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* * *

Zorian acordou muito confuso. Uma parte dele estava se perguntando o que fazia em um hospital, de todas as coisas, enquanto outra parte estava surpresa por não ter acordado em Cirin com Kirielle desejando-lhe um bom dia, como sempre recomeçava. Alguns segundos depois, sua mente clareou e se lembrou do que havia acontecido ontem. 

Ele não recomeçou porque não havia morrido nos túneis — apenas estava com a mente embaralhada. Na verdade, isso era muito mais preocupante do que só morrer, já que qualquer dano à sua mente era transmitido durante os reinícios, mas parecia que ele não sofreu nenhum dano permanente.

Ele se lembrava de forma vaga do médico concluindo o mesmo quando foi trazido ontem, antes de empurrá-lo para este quarto e dizer-lhe para dormir. Algum médico. Não precisava de um hospital para isso. Ele se perguntou como Taiven e seus dois amigos estavam se saindo — eles ainda estavam em coma total quando saiu cambaleando da entrada da Masmorra e os guardas os levaram às pressas para o hospital mais próximo.

“Enfim acordado, pelo que vejo,” disse Ilsa da porta. “Você quer conversar ou devo voltar mais tarde?”

“Senhorita Zileti?” Zorian perguntou. “O que você está fazendo aqui?”

“Como nosso aluno, a Academia é obrigada a representá-lo em questões legais,” disse Ilsa, aproximando-se de sua cama. “Isso qualifica. Como está se sentindo?”

“Estou bem,” Zorian deu de ombros. Ele nem tinha mais dor de cabeça. “É melhor eu ir para casa assim que você terminar de me interrogar.”

“Interrogar você?” Ilsa perguntou. “Parece quase sinistro, do jeito que você diz. Por que eu estaria interrogando você?

“Err, bem…” Zorian se atrapalhou. “A polícia tende a ser dura com as testemunhas em minha experiência. Apenas no caso de elas estarem escondendo alguma coisa e tudo mais.”

Por um momento, Zorian pensou que ela iria perguntar onde ele conseguiu esse tipo de experiência com a polícia, mas ela apenas balançou a cabeça e riu.

“Bem, eu não sou a polícia,” disse Ilsa. “Embora eu tenha vindo perguntar o que aconteceu. Seus amigos não se lembram de nada substancial, tendo sido atingidos por aquele feitiço de sono logo no início do ataque.”

“Eles estão bem?” Zorian perguntou.

“Sim,” Ilsa confirmou. “Eles acordaram ontem sem efeitos nocivos. Seus ferimentos foram muito mais sérios, do ponto de vista médico. Ela deu a ele um sorriso irônico. “Acho que foi o orgulho deles que foi mais ferido. Um terceiranista resistiu a um feitiço que eles não puderam e salvou suas vidas. A fronteira da Masmorra de Cyoria tem infâmia de ser… poroso. Se não fosse por você, eles provavelmente estariam mortos pela manhã.”

Zorian desviou o olhar com desconforto. É por isso que Taiven nunca o contatou após aquele convite inicial para ir com ela no início de cada reinício? Ele pensou que ela estava sendo insensível.

Como ele resistiu ao feitiço do sono, porém, se Taiven e seus dois amigos não? E o que aconteceu depois… doeu e foi desagradável, mas tinha a sensação de que não era um ataque. Seu atacante poderia ter acabado com ele a qualquer momento, mas optou por não matá-lo. As palavras, as imagens… era como se algo estivesse tentando falar com ele, mas não sabia como se comunicar com os humanos de forma adequada.

Considerando o número de teias nas memórias alienígenas com as quais foi bombardeado, provavelmente eram as aranhas. Ele nunca ouviu falar de nenhuma aranha senciente com acesso à magia mental, no entanto.

