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Elara

Planeta Hiferlien

Enquanto percorria os corredores do palácio, meus paços ecoavam no silêncio tenso que pairava no ar. O vislumbre da movimentação dos guardas indicava a iminência de uma batalha. Os salões, outrora repletos de cortesãos e conselheiros, agora estavam vazios, pois o reino se refugiara no último bastião: o imponente palácio.

Intrigada e apreensiva, dirigi-me ao salão real, onde Lethea, minha irmã, parecia envolvida em uma conversa séria com nosso pai. Minha entrada não passou despercebida, e a expressão de alívio nos olhos do grande monarca dos vampiros revelou a gravidade da situação.

“Elara”, sua voz ressoou, misturando preocupação paterna. “Fique com Lethea e esteja preparada para evacuar, se necessário”, instruiu ele, prontamente se dirigindo para o tumulto lá fora.

Inquiri sobre o que estava acontecendo, ansiosa por esclarecimentos. Os olhos do monarca encontraram os do comandante do exército, que acenou confirmando que podíamos aguardar um momento.

“Nosso país está sendo invadido”, anunciou ele após uma pausa. Em minha arrogância vampiresca, subestimei inicialmente a ameaça. “Quantos inimigos temos?”, indaguei, imaginando um vasto exército a enfrentar.

“Dois”, respondeu meu pai, desafiando minha expectativa. A perplexidade tomou conta de mim ao observar a movimentação frenética de nossas tropas. Por que a evacuação era necessária diante de tão poucos oponentes?

“Pai, por que toda essa preocupação? Apenas dois inimigos contra o exército vampírico não deveriam ser motivo de temor”, questionei, confiante.

Então, seus olhos se voltaram para o comandante, e uma sombra de desespero se manifestou em seu semblante. “Se fossem simples inimigos, eu concordaria, mas… são ‘Nascidos da Noite'”, declarou, e meu corpo estremeceu involuntariamente.

A menção aos temíveis ‘Nascidos da Noite’ trouxe à tona lembranças de uma batalha passada, onde contamos com a ajuda de Azrael para evitar desastres irreparáveis. “Podemos chamar Azrael em nosso auxílio?”, sugeriu Lethea.

“Não”, recusou meu pai prontamente. “Não haveria tempo para a chegada dele, e mesmo que houvesse, as perdas seriam inaceitáveis. Não podemos deixar nosso destino nas mãos de uma criatura recém-criada.”

Ao receber a notícia de que a invasão havia ultrapassado a primeira linha de defesa, a tensão atingiu um novo patamar. Meu pai, em um tom imponente, tentou infundir confiança nas tropas, mas a revelação das habilidades dos inimigos, “Adaptar” e “Colheita”, lançou um véu de desespero sobre todos.

Os ‘Nascidos da Noite’ eram conhecidos por fortalecerem-se durante a escuridão da noite, tornando-se formidáveis oponentes. A habilidade “Adaptar” os permitia ajustar-se aos seus adversários, acumulando força irreversível. O termo “Colheita” trouxe à mente as repugnantes memórias associadas a Azrael, que compartilhava um ódio profundo por essa habilidade.

Diante da inevitabilidade do confronto, meu pai instruiu a evacuação, e Lethea foi designada a liderar nosso povo para o reino demoníaco em busca de refúgio. Entregou-lhe uma carta destinada a Azrael, revelando a gravidade da ameaça.

“Elara, sei que é perigoso, mas preciso de sua ajuda. Pode ficar em um local seguro e nos dar suporte”, solicitou meu pai, reconhecendo minha disposição de enfrentar o perigo como a princesa herdeira.

“Farei tudo que estiver ao meu alcance”, respondi, decidida a desempenhar meu papel no desenrolar dessa batalha sombria.

Os minutos que se seguiram foram carregados de urgência e tensão, enquanto o palácio se transformava em um reduto de preparação para a iminente batalha. O tilintar metálico das armaduras misturava-se ao eco dos passos apressados dos soldados, enquanto estratégias eram discutidas em suspiros rápidos e olhares apreensivos.

Meu pai, o grande monarca dos vampiros, olhou-me com um misto de orgulho e preocupação. “Elara, fique no observatório do alto da torre. Dali, terá uma visão privilegiada e poderá coordenar nossas defesas. Não subestime os ‘Nascidos da Noite’; eles são uma ameaça singular, e sua astúcia é tão letal quanto sua força.”

Assenti, aceitando a responsabilidade que me fora confiada. Subi as escadas em espiral até o topo da torre, onde o observatório se revelava como um santuário solitário diante da iminência do conflito. A vista panorâmica da paisagem, agora tingida pelos tons crepusculares, inspirava tanto temor quanto determinação.

