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O risco verde se ramificou pela atmosfera, projetando uma grade que se unificou num ponto específico. Por fim, mana preencheu a estrutura que se revelou como uma colossal lança de tons verdes.

Sara recompôs a postura ao analisar o feitiço. Havia sim uma esperança.

Não apenas na alquimia — a arte de controlar o núcleo de energia —, mas em toda a ciência, e até magia, cargas opostas se atraem e cargas iguais se repelem. No entanto, quando dois feitiços de cargas diferentes e potências iguais se colidem, resulta numa nulificação absoluta de ambas as conjurações.

“Positivo” afirmou ao avaliar o feitiço; originário de carga positiva.

Graças ao núcleo neutro, Sara poderia escolher a carga que quisesse para conjurar seu feitiço. 

Movendo a mana pelas veias de chakra, Sara conjurou um círculo fora da barreira protetora. Raios de energia verde tomaram seus braços antes do disparo ser efetuado; uma simples, mas potencialmente poderosa, rajada de mana. Sem efetuar um encantamento, apenas lançando um feitiço comum de pura mana.

— Emissão: Quatro!

Foi uma jogada desesperada para anular o feitiço de Zethíer.

Não podendo deixar de rir do movimento desesperado, o Emissário do mundo retrucou ao feitiço lançando o seu próprio.

Os dois feitiços se chocaram no ar e, em vez de colidirem adequadamente, se entrelaçaram numa única quantia de mana e colapsaram por si. A incompatibilidade de potência resultou em uma explosão verde ao céu azul.

Sara e Zethíer levitaram lentamente ao chão. Nenhum dos dois pareciam cansados, mesmo após uma descarga de energia tão abrupta.

Ao pisar no chão, os músculos de Zethíer se contorceram; absorvendo mais energia da base da árvore do mundo, de sua verdadeira existência, o corpo físico ao qual se apossara foi forçado a se expandir exponencialmente para conter o poder. Sua aura se expandiu por toda a base, tomando uma extensão de um quilômetro quadrado.

Uma barreira verde atingiu o céu.

“Um território…” ponderou Sara. “É óbvio que esse porra teria um território!”

Semelhante ao território que Selina encontrou em sua missão noturna 1, aquela região estava imbuída pelo atributo de um cristal arcano (neste caso, o núcleo de Zethíer protegido pelas raízes da árvore do mundo). O território enfrentado por Selina era irracional, limitando-se à geração de criaturas místicas para defender o cristal. Porém, o território de Zethíer servia apenas como uma amplificação de si próprio; ele havia expandido sua própria essência por àquela região.

Sua perspectiva, poder, presença, potencial… Tudo o que formava Zethíer, o Emissário do mundo, estava preenchendo aquele local.

Embora territórios sejam comumente usados por desviantes que não possuem um núcleo neutro (com um território, eles podem simular a manipulação elemental que os desviantes neutros possuem; manipular os elementos do ambiente invés de somente o atributo do próprio núcleo), aquele encantamento de Zethíer era realmente estrondoso.

Por ser uma expansão de sua mente, qualquer um que pisasse dentro do território seria denunciado para Zethíer; ele poderia ser considerado um ser onipresente, já que sente qualquer movimento na região. Se Sara ousasse conjurar um feitiço, Zethíer teria ciência.

Portanto, pode-se afirmar que ele havia retornado ao seu estado original. Graças ao contato direto com a luz solar, ele também havia se tornado mais poderoso.

Assim como na guerra de seu pai, Cepheus, Zethíer estava determinado a esmagar os invasores; após extinguir o grupo de Bastien, iria atrás dos dois Titãs — o Emissário sabia da existência de todos graças às memórias que tomou de Isak. Porém, por ainda temer a lâmina de Bastien, ele apressou sua situação. Eliminar Sara antes que aquele fragmento da luz pudesse despertar seu potencial era urgente, afinal, se ela chegasse no auge e se juntasse com os outros três — Bastien, Jack e Jess — ele perderia em poucos minutos.

Ponderando o contato e elo de Jack com seu atributo gelo, ele temera sua habilidade definitiva. Após a pequena demonstração da ignição de Bastien, adicionando a lâmina de Thanatos na equação, não há motivos para subestimá-lo. A única que não havia demonstrado tanta força foi Jess, mas aquilo não entrava na cabeça do Emissário; não é possível existir alguém tão “fraca” quanto ela.

Ele se assustou.

— O que foi isso? — comentou Zethíer, olhando para o vento.

Sara notou o comportamento inóspito do Emissário e hesitou. 

— Essa atmosfera!… 

Notando apenas pelo seu sensoriamento onipresente, Zethíer pôde desviar no último instante; brutalmente, Jack avançou contra seu inimigo empunhando uma espada de gelo. Ambos se encararam casualmente, como se já estivessem cansados de se verem. 

Deslizando pelo chão, Jack ajustou sua base para desferir outro corte contra Zethíer, mas o Emissário notou e defendeu habilmente com sua lança. Virando-se rapidamente ele previu uma investida brusca de Jess, que o atacou com suas lâminas materializadas. Desta vez, as lâminas possuíam uma forma refinada e imponente, além de portarem uma presença rica em energia.