“Eu não tenho certeza do que aconteceu,” Zorian finalmente disse. “Depois que o feitiço do sono falhou, fui de repente bombardeado por uma enxurrada de imagens que quase me fizeram desmaiar. Foi muito doloroso e desorientador. Depois que parou, tentei me orientar para responder a novos ataques, mas depois de um minuto ou mais percebi que nenhum estava vindo e decidi sair correndo dali. Não tenho ideia de por que os atacantes pararam.”

“Hmm,” Ilsa cantarolou. “Há muitas possibilidades. Talvez, em vez de cair em uma emboscada deliberada, vocês só tropeçaram em alguém que não queria ser visto e ele se moveu para incapacitá-los para que pudesse escapar despercebido. Talvez alguém tenha deixado uma armadilha mágica naquela seção dos túneis por qualquer motivo e vocês acionaram o gatilho. Talvez você resistindo a dois feitiços seguidos o intimidou a sair. Talvez nunca saibamos, eu acho.”

Sim, todas possibilidades válidas. Com certeza não eram aranhas telepáticas sencientes gigantes, não senhor!

“Ah e Zorian?” Ilsa continuou. “Você está proibido de descer nos túneis até novo aviso. Eu entendo que você queria ajudar uma amiga, mas ainda assim foi uma coisa tola de se fazer.”

“Err, sim professora,” Zorian concordou. “Entendido.”

10 minutos depois que Ilsa saiu, a enfermeira veio dizer que ele poderia ir para casa.

* * *

“Isso é chato!” Taiven reclamou.

Zorian abriu um dos olhos para poder encará-la.

“Você disse que queria me compensar,” ele lembrou.

“Mas eu quis dizer alguns feitiços incríveis, não…” ela fez uma careta para a tigela cheia de bolinhas na frente dela. “…jogar bolinhas de gude sobre seus ombros. Eu não deveria pelo menos mirar algumas na sua testa? Aposto que você ficaria muito mais motivado para acertar dessa maneira.”

“Se você fizer isso, vou rastreá-la até o seu quarto e sufocá-la durante o sono,” Zorian ameaçou de forma acalorada. A razão pela qual estava fazendo isso era para que pudesse praticar esse truque estúpido sem sofrer com os métodos de Xvim.

Ele fechou os olhos e respirou fundo. Depois de alguns segundos, sentiu a bola de gude carregada de mana passar perto de seu rosto, mas não conseguiu identificar por qual ombro ela voou.

“Esquerda,” ele tentou.

“Não, direita,” Taiven. “Agora você está apenas adivinhando, não é? Apenas descanse por hoje, você não vai chegar a lugar nenhum quando ficar frustrado.”

“Não, eu só preciso de alguns minutos para me acalmar,” Zorian suspirou. Taiven gemeu em resposta e ele abriu os dois olhos para poder encará-la adequadamente. “Por que você está sendo tão difícil sobre isso, afinal? Você sabe que não posso pedir a ninguém para fazer isso por mim, certo? Não conheço ninguém que possa mirar seus arremessos com precisão suficiente, e nenhum deles poderia continuar carregando bolinhas de gude por mais de meia hora sem esgotar suas reservas.”

“Eu sei, eu sei,” Taiven suspirou. “E eu estou feliz que você me pediu ajuda. É o mínimo que posso fazer depois… bem, você sabe. Mas você não está se aproveitando de mim direito!”1

Zorian levantou uma sobrancelha.

“Err, isso saiu errado,” Taiven riu nervosa. “O que quis dizer foi: posso fazer muito mais do que isso. Minhas habilidades precisas de arremesso de bolinha de gude não são meu único dom. Eu sei que devo parecer bastante patética por ter sido nocauteada por um único feitiço, mas entenda!”

“Nunca pensei em você como patética por causa disso, Taiven,” Zorian suspirou. “Mas tudo bem. O que a grande Taiven pode fazer por mim?”

“Ensiná-lo a lutar, é claro!” ela sorriu.

“Com magia, eu espero,” Zorian comentou em advertência.

