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Capítulo 112 – Nada de Briga

Antes de seguir para o apartamento de Brighid, Colin tinha que comprar roupas novas. Ele estava maior e mais forte. Suas roupas de seis meses atrás não lhe caberiam, então ele foi para o único lugar que conhecia.

Assim que adentrou o estabelecimento, o sino de aviso soou. A anã alfaiate saiu dos fundos caminhando como um pinguim.

— Olha só quem voltou… — disse Tishora esboçando um sorriso de canto — Já faz um tempo, Elfo.

Colin assentiu e se sentou no sofá esperando Tishora se aproximar.

— O que vai ser dessa vez? — ela indagou pegando uma fita métrica do bolso — Outro evento importante?

— É… Estava pensando em um terno dessa vez. Algo todo escuro.

A anã pegou a mão de Colin e estendeu a fita sobre seu antebraço.

— Eu soube que você é um homem bem problemático. Isso não me surpreende, na verdade. Você é amigo de Stedd, certo? Aquele rapazinho é o problema em pessoa, mas não posso negar que ele sabe ser útil quando necessário.

Ela fez sinal para que Colin se abaixasse, e assim ele o fez.

— E o pingente que pegou da última vez, a garota que estava cortejando gostou?

— Sim, ela o usa até hoje.

— Que bom! A mulher mais bela e mais forte do reino usando algo que partiu de mim. É uma honra!

— Então você sabe quem é…

Tishora terminou de tirar as medidas do braço de Colin e começou a tirar a medida do tórax.

— É claro que sei. Um dos meus amigos fez um vestido para ela e para aquela Kinesi. Isso deve alavancar os negócios dele, por isso tenho que deixar você elegante.

Colin riu.

— Acho que você terá trabalho.

— Parece que até esqueceu quem eu sou. Com tanta gente na cidade, acredito que o evento em que você irá, terá muita gente importante. E para o bem ou para o mal, as pessoas irão prestar atenção em você. Por isso tenho que dar o meu melhor aqui. — Tishora deu dois passos para trás — Pronto! Agora me espere aqui, isso levará alguns minutos.

Colin permaneceu quieto no sofá enquanto Tishora se retirou para os fundos. Já fazia muito tempo desde que ele esteve ali pela última vez. Muita coisa aconteceu, mas apesar dos contratempos, tudo estava bem.

Levou vinte minutos para que tudo estivesse terminado. Tishora ela uma maga que conseguia fazer a magia funcionar a seu favor. Por isso seus produtos eram entregues a tempo e com uma excelente qualidade.

Colin experimentaria se pudesse, mas seu tempo estava bem corrido. Pagou Tishora e saiu correndo para seu apartamento.

Leona estava lá, deitada toda destrambelhada no sofá lendo um livro.

— Mestre! Onde foi? Fui lá na Brighid, mas ela disse que você havia saído.

— Desculpa, eu estou atrasado.

— Atrasado? Vai a algum lugar?

— Em uma festa com o alto escalão do continente.

Leona saltou do sofá e se aproximou de Colin com os olhos brilhando.

— Posso ir? Por favor…

— Não.

Ela cruzou os braços e fez beicinho. Leona não queria ir, ela só estava entediada de ficar sem fazer nada.

— Agora tenho que me arrumar.

Colin se retirou para os fundos e foi direto para a banheira. Tomou um banho bem rápido e fez a barba. De barba feita, ele tratou de se vestir bem rápido. Vestiu as calças pretas, o sapato preto bem encerado, a camisa interior branca, gravata preta e colete preto.

Tishora não havia mentido, aquela roupa o deixou bem bonito. Acostumado com roupas grossas e surradas, vestir aquilo era como usar seda fina.

Jogou o blazer preto no ombro e se apressou para descer as escadas.

— Uau! — gracejou Leona — Você lavou até o cabelo. Vê se traz comida para mim.

— Vou tentar trazer.

Colin desceu as escadas e foi até o dormitório das meninas, atraindo olhares de todo tipo. Algumas alunas até pensaram que ele fosse algum novato, filho de um nobre do reino dos Elfos Negros.

Assim que chegou no dormitório, ela viu Brighid, Lei Song e Loaus o esperando. Brighid e Lei Song usavam os vestidos dados a elas pelo imperador. Brighid usava um vestido branco bordado de mangas longas e Lei Song usava o mesmo vestido da cor azul escura.

Loaus também estava elegante com seu penteado para o lado e com um terno justo.

— A gente já estava quase indo sem você — disse Brighid arrumando a gravata de Colin.

— Eu sei, foi mal.

— E nossa, você está lindo! É a primeira vez que vejo você tão arrumado desse jeito.