Zethíer sentiu-se encurralado.

Sentindo cada movimento das lâminas, o Emissário se moveu rapidamente pelo cenário buscando se livrar dos dois obstáculos; Jack o seguiu durante todo o tempo, desferindo golpes ligeiros e fatais com sua espada de gelo, enquanto, do outro lado, Jess atirava suas lâminas de energia como projéteis.

Empunhando sua espada e montando a base, Jess concentrou sua força no guarda-mão; uma pressão esmagadora emanou do cabo da espada. Estocando contra Zethíer, ela o surpreendeu ao ser capaz de confundir seu sensoriamento.

Movendo-se rapidamente, Jess efetuou quinze cortes por segundo contra o Emissário; alguns foram responsáveis e atingiram o alvo, cortando-o superficialmente. Em contrapartida, Jack conjurou um espinho de gelo que atravessou a “arena de guerra”.

Aquele feitiço deu espaço para que Sara fugisse, embora Zethíer soubesse da ação, ainda assim, ele não pôde intervir por estar sendo lançado ao longe.

— Sor Glaciel, este é um território, correto? — perguntou Jess, encarando a barreira.

— Sim.

— Exatamente! — exclamou Zethíer, surgindo do topo da montanha de gelo que se formou. — Dentro deste “Casulo Etéreo”, eu sou a própria natureza. Dentro dessa barreira que expande o alcance do meu núcleo e mente, eu sinto tudo, sei de tudo, controlo tudo.

Um sorriso infame se abriu de orelha a orelha.

— Cada partícula de mana vagando em suas veias, eu sinto. Cada ação que vocês executam para uma conjuração, eu sei. É de minha vontade matá-los, matarei. Eu sou o rei

— Um rei tolo — retrucou Jess. — Requisitos cumpridos, Sor Glaciel.

Zethíer os encarou intrigado. De fato, a capacidade de ser onisciente, onipresente e, praticamente, onipotente dentro daquele território deveria amedrontar qualquer um.

— Há duzentos anos, explicar seu poder deveria resultar num aumento significativo da eficiência, tanto de liberação quanto de execução. Porém, nos dias atuais funciona diferente — explicou Jack.

Materializando uma espada fina e longa em suas mãos, Jack passeou pela montanha de seu feitiço.

— É simples; se você entende o poder do seu inimigo, este mesmo poder irá reduzir drasticamente o efeito contra si. Por isso, entender como a mana funciona nos ajuda a manipulá-la confiantemente. O mesmo se aplica aos feitiços, poderes, técnicas… Agora que entendemos como seu território funciona, mesmo que superficialmente, posso afirmar que sofrerei apenas cinquenta por cento de todo o potencial.

“De fato, você é incrível!” pensou Jack.

Enquanto se preparavam para o combate, Sara trouxe uma opinião de Aidna consigo. Pelo que Nihaya informou, aquele domínio correspondia a uma civilização de duzentos anos no passado. Se brincarem um pouco com a sorte e apostarem que eles se prendam a métodos antigos de controle de energia, irão chegar a conclusão que Jack acabou de explicar. Por sorte, ela estava certa.

Porém, Jess foi a que mais se beneficiou com este fato.

Apostando toda sua confiança na suposição arriscada de Aidna, ela firmou um pacto com seu próprio núcleo com as condições de que:

  1. Se conseguisse informações o suficiente sobre a Dynami de Zethíer, sua liberação de energia sofreria um aumento de 110%.
  2. Para conseguir retirar tais informações, seu núcleo deveria dispor de um potencial equivalente a mais 50% (isso significa que Jess entrou no confronto com 150% de seu poder).
  3. No entanto, se ela falhasse nas condições do tratado, seus canais de chakra seriam bloqueados e um de seus quatro turnos da Centelha de Fanes seria utilizado.

Com isso, não apenas a liberação de energia aumentou naquele momento, mas todo seu potencial inato. Por saber como o território funciona, ela não sofreria 50% dos ataques de Zethíer. Isso significa que até o sensoriamento não funcionaria adequadamente contra ela.

Seus punhos tomaram força e olhos a confiança necessária para se mover. Afinal, a declarada mais fraca, pelo mais forte, não era inútil.

Com uma explosão de energia em seu calcanhar, Jess saltou todo o espaço entre ela e Zethíer. Ela estava na frente do Emissário, preparando um chute com sua perna esquerda, mas ele ainda olhava para baixo; a velocidade de Jess ultrapassou a previsão e sentidos aguçados de um ser superior.

Aqueles eram os seus 210% de poder.

Chutando-o em meia-lua, Zethíer conseguiu, por puro reflexo, pôr o antebraço esquerdo à frente de seu rosto. No entanto, não serviu de muito. Cravando sua perna no braço do inimigo, Jess girou em torno do próprio eixo e arrastou Zethíer consigo.

Com aquele simples movimento, uma parcela da montanha de gelo foi evaporada consequentemente.

