Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 117 – Crepúsculo de Sangue – Parte 02

Sentado em uma canoa remando vagarosamente, Graff estava com uma capa preta, que também cobria sua cabeça. Aquele pântano tinha um cheiro de podridão que não incomodava. Afinal, ele era acostumado com o adorável aroma de corpos em putrefação no café da manhã.

Ele estava um pouco chateado com o que havia sido discutido na reunião entre ele, Drewalt e Alucard.

Embora Graff quisesse atacar com força total, Alucard ainda insistia em fazer as coisas por vias pacíficas. Drewalt protestou, e então houve uma discussão que durou horas.

No fim, eles decidiram que não haveria conversa entre eles e humanos, mas Alucard sugeriu que os próprios vampiros buscassem aliados para combater não só os humanos, mas os magos poderosos que eram conhecidos como caídos e Elfos negros na fronte de batalha.

O lugar que Graff estava indo era de conhecimento particular. Com tantas criaturas assustadoras escondidas no pântano, poucos seres tinham a coragem de se aventurarem em tal local.

Remou por mais um tempo e alcançou a terra firme, ou quase isso. Desceu da canoa e suas botas se afundaram na lama da margem.

Forçando e resmungando por sujar botas novas, ele deixou a margem, alcançando finalmente a terra firme. Embora fosse noite e estivesse um breu, vampiros conseguiam enxergar no escuro sem esforço.

Depois de caminhar por cerca de cinco minutos, Graff alcançou uma cabana caindo aos pedaços em meio a uma área aberta.

Knock! Knock! Knock!

A porta se abriu sozinha após três batidas, produzindo um som estridente ocasionalmente. A casa era feia, mas misteriosa.

Havia um caldeirão ao fundo cozinhando uma gosma esverdeada, uma estante repleta de insetos asquerosos em conservas e crânios de todos os tamanhos nas paredes.

Dentro daquela cabana haviam três lindas mulheres.

Uma era loira dos olhos azuis, a outra ruiva dos olhos verdes e por último, uma mulher do cabelo castanho e olhos amarelos.

O mais estranho, era que para uma cabana tão degradante, as três se vestiam com roupas limpas.

Todas usavam um vestido branco que valorizava os seus bustos. Já da cintura para baixo o vestido era longo, leve e solto. Dando a impressão de que havia uma brisa forte dentro daquela choupana quando as mesmas caminhavam.

Nezludra, a ruiva, estava deitada em um sofá feito de cipós lendo um livro que ela mesma escreveu. Assim que Graff adentrou, ela abaixou o livro e lançou um olhar provocante.

— Olha só quem voltou, Graff, o trapaceiro!

Graff jogou o capuz para trás e fechou a porta atrás dele.

Odenya, a loira, mexia o caldeirão com uma colher gigante de madeira.

— Já faz quanto tempo desde sua última visita? Dez, vinte anos? E ainda por cima não trouxe nenhuma criança. Você já foi mais educado.

— Estou atrás de respostas. — disse Graff.

Nezludra fechou o livro que lia, o colocou na estante feita de cipós retorcidos e se ergueu num salto, caminhando até Graff com as mãos para trás.

Ficou cara a cara com ele e abriu um sorriso de orelha a orelha.

— Ainda é escravo do seu irmão, não é?

Num movimento abrupto, Graff tentou enforcar Nezludra, mas havia uma barreira invisível em torno do pescoço dela, o impedindo que ele fizesse isso.

Ele ficou disputando força com a barreira, até que desistiu.

— Que dó — zombou Nezludra, fazendo voz de criança — Ele ainda fica irritadinho se chamamos ele de escravinho do irmãozinho!

Nezludra se virou de costas e uma cadeira feita de cipó se formou a sua frente. Ela se sentou e cruzou as pernas de maneira provocante enquanto encarava Graff.

— Vai morceguinho, o que você quer?

— Diga logo! — ordenou Dorothea ao fundo limpando uma estante com um espanador — Somos mulheres ocupadas!

— Quero saber sobre os dragões, Elfos Negros, caídos e possíveis seres que talvez possam se aliar a nós — disse Graff sem rodeios.

