Enquanto Jake embarcou em uma longa e vingativa caçada contra quaisquer criaturas marinhas ou pássaros que causaram sua morte pelo menos uma vez, a Provação continuou para o resto dos participantes.
Aqueles que não conseguiram chegar à costa há muito desistiram e aqueles que conseguiram há muito começaram o segundo ou terceiro julgamento da Bolha do Santuário. Aqueles como Jake, que conseguiram persistir por tanto tempo, apesar das muitas falhas, eram extremamente raros, mas na escala de 11 milhões de jogadores, ainda havia alguns.
Entre eles estavam duas jovens de cabelos cor-de-rosa na casa dos vinte anos que finalmente chegaram à praia depois de incontáveis esforços. Seus corpos eram absolutamente lindos e a maioria dos homens teria dificuldade em se controlar em sua presença, mas agora pareciam estar no fim de sua vida.
Seus rostos estavam emaciados, seus olhos vazios e ausentes, enquanto seus corpos outrora perfeitos estavam cobertos com inúmeras feridas e mordidas. Embora o corpo fosse trazido de volta ao seu estado original a cada nova tentativa, ainda estava magro e esquelético, como se tivessem passado não apenas alguns minutos no mar, mas várias semanas.
Conhecendo as personalidades das duas irmãs, Jake assumiu que elas teriam desistido há muito tempo, mas ele havia subestimado o vínculo entre elas.
Sendo o primeiro evento individual, Enya e Esya foram separadas à força ao serem enviadas para duas áreas diferentes da ilha e foi a primeira vez que sofreram tal separação desde o nascimento. Mesmo em seu mundo natal, nunca deixaram seu castelo e nunca estiveram a mais de um quilômetro uma da outra. Essa separação foi, portanto, um trauma para o qual não estavam preparadas.
Na ausência de seus pais, elas só podiam confiar em si mesmas e eram extremamente dependentes uma da outra. Ao serem separadas dessa maneira, como Jake, elas foram devoradas em condições atrozes, aumentando muito o pânico inicial.
E, no entanto, onde Kyle imediatamente desmoronou, elas permaneceram firmes. Embora tivessem crescido com uma colher de ouro na boca e fossem bastante tímidas diante do esforço físico e das dificuldades, era impossível para elas abandonar sua única irmã.
Mesmo que Enya estivesse aterrorizada e quisesse desistir mais do que tudo, ainda havia a pequena possibilidade de que sua irmãzinha Esya persistisse até o fim e chegasse à costa. Se isso acontecesse, para não mencionar a vergonha que se seguiria quando se reunissem, também significaria que ela havia falhado como irmã mais velha.
Esya não tinha o mesmo fardo nos ombros, mas também não queria abandonar sua irmã mais velha nesta ilha. Portanto, mesmo tendo que derramar todas as lágrimas de seus corpos inúmeras vezes em terror e desespero, se mantiveram firmes.
Por terem exatamente as mesmas habilidades, a única solução que encontraram para chegar à costa foi naturalmente a mesma.
As duas irmãs não eram boas lutadoras e sua constituição física não era nada de especial, sem contar o fato de serem mulheres com corpo pequeno e uma altura de cerca de 155 cm, o que também não era nada de especial entre as mulheres.
Sem considerar as estatísticas de Éter, suas estatísticas de corpo eram provavelmente quatro a cinco vezes menores que as de Jake em força, agilidade, constituição e vitalidade. Este era um limite biológico impossível de superar sem uma incrível vantagem de Éter ou uma linhagem de alto grau.
Então, seu único recurso era o único Feitiço de Éter que tinham em seu arsenal: Bola de Fogo Nível 0.
Alguns dias antes, a Bola de Fogo delas era realmente patética e risível, não mais do que uma bola de tênis, calor medíocre e baixo alcance de ataque. Um humano adulto normal poderia sobreviver a tal ataque se o rosto não fosse atingido por algumas queimaduras graves, para não mencionar todos aqueles monstros marinhos.
Felizmente, a Bolha do Santuário foi justa. Nada de tubarões, mosassauros ou pterodáctilos gigantes ansiosos para comê-las. Havia tubarões sim, golfinhos, águas-vivas e aves de rapina, mas seu tamanho e aparência eram muito menos grotescos, assim como sua ferocidade e implacabilidade.
Colocado em perspectiva, era um desafio que ainda era extremamente árduo, quase impossível para superarem, mas comparado ao que Jake estava enfrentando, era tão simples quanto nadar na própria banheira.
Ao contrário de Jake, que foi incapaz de se concentrar durante suas primeiras tentativas, o Feitiço de Éter que elas dominaram não exigiu nenhum esforço mental especial. Era um feitiço instintivo instalado pelo Sistema Oráculo em seu Código Etérico e tudo o que tinham que fazer era desejar lançar o feitiço abrindo as mãos para que a bola de fogo fosse gerada.
Mesmo na água, a bola de fogo acabaria se formando, fervendo a água e produzindo uma quantidade significativa de vapor. Infelizmente, assim que fosse lançada contra o inimigo, a bola de fogo se extinguiria imediatamente quando o contato com a fonte de energia que a alimentava fosse cortado.
As duas irmãs, portanto, progrediram lentamente em direção à costa com uma bola de fogo em suas mãos o tempo todo e isso inicialmente foi eficaz para desencorajar os peixes e predadores menores e mais cautelosos.