Colin abriu um sorriso de canto.

— Eu ia dizer que você também tá linda, mas você provavelmente ouvirá isso muitas vezes hoje. — Colin inclinou a cabeça pro lado — Olha só, a princesa Song vestida como uma princesa.

Lei Song olhou para o lado e abriu um sorriso tímido.

— Obrigada…

— Pessoal, a gente tem que ir… — disse Loaus com medo de que seu pedido soasse como uma ordem.

Entraram um de cada vez e encontraram Liena encarando a janela emburrada.

— Não liguem para essa cara de enterro dela. — disse Loaus ajeitando o colarinho. — Ela tá assim desde manhã.

 Chlack!

O chicote estalou no lombo do garanhão e a carruagem começou a se mexer.

— O que aconteceu? — perguntou Lei Song.

Loaus coçou a nuca e suspirou.

— Ela vai conhecer o homem que vai se casar com ela.

— Você fala com tanta indiferença porque não é você que vai se casar com alguém somente para dar herdeiros a ele! — disse Liena enraivecida.

— Foi o trato que papai fez com você, não foi? Então pare de chorar como uma criança, você já é uma mulher feita, comporte-se como uma.

— Não é você que vai precisar ir para outro reino e ficar longe de todo mundo! Pare de falar como se tudo fosse tão fácil!

— Sei que não é fácil, mas esse é nosso fardo como príncipe e princesa de um império! Será que você entende que tem responsabilidades?

— Se mamãe estivesse aqui, ela me ouviria!

Loaus aumentou o tom de voz.

— É, mas ela não está! Então, está na hora de você virar adulta! Ninguém passará a mão na sua cabeça só porque você não quer fazer alguma coisa!

Foi a vez de Liena aumentar a voz.

— Passar a mão na minha cabeça? Você sempre foi o preferido do papai, do Lumur, Lina e até mesmo da mamãe! A gente nunca fez o que eu queria, então é fácil falar assim quando você é mimado de todos os lados!

— Parem com isso, os dois! — disse Brighid cruzando os braços, soando tão autoritária que até Lei Song e Colin se assustaram — Vocês são irmãos, não precisam destilar tanto ódio gratuito dessa maneira. Eu não sei sobre o que se passa no particular de cada um, mas vocês estão se machucando por algo que nem aconteceu ainda. Os dois estão se comportando como crianças birrentas. — Brighid suspirou, olhou para um e depois para o outro — Faz semanas que estou enjoada, com cólica, dor de cabeça e com muita fome. Decidi encontrar com os nobres por pura educação, mesmo sabendo que será uma droga. Então não me estressem mais com essa discussão! Nem cheguei a esse encontro e já quero voltar, por isso peçam desculpa um pro outro, agora!

Os dois ficaram assustados com a mudança de humor de Brighid. Ela era sempre tão passiva e doce que era difícil de acreditar no que havia acabado de acontecer.

Brighid franziu o cenho, cruzou os braços e começou a bater o pé.

— Estou esperando as desculpas! — disse irritada.

Os gêmeos se encararam e engoliram o seco.

— Desculpa, Liena… eu não devia ter dito aquelas coisas…

— Eu também peço desculpa, eu não devia descontar minhas frustrações em você…

— Ótimo! — disse Brighid — Agora fiquem em silêncio até chegarmos ao palácio. Mais cinco minutos dessa discussão de vocês e minha cabeça explodirá.






Bledha chegou à capital disfarçada de Mary, a doce duquesa. Estava acompanhada de seu falso irmão, duque, não tão doce assim. Uma área inteira foi separada somente para os nobres. Havia muitos reis e rainhas, todos eles interagindo em um grande salão.

A maioria ali se conhecia, mas mesmo assim sustentavam a guerra por motivos mesquinhos, e isso deixava Bledha enjoada. Humanos continuavam os mesmos. Ambiciosos e arrogantes. Mas Bledha adorava aquilo, o jogo político era sua especialidade.

Ela bebeu um pouco do vinho que segurava em sua taça e colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha.

Ela avistou seu alvo, o imperador do império do sul. Documentos sobre a relação dele com Ultan foram destruídos, mas Bledha sabia que a guerra entre eles era apenas fachada. O imperador do sul fazia discursos memoráveis sobre pátria e nação, mas, no fundo, ele gargalhava com o fato de que algumas pessoas davam sua vida por causa disso.

Lumur, mesmo com olhos e ouvidos em todo lugar, não sabia deste acordo bilateral. Quando ele pessoalmente avançou para o sul com seu exército, o clima entre os dois impérios esquentou, mas não tardou até que as coisas fossem resolvidas.