Nezludra olhou para cima enquanto erguia a sobrancelhas.

— Dez crianças por cada informação. — disse ela.

Graff assentiu.

— Certo, certo — Nezludra levantou o indicador — Elfos negros… Sabe o que os corvos me contaram? Que eles estão dominando o Oeste. E pelo que me disseram, vocês vampiros não chegam aos pés deles.

Odenya se intrometeu na conversa.

— Aí vai uma informação de bônus, vampiro — Odenya apoiou o indicador na bochecha enquanto olhava para cima pensativa — Os vermes me disseram que o homem que causou a queda do véu veio com os Elfos Negros. Sabe do que chamam ele? De errante.

Graff ergueu as sobrancelhas.

Ele nunca havia ouvido falar sobre aquele termo.

— Errante?

Nezludra fingiu uma expressão de surpresa apoiando as duas mãos na boca.

— Oh, morceguinho, você não sabe de nada mesmo, né? Por isso sua raça está sendo esmagada como barata.

As três riram discretamente e Graff franziu o cenho enquanto passava o olho em uma por uma.

— Digam logo o que é um errante!

Odenya deu de ombros.

— São seres que podem viajar através de planos. Acho que vocês vão enfrentá-los em breve. Sobre os Elfos Negros, em geral, não precisa se preocupar com eles.

Dorothea riu no fundo.

— Vamos manter esse segredo dele?

Graff já estava ficando de saco cheio daquelas mulheres.

— Me contar o quê?!

— Calma, morceguinho, tá ficando nervoso por quê? — Nezludra deu de ombros — O errante que derrubou o véu… os corvos me contaram que ele está se deitando com a princesa das Elfas da floresta.

Aquela informação não fazia sentido. Por qual motivo ela se deitaria com o inimigo? Elfos Negros estavam invadindo o Oeste com tudo que tinham, seria perigoso para a própria princesa ter esse tipo de relação proibida.

Graff resolveu deixar isso de lado. Já que a informação veio dessas três, então significava que ela era verdadeira.

— E os caídos — disse Graff — Quem são eles?

— Sabemos tanto quanto você — disse Dorothea dos fundos — Eles são bem reservados. Nem os corvos, vermes ou borboletas ousam se aproximar deles.

— Entendi — disse Graff — E quanto aos aliados, quem vocês acham que possivelmente se aliariam ao meu clã?

Nezludra abriu um sorriso de canto.

— Que tal nossos conterrâneos?

As três gargalharam disfarçadamente.

Nezludra cruzou as pernas para o outro lado.

— Eu soube que elas disputaram uma ilha maravilhosa com os gigantes e acabaram ganhando, mas perderam muitos dos seus. Tenho certeza que se for até elas você conseguirá uma aliança.

— Atrás de quem?

— Das fadas! — Odenya enfiou a mão no caldeirão borbulhante e retirou do fundo um medalhão que funcionava como uma bússola, o jogando nas mãos de Graff — Use isso para chegar até lá.

Ele olhou para o medalhão e depois olhou para as três, uma a uma.

— Conterrânea… Vocês são fadas?

As três gargalharam mais uma vez.

— Quase isso, morceguinho.

Depois de assentir, Graff deu as costas.

— Não tenho mais nada a tratar com vocês, a gente se vê.

— Não esquece as crianças! — disse Odenya.

Graff não estava a fim de perder tempo.

Mesmo que ele usasse muito de sua magia, ele pretendia chegar à ilha das fadas quanto antes.

Asas feita de sombras surgiu em suas costas e ele alçou voo, desaparecendo na escuridão.







Olhando para a lua, Celae, a princesa do reino dos Elfos da floresta, permanecia pensativa.

Ela era uma mulher bela com um corpo atraente.

Loira com os olhos cor de mel, Celae havia perdido as contas de quantas vezes foi pedida em casamento por guerreiros determinados a tomá-la como esposa, mas ela sempre recusou todos os pedidos, mesmo que fosse contra os desejos de seu pai.

Haviam somente algumas décadas que os Elfos da floresta finalmente depois de muito trabalho conseguiram construir um reino para eles.

