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Capítulo 116 – Crepúsculo de Sangue – Parte 01

Ninguém sabia como o mundo havia tido seu verdadeiro início. Alguns especulavam haver sido uma explosão, outros, acreditavam em uma força superior, no qual deu origem a tudo aquilo que é palpável aos olhos.

Apesar das especulações, os antigos estudaram com ímpeto as estrelas e mantinham frequentemente os olhos no espaço, tentando imaginar em que lugar se localizavam naquele vasto infinito, e através das estrelas eles tentavam decifrar o passado.

Foi depois de tanto estudar as estrelas, que os antigos perceberam que cada pontinho luminoso naquele céu estrelado queria dizer alguma coisa. Eles estavam diante de um gigantesco livro aberto aos olhos de todos.

Então, estudiosos entusiastas da filologia (estudo da língua através de textos escritos) interpretaram o céu à sua maneira e fizeram um pequeno livro com centenas de páginas.

Depois de tanto escrever, os antigos espalharam aos quatro cantos que as estrelas lhes haviam dito, que o que sustentava o cosmos era uma imensa árvore astral, que conectava outros planos para além deste.

Claro que uma constatação tão específica quanto aquela gerou céticos em todo lugar, principalmente entre os estudantes mais novos.

Foi aí que outra vertente de pensamento nasceu.

Novos estudiosos disseram que os antigos aprenderam magia com os dragões. Ainda em teoria, os estudiosos diziam que dragões foram os primeiros habitantes daquele mundo.

A maioria então passou a usar magia, e mesmo que a magia houvesse melhorado seu modo de vida, ela ainda era arcaica. Para fazer acender uma vela, regar um canteiro ou até mesmo fazer uma pequena rachadura no solo, era necessário encantamentos e rituais que levariam horas para serem completados.

Entusiastas haviam comprado a ideia de os dragões terem ensinado magia aos antigos, então excursões foram realizadas para encontrarem os dragões que até então eram apenas lendas, delírio de novos estudiosos atrás de respostas.

Nenhum deles obteve sucesso nessa empreitada, então a ideia dos dragões foi deixada de lado, ao menos por hora.

Enquanto estudiosos e entusiastas estavam concentrados na vida fora daquele plano, se perguntando que tipo de raças e seres haveriam fora do plano terrestre, haviam outros que estavam concentrados exclusivamente naquele plano, concentrados na magia julgada como “proibida” por muito, a magia que envolvia a morte.

Antes mesmo da queda do véu, físicos, metalúrgicos, químicos, astrólogos e curandeiros, com a maioria tendo origem humilde, se reunia secretamente para estudar uma arte que mais tarde veio a ser conhecida como alquimia.

O objetivo daquele grupo não era conseguir riqueza ou fama, era transcender por completo a única certeza da vida de tudo aquilo que é vivo, a morte.

Incontáveis estudos e testes foram feitos acerca do assunto, mas anos se passaram até que alguém finalmente teve êxito em criar um objeto que mudaria a história da magia para sempre.

Ele a apelidou de “Grande Obra”.

Antes, aquilo que era um conceito metafórico no qual estava associado a lapidação da alma humana, que era um conceito outrora abstrato, havia ganho vida, se transformando em uma pequena pedra vermelha lapidada.

Seu criador mais tarde foi conhecido como Francis Gunner, o primeiro usuário conhecido por usar magia sem encantamento ou longos rituais.

Ele estudou os atributos daquela pedra por anos, até finalmente entendê-la por completo.

No fim, ele aprendeu com a própria pedra a usar magia de forma mais efetiva sem precisar necessariamente dela. A fim de passar seus ensinamentos adiante, ele ensinou a verdadeira magia a seu restrito círculo de amigos, que consequentemente ensinaram a seus familiares.

Aquilo que antes era um segredo, foi disseminado por todo continente bem mais rápido que uma praga contagiosa.

Gunner nunca foi devidamente reconhecido por seu feito, morrendo de causas naturais aos 68 anos.

Sua “Grande Obra” acabou ficando com um de seus melhores amigos, conhecido como Nosferatu Vlad.

Vlad sempre foi polêmico.

Ele acabou sendo conhecido por ser precursor de uma nova vertente na era onde a magia ainda engatinhava. Vlad nomeou seus estudos de Vampirismo.

Mesmo que seus colegas acabassem cultuando formas de escapar da morte, nenhum deles obteve sucesso, nem mesmo um homem brilhante como Gunner.