Soldados eram enviados à fronte para serem somente bucha de canhão de uma guerra que nunca teria fim, afinal, o fim da guerra não interessava a nenhum dos lados.

Ultan tinha acordos secretos por todo continente. Pouco a pouco, ele comprava terras e consequentemente os reis, duques, barões, viscondes, todo proprietário de terra e empresário com controle sobre meios de produção.

Enquanto eram remunerados por debaixo dos panos, os senhores de terras e líderes de conclaves obrigavam seus generais a se autossabotarem para que Ultan avançasse de maneira natural por seu território.

Os nobres e membros importantes da corte eram retirados das terras e assim os soldados invadiam com tudo. A maioria dos homens era morta ou escravizada. Ultan construía escolas para que as doutrinassem através de uma intensa lavagem cerebral, e as mulheres ficava a decisão de se casarem e servirem a oficiais, soldados do estado, ou trabalharem como prostitutas em bordéis destinados exclusivamente aos soldados.

Muitos oficiais tinham mais de uma esposa e diversos filhos bastardos.

Era um jogo sujo, onde ganhava quem desse o lance mais alto. A maioria deles faziam discursos de arrancar lágrimas sobre liberdade e nação, mas a verdade, é que ninguém era livre, não enquanto aqueles senhores estivessem segurando as rédeas do destino do continente.

— Senhorita Mary… — Disse o barão de Rontes, mão direita do rei. Ele era calvo, gordo e com as mãos cheias de anéis brilhantes.

— Barão Maquiavel…

Ele ergueu a taça de vinho.

— Então é você que está administrando aquela vilazinha que chamam de ducado? Háhá, impressionante. — O barão se aproximou ao pé do ouvido de Bledha — Soube que vocês não têm soldados o suficiente para proteger aquela vilazinha. Posso fornecer proteção se você me der o valor necessário. O que me diz?

Bledha abriu um sorriso de canto.

— Está me ameaçando, barão?

— Ameaçando? Eu nunca faria uma coisa dessa. Estou apenas oferecendo uma oportunidade irrecusável.

Foi a vez de Bledha se aproximar do pé do ouvido do barão.

— Soube que tem uma filha de dois anos, barão. Pequena Nina… ruiva dos olhos azuis, tenho certeza que quando ficar mais velha ganhará muito dinheiro se oferecendo para soldados, já que o papai e a mamãe estarão apodrecendo no inferno por irritar a pessoa errada.

Maquiavel se afastou com fúria no olhar.

— O que disse?

Bledha abriu um sorriso e deu de ombros.

— É tão guloso que está com comida até nos ouvidos, barão?

Franzindo o cenho, o Barão avançou um passo. Ele não estava acostumado a ser tratado daquela forma, afinal, ninguém tinha coragem de dizer aquilo a ele. Algumas pessoas influentes ouviram a última parte da conversa e ficaram de risadinha.

“Olha a audácia dessa caipira”. Pensavam os nobres.

Se ele não fizesse nada, sua reputação seria manchada.

Erguendo a mão-cheia de anéis, ele se preparou para dar um tapa no rosto de Bledha. Ela era duquesa de um lugarzinho minúsculo se comparado ao grande reino de Rontes. Maquiavel sentia como se tivesse sido humilhado por uma formiga.

 Grab! Bledha segurou a mão do barão antes de encostar no rosto dela. As pessoas pararam de se mover para observar a cena. Maquiavel ficou ainda mais furioso.

— Você tem um bom reflexo para uma caipira!

— Vamos lá, barão, aposto que sua filha de dois anos tem reflexos melhores que os seus.

— Sua…

O barão, sentiu uma pressão no pulso e começou a suar. Ele queria berrar, mas permaneceu quieto. Seria ainda mais humilhante se percebessem que ele estaria sendo pressionado por alguém como Bledha.

— Algum problema? — Perguntou o Rei de Rontes em pessoa.

Ao contrário dos boatos, ele era um Elfo alto, atlético, com uma feição agradável. Ele tinha cabelo ralo e barba carregada. Ao seu lado, estava uma mulher de cabelo branco ondulado, cílios cheios da mesma cor, olhos tão azuis quanto cristal, lábios pequenos, porém grossos, pele pálida e orelhas pontudas.

Ela tinha um corpo de estatura média, tinha por volta de 175 cm e seu cabelo branco muito bem-arrumado com tranças, levava uma tiara.

O povo de Rontes tinha um costume quase tribal. Herança de seus descendentes que vieram do Norte. Suas roupas se resumiam a túnicas grossas bastante quentes. A realeza costumava usar roupas coloridas com a cor dourada sendo predominante, e para enfeitar, peles de ursos iam em seus pescoços.

