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Mebro da Aliança

Ao refletir sobre os eventos tumultuados, me vi mergulhado em uma reminiscência perturbadora. A última imagem nítida que se firmou em minha mente foi daquela patrulha em um planeta assolado pela invasão daquelas crianças estranhas. Nossa missão era informar sobre o progresso da operação, mas a fatalidade se abateu sobre nós quando nos aproximamos do planeta.

A cena estava impregnada em minha mente: o grupo surpreendido por uma figura majestosa, de longos cabelos brancos e olhos azuis que irradiavam um poder magnífico. Sua capacidade superava a de um comandante de equipe. Em um piscar de olhos, a criatura aniquilou toda a minha equipe, deixando um rastro de destruição em seu despertar.

A identidade daquela força impressionante demorou a se revelar, obscurecida pelo choque dos acontecimentos. Entretanto, a imagem dela permanecia em minha mente, conectando-se ao relatório que recebemos ao ingressar na Aliança. O documento catalogava os níveis de perigo dos indivíduos marcados como alvos, e apenas quatro ostentavam a classificação de perigo máximo. Beliall, uma ameaça a ser evitada; Samael, uma mulher a quem não se deve enfrentar; Belzebu da gula, uma entidade misteriosa ameaçando a existência da Aliança; e Naara. O relatório alertava para fugir a todo custo caso nos deparássemos com Naara, pois a morte por suas mãos seria o próprio inferno.

E ali estava eu, diante dessa figura angelical com olhos frios e imperturbáveis, sua beleza por si só instigando um temor profundo. Respirar tornava-se um desafio na presença avassaladora de Naara.

“Você é o último”, proferiu ela, enquanto seu olhar frio percorria os corpos inanimados de meus companheiros de esquadrão. “Azrael me pediu para deixar dois vivos, mas não consegui, dado a resistência de vocês.”

Aquelas palavras ecoaram em meus ouvidos, marcando o fim iminente. Antes que pudesse processar completamente a informação, um golpe violento atingiu minha cabeça, mergulhando-me em inconsciência.

O despertar foi cruel, acompanhado por uma dor lancinante que percorria meu corpo. Ao abrir os olhos, percebi que meu braço direito havia sido cruelmente removido, um ato de brutalidade executado sem piedade por Naara. Sua expressão impassível não se abalou, nem mesmo uma palavra de compaixão foi proferida, apenas o som do meu corpo sendo jogado ao chão, ainda com o sangue escorrendo.

Um calafrio intenso percorreu minha alma, como se a morte se apresentasse como o menor dos meus tormentos. Mantive meu olhar à frente, tentando manter uma calma frágil, mas logo percebi que isso foi meu maior erro. A dor resultante da amputação do meu braço desapareceu instantaneamente quando meus olhos se conectaram com os olhos vermelhos intensos diante de mim.

Uma aura avassaladora emanava daquele ser, paralisando meu corpo e impedindo qualquer comando da minha parte. Tremores percorriam meu corpo, meu coração batia descontroladamente, e a simples ação de respirar parecia uma tarefa impossível. Até mesmo minha alma parecia ter se desprendido do meu corpo.

A figura à minha frente revelou-se um jovem de cabelos brancos, aparentemente frágil, mas vestido com trajes reais, exibindo uma presença incontestável. Sua existência transcendia os limites conhecidos, como se ele fosse o próprio fim da jornada.

“Apenas um?” Sua voz rígida atingiu meus ouvidos, congelando meu corpo. “Pensei ter dito para deixar ao menos dois.” Sua fúria não estava dirigida à sua subordinada, mas a mim.

“Me desculpe, tentei poupar outro, mas eles foram muito insistentes, alguns se mataram quando perceberam minha presença.”

“Então é assim”, disse ele com indiferença. “Isso é uma ordem: Responda tudo o que eu perguntar e não esconda nada.”

Após suas palavras, uma magia estranha envolveu meu corpo, tornando qualquer tentativa de mentir uma dor insuportável.