Apoiando-se no abdômen de Zethíer, ela o cortou, superficialmente, dezenas de vezes num único segundo. Ao cessar de seus ataques, o segurou pelo braço e lançou em direção a Jack que corria em direção ao Emissário, preparado para cravar sua espada nas costas.

Entretanto, Zethíer bateu suas asas para o céu, escapando da situação. Por sua vez, Jack não conseguiu conter sua velocidade e continuou o salto em direção ao “abismo”. Buscando evitar que o Emissário fugisse, Jess acumulou mana em seus braços e, em queda livre ao lado de Jack, empurrou seu companheiro em direção ao inimigo.

Jack cortou o ar rumo a Zethíer, com a espada de gelo em mãos, tal qual emanava partículas de gelo ao vento. Prevendo um ataque ameaçador por parte do agente, o príncipe de outra era agarrou sua lança em resposta.

Convertendo sua arma em pura energia, Zethíer a lançou contra o chão desesperadamente. Um míssil de energia de mana verde atravessou o local. A mana da lança se alastrou pela atmosfera, acumulando-se as partículas externas e expandindo os horizontes do próprio poder.

O céu foi do território alcançou um tom preto absoluto, apenas destacando a pressão e quantidade absurda de mana que explodiu naquele ponto. Dez segundos de silêncio abraçaram a região, uma cerimônia tomada pelo estrondo de uma explosão causada por pura energia.

O epicentro do colapso poderia se confundir por toda a região do território, já que desde a atmosfera até o solo explodiram simultaneamente. Contudo, a explosão havia sido apenas a introdução para a primeira parte do ataque.

Entendendo a gravidade do ataque no momento em que Zethíer preparou sua lança, Jack cessou seu ataque e conjurou um domo de gelo que se estendeu de sua localização até onde Jess estava. Porém, após uma nuvem de fumaça preencher cada centímetro do território, o domo de gelo foi desfeito e revelou os machucados de Jack.

A primeira camada de sua roupa branca havia sido incinerada, restando apenas uma manga longa preta justa por baixo. No entanto, sua manga esquerda estava totalmente rasgada, expondo o braço de Jack, cujo estava gravemente ferido pela explosão. Jess, enquanto isso, estava totalmente ilesa.

— Filho da puta… — reclamou Jess. 

— Recomponha-se — disse Bastien, tocando o ombro de ambos.

— Como conseguiu entrar após o território? — indagou Jack.

O plano inicial era para os três atacarem de início, porém, a barreira do território se formou no instante em que Jack e Jess arrancaram para atacar Zethíer, trancando Bastien afora. A barreira é algo maciço de pura energia, portanto, serve como uma parede inquebrável.

— Após a explosão, a mana dele enfraqueceu. A barreira diminui sua energia como resultado e eu consegui atravessar.

— Tem algo me incomodando… — disse Jess. — Por que ele não está usando o elemento dele?

— Jack e Sara — retrucou Bastien. — Jack consegue congelar qualquer feitiço elemental que o atributo natureza formar, e Sara pode incinerar com o fogo. Gastar energia com algo que não servirá de muito é desperdício.

— Conseguiu o pacto com Thanatos? — Jack se ajustou, buscando recuperar sua postura.

— Sim. Tenho uma chance. Jack, se recupere. Jess, avance comigo.

Sem contestar mais nenhum segundo, ambos avançaram contra Zethíer. O Emissário estava ainda confuso, sua própria mana estava o confundindo no meio da nuvem de fumaça. No entanto, ainda era possível prever os dois avançando.

Bastien surgiu de repente, conjurando, por fim, sua ignição novamente. Zethíer o olhou como se pensasse “Você já chegou?”, enquanto os olhos de Bastien eram cobertos por seus fios de cabelo. Jess, portanto, surgiu efetuando cortes em suas costas e ferindo levemente as asas do Emissário.

Este virou-se determinado a esmagar Jess contra o chão, no entanto, Bastien ameaçou cortá-lo com a lâmina de Thanatos. Agilmente, Zethíer achou de desviar e escapar da encurralada dos dois agentes. Mas, para sua infelicidade e frustração, Jess já havia efetuado mais cortes contra aquela região; vinte cortes fatiaram as asas do Emissário.

Sua postura foi quebrada com os golpes.

Zethíer retomou seus olhares para Bastien, que se preparava para executar uma ignição. Pretendendo não ser atingido, ele agiu precisamente; conjurando um círculo em sua mão, elevou ao céu onde formara oito pontas — uma para cada direção cardeal e suas verticais.

Consequentemente, lâminas de energia verde despencaram e fatiaram em suas respectivas direções.

Jess decidiu assumir uma arrogância estúpida e bloquear o ataque, o que resultou nela sendo arrastada conforme a lâmina se estendia pelo ambiente. Por outro lado, Bastien apenas desviou saltando para a direita sem muito esforço.

Sem que Bastien tocasse o chão, o tempo paralisou para ambos. Aquele segundo durou minutos para os dois combatentes; o olhar do Emissário da morte se encontrou com o do Emissário do mundo. 

A morte havia determinado o fim de um rei desesperado.

  1. capítulo 39[]
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