Não foi nada fácil recomeçar em outro mundo, mas eles de alguma forma conseguiram e estavam se saindo bem apesar da inevitável guerra contra os Elfos negros.

— Princesa! — chamou uma das empregadas — A senhorita já não devia estar na cama? Sua doença pode piorar se não dormir direito!

A empregada, era tão bela quanto qualquer Elfa da floresta. Tinha os cabelos escuros presos em um coque e usava vestes típicas de uma serva.

Celae se levantou do assento empolgada e agarrou as mãos da empregada que era também sua melhor amiga.

— Ashel! Você não vai acreditar, mas Coen disse que dessa vez me levaria para um mundo onde só existe neve, nada mais e nada menos que isso, não é incrível?

Ashel era contra aquele relacionamento que acontecia as escondidas, mas mesmo assim cobria as escapadas da princesa, já que com esse Elfo Negro ela poderia viajar pelo mundo e retornar para casa no mesmo dia.

Ela nunca viu a princesa tão feliz como nesses últimos dias.

— Esse rapaz… ele virá hoje?

Celae fez que sim três vezes com a cabeça.

— Ele já deve estar chegando! — Ela se desvencilhou de Ashel e correu até a janela — Não posso esperar a hora de ele chegar!

Ashel deu um suspiro e cruzou os braços.

— Não devia ir mais devagar com esse rapaz? Vocês se conheceram com ele invadindo o jardim… do jeito que age, o rapaz parece mais um ladrão.

— Eu sei, mas é que ele… não sei, me faz com que eu me sinta bem, entende?

Ashel franziu o cenho.

— Você ainda é nova. Não deixe que palavras bonitas de homens misteriosos enfeiticem você… Falo isso por experiência própria.

Celae foi até a amiga e a abraçou.

— Obrigada por se preocupar comigo, mas estou bem. Coen é um homem descente, quando o conhecer melhor você entenderá o que quero dizer.

— Se seu pai souber da existência desse rapaz, ele morre. Sabe disso, não sabe?

Celae assentiu.

— Não se preocupe, Coen também é muito forte.

Ashel deu mais um suspiro e alisou a testa.

Ela nunca havia ouvido falar em um Elfo Negro que conseguisse abrir portal ao seu bel prazer.

 Zioom!

Um portal havia se aberto frente a janela de Celae, e Coen estava lá, sentado na borda com um sorriso no rosto. O Elfo tinha longos cabelos negros e um semblante intimidador que assustava a um primeiro momento.

Ele era alto e musculoso, usando roupas de inverno e estampando um sorriso de canto.

— Coen! — Celae correu até ele e lhe deu um beijo — Pensei que você não viesse mais!

— É claro que eu iria vir, só precisei resolver algumas coisas antes. — Ele olhou para trás encarando Ashel — Não precisa se preocupar, eu cuido dela. Será um passeio de no máximo duas horas e já, já, ela tá em casa.

Ashel deu de ombros.

— Traga ela inteira, Elfo Negro…

Coen assentiu e tirou um casaco de pele dos ombros, passando pelo ombro de Celae.

— É só para você não pegar um resfriado.

Envergonhada, Celae desviou o olhar.

Eles deram as mãos e ambos entraram no portal, saindo em uma terra completamente gelada.

Aquele tipo de transição causava náuseas, mas ambos já estavam acostumados depois de inúmeras viagens.

Uma neve fina caia do céu, enquanto o cenário em volta se resumia a montanhas e neve.

Mesmo com o cenário monocromático, Celae continuava se surpreendendo.

— Qual o nome desse mundo? — indagou Celae com os olhos brilhando.

— Ainda é o mesmo mundo, só estamos no Norte. — Coen olhou para Celae — Pode me emprestar o pingente em seu pescoço?

— O pingente da minha mãe? — disse ela o segurando.

Coen assentiu.

— Eu não posso te contar agora, só preciso que confie em mim, está bem?

Celae ficou receosa por um momento, mas logo cedeu, tirando o pingente do pescoço e o entregando nas mãos dele.

— Fique aqui por um minuto, deve ser uma distância segura.

— Segura para quê?

Raio carmesim circundaram o corpo de Coen, então, ele disparou em direção ao céu. Como um raio, ele correu entre as nuvens e logo em seguida desceu com tudo quilômetros a frente.

