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Ao abrir os olhos, fui recebido por rostos familiares que preenchiam todos os cantos do grande quarto destinado à realeza. Luna chorava abraçando Vlad, enquanto Eriel e Jofiel pareciam aliviadas com meu despertar. As irmãs Elara e Lethea exibiam sorrisos genuínos, verdadeiramente felizes com minha recuperação. No entanto, notei a ausência da pessoa que mais desejava encontrar ao meu lado nesse momento.

Após um longo suspiro, percebi que não havia motivos para continuar deitado.

“Sentiram saudades?”, comentei, notando sorrisos surgindo ao final da minha frase.

“Pensei que você ficaria desmaiado por mais alguns dias”, brincou Vlad com um toque de ironia.

Lembrei da conversa que tive com Mana nos momentos antes de voltar à consciência. Suas palavras haviam me trazido de volta à realidade. Por muito tempo, vivera com a intenção de me tornar alguém melhor, mas graças a uma simples conversa, percebi que estava errado.

“Onde está Samael?”, perguntei a Eriel.

“Oh? Ela deve estar vindo. Lethea mandou alguém chamá-la ao notar que você estava acordando.”

A ansiedade tomou conta de mim. Entre todas as pessoas presentes, Samael era a que esteve ao meu lado na maior parte da minha vida. Se havia alguém que deveria me ver nesse momento, era ela.

Foi quando a porta se abriu. Todos os olhares se voltaram para a pessoa que entrou. Samael estava linda como sempre, sua presença superando a de qualquer outra pessoa.

Ela caminhou em minha direção, mas eu não poderia permitir que ela se aproximasse primeiro. Com um esforço para superar a fraqueza que ainda sentia, levantei da cama. Luna tentou me segurar, mas eu me libertei com um gesto gentil de mão.

Caminhei em direção a Samael, que parecia surpresa com minhas ações até aquele momento.

Ao me aproximar, soltei um leve suspiro, que se transformou em um sorriso sincero. Pela primeira vez em quase trezentos anos, eu não estava fingindo o meu sorriso, não havia motivos para fingir. Eu estava com meus amigos e pessoas próximas.

Meu sorriso surpreendeu Samael, mas a surpresa logo se transformou em dúvida quando meus braços envolveram seu corpo em um abraço.

Ela não entendia completamente minhas ações, mas isso não me incomodava.

“Azrael, você está doente?”, ela perguntou, com lágrimas brotando de seus olhos. “Quantos anos se passaram desde a última vez que eu te vi sorrir dessa forma?”

Samael me treinou, me acompanhou e me ensinou tudo o que eu sabia. Se hoje eu me tornara alguém digno, tudo era mérito dela.

“Samael”, minha voz fraca chegou aos seus ouvidos como um sussurro. “Obrigado…”

Mais uma vez, Samael se surpreendeu, mas as lágrimas começaram a cair mais fortemente enquanto ela tentava manter o rosto neutro.

“Quando eu era um incompetente. Quando perdi uma pessoa amada. Quando fiquei desacordado por 5 anos. Quando me tornei amargo e finalmente, quando me perdi. Você foi a única pessoa que esteve ao meu lado, me apoiando mesmo quando todos estavam contra mim.”

Tive muito tempo para refletir enquanto estive aprisionado, mas quem diria que, em uma conversa com Mana, eu perceberia o que não havia notado em 300 anos?

“Você sempre me apoiou, me tratou como um igual e nem mesmo questionou minhas decisões extremas. Convenceu Lucifer a me perdoar quando matei a família de nobres que aprisionava Naara e até mesmo me salvou no momento em que mais precisei.”

Minhas palavras eram profundas, e finalmente percebi os esforços de Samael e o quanto ela havia suportado meu comportamento sem que eu percebesse as consequências.

“Me desculpe por não notar seus esforços e obrigado por estar ao meu lado.”

As lágrimas de Samael cessaram enquanto ela sorria. “Você se tornou bastante falador. Quando isso aconteceu?”, disse Samael com um sorriso enquanto enxugava suas lágrimas.

“Chegou a hora de comemorar. Tivemos uma vitória significativa, então… Essa é a melhor ocasião possível”, eu disse, dirigindo meu olhar para Eriel. “Eriel, poderia abrir o espaço dimensional? Existe um item que vale a pena abrir hoje.”

Ainda sem entender minhas intenções, Eriel abriu o espaço dimensional, e eu coloquei a mão dentro para retirar o item mais precioso que eu possuía. Um item que valia mais do que a economia de vários planetas. O item mais raro do universo, com apenas dois existentes.

Ao retirar a garrafa, um leve sorriso apareceu no rosto de Samael.

Esse era um vinho preparado por Samael em seu auge, a bebida mais cobiçada do universo.

