começassem a se suavizar.
Seus olhos Negros, normalmente cheios de intensidade e mistério, agora expressavam uma suavidade que raramente era visível. Ela parecia estar aliviada por me ver, mas também preocupada com meu estado atual. Sua voz carregava consigo a cadência de memórias compartilhadas e o peso de anos de ausência.
As palavras que proferiu, mesmo que reprovadoras, eram preenchidas com amor fraternal. Ela entendia os motivos que me levaram a agir da maneira que agi, mas não podia deixar de demonstrar sua frustração por meu desapego à própria vida.
“Por anos eu pensei nas palavras que te diria quando conseguíssemos conversar, mas agora, sinto apenas raiva ao lembrar sua falta de amor próprio”, disse Mana com um suspiro pesaroso.
Minhas palavras de desculpas eram insuficientes para expressar a profundidade de meu arrependimento, mas elas eram sinceras. Era difícil acreditar que, depois de tanto tempo separados, eu finalmente estava diante dela novamente.
“Me desculpe, Mana”, falei com humildade. “Você deve ter se preocupado muito por mim.”
Ela me envolveu em um abraço, seus braços quentes e acolhedores me fazendo sentir como se eu estivesse verdadeiramente em casa. Suas lágrimas molharam meu ombro enquanto ela continuava a acariciar minha cabeça, como fazia quando éramos crianças.
“Eu estava bastante preocupada enquanto te assistia”, confessou ela, sua voz embargada pelas emoções.
Então, veio o choque. Como Mana pôde me observar? Como ela tinha conhecimento de minha vida desde que entrei nos Registros Akáshicos? Essas perguntas pairavam no ar, exigindo uma explicação.
“Você conseguiu me observar?”, perguntei, buscando compreender a extensão de suas habilidades e como ela havia acessado informações sobre minha vida recente.
Mana confirmou minhas suspeitas, explicando que, embora seu acesso ao conhecimento universal fosse limitado, ela conseguira acessar informações sobre minha vida. Era uma habilidade que não deveria possuir, considerando sua chegada forçada a esse lugar.
“De qualquer forma, sei o que aconteceu”, disse ela, agora com um sorriso ameno em seus lábios. “Fiquei triste por não estar ao seu lado no momento em que mais precisou.”
Suas palavras ecoaram profundamente em meu coração. Ela era minha âncora, a luz que iluminava meu caminho, mesmo quando as trevas ameaçavam nos engolir. Agora, tínhamos uma oportunidade de estar juntos novamente, de enfrentar juntos os desafios que o destino nos preparara.
“Mana”, murmurei, olhando nos olhos dela com gratidão. “Não posso mudar o passado, mas prometo que lutarei pelo nosso futuro, pelo amor próprio que você quer que eu tenha. Juntos, enfrentaremos qualquer adversidade que surgir em nosso caminho.”
Os olhos de Mana brilharam com uma mistura de alívio e esperança ao ouvir minhas palavras. Era como se uma carga de responsabilidade tivesse sido compartilhada, um fardo que ela carregara por tanto tempo agora dividido entre nós dois. O vínculo entre irmãos, que o tempo e a distância não conseguiram enfraquecer, parecia mais forte do que nunca naquele momento.
Ela deu um passo para trás, ainda segurando meus ombros com ternura, e olhou profundamente nos meus olhos. Era um olhar que transmitia confiança, um lembrete silencioso de que, não importasse o que enfrentássemos, não estaríamos sozinhos.
“Eu acredito em você, Azrael”, disse ela com sinceridade. “E estarei ao seu lado, como sempre estive. Não importa o quão sombrio o caminho possa parecer.”
Seu sorriso me trouxe uma sensação de paz que há muito tempo eu não experimentava..
“Obrigado, Mana”, murmurei, sentindo uma onda de gratidão transbordar em cada palavra. “Você é a razão pela qual eu continuo a lutar, a razão pela qual eu encontrei a força para seguir em frente.”
“Já está bom de conversar sobre o passado.”
***
Mana
A biblioteca dos registros parecia se estender infinitamente, um lugar onde o tempo fluía de maneira peculiar. Meu encontro com Azrael tinha sido breve, mas significativo, e agora eu estava de volta a este reino atemporal, onde a informação fluía como um rio cósmico.