A sua frente, estava uma montanha de neve, que lentamente começou a se mover, causando também um tremor. Mesmo distante, Celae ficou apavorada com aqueles tremores.

Da montanha, começaram a aparecer asas e uma gigantesca cabeça se ergueu.

Um colossal dragão branco de olhos azuis encarava o minúsculo Coen.

— Elfo! — disse o dragão em uma voz gutural, uma voz que fez vibrar qualquer coisa em um raio de dois quilômetros. — Está atrás de conhecimento? Eu disse aos Elfos que ensinaria somente em noites de lua cheia.

— Eu não vim atrás dos seus ensinamentos, Naxrung! Vim para fazê-lo meu!

O dragão gargalhou, causando tremores entorno.

— Vá para casa, Elfo. Poupe o meu tempo e o seu.

Coen segurava o pingente em mãos, o envolvendo com mana elétrica carmesim.

Ele levou o braço direito lá atrás e lançou o pingente aos céus, bem acima das nuvens.

Como um segundo sol, o pingente se transformou em um quilométrico círculo mágico avermelhado.

Naxrung encarou o minúsculo Coen.

— Como conseguiu isso?

Coen não disse nada, apenas deu um sorriso de canto.

Em resposta, o dragão abriu aquela boca enorme cheia de dentes e um ar congelante saiu dela, congelando tudo pelo caminho quilômetros a fio, criando também cristais de gelo.

Num bater de asas, Naxrung alçou voo, tentando sair do alcance daquele enorme círculo mágico acima das nuvens.

Os cristais de gelo se estilhaçaram como vidro, e Coen envolveu seu corpo com mana elétrica carmesim. Saltou em direção ao dragão, que assoprou novamente, fazendo cristais de gelo do céu ao chão, quase formando uma alta torre.

Lentamente, o tempo começou a fechar, trazendo ventania e trovoadas.

A torre de cristal se estilhaçou mais uma vez.

Em meio a névoa e aos pedaços de cristal congelado que caiam como flocos de neve, Coen apareceu, em cima de uma Wyvern feito de mana elétrica.

A criatura era tão rápida quanto um raio, alcançando o colossal Naxrung em instantes.

Na mão direita, Coen segurava uma lança vermelha feita de relâmpagos.

Sorrindo, ele ergueu a mão esquerda em direção ao céu.

[Forja do Monarca].

Como chuva, raios avermelhados começaram a atingir Naxrung. Com aquele corpo enorme, ele foi atingido centenas de vezes.

Celae encarava ao longe uma tempestade de raios carmesim, se perguntando o que de fato estava acontecendo naquele lugar.

As escamas brancas de Naxrung se fundiram ao vermelho sangue, então Coen jogou sua lança trovão no peito da fera.

Cabrum!

O golpe foi poderoso demais até para o próprio dragão, que tinha uma rígida armadura natural. Naxrung começou a perder altitude e tentou se equilibrar no ar, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, um luminoso e quilométrico raio avermelhado atingiu o dragão com tudo, o lançando brutalmente contra o chão de gelo, causando terremotos, avalanches e deslizamentos por todo local.

Quando a poeira abaixou, foi possível ver Naxrung deitado no chão bastante ferido e cheio de graves queimaduras.

O Wyvern de Coen se desfez, e ele caiu suavemente sob o solo de gelo.

Acima das nuvens, o círculo mágico brilhou ainda mais intensamente, e mãos magrelas, porém colossais, transpassaram as nuvens e alcançaram o dragão no chão.

Como se aquele colossal dragão não pesasse nada, as mãos o ergueram até os céus, transpassando também as nuvens e sendo puxado para dentro do círculo mágico.

O círculo mágico se desfez num piscar de olhos.

Assim que Coen estendeu a mão, o pingente caiu sobre ela.

Satisfeito, ele abriu um sorriso diabólico.

— Então isso funciona mesmo. Quem imaginaria que a vadiazinha daquela Elfa tinha algo tão poderoso!

Picture of Olá, eu sou Stuart Graciano!

Olá, eu sou Stuart Graciano!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