No entanto, não havia como esse primeiro teste ser tão simples. Parte da energia que alimentava suas bolas de fogo vinha dos corpos das duas jovens. Foi uma medida de segurança posta em prática para que elas ainda pudessem se defender se tivessem que enfrentar um mago com controle perfeito do Éter ao seu redor.
Um Corpo Espiritual maior poderia se expandir para formar um reino espiritual ao seu redor com o efeito de suprimir as habilidades Etéricas dos Evoluídos inferiores. Em circunstâncias tão críticas, uma fonte de energia alternativa era absolutamente necessária e só poderia ser o próprio corpo.
Como sua bola de fogo Nível 0 era de nível mais baixo, as possibilidades em termos de controle e modulação ao criar a bola de fogo eram praticamente inexistentes. Jake havia mostrado a elas que era possível influenciar o diâmetro, a temperatura e a força de lançamento do feitiço com um bom controle do éter, mas isso não resolveu essa restrição fundamental. Não no nível delas.
Depois de receber sua parte da venda do cadáver do Digestor de Nível 7, elas conseguiram maximizar seu éter de Inteligência, Percepção e Percepção Extrassensorial, que mudaram completamente seu destino. Agora tinham o potencial de realizar a mesma manipulação de Éter que Jake, mas seu treinamento não foi longo o suficiente.
Para se tornar tão proficiente com seu controle de Éter, Jake tentou por um longo tempo treinar seu Núcleo de Éter, mas sem sucesso, o que foi uma ótima maneira de temperar sua mente e Corpo Espiritual. Com a assimilação de sua linhagem Myrthariana, seu Corpo Espiritual ficou até três vezes mais forte que o normal e era um nível que elas não podiam alcançar em pouco tempo.
Em outras palavras, porque seu intelecto e mente também foram nerfados em suas primeiras tentativas, as duas irmãs foram devoradas sem poder fazer nada a respeito. Toda vez que seus corpos atingiam seu limite de resistência, a bola de fogo desaparecia e todos os predadores à espreita ao redor vinham até elas e as engoliam inteiras.
Depois de cerca de uma dúzia de mortes, que as deixaram perturbadas pelo desespero e vítimas de um transtorno de estresse pós-traumático potencialmente incurável, as duas irmãs começaram a sentir as primeiras mudanças.
Cada ressurreição, as trazia de volta ao momento inicial e repararia o dano psicológico causado às suas mentes, principalmente acalmando-as suavemente. Emoções como o medo dependiam fortemente de certos hormônios e neurotransmissores, como adrenalina, noradrenalina, cortisol e glutamato. Desde que o corpo foi redefinido, o cérebro também. Apenas sua Proto-Alma ou Alma reteve a memória e o horror dos traumas que sofreram.
Os efeitos psicológicos posteriores de um trauma passado, como TEPT ou depressão crônica, tiveram múltiplas causas, mas muitas vezes resultaram da percepção do evento causal.
Por exemplo, alguém pode ficar deprimido após a morte de um ente querido a ponto de não poder aproveitar a vida por anos depois, mas para isso teve que sentir tristeza. Se o evento não gerasse nenhuma emoção tangível no cérebro, ou pelo menos fosse neutralizado rapidamente, acabariam por permanecer como uma memória neutra. Pode-se lembrar que foi um evento triste, que não se quer revivê-lo, até tirar lições dele, mas a química do nosso cérebro e a personalidade futura não seriam mais afetadas negativamente.
Isso significava que esse primeiro julgamento não foi tão terrível e sádico quanto as primeiras mortes as levaram a acreditar. Após o choque das primeiras mortes, qualquer um podia experimentar as mudanças em sua psique.
As mortes ainda eram tão dolorosas e assustadoras como sempre, mas quanto mais o tempo passava, menos elas as impactavam. As fobias mais primitivas, como o medo da água, de ser comido, da escuridão ou de se afogar, foram expurgadas uma a uma, até que restasse um estado mental claro e sereno, difícil de influenciar.
Uma onda de energia também nutriria seu espírito, aumentando ligeiramente seu Éter de Inteligência, Percepção e Percepção Extra-sensorial, solidificando seu Corpo Espiritual. Embora as duas irmãs não possuíssem a Auto-Codificação da Linhagem Myrthariana, nem a mesma aptidão para crescer mais rápido superando desafios, os benefícios dessas ressurreições estavam longe de ser insignificantes.
Assim, depois de muitas tentativas, seu controle de Éter acabou melhorando o suficiente para que sua Bola de Fogo se tornasse capaz de explodir qualquer predador marinho à vista. Tubarões? Explosão! Medusa? Explosão! Alguma criatura à vista? Explosão! Elas explodiram tudo em seu caminho.
Enya e Esya conseguiram assim chegar à costa neste estado físico reduzido. Lançar todas aquelas bolas de fogo usaram as gorduras, açúcares e proteínas de seus corpos como combustível, mas elas resistiram.
Seus rostos podem estar magros e seus olhos vidrados a sombra deles mesmos, mas elas triunfaram! Não eram mais as mesmas jovens despreocupadas e uma nova natureza selvagem havia despertado nelas. Agora eram verdadeiras Jogadoras e estavam prontas para jogar este jogo de verdade!