“Você nunca deve subestimar a utilidade de um soco no rosto, mesmo em um duelo mágico,” Taiven resmungou. “Mas sim, quis dizer com magia. Você estava falando a verdade quando disse ao velho que nos contratou que você pode lançar míssil mágico, escudo e lança-chamas?”

“Claro,” disse Zorian.

“Bem, vamos vê-los,” disse Taiven, acenando para uma dupla de manequins do outro lado da sala.

“Err, seus pais não vão se importar se eu destruir seus manequins de treinamento?” Zorian perguntou.

Ela revirou os olhos. “Toda a razão pela qual eu disse para você vir para minha casa foi para que pudéssemos treinar aqui. A sala inteira está protegida, especialmente aqueles manequins. Você nem vai arranhá-los, acredite em mim.”

Encolhendo os ombros, Zorian lançou um míssil mágico com rapidez, moldando-o em um perfurador e tecendo uma função de direcionamento nele para que atingisse a cabeça do manequim. 

O raio de força atravessou a sala e atingiu o manequim bem na testa. A cabeça de madeira sem rosto do manequim dobrou para trás com a força do golpe de uma maneira que quebraria o pescoço de um ser humano real em vários lugares, mas então logo voltou à sua posição padrão como se nada estivesse errado.

“Um míssil mágico decente,” Taiven elogiou. “É bom que você possa lançar um sem um foco de feitiço — pensei que seria a primeira coisa que teria que te ensinar.”

As mãos dela mãos borraram em uma exibição vertiginosa de habilidade, o canto falado de forma tão suave que ele mal o ouviu. Um verdadeiro enxame de mísseis mágicos irrompeu de suas mãos, acelerando em direção ao manequim com muito mais velocidade do que o perfurador de Zorian e impactando-o com força suficiente para levantá-lo e esmagá-lo contra a parede atrás dele. Embora fossem apenas esmagadores, Zorian sabia que eram muito mais perigosos do que o perfurador que produziu, mesmo individualmente.

Ela não parecia nem um pouco tensa pelo esforço de produzir a exibição.

“Então, havia algum propósito para fazer isso, além de frisar o quão além de mim você está?” Zorian perguntou. “Disparar tantos mísseis mágicos, mesmo em sequência, esgotaria minhas reservas no local. Acho que não vou repetir sua façanha tão cedo.”

“Err, sério?” perguntou Taiven. “Acho que presumi que suas reservas de mana são enormes, como as de seus irmãos. Quantos mísseis mágicos você pode lançar de uma só vez?”

“11,” disse Zorian, ignorando sua primeira observação de propósito. “Começou com 8, mas aumentei um pouco.”

“Oito!?” Taiven ficou boquiaberta. “Mas isso é… quase abaixo da média!”

Zorian sabia que nada de bom sairia de explodir nela. Era Taiven. Ela não pensava mesmo antes de falar, e se você se incomodasse com isso, não deveria interagir com ela.

“Isso significa que você admite a derrota e devemos voltar para as bolinhas de gude?” ele perguntou com uma alegria enganosa.

“Não!” ela gritou. “Não, eu… só fiquei surpresa, só isso. Eu meio que queria ensiná-lo a lançar vários mísseis mágicos com uma conjuração, mas suponho que não adiantaria muito com reservas de mana tão pequenas. Você deve fazer valer cada feitiço em vez de ir para a quantidade. Mostre-me seu escudo e lança-chamas enquanto penso em algo.”

Depois de tentar queimar um manequim até ficar crocante e falhar, Zorian lançou um escudo rápido, pensando que apenas sua existência seria uma prova suficiente para Taiven. Aparentemente não, pois ela de repente sacou uma varinha de feitiço de seu cinto e disparou um pequeno projétil roxo no escudo. 

Os olhos de Zorian se arregalaram com o ataque inesperado, mas ele espirrou inofensivo contra o plano de força semitransparente e se dissipou em uma nuvem de fumaça roxa que logo desapareceu por completo sem deixar vestígios.