O céu, pontilhado pelas primeiras estrelas, parecia sussurrar a chegada dos ‘Nascidos da Noite’. A escuridão, aliada deles, era o cenário perfeito para que suas habilidades alcançassem seu auge. No horizonte distante, o avanço silencioso dos invasores começava a se desenhar.

Enquanto eu observava, o estrategista do exército vampírico se aproximou, trazendo consigo mapas detalhados e planos de batalha. Estudamos juntos cada possibilidade, cada estratégia, sabendo que a menor hesitação poderia custar não apenas a batalha, mas o futuro de nosso reino.

A noite se desdobrava, e a atmosfera no observatório se impregnava com a energia da iminente colisão. As estrelas cintilavam acima, indiferentes ao drama que se desenrolava abaixo. Os primeiros confrontos nas fronteiras do reino começaram a ecoar, sinais inconfundíveis de que a guerra estava prestes a alcançar nosso último refúgio.

Meu pai, ao liderar as tropas, não demonstrava hesitação, mas a preocupação que pesava sobre seus ombros era evidente. “Elara, não subestime o poder deles. Mantenha os olhos abertos e esteja pronta para qualquer reviravolta. As habilidades dos ‘Nascidos da Noite’ são imprevisíveis.”

Os minutos se desdobraram lentamente, cada um carregado com a intensidade da batalha que se desenrolava. Os sons da guerra, como uma sinfonia caótica, ecoavam até o alto da torre, misturando-se em uma cacofonia de choques metálicos, rugidos e gritos de batalha. Cada eco ressoava profundamente em minha alma, reafirmando a gravidade do momento.

Enquanto as estrelas permaneciam indiferentes, eu continuava a observar do alto da torre, testemunhando a dança sombria da guerra. Consciente de que meu papel era crucial, apesar de distante do calor do combate, eu me mantinha firme diante do desafio. A noite escondia segredos e desafios que apenas o nascer do sol seria capaz de revelar.

“Senhorita, estou saindo”, anunciou o guarda ao levar consigo os estrategistas, deixando-me sozinha naquele ambiente úmido e gelado. Minha visão aprimorada permitiam-me observar o campo de batalha enquanto aplicava minhas habilidades de cura nos feridos.

Foi então que pude vislumbrar o primeiro inimigo. Um jovem de cabelos brancos empunhava sua espada com destemor diante da horda de vampiros. Seu rosto impassível refletia a luz do luar, destacando olhos vermelhos como chamas ardentes. Lutando contra as tropas, seu poder aumentava visivelmente, revelando a presença da magia nascente “Adaptar”. Sua aura luminosa se expandia enquanto ele lançava magias poderosas contra os inimigos mais distantes.

Ao norte, a segunda figura enfrentava a outra parte do exército vampírico. Uma linda mulher que mais perecia uma boneca feita a mão. Cabelos brancos dançavam em harmonia com seus movimentos refinados de espada. Com cada inimigo derrotado, sua magia, força e mana cresciam, alimentando-se das almas dos mortos.

Nossos olhares se encontraram à distância. Mesmo do outro lado do campo de batalha, pude sentir seu olhar direto sobre mim enquanto sorria, cortando os inimigos com maestria. Seus olhos, um vermelho vibrante e o outro sem cor, como a escuridão de uma noite sem estrelas, intensificavam a atmosfera.

Seu sorriso se ampliou quando ela começou a canalizar magia em uma das mãos, enquanto brandia sua espada na outra. A magia acumulada se manifestou como uma imensa esfera de energia escura, com mais de dez metros de diâmetro. Seu poder estava quase todo concentrado naquele ataque devastador, lançado em direção ao castelo, despedaçando tudo em seu caminho. O impacto do ataque reverberou pelo campo de batalha, marcando o início de uma noite que prometia ser repleta de desafios.

***

“Elara, Elara!” Acordei sob o chamado desesperado de meu pai, meus olhos se fixaram nos ferimentos em seu corpo enquanto ele lutava para manter a calma no rosto.

“Pai, o que aconteceu?” perguntei, ainda confusa, lembrando-me de ter sido atingida por uma magia poderosa.

“Eles são mais fortes do que esperávamos”, disse meu pai, com sangue escorrendo por seu rosto. “Todas as tropas enviadas foram aniquiladas. Estamos sem tempo, pegue isso”, ele disse, me entregando uma segunda carta.

“Espera, pai. Ainda podemos fazer algo”, eu disse, mas ele protestou.

