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Capítulo 110 – Reencontro

Ao deixar o apartamento, Colin não se preocupou em trocar de roupas. Seguiu tranquilo com sua camisa branca, sua calça de moletom escura e seus chinelos de borracha. Ele já era uma figura conhecida naquela cidade e suas descrições físicas batiam com os rumores.

As pessoas batiam o olho nele e o reconheciam de imediato, mas a maioria relutava em se aproximar, mesmo que entre essas pessoas houvessem fãs.

Com as mãos nos bolsos e assoviando, Colin foi em direção ao albergue apontado por kodogog. Ele falou com o recepcionista e subiu as escadas despreocupado. Fazia tempo que ele não conversava com Stedd, e em partes ele estava nervoso sobre o que encontraria, já que disseram que ele estava com sua família.

Ele não fazia ideia de como a família de Stedd seria. Pela personalidade extravagante de Stedd, Colin já imaginava que todos eles seriam bem excêntricos e únicos.

Parou em frente ao quarto indicado e bateu três vezes na porta. Escutou a porta destravar do outro lado e uma pequena fresta se abriu.

Uma garota de cabelo cacheado, semblante inofensivo, vestido preto e olhos avermelhados deu as caras.

Nebeora encarou Colin de cima a baixo. Era incomum ver alguém que se parecia com um elfo negro ter um corpo tão forte quanto aquele, sem falar que o olhar dele era tão sinistro que a fazia recordar-se de sua mãe.

Sendo uma assassina experiente, seus instintos estavam aguçados. Ela foi treinada para sentir o menor sinal de perigo, e seus instintos diziam a ela que aquele Elfo era perigoso.

Colin tirou a mão esquerda do bolso e coçou a nuca.

“Os olhos dela são bem avermelhados como os de Stedd, será que é irmã dele?”

— Oi… Stedd está?

Nebora se lembrou de o irmão ter citado sobre um elfo errante que era seu amigo. As tatuagens no braço de Colin o entregavam.

— Você é o Colin? — perguntou num tom meigo.

— Ah! Sim, sou eu… Stedd está?

Ela escancarou a porta. Mesmo sentindo que ele era perigoso, o errante não parecia ser inimigo.

— Ele foi resolver algumas coisas, por que não se senta?

— Quem é? — gritou Yebella no outro cômodo.

Yebella deixou o quarto e chegou até a sala.

— Mana! — disse Nebeora empolgada — Esse é aquele amigo do Stedd!

Yebella o encarou de cima a baixo. Ela teve a mesma reação que a irmã. Ficou surpresa com o que viu.

— Ora, ora, então o famoso Colin está aqui… Stedd falou muito bem de você.

Colin sabia que ambas eram perigosas, mas manteve sua guarda aberta. Apesar de serem assassinas, ele não se sentiu ameaçado naquele ambiente.

— Por que não se senta? — Yebella apontou para o sofá — Stedd já deve estar chegando. Tá com fome? Farei um café para gente. Nebeora, não deixe a visita sozinha.

Colin abriu um sorriso sem graça.

— Ah… não precisa se preocupar com isso…

— Senta aí, Stedd brigaria conosco se souber que espantamos um de seus amigos.

Colin suspirou.

— Tudo bem… acho que esperarei por ele…

Yebella se retirou para os fundos e Nebora se sentou no sofá encarando Colin com aqueles olhos vermelhos vibrantes.

— É verdade que você é um errante? — perguntou com um enorme sorriso pontiagudo no rosto.

— É sim…

— Yebella! — berrou Nebora — Já matou um errante?

— Não! — respondeu Yebella dos fundos.

Colin engoliu o seco.

“Essa garota… está me encarando como se eu fosse um pedaço de carne.”

 Track!

A aporta abriu devagar e depois de seis meses, Colin cruzou olhares com Stedd, e atrás de Stedd estava seu irmão mais velho, Malgath.






