Inconscientemente, Isak investiu contra Jack desferindo um corte com as garras de sua manopla, no entanto, o agente de gelo desviou facilmente. Remorso, esse era o sentimento esboçado no rosto Jack enquanto acompanhava Isak atacá-lo.
Recuando um passo, Jack se moveu habilmente para evitar contato com Isak. E assim foi durante um tempo. Isak grunhiu de cansaço a cada movimento, enquanto um sentimento confuso era cultivado no peito de Jack; culpa, por não o ajudar; ódio, para com Zethíer, e pena, pois sabia que aquele seria um fim inapropriado para alguém que amava lutas.
Isak certamente merecia um fim melhor. Algo digno, que o levaria, no fim, para seu tão sonhado saguão de Valhalla.
Jess engoliu em seco; se Jack não tivesse coragem para finalizar Isak naquele instante, ela tinha. Saltando da pedra ao qual estava observando tudo, ela materializou uma de suas espadas na mão direita e mirou em Isak, despencando como uma lâmina cortando o ar.
Entretanto, enquanto ela ainda caia contra Isak, uma explosão de luz iluminou todo o saguão. Não era algo como energia que os afetou, mas sim a própria luz, encadeando tudo em seus olhos quase os cegando. Jack demorou alguns segundos até se recuperar completamente — utilizando mana para reativar sua retina — mas logo foi surpreendido pelo punho de Isak novamente.
Jack se defendeu, porém, congelou a mão de Isak como precaução; ele não tinha certeza do que estava acontecendo com o corpo de seu ex-companheiro, mas sua intuição alertava o perigo de tocar sua pele.
— O que fiz com ele?… — disse Zethíer, sentado de pernas cruzadas em cima das pedras aos quais formavam a entrada.
A cerimônia havia se encerrado e, enfim, o rei estava completo, exceto por seu núcleo danificado por Isak. As rachaduras que outrora rodeavam seu corpo haviam se curado, agora pele estava o mais próximo de uma escama resistente; chifres rodeavam a testa em meia lua mas seus olhos e cabelos, assim como estatura, permaneceram.
— Ainda não nomeei, mas é um fungo parasita. Eu o descobri há um século e busquei compreender melhor sua existência, até que entendi a verdadeira natureza…
— Fala logo! — exclamou Jess.
— Tá mais corajosa agora, né? Mas, já que quer tanto saber… Esse fungo se apropria de um organismo morto, derretendo seu cérebro e trazendo uma falsa vida de volta — disse sorrindo. — Eu aprendi a manipular, e então, criei um exército de mortos-vivos que me seguem lealmente.
— Controle através do medo não é lealdade — retrucou Jack. — Você interrompe o ciclo da vida e acha que honra seus desafiantes?
— Honra? Você é do mesmo tipo que esse moleque? Decepcionante. Coloquei fé em ti, homem de gelo. Que pena, humanos se mantêm como humanos, não importa a era…
Sem precisar se mover, Jack congelou o corpo de Isak completamente.
— Espero que Odin tenha seu lugar reservado… — lamentou Jack.
Após congelar completamente o corpo infectado de Isak, o agente de gelo criou uma colisão elementar, onde resultou numa implosão de gelo contorcendo a energia sobre si própria, tingindo a pele de Isak lentamente em tons azuis, posteriormente e não muito tempo após, apagando permanentemente o corpo de Isak através da implosão.
— Impiedoso — zombou Zethíer, demonstrando surpresa.
— Piedoso. Por não prolongar seu sofrimento… — murmurou Jack cabisbaixo, olhando os fragmentos de gelo cair em sua frente. — Impiedoso, por permitir que você viva para morrer da forma que morrerá…
— Um homem de promessas vazias? Esse é o tipo de homem que tu és, Jack Van Glaciel?
Jack franziu o cenho. Sua boca abriu-se levemente encarando Zethíer com ódio nos olhos, no entanto, também banhados por curiosidade. Ele não se lembra de ter falado o nome completo na presença daquele monstro.
— Embora minha ligação com esse falso guerreiro seja uma das piores, ainda consegui algumas informações… Theo De Lawrence? Quem é essa criança que tanto incomoda vocês? Se bem que Lawrence me lembra o velho moribundo do Erling, há uma ligação?
— Não tente saber. Não mudará nada na sua vida — afirmou Jess.
A garota pulou aos céus, materializando novamente sua espada enquanto transferia mana ao extremo dos pés, explodindo, posteriormente, em impacto de energia. Jess caiu cortando o ar, deslizando pelos escombros depois de falhar em acertar Zethíer.
O Emissário, no entanto, agiu rapidamente ao notar o vacilo de Jess. Abrindo sua mão e criando garras, moveu-se assim como uma onça atrás da infeliz presa. A pressão emanada pelo simples deslize de seus dedos retrocedeu a atmosfera, trazendo a tona todo aquele medo imposto por Zethíer no primeiro contato.