“Não. Já perdemos todas as nossas tropas, e eles pareciam estar apenas brincando. Elara, por favor, me escute só desta vez. Você precisa ir até o castelo demoníaco. Estarei enviando uma mensagem para o Azrael explicando toda a situação, por favor, minha criança.”

Foi quando a aura destrutiva se aproximou. Dois rostos apareceram em meu campo de visão. A mulher, com um sorriso infantil, chegou ao ambiente carregando o corpo de um dos guardas, enquanto o homem, ainda sem expressão facial, observava a cena.

“Irmã, você deveria se conter mais. Não se lembra do que a mamãe disse?” perguntou o jovem de cabelos brancos.

“Claro que lembro, mas estou ansiosa, muito ansiosa. A mamãe disse que finalmente íamos conhecer nosso pai. Estou animada, maninho, você não está?” Seu tom de voz parecia infantil, como se ela não passasse de uma criança inocente.

Com um suspiro desanimado, o irmão mais novo falou: “Vamos, não seja assim, concentre-se no seu trabalho, temos que terminar tudo o mais rápido possível.”

A garota bufou enquanto fazia biquinho com a boca. “Droga, irmãozinho, quando eu estava me divertindo. Passar todo aquele tempo recebendo tratamento não te deixou entediado? Não existe motivo para acelerarmos, vamos ganhar de qualquer forma”, sua voz continuava infantil, mesmo suas palavras não parecendo. “Veja, você foi muito apressado, agora só restam dois.”

“E de quem é a culpa? Você quem quis testar uma magia e acabou destruindo todo o castelo.”

Enquanto eles estavam distraídos, meu pai avançou, sua lâmina indo ao encontro do pescoço do irmão mais novo, mas antes de atingir seu alvo, com um dedo, a garota de cabelos brancos parou a lâmina facilmente. “Ei,” sua voz agora irritada. “Você tentou machucar o meu irmão?”

Sua mão perfurou o estômago do meu pai, que cuspiu sangue com o ferimento. Foi então que senti uma magia envolver meu corpo. “Não, Pai!”, a magia se ativou, liberando uma aura estranha antes de ativar o teleporte.

“Não vai escapar,” disse o irmão mais novo, enquanto corria em minha direção.

Meu pai, com o último resquício de força, lançou sua espada, mas ela serviu para distrair o irmão mais novo por um breve segundo. “Não tente machucar o meu irmãozinho,” com sua mão livre, em um movimento horizontal, ela realizou um corte em direção ao pescoço do rei dos vampiros.

“Pai!” gritei desesperada.

“Cuide bem de sua irmã. Eu amo vocês,” foram suas últimas palavras, pouco antes de sua cabeça atingir o chão.

O teleporte ativou, enviando-me para o país demoníaco, diante de um Azrael surpreso com minha presença.

“Irmã! Onde está o papai? O que aconteceu?”

As lágrimas começaram a cair, e eu não conseguia criar coragem para falar o que aconteceu. Retirei a carta que meu pai havia me entregue momentos atrás e coloquei nas mãos do Azrael. Meu corpo todo tremia enquanto as lágrimas não cessavam.

Azrael, ainda confuso, leu a carta, e foi quando sua aura explodiu.

“Elara, onde está o papai?”

Não poderia esconder a verdade de minha irmã; não era o certo a fazer, e ela descobriria logo o que ocorreu.

“Nosso pai… Nosso pai,” tentei reunir coragem enquanto soluçava. Minhas lágrimas tornavam-se cada vez mais intensas, enquanto aquela cena passava em minha cabeça repetidamente. “Está — O papai está morto,” minhas palavras fizeram Lethea desabar sobre seus joelhos. Eu a abracei, tentando confortá-la.

Nós duas não poderíamos fazer nada além de chorar. Azrael, em choque, apenas observou sem dizer qualquer palavra.

“Azrael, o papai morreu para me proteger. Se eu não tivesse ficado, se eu não fosse tão fraca–”, fui interrompida por um abraço forte. Azrael acariciou a minha cabeça e a de Lethea.

“Me desculpe, garotas. Se eu estivesse no palácio quando Lethea chegou, tudo teria ocorrido bem,” suas palavras tremulas mostravam o quanto ele estava se esforçando para parecer forte.

Eu o abracei fortemente, e Lethea fez o mesmo. Buscando o conforto do abraço de Azrael nesse momento, consegui me manter sã, mas aquela cena, aquela maldita cena, não saía de minha cabeça.

“Pai… Pai…”, as lágrimas não cessavam, não consegui controlar minhas emoções, eu não conseguia ser forte.

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Olá, eu sou o Monarca!

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