“Quem são os Nascidos da Noite enviados para o mundo dos vampiros?” Sua primeira pergunta era um enigma para mim, mas minha boca se moveu involuntariamente.

“Não recebemos informações sobre eles. Apenas sabemos que são demônios gêmeos.”

Mesmo os membros mais graduados desconheciam a existência desses seres.

“Então é assim… Que tipo de informação útil você pode me dar?”

“Nada em especial. Não tenho muitas informações sobre a Aliança, pois somos mantidos no escuro até o momento de agir. A localização da base nem mesmo é compartilhada.”

O relatório inicial mencionava os quatro indivíduos classificados como inimigos a serem evitados, mas havia um ser acima de todos, um nível de perigo incomparável. De acordo com o relatório, ao encontrar o demônio de olhos vermelhos e cabelos brancos, a ordem era clara: desistir da vida. Não havia tentativa de fuga, de luta, nem mesmo a autodestruição resolveria. Restava apenas rezar aos deuses por uma morte rápida e indolor.

“Então você é inútil?”, inquiriu ele com irritação. “Sim,” respondi sem hesitar. Com a ausência de informações, antecipei-me à ideia de uma morte rápida, o que trouxe um alívio momentâneo.

“Entendi,” disse ele, levantando-se de seu trono e dirigindo-se até mim. Seu dedo indicador tocou minha testa, e eu simplesmente fechei os olhos, aguardando um desfecho rápido.

“Oh? Então ele te enviou até mim?”

Ao abrir os olhos, percebi que estava em uma caverna cercada por lava efervescente e um calor infernal. Meu corpo estava completamente recuperado, e eu parecia estar em perfeito estado. ‘Aqui é o fim da vida?’, questionei otimista.

“Não, não. Aqui é o pior dos infernos.”

A voz ressoou novamente, levando-me a virar para observar um Azrael mais velho e marcado por inúmeras cicatrizes de treinamento. Suas roupas estavam rasgadas, e sua aparência era mais imponente. Seus olhos, no entanto, estavam sem vida, e seu rosto permanecia inexpressivo.

“Se ele te mandou até aqui, significa que você vai sofrer uma morte dolorosa antes de ser enviado ao Deus da Morte com o selo da morte… De qualquer forma, quando criei esse espaço, pensei em dez milhões de anos de sofrimento, então estou pronto para começar.”

Uma força invisível aprisionou minhas pernas, tornando meu corpo completamente imóvel.

“Deixe-me apresentar. Sou um Azrael criado para torturar as pessoas eternamente. Treinei nesse espaço por mais de quinhentos milhões de anos, então estou realmente feliz por ter alguém para brincar.”

Foi nesse momento que percebi que o pior destino estava diante dos meus olhos.

***

Toquei na testa do membro da Aliança e, poucos segundos depois, retirei o dedo, fazendo-o cair sem vida no chão.

“Oh? Uma magia de morte instantânea? Você teve compaixão dessa vez?”, indagou Naara, confusa com minha ação.

“Não é bem assim. Eu dividi minha existência em duas partes e criei um subespaço no mundo interno, onde essa existência iria treinar por um tempo quase infinito”, continuei a explicar.

A existência dividida de mim tinha a função de torturar quem fosse enviado até lá por dez milhões de anos. Ele deveria torturar de uma forma até que o indivíduo se acostumasse e, em seguida, torturar de outra, e assim por diante, até que os dez milhões de anos se encerrassem. Claro que ele não tinha permissão para matar, mas o corpo do indivíduo se sobrecarregaria com todos os anos vividos, resultando em sua morte no mundo real. Mesmo que parecesse uma morte instantânea, não era; ele sofreu por um longo tempo e seu corpo colapsou no final.

“Isso é extremo, mas eu gostei.”

“Vamos”, disse eu, saindo do meu lugar e me preparando para uma pequena viagem.

“Oh? Você vai até a terra?”, perguntou Naara, curiosa.