Para Vlad, a imortalidade estava intrinsecamente ligada ao sangue. Enquanto realizava seus experimentos, Vlad cogitou em beber o sangue de pessoas para alcançar a tão desejada imortalidade, porém, mesmo que antes ele tivesse falhado inúmeras vezes, agora ele tinha em mãos a “Grande Obra” de seu falecido amigo Gunner.

Vlad não costumava ser cercado de pessoas, já que ele não era considerado um homem atraente e seus métodos eram vistos como asquerosos.

Ele era um homem franzino com uma deformidade na orelha a deixando pontuda. Seus olhos também eram esbugalhados, sem falar que Vlad era um homem corcunda, com seus dentes sendo de maioria pontiaguda.

Por essa deformidade na arcada dentária, Vlad raramente conseguia fechar a boca. O horrendo Vlad sempre era visto babando como um cão com raiva.

Aquela ainda era um era de trevas, onde desaparecimentos, pestes e a morte prematura eram vistas como coisas normais, mas haviam suspeitas em cima de Vlad.

As pessoas diziam que ele estava ligado aos desaparecimentos de pessoas, principalmente crianças, mas ninguém tinha coragem o suficiente para questioná-lo.

Os estudos de Vlad continuaram por anos.

Ele tentou usar engenharia reversa em fragmentos da “Grande Obra” de Gunner, até que finalmente descobriu do que ela era realmente feita.

A descoberta o chocou.

A pedra em si era feita de magia, mas não de uma, era de centenas, um tipo de magia ligado a vida. Vlad tentou recriar a pedra usando animais. Matou tantos que a população notou uma drástica mudança na fauna local.

Sua sorte, era que depois de usar tantos rituais, poções e maneiras diferentes, ele conseguiu recriar uma cópia barata da “Grande Obra”. A pedra potencializava a magia do portador, dando a ele até mesmo poderes atém do limite humano.

Porém, para funcionar, Vlad deduziu que aquilo deveria ser feito não com animais, mas com pessoas.

Apesar de causar pavor as pessoas, Vlad não era um homem forte, podendo perder em uma briga até mesmo para uma mulher da mesma estatura que ele. Seus únicos alvos possíveis seriam crianças.

Mesmo que não tivesse uma guerra acontecendo em cada esquina, a pobreza ainda era um tema bem recorrente naquele lugar, já que os animais acabaram se afastando pelo próprio Vlad.

Ele atraía as crianças até sua casa com a promessa de um prato de comida, então, nenhuma delas eram vistas novamente.

Vlad reunia tantas crianças em seu porão que era difícil alimentar e cuidar de todas até que realizasse o ritual. Então, ele matava algumas e as cozinhava, alimentando aquela multidão com as crianças mortas.

Depois de tudo isso feito, Vlad sacrificou mais de 300 crianças a fim de criar cerca de 10 réplicas perfeitas da “Grande Obra” de Gunner, e ele obteve êxito.

Vlad transformou a pedra escarlate em líquido, aplicando em si pequenas doses por vários dias. Seus sintomas foram febres extrema e dores lacerantes pelo corpo inteiro.

No fim, Vlad acabou não suportando a dor e faleceu, mas sua morte durou apenas algumas horas. Quando ele acordou, suas deformidades físicas estavam curadas, e ele se sentia tão forte quanto jamais foi.

Era lua cheia, e Vlad escutou pessoas chamarem seu nome do lado de fora daquela choupana que ele chamava de casa.

Lá fora, uma multidão enfurecida segurava tochas, espadas e tudo que pudesse ser usado como arma. A população fez sua própria investigação e concluiu que Vlad era o culpado, justamente por ser visto com algumas crianças antes do desaparecimento.

Quando Vlad saiu de casa, aquela multidão enfurecida se assustou ao ver um homem belo, alto e forte. Muitos se questionaram se aquele era mesmo o monstro que estavam procurando, mas eles tiveram certeza quando o próprio Vlad, cheio de si, confirmou que não só matou os filhos daqueles camponeses, como também os canibalizou sem remorso algum.

Enfurecida, a multidão tentou linchá-lo, mas Vlad era como um animal selvagem em frenesi. Ele matou todos os camponeses sem hesitar, sentindo um prazer indescritível.

Ali ele teve a completa certeza de que havia superado a morte.

Porém, algo foi contra todas suas expectativas sobre si mesmo. Um fator natural o machucou dolorosamente quando foi exposto a ele. Mesmo que agora tivesse fator regenerativo anormal, ele se curava lentamente ao ser atingido pelo sol.