Colin teve a honra de conhecer três dos Ubiytsy além de Stedd. Eles se juntaram na sala e ficaram conversando sobre tudo. Malgath, o irmão musculoso de Stedd, foi com a cara de Colin de primeira. Ele também era um usuário da pujança, tendo ela como sua árvore primária.

Nebora ficou intrigada com a tatuagem na mão esquerda de Colin. Aquela era a tatuagem da entidade das mil faces, o ser no qual ela seguia de maneira religiosa.

Ficou em dúvida de ele ser um dos seguidores dela, mas não tocaria no nome de sua Deusa na frente de sua família.

Stedd colocou os dois pés na mesa de canto e Yebella os empurrou de volta para o chão.

— Acabei de limpar aí!

— Desculpa, mas e então Colin, por que veio atrás de mim?

Colin bebeu um gole do café, que por sinal estava ótimo.

— Fiquei sabendo que estava na cidade, então decidi te ver. Soube que sua expulsão foi revogada.

Stedd deu de ombros.

— Foi revogada só durante o torneio de guildas, mas eu só voltaria de fato se os rumores fossem verdadeiros.

Colin ergueu uma das sobrancelhas.

— Rumores?

— É. Provavelmente a guilda ganhará um nome e será parte do império.

“Ser parte do império? Esse não é o objetivo de toda guilda na graduação? Espera… ele está dizendo que a gente vai se formar?”

— Isso significa… que iremos nos formar?

Stedd abriu um sorriso de canto e fez que sim.

— É provável que isso aconteça. Eu soube que Ultan tem gastado demais com o exército. A violência tem aumentado e os territórios que Ultan controla só tem se empobrecido. Soube que os oligarcas têm pressionado Ultan para avançar logo pelo continente, já que eles estão começando a ter prejuízos.

Colin assentiu. Ultan e os grandes nobres cultivaram a guerra por tanto tempo enchendo os próprios bolsos, que agora os recursos naturais e o dinheiro estavam acabando. Sem dinheiro e sem recurso, Ultan ficaria vulnerável a ataques externos.

— Então provavelmente a guilda será mandada em alguma frente? — indagou Colin.

Stedd deu de ombros.

— Talvez, sim, talvez não. Ultan deve estar desesperado. Depois de a gente ter dado aquele golpe na guilda de Loafe, os nobres perderam um pilar importante, já que a guilda de Loafe era onde a maioria dos nobres escondia seu dinheiro. Sinto muito dizer isso, mas os nobres odeiam você hehe.

— Eu? Foi você quem invadiu a guilda dele e destruiu tudo.

— É, mas devido à minha família os oligarcas não vão tentar nada contra mim. Como você é o líder, a maioria deles quer sua cabeça. Só não acho que eles terão coragem para tentar algo assim.

“Que ótimo, mais problema.”

— Vocês são bem-parecidos — disse Yebella cruzando os braços — Parecem duas crianças inconsequentes.

— Nisso, eu concordo — disse Malgath — Os dois parecem gostar de se meter em problema háhá.

Colin se ergueu.

— Preciso ir… parece que terá uma festa com as pessoas mais influentes do continente e eu tenho que me arrumar.

— Olha só! — zombou Stedd — Você vai mesmo direto para a boca do leão… Não sei se isso é corajoso ou muito estúpido.

— Não acho que eles farão algo comigo lá, na frente de todo mundo.

Stedd deu um sorriso de canto.

— São ricos e abonados que sempre tiveram o mundo a seus pés. Você subiu muito rápido sem ter status. Então, provavelmente, irão tentar incluí-lo na folha de pagamento deles para mantê-lo sob controle. A pergunta é a seguinte, você aceitará?

Colin suspirou e coçou a bochecha com o indicador.

— Proposta tentadora, mas eu não sou corrupto. Agora vou nessa. Foi um prazer conhecer todos vocês.

Antes de sair do quarto, Colin olhou para trás.

— E você, planeja participar do torneio de guildas?

— Hum… não sei.