Z, o Deus Supremo, estava ao meu lado, observando minha reação enquanto eu processava o encontro com meu irmão. A expressão de Z era tranquila, mas havia uma tensão subjacente em seus olhos, como se ele também estivesse ciente da gravidade do que estava acontecendo.
“Mana, você está bem?”, perguntou Z com preocupação.
Assenti lentamente. “Sim, estou bem, Z. Foi emocionante e doloroso ao mesmo tempo. Ver meu irmão depois de tanto tempo… foi inestimável.”
Z assentiu compreensivamente. “Eu posso imaginar como deve ter sido.”
Olhei em volta, observando as inúmeras estantes de registros cósmicos que se estendiam até onde os olhos podiam ver. Este lugar continha todo o conhecimento do universo, um tesouro de informações que eu, de alguma forma, estava conectada. No entanto, a sensação de impotência me atingiu. Por mais que eu tivesse acesso a esse vasto repositório de sabedoria, havia limitações em minha capacidade de usá-lo.
“Z, eu queria tanto poder compartilhar o que aprendi com Azrael. Mas as leis cósmicas me impedem de fazer isso.”
Z assentiu novamente, parecendo entender minha frustração. “As leis cósmicas são rígidas e inflexíveis. Mesmo nós, divindades, temos nossos limites quando se trata de interferir nos assuntos dos mortais.”
Eu suspirei. “Eu só queria poder ajudá-lo mais. Ele está enfrentando um destino sombrio, e eu não sei o que fazer para mudá-lo.”
A revelação de Z ecoou dentro de mim como uma nota triste em uma melodia sombria. A inevitabilidade da morte de Azrael, mesmo após todas as ações tomadas para mudar o curso do destino, pesou sobre meus ombros como uma montanha intransponível. A ideia de perder meu irmão, o único elo familiar que eu tinha neste vasto universo, era quase insuportável.
“Então, não importa o que façamos, o destino de Azrael é selado?”, perguntei, com a esperança de que houvesse alguma margem de manobra, mesmo que pequena.
Z suspirou, parecendo tão impotente quanto eu. “Parece que sim. O curso dos eventos está profundamente entrelaçado com o tecido da realidade. Mesmo as divindades têm limitações quando se trata de alterar o destino. Mas… Azrael é uma exceção.”
“Uma exceção? Como assim?” Minha curiosidade foi instantaneamente despertada.
“De acordo com as leis cósmicas, Azrael é único, uma entidade que transcende muitas barreiras, até mesmo o próprio destino. Sua jornada é um enigma que desafia a compreensão das divindades. Ele é o fio desenrolando o novelo, uma variável imprevista no grande esquema das coisas.”
Essa revelação aumentou minha perplexidade. Azrael, meu irmão, era verdadeiramente extraordinário, alguém que podia desafiar as regras que regiam o universo. Mas ainda assim, ele estava destinado a morrer.
“O que podemos fazer então? Como podemos protegê-lo?” Perguntei, minha determinação se fortalecendo. Eu não permitiria que meu irmão enfrentasse seu destino sozinho, mesmo que o inevitável espreitasse.
Z olhou para mim com gratidão. “Sua vontade é admirável, Mana. Mas a melhor maneira de proteger Azrael é estar ao lado dele, como você sempre fez. A força do vínculo entre vocês é um poder que transcende qualquer destino.”
Prometi a mim mesma que ficaria ao lado de Azrael, não importando o que o futuro reservasse. Mesmo que não pudéssemos mudar seu destino, pelo menos ele não enfrentaria sua batalha final sozinho. Eu estaria lá para apoiá-lo, para compartilhar suas alegrias e tristezas, e para lembrá-lo de que ele não estava sozinho neste universo implacável.
Enquanto as últimas palavras de Z ecoavam em meus ouvidos, uma sensação de determinação se apossou de mim. Eu não podia mudar o destino de Azrael, mas poderia estar ao seu lado, para enfrentar o inevitável juntos. Era uma promessa que eu faria a mim mesma, um juramento que manteria até o fim de todas as eras.