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Capítulo 119 – Crepúsculo de Sangue – Parte 04

Faltava cerca de duas horas para o sol nascer.

Graff estava cansado de voar por tanto tempo, mas ele não poderia parar de maneira nenhuma. Ele estava sobre o oceano, e não tinha nenhum lugar que ele pudesse se esconder. Olhou para baixo e viu pequenas luzes bem no meio do mar azul.

Olhou para a bússola que levava em mãos e confirmou que aquele era o lugar. A ilha não era pequena, muito pelo contrário.

Era tão grande que alcançava os 70.000 km².

Sem perder mais tempo, Graff desceu num mergulho, chegando ao chão num estrondo. Caiu próximo a um acampamento de soldados, que prontamente cercaram aquilo que se escondia em meio a fumaça.

Aquilo poderia ser muito bem um ataque inimigo.

O tamanho das fadas variava, indo de trinta centímetros a um metro e meio. Fadas cresciam até completarem os 3000 anos. Já sua expectativa de vida alcançava os 5000 anos.

Normalmente fadas alcançarem um metro e meio eram todos homens, se assemelhando a anões cheios de músculos.

As fadas se assustaram ao ver olhos vermelhos em meio a poeira.

— Identifique-se! — Ordenou o chefe daquela patrulha.

Graff ergueu as duas mãos.

— Eu não quero briga, quero falar com seu rei.

As fadas se entreolharam.

— Qual a sua espécie?

Graff abriu um sorriso de canto.

— Eu sou um vampiro, e vocês são fadas pelo visto.

O líder da patrulha conjurou um círculo mágico frente as mãos e apontou para Graff.

— O que quer com nosso rei? Diga agora!

Depois de olhar para os dois lados e perceber que as fadas estavam apavoradas, Graff decidiu não ser tão hostil.

— Soube que muitos dos seus morreram. Vim aqui em nome do meu clã propor uma aliança entre nossos povos. O que me dizem?

As fadas se entreolharam mais uma vez.

— Levo você até nosso rei, mas você será algemado e terá que nos entregar todas as suas armas.

Graff deu de ombros. Entregar armas ou ser algemado não faria diferença. Fadas eram habilidosas ao se tratar de magia, mas ele poderia ceifá-las sem muito problema.

Depois de algemado por runas mágica cravadas em seus pulsos, eles voaram até um pequeno aterramento. A moradia das fadas variava de tamanhos, indo de uma pequena casa de passarinho até uma residência semelhante à de um Hobbit.

Apesar de ser de madrugada, fadas tinham uma natureza curiosa, então muitas delas saíram de suas casas para ver quem era aquele intruso.

— Espera aqui — disse o líder da guarda — Irei falar com o chefe.

Ele foi em direção a uma residência semelhante à de um Hobbit e bateu na porta três vezes. Uma fada com cerca de sessenta centímetros atendeu.

Apesar de pequena, ela era muito bonita.

Tinha cabelos escuros e olhos castanhos.

Depois de trocar meia dúzia de palavras com o chefe da patrulha, ela se retirou para dentro.

Instantes depois outra fada apareceu, dessa vez era um homem com aproximadamente setenta centímetros, sendo tão musculoso quanto o chefe da patrulha.

Batendo aquelas asas de borboleta azuis, a fada de cabelo e olhos escuros se aproximou de Graff.

Sua expressão não era das melhores.

— Um intruso a essa hora da noite? — Apesar de pequeno, a fada tinha uma voz bem grossa — Meus homens me disseram que você é um vampiro, já ouvi falar de vocês através de viajantes do continente, e as coisas que ouvi não são nada agradáveis.

Graff estava mais preocupado com o sol do que com as fadas.

Ele abriu um sorriso e deu de ombros.

— Não vai me convidar para entrar? Logo amanhece e eu gostaria de ser recebido com uma xícara de café pela manhã.

— Que folgado! — disse um dos guardas.

— Sinceramente, eu poderia matar todos aqui, mas vocês já perderam gente demais, estou certo?

Sem muito esforço, Graff quebrou as algemas mágicas e as fadas se afastaram de imediato. Aquelas algemas eram fortes, até mesmo um gigante teria dificuldade para quebrar algo desse calibre.

— Tudo bem… você pode adentrar minha casa, mas tenha respeito!

Uma comoção se iniciou.