— Está bem, nos vemos depois.

Colin deixou o quarto e Stedd afundou no sofá com um suspiro.

— Porque não disse a ele sobre o ataque na capital? — perguntou Yebella.

— Wilster e os gêmeos estão sob efeito da maldição de Bledha, certo? Se eu contasse, algo poderia acontecer com eles.

Magath deu um tapa forte nos ombros de Stedd, quase o jogando no chão.

— Papai estaria orgulhoso de você háhá!

— É, mas Colin e os outros ainda são meus amigos… Priorizarei a segurança deles, quando a invasão começar, vocês se sairão bem.

— Não planeja participar do ataque? — perguntou Magath.

Stedd fez que não.

— Vocês já são fortes o bastante para cuidarem disso sem a minha ajuda.

— Ele é igual à gente. — disse Nebora.

— Igual à gente? — perguntou Stedd.

Nebora abriu um sorriso de canto.

— Ele é um assassino que estampa aquela casca de homem bonzinho. O olhar dele lembra o da mamãe, um olhar de predador que faz você querer fugir só de encará-lo.

Stedd fez uma expressão de nojo e abanou uma das mãos.

— Que merda é essa? Gostou do Elfo tanto assim ao ponto de compará-lo com a mamãe?

Nebora cruzou os braços e olhou pro lado. Para a segurança daqueles que faziam parte do culto a entidade das mil faces, era estritamente proibido revelar seus membros a terceiros que não cultuavam a entidade.

Não era a primeira vez que ela se encontrava com outros membros, mas era a primeira vez que encontrava alguém tão destoante daqueles que seguiam a entidade.

A primeira impressão que Colin causou foi algo que a deixou pensativa. Foi a primeira vez dela para tantas coisas que Nebora quase entrou em êxtase.

Foi a primeira vez que ela via um Elfo Negro tão forte, a primeira vez que ela via um errante e a primeira vez que ela via um Elfo Negro errante que, supostamente, seguia a mesma Deusa que ela. Sem falar naquele olhar que a deixou assustada por um momento.

— Não “gostei” dele… — Balbuciou com os olhos no vazio — Só o achei diferente…

Yebella abriu um sorriso de canto e bebeu um gole do café.

— É! — Exclamou Yebella apoiando a xícara de café na mesa de centro — Ela gostou dele.

— Não gostei não!

Stedd mostrou seu sorriso debochado e encarou a irmã.

— A namorada dele é uma monarca de duas árvores que quebraria você ao meio sem muito esforço.

Magath abriu um sorriso de orelha a orelha.

Para eles, irritar Nebora era divertido, ela sempre ficava irritada e saía batendo os pés.

— Você tem quase metade da altura do Elfo — zombou Magath — Já imaginou se você-

Nebora ficou vermelha e tapou os ouvidos. Saltou do sofá e foi correndo pro quarto. Bateu forte a porta e passou a chave.

Stedd e Magath não conseguiram segurar a gargalhada.

— Deviam respeitar a irmã mais velha de vocês e parar de colocar coisas na cabeça dela. — disse Yebella se erguendo — Vou descansar um pouco, esse calor me deixa letárgica. Vocês dois, deixem Nebora em paz e vão trabalhar.

— Trabalhar? — perguntou Stedd indignado — Mas acabamos de chegar de um trabalho!

— Não vou falar duas vezes.

Stedd se levantou num salto e franziu o cenho.

— Vamos Magath, parece que temos uma déspota na família.

— E sem reclamar! — reforçou Yebella.






A brisa gelada assoprava os cabelos negros de Drez’gan. Ele estava escorado na sacada. Seus olhos se concentravam em seu numeroso exército dos mortos que chegava facilmente à casa dos milhões. Entre eles haviam até mesmo colossos e demônios antigos.

Como a noite era algo predominante no abismo, um clima sombrio acabava cercando Drez’gan e todo o seu imenso castelo.