“Que raios foi aquilo!?” Zorian exigiu.

“Eu só estava verificando se o escudo pode aguentar,” Taiven disse a ele. “O feitiço é inofensivo, apenas um simples raio colorido que carrega alguma força nele.”

Zorian queria dizer a ela que seu escudo aguentou contra um mago hostil que tentava matá-lo de verdade, mas não podia fazer isso. Decidiu apenas dar-lhe um olhar irritado.

Eventualmente, Taiven admitiu que não conseguia pensar em nada no momento e com relutância começou a jogar bolinhas de gude sobre seus ombros mais uma vez. Ela deixou claro, no entanto, que contaria com a ajuda de seus pais nos próximos dias e que esse tipo de treinamento era uma coisa única. Zorian conseguiu negociar pelo menos uma hora de jogar bolinhas de gude em cada sessão, além de qualquer esquema maluco que ela criasse em algum momento.

Sendo sincero, a magia de combate era apenas um interesse secundário no momento. Ele estava começando a perceber que não podia continuar tropeçando nela sem direção. Por mais que quisesse avançar em seus estudos mágicos antes de encontrar a saída, não podia apenas ignorar o perigo representado pela possibilidade de um vínculo da alma — quanto mais tempo ficasse dentro do loop temporal, maior a chance do vínculo ativar com força total e devorar sua vontade e personalidade. 

O ataque mental pelo qual passou há pouco tempo só destacou que o loop temporal tinha seus próprios perigos e que era irresponsável desconsiderá-los.

Um plano difícil estava se formando em sua cabeça. Ele precisava descobrir tudo o que pudesse sobre o loop temporal — como surgiu, como funcionava exatamente e como poderia sair dele. Além disso, qual era a natureza de sua conexão com Zach? E qual era o problema com a invasão — parecia cronometrada de forma muito conveniente para ser uma coincidência, então qual era a conexão com o loop temporal? 

Encontrar respostas para essas perguntas exigiria habilidades em adivinhação, coleta de informações e infiltração, então é aí que a maior parte de seus esforços deve se concentrar. Ele ainda pretendia aprender outras coisas também, claro, mas essas três coisas eram obrigatórias e prioritárias.

Ele teria que terminar seu semi-aprendizado na biblioteca e aprender todos os truques desse ofício que pudesse dentro das restrições do loop temporal. A biblioteca da Academia era um recurso incrível de se ter, e tinha certeza de que teria que usá-la bastante se quisesse encontrar respostas para as perguntas que o atormentavam. 

Até agora, suas tentativas de usá-la não renderam muito em termos de resultados, mas isso provavelmente foi mais consequência de autorização insuficiente e falta de habilidade de pesquisa de sua parte, do que um verdadeiro vazio de informações sobre os tópicos em questão. 

Ele precisava saber como contornar as proteções nas seções guardadas da biblioteca e como revistá-las com eficiência assim que passasse, e Kirithishli e Ibery eram sua melhor chance de chegar lá. Ele se candidataria ao emprego na biblioteca amanhã cedo.

E, embora fosse tarde demais para isso neste reinício em particular, deveria impressionar Ilsa mais uma vez e escolher a adivinhação como seu interesse desta vez. Se a escolha de Ilsa fosse tão motivada quanto Nora Boole, teria um caminho fácil para aprender esse assunto complicado.

E então, enquanto subia as escadas dentro de seu prédio, tudo ficou escuro e ele acordou com Kiri pulando sobre ele e desejando-lhe bom dia. Aparentemente Zach morreu de novo. Apenas alguns dias após o reinício desta vez também. Com sorte, Zach pegaria o jeito do que quer que estivesse tentando muito em breve, porque ser puxado sem aviso para outro reinício poderia ficar chato muito rápido.

Ele logo aprenderia que deveria de verdade parar de tentar o destino com tais pensamentos.

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