A garota que acompanhava o rei chamava atenção por ser bastante exótica e dona de uma beleza ímpar, afinal, ela pertencia a bela raça dos elfos da neve.

Bledha soltou o pulso de Maquiavel e ele engoliu o seco.

— Não há problema aqui, não é, barão?

O barão engoliu o seco e saiu às pressas.

— O rei de Rontes veio salvar uma donzela em perigo? — brincou Bledha.

— Vim salvar o meu barão, às vezes ele é um pouco… atrevido.

— E como. E quem é essa, uma esposa?

— Minha filha, Selly.

Educadamente, Selly curvou o corpo.

— Uma meia Elfa da neve… interessante.

— Ela é linda como a mãe já foi… — disse o Rei.

— Meus pêsames.

Ele abanou as mãos.

— Tudo bem. Mary, não é?

Mary fez uma reverência.

— A própria.

— Espero que aproveite bem a festa. É mais vantajoso fazer amigos do que inimigos.

Bledha abriu um sorriso de canto de boca.

— Sei me cuidar, majestade.

As portas do salão se abriram e todos pararam para ver os filhos do imperador adentrarem acompanhados de duas belas mulheres e um Elfo negro.

Por mais que Colin estivesse elegante, Brighid, Lei Song e os filhos do imperador, fizeram Colin ficar invisível.

— Aquela é a monarca de duas árvores? — comentou um nobre — Os boatos diziam que ela era bonita, mas isso superou minhas expectativas.

— E aquela mulher é uma oriental, certo? — comentou outro nobre — Que mulher exótica! Ela ainda não tem pretendentes, tem? Acho melhor eu me apresentar.

— Eu soube que ela foi mandada para cá a pedido de Jack Ubiytsy. Aquele psicopata do filho dele está de olho na garota.

Os nobres entreolharam assustados.

— Convidaram aquele cara também?

— Claro que não, ele foi expulso depois de se meter com aquele garoto, Loafe. Aquele rato me deu muito prejuízo. Sabe o quanto investi na guilda de Loafe?

Outro nobre ajeitou a gravata e pegou uma taça de vinho.

— Cavalheiros, se me derem licença preciso cortejar algumas damas, quem sabe conseguir alguma aliança importante.

Loiro dos olhos azuis e maxilar quadrado, Albert, o príncipe de Valéria, costumava fazer bastante sucesso com as mulheres por sua aparência que se destacava.

O príncipe de Valéria era sobrinho do rei de Rontes, porém, ele não era um elfo, e sim humano. Por motivos pessoais, o rei de Valéria não compareceu, mas mandou seu herdeiro no lugar.

Albert parou de se mover assim que viu o gigante Ultan se aproximar de seus filhos e suas acompanhantes.

— Se me permitem… — Ultan beijou as costas da mão de Brighid e depois de Lei Song — Fico feliz que tenham aceitado meu convite e agradeço por cuidarem de meus filhos. Não deve ser fácil.

Ultan não havia reparado que Colin estava com eles.

— Senhor Colin… tenho que admitir ser uma surpresa vê-lo aqui. Espero que aproveite a festa. Já que está aqui, eu gostaria de saber se posso pegar senhorita Brighid e senhorita Lei Song emprestadas.

Colin deu de ombros.

— Claro. Vá em frente, só saiba que estou aqui por perto caso aconteça alguma coisa.

Ultan abriu um sorriso de canto.

— Com o senhor aqui, tenho certeza que nos sentimos mais seguros. Loaus, vá fazer amizades, e você, Liena, vá conhecer o seu futuro marido, o Rei de Rontes.

Aquilo não soou como pedido, mas como uma ordem.

Loaus seguiu o pedido de seu pai e Liena permaneceu ali com a cara emburrada.

Ultan ofereceu os dois braços. Brighid pegou o direito e Lei Song o esquerdo. A passos lentos, Ultan se afastou. As levando a seu seleto grupo de elite.

Colin ficou ali com Liena.

— E então… a gente vai fazer o quê?

Liena suspirou.

— Quer ir comigo, conhecer o Rei de Rontes?

Colin apoiou as duas mãos na cintura.

— Não era seu pai que devia te apresentar ao marido ou coisa assim?

Liena fez muxoxo.

— Como se meu pai ligasse para mim…

Sorrindo, Colin ofereceu o braço e Liena o segurou.

— Senhor Colin, não arrume briga com ninguém, está bem?

Colin ergueu uma das sobrancelhas.

— Briga? Eu nunca faria algo tão deselegante assim.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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