“Charlotte, limpe essa bagunça”, ordenei, fazendo Charlotte aparecer nas sombras. “Entendido”, foi a resposta rápida. Não tenho intenção de ir até a terra no momento, já que Eriel está em treinamento com Ethan.

“Estamos indo até o Tártaro. Não pensei que chegaria esse momento, mas tenho que convocá-lo para o nosso lado.”

Tenho que usar a raiva daquela pessoa a meu favor. 

Foi quando minha visão se tornou embaçada, e senti meu corpo se mover em uma velocidade jamais presenciada. Minha consciência pareceu percorrer todo o universo, viajando por cada parte conhecida e desconhecida. Pude notar diversas raças em diferentes linhas do tempo, como se todo o passado, presente e futuro estivesse em meu campo de visão.

Com a colisão de diversas galáxias, minha visão foi ofuscada pelo brilho e som da explosão. O som agudo em meus ouvidos me trouxe de volta à realidade, e foi quando notei estar em um local totalmente diferente. Parecia ser um quarto escuro, iluminado pela tela de um computador. Sentado em uma cadeira digitando algo, havia um homem de idade desconhecida.

Decidi me aproximar, pensando que ele não notou minha presença, e comecei a ler o texto que ele estava escrevendo. Lendo seu texto, minha mente quase colapsou sem entender o que estava acontecendo. Cada palavra que eu pensava, cada movimento, até mesmo minha próxima frase, tudo estava escrito no texto.

“Que merda”, eu disse, ao mesmo tempo em que lia minha fala no texto. O homem não demonstrou qualquer reação e continuou escrevendo. Foi quando toquei em seu ombro, chamando sua atenção, e ele finalmente me notou. Movendo sua cadeira, ele me observou com uma expressão apática, como se já esperasse por minha presença.

“Oh? Você parece supremo,” disse ele, enquanto os textos continuavam a ser escritos simultaneamente.

“O que está acontecendo?” perguntei ainda confuso.

Com um estalar de dedos, o ambiente mudou instantaneamente. A escuridão de um universo sem estrelas deu lugar a uma presença que parecia um simples humano. Tudo parecia estranho, como em um sonho.

“Não é um sonho… Eu apenas decidi aparecer em minha própria história. Existe algum problema?” ele perguntou.

Olhei de um lado para o outro e foi quando notei algo que não estava ali antes. Uma grande barreira dourada no que parecia ser o limite. Do outro lado, outra barreira vermelha dividia esse espaço em três.

“Não sei se você vai conseguir entender, então deixe-me explicar de uma forma simples. No lado esquerdo, a barreira dourada é o universo onde todas as pessoas que você ama estão… No lado direito, o anti-universo onde o deus da destruição habita.”

Foi quando entendi, ou melhor, ele me fez entender.

“Então você é o criador?”

Ele pareceu gostar da minha resposta.

“Pode-se dizer que é assim. Sabe, eles são mais as minhas personalidades do que deuses. Entende? O da criação é a minha parte que gosta de escrever e criar diversos universos em histórias interessantes, enquanto o da destruição é minha parte que não gosta da história. Foi algo simples de entender?”

“Então, a história do universo que o deus do meu universo criou…”

“Vejo que você está começando a entender… Exatamente, o universo perfeito que o deus da criação fez era como um rascunho da sua história, mas depois de um tempo, não me senti satisfeito e pensei em destruir, e foi exatamente isso que o da destruição fez.”

Tudo parecia difícil de entender, mas por algum motivo, eu conseguia.

“Bom, e foi quando pensei em criar o seu universo e permitir que a criação e a destruição se separassem. Claro, não estou completamente satisfeito com sua história e pensei em finalizar diversas vezes, o que criou pequenas rachaduras na barreira, uma delas permitindo sua viagem ao outro lado.”

“Então, você não está satisfeito com o que está escrevendo?”