Existiam quatro garrafas, mas duas delas já haviam sido consumidas. A primeira vez que o mundo viu essa garrafa foi durante o tratado entre as facções dos anjos e demônios, quando o antigo rei dos demônios, Satã, a recebeu e compartilhou após Belial vencê-lo em um duelo pelo trono. A segunda garrafa foi dada ao rei Belial quando sua primeira criança nasceu, como um presente.

Todo o universo conhecia a raridade dessa bebida, já que ela havia sido compartilhada com os maiores apreciadores nas duas ocasiões em que foi presenteada. Foi descrito que seu sabor era digno dos deuses, com uma sensação única que se comparava à experiência de alcançar o nirvana, e apenas um pequeno copo tinha o preço de toda a economia de um planeta.

“Isso é?”, disse Vlad, surpreso com a garrafa em minha mão.

“Como é de conhecimento de todos, existiram quatro garrafas, mas atualmente apenas duas restam. Esta é uma delas”, eu disse, entregando a garrafa a Vlad. “Poderia preparar? Vamos comemorar esta noite.”

As duas últimas garrafas estavam em posse de uma única pessoa, Azrael, discípulo de Samael. Ninguém sabia sobre esse fato, apenas que existiam mais duas garrafas, ou melhor, uma, já que eu estava abrindo a outra naquela noite.

Samael se aproximou e sussurrou: “Apenas uma é suficiente? Você não deveria usar as–”

Eu a interrompi antes que ela pudesse terminar sua frase. “Não. Esta bebida é forte o suficiente para que apenas um copo me deixe relativamente embriagado, então não é necessária a segunda garrafa. Além disso… Estou guardando a outra para um dia muito especial.”

Eu não sabia quando ou onde abriria a última garrafa, mas Z, no passado, enfatizou que eu deveria guardá-la, pois saberia exatamente quando usá-la.

***

A noite caiu, a festa começou sem problemas. Os Portões do castelo foram abertos para os plebeus e alguns nobres. Vlad explicou aos cidadãos os eventos que ocorreram durante minha batalha. Fiquei surpreso ao ouvir que houve vários ataques à capital e que a força principal estava lutando contra mim e Samael. Os guardas fizeram um ótimo trabalho ajudando a proteger a população.

No final da noite, nos reunimos em uma grande sala no castelo, onde apenas os membros principais estavam presentes. Era uma oportunidade para aproveitarmos a noite com liberdade, sem precisar agir como nobres. Foi uma noite extremamente reconfortante, conversando com amigos e aproveitando cada segundo. Pensei que não poderia experimentar algo parecido novamente.

Quando partirmos do país das fadas, já tinha um novo local em mente, e o treinamento de Samael recomeçará. Em um ano, meu corpo deve estar em sincronia com meu poder. Perdi alguns dias no corpo de Eriel, mas consegui entender um pouco sobre o poder do tempo, o que aumenta minha capacidade de copiar partes dessa habilidade nascente.

Absorto em meus pensamentos, não notei a aproximação de Luna, mas senti a tapinha em meu ombro que ela me deu, fazendo-me olhar com surpresa em sua direção.

“Quem imaginaria que veria você assim”, comentou Luna enquanto observava a direção de Eriel, que sorria com entusiasmo enquanto conversava com Elara.

“Mas aquele não sou eu…”, comentei com um suspiro desanimado.

Luna sorriu enquanto colocava a mão em meu ombro.

“Eu ouvi as histórias do príncipe dos demônios.”

“Ex?”, perguntei.

“Azrael. Você passou por muitas coisas, mas isso está no passado, certo?”, disse ela com uma voz reconfortante. “Você é do tipo que não supera o passado?”

Sorri, não havia motivo para sua pergunta, já que eu estava agindo normalmente, mas o encontro com Mana nos registros me fez pensar mais sobre o tempo que perdi.

“Quando exatamente vamos ao país das fadas?”, tentei mudar de assunto, arrancando um suspiro de Luna.

“Amanhã à noite. Vamos para um teleporte que escondi no planeta do monarca. Esse teleporte nos permitirá entrar nos domínios da rainha.”

Luna me explicou que para ir ao planeta das fadas, era necessário um convite da rainha, mas naquele momento, a princesa estava nos dando essa permissão. Claro que deveríamos agir com cautela até conseguir uma audiência, mas a parte mais problemática já havia passado.

“E como exatamente é sua mãe?”, perguntei.

Luna pareceu pensar um pouco, mas logo respondeu com um sorriso no rosto.

“Uma mulher incrível que faria de tudo pelo seu povo. Uma rainha inteligente e forte, mas carinhosa. Acho que essa é a melhor descrição para ‘aquela’ mulher.”

Notei o sorriso de Luna se tornando distante enquanto falava sobre sua mãe.