— Eu sou Barin Wrinklebud, estou no comando deste vilarejo. E você, vampiro, qual seu nome?

— Graff Nosferatu.

— Muito bem, Graff, me acompanhe.

Sem muita cerimônia, Barin abriu as portas arredondadas de sua casa e adentrou, seguido por Graff.

O interior era bastante rústico, com diversos orbes de luz, espalhadas ao redor da casa, além de trepadeiras e diversos tipos de plantas crescendo pelas paredes.

Graff se sentou em uma cadeira pequena para seu tamanho e Barin se sentou na outra.

— Muito bem, vamos ao que interessa.

No fundo, uma fada minúscula observava aqueles dois através de uma fresta na porta.

— Brighid! — disse a esposa de Barin — já disse para parar de espiar os convidados do seu pai!

— Mas mãe, aquele moço é um vampiro, nunca vi um dessa espécie antes!

A mãe dela empurrou a porta e a fechou.

— O sol ainda não nasceu, então volte pro seu quarto!

A fada, que se parecia muito com a mãe, fez beicinho e voou lá para cima.

A esposa de Barin estava apreensiva, afinal, vampiros não construíram uma boa reputação ao longo dos séculos, e fazer acordos com gente assim poderia ser arriscado.

 



 

O céu estava tingido em tom róseo coma chegada do sol, mas em meio as terras do Oeste, um grupo de humanos poderosos massacrava brutalmente uma comunidade de Orcs.

Mesmo para seres que eram fisicamente superiores, os Orcs estavam em uma evidente desvantagem. O que lhes sobrava em força eles pecavam em magia.

August Turgy, o líder daquela guarnição, era impiedoso contra os não humanos. Portando sua espada Claymore, ele nunca havia sido derrotado ou sofrido em uma batalha difícil.

Aquele acampamento de Orcs já estava tomado.

Humanos escravizavam qualquer raça não humana, e com os Orcs não seria diferente. Eles estavam acorrentados aos montes, até mesmo as crianças estavam com grilhões nos pés.

O resto dos soldados humanos comia despreocupadamente enquanto August enfrentava um Orc que já estava bastante ferido.

Alto, musculoso e de pele alaranjada, o Orc, portando dois enormes martelos, tentava acertar o jovem August, mas seus esforços eram inúteis.

August tinha o cabelo preto na altura dos ombros, seus olhos eram castanhos e ele estava sem camisa, com o torso sujo de sangue, um sangue que não era dele.

O Orc, conhecido como “Martelo de guerra”, lutava para proteger o clã inteiro. Como guerreiro, ele preferia a morte do que servir como escravo até o fim de seus dias.

A passos pesados, o Orc correu até August e tentou esmagá-lo com um dos martelos, mas August rebateu um dos martelos para o lado sem problema. Ainda insistindo, o Orc tentou acertar seu inimigo girando incansavelmente os enormes e pesados martelos, mas August era superior em técnica e velocidade.

Vush!

Depois de uma finta, August fez um corte profundo no corpo severamente ferido do Orc, fazendo ele parar os movimentos.

Os humanos ao redor gargalharam com a cena, enquanto pareciam despreocupados tomando vinho em seus copos de madeira.

Cansado, o enorme Orc apoiou uma das mãos no joelho e se levantou mais uma vez. Muito daqueles que foram seus amigos e irmãos de batalha estavam no chão, já abatidos.

Até mesmo aqueles que já haviam se rendido foram mortos sem piedade. Orcs eram guerreiros que acima de tudo preservavam a honra.

Eles jamais feririam alguém desarmado, muito menos atacariam covardemente pelas costas.

— Essa é toda a vontade de defender o seu clã? — zombou August — Levante, você ainda aguenta mais um pouco.

Stuck!

A flecha de uma balestra veio de trás, cravando no calcanhar do Orc. O homem que o acertou deu um grito de comemoração, e os outros homens aplaudiram enquanto pareciam se divertir com a cena.

Esforçando além do limite, o Orc retirou a flecha do calcanhar e caminhou com extrema dificuldade até August.

Os outros de seu clã estavam furiosos.

O líder do clã que sempre prezou pela moral e honra dentro da tribo estava sendo humilhado pela falta de moral e honra por parte dos humanos.

Não havia nada que eles pudessem fazer, então se enfureceram em silêncio.

Stuck! Stuck!


Outras duas flechas cravaram em suas costas.