Jess vacilou novamente e, por um segundo, pensou ter sido decapitada impiedosamente pelo Emissário. Contudo, um traço de energia congelante passou entre os dois, encantando aos olhos mais facinorosos e o forçando a hesitar momentaneamente.
Em instantes, Jack surgiu diante a Zethíer como um raio de gelo, porém, servindo apenas como uma distração para a verdadeira espada: Jess saltou pelas costas de seu companheiro, rotacionando por si própria e tentando dilacerar o Emissário. Com sua espada cravada no chão após Zethíer evacuar de seu corte, a mulher não tirou os olhos do inimigo, causando um pequeno desconforto ao Emissário.
Empunhando sua espada de gelo em mão, Jack arrancou contra Zethíer, vindo como um fator surpreso por trás de Jess. Ulteriormente a Zethíer ter escapado de um corte limpo do agente, Jack criou um pilar de gelo que elevou o oponente ao céu.
Conjurando círculos de energia carmim, Jess atirou dezenas de lâminas na direção de Zethíer. Avançando, novamente, contra Zethíer, enquanto corria por um caminho de gelo conjurado por Jack, a mulher continuava seus disparos.
Com seu inimigo ocupado, Jack decidiu retomar o controle de seu feitiço; a enorme espada que se manteve no ar durante todo aquele tempo, apenas esperando pela ordem de seu controlador.
Apoiando-se no suporte criado por Jack, Zethíer estendeu seu braço para se defender de uma investida veloz de Jess. Porém, antes que pudesse reagir, seus pés foram congelados repentinamente, tornando-o imóvel e fragilizado. Ao decorrer que se preocupava com a paralisia, esquecera do ataque de Jess; como resultado, teve sua mão empalada pela espada carmim.
Visando interrompê-la, no entanto, foi surpreendido novamente. Jess saltou para longe, chegando a se tornar um ponto preto no campo de visão do Emissário.
— Caia — ordenou Jack, descendo sua mão de vez.
A espada de Jess desintegrou-se diante dos olhos do Emissário, dando espaço para uma névoa azul abraçá-lo. Rápido e sem cerimônias, a espada congelante caiu contra Zethíer. Sua lâmina era grande demais, o suficiente para aniquilar o Emissário no primeiro contato, congelar seu organismo e parti-lo ao meio sem remorso.
No entanto, suas mãos se colidiram no ar gélido, um presságio da própria lâmina. Raios de energia se chocaram na atmosfera, tremendo tudo no ambiente; as moléculas no ar chocaram-se, vibrando o próprio espaço com a colisão. Um ruído estrondoso alarmou a floresta, repentinamente, se calando num segundo. Abafando qualquer outro som até que finalmente colidiu por vez.
Quebrando o suporte projetado de Jack, Zethíer fora jogado contra o chão do local, caindo sobre seu próprio ecossistema enquanto ainda batalhava fisicamente contra a espada. Um vento frio e abafado correu pelo chão, passando entre as brechas e imperfeições do local, adentrando pelos dedos e fios de cabelos dos agentes restantes, congelando as plantas que ainda restavam.
Pouco a pouco a lâmina venceu, se aproximando cada vez mais do núcleo de Zethíer e o forçando a pôr mais força. Até que, no entanto, não fosse mais forte o suficiente. A espada explodiu numa rajada de luz azul, congelante, ao qual atingiu as nuvens saindo pela brecha no topo da árvore.
Uma pequena nevasca, por fim, tomou o ambiente. Jack, acima do totem morto, encarava a visão com um brilho ciano no olhar. Jess, por sua vez, tentou ajudar os defensores a se erguerem e fugirem; estavam fracos e, acima de tudo, não eram mais necessários.
Os olhos de Jack estreitaram ao ver Zethíer novamente. Porém, a situação do Emissário não estava favorável. Desprezível, no mínimo. Seus braços estavam limitados aos cotovelos; amputados pela pressão, cuja também foi a culpada por uma deformidade em seu rosto, ao lado direito. Embora o Emissário tentasse se regenerar, o gelo eventualmente entupia seus canais de chakra, impedindo que a energia fluísse tão perfeitamente.
— Maldito — resmungou Zethíer, encarando Jack do chão.
Todavia, seu medo não deveria estar centrado no homem acima de si, e sim naquele cuja presença retornou ao ambiente.
Antecipado pelos portões aos quais se abriram novamente, Bastien procurou o Emissário com seus próprios olhos, redirecionando uma intenção assassina que nem Jack pode resistir a temer. Seus olhos opacos e cinzas brilharam num tom de vermelho, transmitindo o que para Zethíer era um vislumbre da morte.
Sua aura se espalhou pelo ambiente, em tons de cinza agonizante, intercalando com o preto absoluto ao qual juraram formar mãos de sombras, como espectros abraçando a vida e a puxando para a morte.
O arauto da morte, por fim, a morte anunciou.