“Como esperado do meu protagonista. Sim, exatamente. Eu até mesmo cogitei reiniciar o seu universo e conversei sobre esse assunto, mas pensando melhor, decidi me conter por enquanto, deixando você viver por mais algum tempo.”

“Então, você é um ser capaz de criar e destruir qualquer coisa em nossa realidade, por que quis se encontrar comigo?”

“Tédio, talvez?” disse ele sem um pingo de emoção. “Estou brincando. Eu estava em um bloqueio, então decidi fazer dessa forma. Bom, pensei em mostrar para os leitores o ser mais poderoso da história, ou seja, o seu autor. Interessante, certo?”

Não pude responder.

“Ei, como você foi atraído até aqui apenas para preencher esse capítulo, vou te dar dois presentes, que tal?”

Se é o criador, eu posso receber algo realmente bom, pensei…

“Sim, vou lhe dar algo bom. O primeiro presente é… Uma dica.”

Foi quando minhas expectativas foram ao chão.

“Ei, ei. Foram ao chão, sério?”

“Você quem está escrevendo, não?”

“Hmm, de qualquer forma, no momento em que você mais precisar, vou lhe dar uma única dica.”

“Eu não posso escolher quando?”

“Nah. Eu sou o escritor, sei exatamente quando vai ser… E o outro presente,” ele disse, demonstrando um sorriso sinistro. “Vou lhe dar a oportunidade de usar meus poderes, apenas uma vez, nada mais e nem menos. Você vai se tornar o escritor por 10 minutos.”

Não consegui entender, mas parecia algo realmente bom.

“Claro que é algo bom. Imagina, ter o poder de escrever sua própria história. Não importaria se você estivesse enfrentando um anjo ou até mesmo o seu deus criador, você poderia simplesmente apagar ele da existência e pronto. Ele desapareceria. Interessante, não? A melhor parte, você vai poder escolher o momento de usar. Contudo, seja inteligente, afinal, vai ser só uma vez.”

Foi quando voltamos para o quarto escuro iluminado pela tela de um computador.

Não conseguia olhar esse homem como o criador de tudo e o ser mais poderoso que existia.

“Ei, não pense isso, os leitores vão pensar que sou uma pessoa estranha. Sabe, o quarto só está escuro por… Deixa quieto,” ele disse em um leve suspiro. “Vou te mandar de volta. Deixando claro, você não vai contar o que aconteceu aqui. Bom, você não poderia de qualquer forma,” ele disse, e foi quando seu sorriso se tornou estranho mais uma vez. “Suspiro… Lhe desejo uma boa jornada e me entretenha bastante, afinal, se ficar chato, não hesitarei em finalizar sua história.”

Em um estalar de dedos, eu estava diante de Naara.

“Naara, eu saí do seu lado agora?” perguntei querendo confirmar algo.

“Do que você está falando, você estava ao meu lado o tempo todo,” ela disse sem demora.

Não conseguia dizer se tudo o que presenciei era verdade ou não. Parecia mais um sonho que a realidade. Mesmo assim, aquela presença me causava calafrios; se assim desejasse, ele poderia simplesmente apagar tudo, sem remorso, já que para ele somos apenas uma história.

Deixe-me dizer, não vou permitir que isso aconteça, mesmo que tenha que ir contra meu próprio criador. Seu maldito!

Foi quando uma voz veio à minha mente, para provar que tudo o que aconteceu foi verdade.

{Por sua coragem, vou lhe garantir algo mais… Não, na verdade, é porque quero mesmo. Em um momento de desespero, peça que todos os limitadores que existem em seu corpo sejam removidos, mas lembre-se, esse não é um presente e tem um preço. Para ter todo o seu potencial liberado, todo o seu poder desaparecerá quando terminar o que estiver fazendo. Então lembre-se, você só vai conseguir usar isso uma vez e vai se tornar tão inútil quanto um humano normal.}

Pude imaginar ele sorrir de forma maléfica, o que me deu calafrios.

“Vamos Naara, está na hora de fazer uma visita ao tártaro.”

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