O Orc caiu de joelhos na frente de August, que cingiu Claymore acima de sua cabeça.

— Últimas palavras?

Depois de ofegar, o Orc tomou ar e berrou a todos os pulmões:

— Humanos não ter honra! Eu nunca perdoar humanos sem honra! — Martelo de guerra abriu os braços, esperando o golpe final. Ele cuspiu uma de suas presas e focou seu olhar em August.

Os Orcs da tribo cerraram os punhos e bateram em seus peitos num ritmo sincronizado e cadenciado.

Todo aquele acampamento parecia envolvido pelo som de tambores.

— Uma bela despedida para um guerreiro! — disse August, antes de decapitar o Orc.

As batidas então cessaram.

Com o fim do show, os soldados começaram a juntar suas coisas para partir.

Depois de meia hora eles haviam conseguido pilhar tudo que consideravam de valor e incendiaram o acampamento dos Orcs, transformando aquele lar que muitos consideravam um recomeço, em uma pilha de cinzas.

 





Depois de cavalgar por quase meio-dia, August e seus homens chegaram à capital do reino de Runipon, um dos muitos reinos que formavam uma aliança com uma forte e ampla força dos humanos.

Ao adentrar os portões, August e seus homens foram ovacionados. Até mesmo receberam flores e algumas mulheres lhes davam suas crianças para que August abençoasse com seu toque.

Depois que passar pela cidade, August seguiu direto para o palácio, onde seu pai, o rei, o aguardava.

Antes do encontro, ele se banhou e vestiu uma roupa descente. Mesmo que não usasse armadura, sua inseparável Claymore estava na bainha em sua cintura.

Assim que adentrou o salão do rei, os guardas o reverenciaram. Ele parou na escada frente ao pai e se ajoelhou.

O rei, corpulento, de cabelo ralo e barba grisalha, ergueu a mão-cheia de anéis e August se ergueu.

— Pelas notícias, você foi bem-sucedido mais uma vez, eu já esperava isso do meu filho. O conselho lhe parabeniza mais uma vez por seus esforços. — O rei se levantou e foi até o filho passando as mãos por seus ombros — Agora que chegou, tenho algo para mostrar a você.

August estava curioso, mas não disse absolutamente nada.

Eles deixaram a sala do trono acompanhados por soldados e desceram até os calabouços.

Enquanto passavam por aquele corredor frio, August viu prisioneiros de guerra em celas, e até mesmo viu alguns outros presos sendo torturados.

— A capturamos na noite passada. — disse o rei — Ela estava com um grupo de vampiros que não deu trabalho para os nossos magos. Tentamos tirar algumas informações dela, mas ela não disse nada, nem quando ferimos o bebê.

— Bebê?

Eles pararam em frente a uma cela e os guardas a abriram.

Lá estava uma mulher nua suspendida por correntes atreladas ao seu braço. Seu longo cabelo escuro tapava seu rosto, mas era evidente as marcas de tortura em seu corpo.

Quase todos os dedos de seus pés haviam sido arrancados. Seu corpo havia marcas profundas de cortes e queimaduras grosseiras no abdômen.

O torturador, baixinho e de aparência asquerosa, se aproximou do rei com um sorriso senil no rosto.

— Vossa Majestade, seja bem-vindo a minha casa!

— A vampira disse algo relevante?

— Sim, sim, sim! Ela me disse que é a irmã mais velha de Alucard, hehe, acredita nisso, meu rei?

O rei alisou a barba enquanto sorria.

— Acorde ela! — ordenou o rei.

— Eu estava prestes a fazer isso, meu rei!

No fundo, água borbulhava em um caldeirão. O torturador colocou luvas e pegou o caldeirão pela alça, jogando no corpo da vampira que acordou com um grito.

Com feridas abertas e necrosando, a dor que ela sentiu foi algo impossível de se descrever.

Pegando uma barra de ferro, o torturador bateu na canela dela três vezes.

— Cala a boca! Cala a boca! Cala a boca!

Então ela se calou, aguentando aquela dor mortal em silêncio.

O rei apoiou as mãos para trás e abriu um sorriso.

— Então você é irmã daquele pedaço de lixo do Alucard? Acho que você servirá para mandarmos um recado para ele, o que acha filho?

August estava em silêncio. Mesmo acostumado com a carnificina do campo de batalha, aquela cena o deixou enjoado.