Vlad esperou a noite seguinte e juntou a parte mais importante de sua pesquisa, fugindo daquele lugar com suas nove pedras restantes da “Grande Obra”.

Se escondeu em grutas e cavernas, até fazer de uma caverna isolada o seu lar.

Conhecido agora como Vampiro devido ao estudo que ele mesmo nomeou, Vlad foi atrás de todo seu círculo secreto que outrora o desprezou e matou a todos sem exceções, matando até mesmo suas famílias, extirpando de vez toda uma linhagem.

Embora seu corpo não fosse mais o mesmo, Vlad notou que o próprio ainda não havia superado a morte, ele ainda continuava envelhecendo como um humano comum.

Foi então que na calada da noite, Vlad começou a capturar mulheres virgens e belas, levando-as direto para sua caverna. Com as nove pedras que restaram, Vlad as transformou em vampiras como ele, e as violou incansavelmente as engravidando.

Seu objetivo era recriar uma nova linhagem, uma nova raça que regeria sobre o novo mundo. Agora, como Vlad e as mulheres que tomou para si, sendo vampiros, a primeira linhagem de sangue puro nasceu.

Vlad considerava a si mesmo e suas mulheres como a primeira geração, e seus filhos seriam a segunda.

Vlad capturou um forte isolado e fez dali o seu lar, tendo cada vez mais e mais filhos, enchendo aquele castelo em alguns anos.

Ao todo, Vlad teve 47 filhos, sendo eles 21 meninos e 26 meninas. Para que o sangue continuasse puro, Vlad ordenou a seus filhos terem relacionamentos incestuosos com suas irmãs, dando origem a terceira geração.

Enquanto o restante de seus filhos proliferava como coelhos em relacionamentos incestuosos, três filhos abandonaram a ideia de proliferarem e se concentraram em outras áreas da magia.

Alucard Nosferatu, o 10.º filho, era um verdadeiro autodidata. Ainda criança ele havia conseguido superar o próprio pai em todos os aspectos, um verdadeiro gênio.

Graff Nosferatu, o 23.º filho, era alguém ardiloso desde que era uma criança. Suas nove mães o consideravam o filho mais problemático dentre os 47. Graff sempre foi um manipulador nato, sempre conseguindo o que queria usando o mínimo de força possível.

Drerwalt Nosferatu, o 36.º filho, foi o primeiro a estudar magia e o primeiro dos Nosferatu a compreendê-la por completo, sendo também o primeiro Monarca da família.

Assim como Vlad previu, não tardou até que todas as suas proles o superassem em todos os aspectos possíveis.

O véu ainda não havia caído, então os vampiros se achavam superiores a quaisquer raças, principalmente aos humanos. O processo de envelhecimento de seus filhos era lento e demorado, então não demorou muito para que Vlad e suas mulheres viessem a óbito.

Sem os pais como freio da pouca ética e moral que tinham, os vampiros começaram a caçar e matar descontroladamente, tornando-se assim o topo da cadeia alimentar, embora Alucard tivesse esforços significativos para conter esse lado bestial dos irmãos.

Foi então que um evento que mudou toda história aconteceu.

Todos eles viram o céu rachar e se partir, causando inúmeros eventos naturais cataclísmicos naquele mundo, trazendo dezenas de raças e mudando aquele plano por completo e, pela primeira vez, dragões começaram a ser vistos voejando por todo continente.

Antes, eram os vampiros que estavam no topo de toda cadeia alimentar, agora, havia vários concorrentes ferozes. Para lutar contra as novas ameças que vieram de outros mundos, a segunda geração começou a reunir conhecimento de várias partes do mundo. Também se aproximaram de várias raças de maneira pacífica, porém, não tardou até que inúmeras raças começassem a entrar em guerra por território, afundando aquele plano em uma guerra sangrenta interminável.

Alucard acabou assumindo a dianteira do clã, e todos seus outros irmãos o seguiram, apesar de Graff e Drerwalt serem contra a maioria das ideias pacifistas do irmão.

Os humanos estavam começando a avançar com brutalidade contra vários reinos e cidades consideradas inimigas. Um dos irmãos de Alucard e dois de seus sobrinhos acabaram sendo capturados e assassinados de maneira brutal.

O irmão foi completamente mutilado. Cortaram até mesmo sua genitália enquanto ele ainda estava vivo. As crianças foram devoradas e rasgadas em pedaços por cães selvagens.