“Contudo, uma mãe não é muito boa?”, perguntei, percebendo a resposta em seu rosto.

“Ela não é perfeita…”

Parecia que eu havia entrado em um campo minado, então olhei discretamente na direção de Eriel. Notando meu olhar, Eriel se disfarçou com um sorriso.

“Não está aproveitando a festa?”, ela perguntou ao se aproximar. 

Continuamos a conversar por alguns minutos até Luna se retirar. Ela decidiu conversar com os outros, deixando-me sozinho com Eriel. Procurei Samael com os olhos, mas não consegui encontrá-la. Talvez ela tenha saído para tomar um ar.

“Você já pensou no próximo destino?”, perguntou Eriel.

Eu estava pensando em visitar uma pessoa específica após encerrar nossa visita às fadas.

“Acho que Givek… Faz alguns anos desde minha última visita.”

Eu estava curioso para ver o progresso do planeta que criei.

“Então é assim… Bom, sempre quis conhecer aquele planeta, desde que o vi no passado.”

“Parece que escolhi uma viagem interessante.”

Conversar com Eriel era interessante, como se eu estivesse conversando comigo mesmo.

Lembrei do meu encontro com Julia. Ela não parecia estar sob o efeito de uma restrição ou controle mental, mas não conseguiu contar para Eriel sobre nosso encontro. Saber que sua mãe a observava de longe sem ao menos se aproximar para conversar não seria uma sensação boa, eu presumo.

“Oh? Você está bebendo.”

“Isso? O vinho que você preparou. Devo comentar que nunca tomei algo tão delicioso.”

Normalmente, Eriel deveria maneirar, já que o vinho preparado por Samael era extremamente alcoólico. Por estar no meu corpo, a bebida não parecia ter o efeito completo, mas ela deveria ter cuidado.

“Quer um pouco?”, ofereceu Eriel.

“Claro.”

Peguei o copo de Eriel e tomei uma pequena fração da bebida, a menor possível, já que era uma bebida muito forte. A sensação que recebi foi a de beber um líquido divino que parecia ser feito pelo próprio deus. Talvez por estar em um corpo humano, o sabor se tornasse algo ainda mais marcante, ao ponto de me fazer sentir no céu.

Contudo, foi apenas essa sensação que senti em minha mente naquela noite, já que, daquele ponto em diante, não me conseguiu lembrar de nada do que aconteceu. A noite se tornou uma névoa na minha memória, como se tivesse sido apagada.

***

“Hmm… Minha cabeça.”

Ao acordar, meu corpo parecia um pouco pesado, mas ao mesmo tempo senti um rompimento estranho. Os raios de sol da manhã batiam em meu rosto, fazendo-me sentir um pouco revigorado, mesmo com a dor de cabeça.

“Eu exagerei ontem?”

Por algum motivo, não consegui me lembrar do que aconteceu, o que me deixou um pouco incomodado.

“Azrael… Bom dia.”

A voz sonolenta que chamava o meu nome me fez congelar enquanto observava o corpo despido ao meu lado. Foi quando notei que eu também estava sem roupas.

Olhai surpreso para Eriel, que se levantou da cama ainda sonolenta. Ela me olhou enquanto passava a mão em seus olhos, tentando se manter acordada.

Olhando em minha direção, seu sono pareceu passar na mesma hora quando ela me olhou com espanto e em seguida olhou para si mesma. A falta de roupas deixava tudo difícil de entender, mas parecia que tínhamos cometido algum erro na noite passada e isso estava estampado em seu rosto.

“Eh? Azrael… O que aconteceu”, disse Eriel envergonhada enquanto cobria o seu rosto com os lençóis.

“Não me pergunte,” respondi sem jeito. Não consigo entender a situação, mas Eriel parecia sentir o mesmo que eu.

“Será que–,” comentou Eriel enquanto se aproximava. “–Azrael, abra as pernas.”

Ainda confuso e envergonhado com a situação, Eriel se mudou sem pensar e pressionou minhas pernas com o rosto vermelho. Pensei que aquela situação parecia estranha e vergonhosa, mas tudo se tornou pior quando escutei a porta abrir.

Em nossa frente, Samael observou aquela situação com um rosto apático enquanto permanência parada.

“Isso não é–”, comentou Eriel enquanto me soltava.

“Acho que é melhor eu voltar mais tarde. Por favor, continue, não precisa se preocupar comigo.”

Antes que Samael pudesse sair, saltei da cama e segurei em sua mão de forma apressada.

“Espera. O que aconteceu ontem à noite. Não consigo me lembrar….”

Samael me olhou surpreso, mas sua expressão logo mudou para um sorriso sarcástico.

“Como pode dizer que não se lembra enquanto sua parceira ainda está no quarto?”

O que diabos aconteceu? Pensei…

Olá, eu sou o Monarca!

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