— Não acha que isso só vai deixar os vampiros ainda mais furiosos?

O rei deu de ombros.

— Os vampiros se tornaram só um grupo de arruaceiros que não dão medo nenhum. Eles não possuem a força que tiveram em outrora. Não precisa se preocupar com eles, seus dias estão contados.

No fundo, eles ouviram um choro de bebê.

O rei e August foram até um berço coberto por um pano escuro e o afastaram, vendo uma bebezinha com hematomas roxos por todo corpo.

— Essa é a sobrinha de Alucard? — perguntou August e o rei assentiu.

— Me surpreende ela estar apenas com hematomas. — O rei encarou o torturador — Só bateu nesta criança?

— N-Não senhor, eu a espanquei com uma barra de ferro antes de vocês chegarem, mas ela se cura surpreendentemente rápido! — Enfiando as mãos nos bolsos, o torturador tirou alguns dedinhos, mostrando para o rei — Cortei os dedos dela com um alicate, mas já cresceram de novo.

O rei alisou a barba.

— Um vampiro que se regenera sem precisar beber sangue… Interessante. Como ela reage no sol?

— O senhor não vai acreditar!

Pegando Morgana no colo, o torturador foi em direção aos fundos, parando em uma janela grande. Ela era ampla e aberta, dando uma passagem da luz do sol que vinha da superfície.

Ele a apoiou na mesa, e Morgana parou de chorar. Ela começou a rir enquanto erguia as mãozinhas para tocar o rosto de August.

Incomodado, ele engoliu o seco e virou de costas.

— Não posso ver isso…

Seu pai deu dois tapinhas nas costas dele.

— Ela é um vampiro, uma aberração. Não precisa se sentir culpado, filho, mesmo sendo um bebê, ela não é humana.

August continuou em silêncio, e o torturador retirou o pano que ficava no fundo da jaula. Os raios de sol atingiram a pequena Morgana em cheio, e aquela risada agradável de bebê se transformaram e berros de dor e agonia.

O torturador fechou a cortina e eles viram Morgana se curar lentamente. Suas queimaduras eram bem sérias, mas mesmo assim ela continuava se curando.

— Incrível! — disse o rei estupefato — Continue com suas pesquisas e me apresente relatórios. Quero ver até onde essa pirralha pode chegar, quanto a mãe, pode mandar para Alucard morta em um caixão.

— E-Eu posso brincar com ela mais um pouco? É a primeira vez que machuco uma mulher tão bonita…

O rei abanou as mãos.

— Faça o que quiser, mas deixe o corpo dela pronto ao fim da tarde.

— S-Sim senhor!

Tanto August quanto seu pai deixaram os calabouços e subiram as escadas.

— Viu, meu filho, aquela bebezinha é uma aberração. Nenhum humano se cura assim, não precisa se sentir culpado quando matamos essas espécies repugnantes.

— Eu não me sinto. Só tenho uma pergunta em relação aos novos reforços.

— Os caídos?

— Isso, acha mesmo que podemos confiar neles? São seres que vieram do nada e conseguem ser superiores aos nossos magos. Além disso, toda união paga a eles tributos exorbitantes.

Aquilo era verídico. Caídos cobram alto por seu trabalho, um trabalho muito bem feito. A força deles valiam por um exército inteiro, então era mais rentável gastar com eles do que desperdiçar recursos e homens os enviando para algo que sequer tinham certeza de vitória.

Enquanto caídos estivessem se concentrando em uma frente, os humanos poderiam se focar totalmente em outra, e o foco atual deles eram os vampiros.

— Eles são soldados que sabem fazer seu trabalho — disse o rei — é claro que temos um pé atrás com eles, mas assim que não tivermos mais inimigos para nos preocupar, daremos um jeito nos caídos e conquistaremos todo continente. Para ser sincero, às vezes me imagino como imperador. É gratificante saber que esse sonho está próximo de se realizar.

Eles olharam para a janela e ficaram surpresos com o que viram.

— Um eclipse? — indagou o rei. — Estranho, nossos astrólogos não disseram nada sobre um eclipse.

Depois de instantes, o rei notou que a lua não estava tapando o sol. Havia sim uma lua, uma lua tão escura quanto o céu de uma noite sem estrelas.

Aquela lua, esfera, seja lá o que fosse, estava causando uma colossal sombra sob toda capital de Runipon.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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