Aquele era um recado claro dos humanos ao clã que foi tão temido em outrora: “Não temos mais medo de vocês”.

Com cada vez mais humanos aprendendo a usar magia de maneira eficiente, os vampiros começaram a temer. Gradualmente eles foram sendo caçados e mortos.

Seus corpos empalados e nus eram expostos na entrada de cidades. Matar um vampiro começou a ser motivo o suficiente para encher os bolsos de mercenários e, com isso, a população de vampiros foi reduzida pela metade.

Naquele mesmo período do massacre de seu clã, Drerwalt descobriu poder transformar suas vítimas ao beberem seu sangue, e isso os deu uma vantagem conforme todo conflito se desenrolava.

Alucard costumava ficar pensativo quando os assuntos envolviam diretamente o clã. Ele era um rapaz pálido dos olhos avermelhados. Seu cabelo era longo e preto. Ele também era alto, dono de um corpo atlético e um rosto atraente.

Sentado em sua poltrona avermelhada, ele estava conversando com sua irmã mais velha. Ela estava com uma bebezinha no colo que não parava de sorrir ao esticar os bracinhos para apanhar uma mariposa que estava no orbe de luz acima deles.

— Eu não quero ficar aqui! Não quero criar minha filha nesse inferno! — disse a mulher furiosa.

Alucard assentiu.

— Aqui é o lugar mais seguro para você e para sua filha estarem.

A irmã, de cabelo escuro e olhos escarlates, estava insatisfeita com a condução de Alucard no conflito contra os humanos. Diferente de Graff e Drewalt, ele tinha uma postura mais pacifista, e a maioria dos vampiros estava a fim de revidar com força total, ainda mais depois do que aconteceu com vários de seus irmãos.

— Graff me contou, eu já sei de tudo!

Alucard franziu o cenho.

Era do feitio de Graff espalhar meias verdades para espalhar caos entre os irmãos. Alucard não o repreendia por completo, pois, Graff era alguém habilidoso em combate e consequentemente isso o tornava extremamente necessário para o clã.

— O que Graff disse?

— Que a guerra está perdida. Olhando para você sentado aí sem fazer nada enquanto o resto dos nossos irmãos devotam suas vidas a nos proteger, me faz achar que Graff está certo!

Alucard assentiu.

— Tudo que fiz até hoje foi para proteger vocês, mas temos que encontrar a trégua por vias pacíficas, ou então esse ciclo nunca terá fim.

— Quanta bobagem — disse Graff sentado no canto escuro do quarto — Basta a gente matar todo mundo, filhos, irmãos, pais, então o ciclo vai encerrar, não concorda irmã?

Ela fez que sim.

— É isso que tem que ser feito! — ela exclamou.

Alucard encarou Graff no fundo dos olhos.

— Matamos o pessoal deles primeiro.

— E daí? — indagou Graff — Matamos para não morrer de fome. Humanos também matam para comer, só porque são sencientes, então significa que é errado?

Alucard ficou em silêncio e Graff continuou.

— Foi o que pensei. — Graff encostou o quadril na mesa de Alucard — Faz quanto tempo que estamos nessa briga contra os humanos? Uns oitenta, cem anos? Eu soube que eles estão se fortalecendo. Logo será difícil lutar contra eles. Sem falar que temos a desvantagem da luz do dia.

Alucard sabia muito bem disso, mas o caminho que tomasse seria completamente sem volta. Mesmo não concordando com Graff, ele tinha razão. Embora tentasse buscar soluções pacíficas, ninguém queria ouvir o que um vampiro tinha a dizer.

A maioria das pessoas os consideravam demônios.

Graff pegou a bebezinha no colo e a ergueu no alto.

Ela não parou de sorrir um minuto sequer enquanto tentava tocar o rosto de Graff.

— Vai mesmo deixar sua sobrinha ser morta porque está com medo de lutar? A pequena Morgana aqui tem uma vida toda pela frente junto a toda terceira geração que mal acabou de nascer. Em breve teremos mais crianças e mulheres que soldados, então aí sim a guerra estará perdida e nós, meu caro irmão, seremos extintos.

Depois de um suspiro, Alucard coçou a nuca.

— Chame Drewalt aqui, vamos decidir de uma vez por todas qual rumo devemos tomar.

Graff abriu um sorriso de orelha a orelha.

— Como queira, irmão.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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