Depois de ouvir um passo atrás dele, Drez’gan se virou vendo Thaz’geth prostrada, de cabeça baixa e com um dos joelhos apoiados no chão.

Seu estado não era dos melhores.

Parte da armadura dela estava destruída, além da própria Thaz’geth estar cheia de escoriações.

— É a primeira vez em séculos que vejo você nesse estado. — disse Drez’gan de maneira sucinta.

— Mil perdões, majestade, a caída da essência da água acabou me banindo. Demorei mais que o normal para retornar.

Drez’gan assentiu e se virou, encarando novamente seu exército enquanto a brisa balançava seus cabelos longos.

— A caída da essência das chamas te deixou assim, não foi?

Ela assentiu.

— Sim senhor…

— Hum… Você ficou brincando com eles e acabou levando a pior. Podia ter encerrado a luta nos primeiros segundos.

Thaz’geth abaixou ainda mais a cabeça.

— Sinto muito…

— O que você tem de importante para me dizer?

Depois de engolir o seco, Thaz’geth ergueu a cabeça.

— É sobre Brighid…

Drez’gan a encarou por cima dos ombros.

— Ela abandonou esse nome, se esqueceu? Aqui, ela renasceu como Kag’thuzir.

— Mil perdões, senhor…

Drez’gan deu de ombros.

— Que informações tem sobre ela?

— O errante que veio até aqui… Vi o passado dele… sinto muito, mas sua prometida ama outro homem. Ela até já se deitou com ele…

Por um minuto Drez’gan ficou em silêncio.

— Entendi… não achei que algo assim fosse acontecer. De qualquer maneira, ela ainda está nesse mundo. A fronteira tênue que nos separa, gradualmente, começará a ceder até que o véu caia mais uma vez.

Com um sorriso orgulhoso, Drez’gan encarou as montanhas ao fundo. Segundos depois todo palácio começou a tremer, e as montanhas se moveram, revelando dragões colossais com asas flamejantes.

O fogo esmeralda de suas asas pareciam sóis de tão quentes.

Os dragões rugiram, tremendo todo palácio e além dele. Harpias sobrevoaram o castelo enquanto esganiçavam como loucas. Os soldados mortos-vivos usando armaduras imponentes soltaram rugidos, mas seus berros furam abafados pelos rugidos do numeroso número de colossos naquele exército sem fim.

— Senhor… — disse Thaz’geth — Tem mais uma coisa… avistei a marca de Jane na mão do errante…

— Ele fez um contrato com Jane?

Ela assentiu.

— Acredito que sim, senhor.

Drez’gan se virou, caminhando até Thaz’geth. Apoiou a mão na cabeça dela e a apóstola começou a se curar. Até mesmo a armadura dela se reconstituiu. Durante o processo, o rei do abismo também absorveu as memórias de sua subordinada.

— Colin…

Drez’gan tirou a mão da cabeça de Thaz’geth.

Para Drez’gan, aquilo não podia ser mais perfeito. Mesmo que não acreditasse em destino, aquilo parecia um glorioso presente do destino para ele.

O rei mais poderoso que o abismo já teve sabia ser paciente para alcançar seus objetivos.

Ele foi paciente para ensinar magia a Brighid, foi paciente para montar seu exército grandioso e paciente para se tornar um dos seres mais poderosos da existência.

Era só questão de tempo até que o véu fosse derrubado mais uma vez e um segundo cataclisma varresse parte do continente para debaixo do tapete.

Ele aguardaria tudo aquilo pacientemente, e também aguardaria um confronto contra Colin. Mesmo não o conhecendo, ele tinha motivos de sobra para abatê-lo.

Colin invadiu seu domínio, matou seus arquiduques, lutou contra uma de suas apóstolas, mas o pior de tudo, era que ele havia roubado a mulher que Drez’gan preparou calmamente por mais de mil anos.  Mesmo não demonstrando, o rei sentia como se seu brinquedo favorito tivesse sido tomado dele a força.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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