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Capítulo 120 – Crepúsculo de Sangue – Parte 05

Nas masmorras, misturando substâncias químicas, Alucard tentava encontrar com ímpeto uma maneira de suportar o sol. Em cima de um banco estava sua assistente, uma garotinha de cabelo curto escuro vestindo um macacão preto com mangas brancas.

Nas mãos da pequena Vanly, estava um grimório com a capa feita de pele. Ela anotava todas as composições e experimentos que Alucard fazia naquele grimório.

Depois de misturar um líquido em um béquer e aquecer no fogo baixo, Alucard colocou cerca de 10ml em um frasco e o girou em sentido horário.

Vanly continuava atenta, anotando todo processo.

— Bom, meu pai me disse que conseguiu seu poder através da “Grande Obra” de Gunner. — Na bancada extensa de madeira estavam diversas anotações do falecido Vlad — Então o que fiz foi criar outra “Grande Obra”, mas de outra forma. Anotou tudo?

Ela fez que sim com a cabeça duas vezes.

— Sim, tio Alucard, como o senhor me pediu!

Enquanto Alucard divagava, Vanly continuava anotando. Mesmo já tendo feito dezenas de experimentos, Alucard insistia que até mesmo suas divagações fossem registradas no grimório, como um diário documental que ficaria para a posteridade.

— Perfeito! — Alucard ergueu o frasco e o encarou contra a luz — Então, o que fiz foi diferente. Entrei nas catacumbas de um vulcão adormecido e matei todas as salamandras de fogo. O encantamento foi demorado, mas criei enfim minha própria “Grande Obra”, falta saber se vai funcionar como espero. O que farei agora é adicionar um encantamento de resistência a mistura, algo que o faça durar mais tempo. Meu pai não viveu tanto tempo quanto eu, então seu experimento se limitava ao tempo. Não posso pecar nesse sentido, esse experimento não pode de modo algum matar o vampirismo como fez com determinadas cobaias.

Toc! Toc! Toc!

A porta se abriu e Lestat adentrou.

Ele se parecia com adolescente. Sendo um dos primeiros nascidos da terceira geração, o talento de Lestat não estava tão distante de Drewalt ou Graff.

Promissor, o jovem vampiro de cabelo escuro partido ao meio e olhos escarlates, insistia em fazer suas missões sozinho. Ele era o único vampiro que pertencia à árvore do reparo, uma árvore considerada inútil pelos vampiros, já que os mesmos tinham uma autorregeneração acelerada.

Porém, essa era a força de Lestat. Por pertencer à árvore do reparo e ter um alto fator de cura, ele era o único vampiro que conseguia sobreviver cerca de três minutos embaixo do sol de meio-dia, e três minutos para um habilidoso espadachim como ele eram uma eternidade.

— Drewalt quer conversar com você — disse Lestat — Ele disse que é importante.

— O que ele quer?

— Ele não me disse.

Alucard colocou o frasco em uma estante e limpou as mãos com um pano e vestiu seu paletó escuro.

— Certo, onde ele está?

— Na sala de reuniões, senhor.

— Vanly, continue os experimentos sem mim e documente tudo.

— S-Sim senhor!

Sem dizer mais nada, Alucard passou por Lestat apressado.

Com os braços cruzados, Lestat olhou o que Vanly estava fazendo e se aproximou, dando um peteleco na orelha dela.

— Aiii! Isso doeu!

— Caramba, fedelha, vai continuar chorando como uma garotinha?

Ela encarou o primo e franziu o cenho.

— Eu sou uma garotinha!

— Certo, certo — Lestat apoiou os cotovelos na mesa de madeira, olhando toda aquela papelada e os frascos vazios — Ainda estão estudando uma maneira de imitar o meu poder? Esquece, eu sou único!

— Não estamos tentando imitar seu poder, estamos tentando superá-lo.

Lestat soltou um suspiro de deboche.

— E você está fazendo o que além de ficar escrevendo nessa porcaria de livro? É tio Alucard que está fazendo todo trabalho, você é só uma pirralha desocupada.

Vanly fechou o grimório e fez beicinho.

— Tio Alucard disse que não conseguiria fazer isso sem mim! — Ela desceu do banco e empurrou as pernas de Lestat com as duas mãos — Sai daqui, você está atrapalhando!

— Você devia vir treinar comigo, Carmilla é mais nova que você e já alcançou nível três na árvore do pélago. Logo ela vai te superar.

— Eu não me importo, agora me deixa em paz!

Depois de colocar Lestat para fora, Vanly bateu forte a porta de madeira. Retornou para a banca e subiu no banco. Arregaçou as mangas e olhou para o frasco na estante.

— Certo, hora de trabalhar!



 
Assim que Alucard adentrou a sala de reunião, ele viu Drewalt sentado na cadeira o aguardando. No instante que bateu os olhos no irmão, Drewalt se ergueu e fez uma reverência.

Drewalt e Alucard se pareciam bastante, afinal, eles eram filhos da mesma mãe, a primeira mulher de Vlad das nove que ele teve.

Alucard ostentava um longo e liso cabelo escuro, enquanto Drewalt tinha um cabelo curto.

— O que aconteceu? — perguntou Alucard.

— Chrisearla junto a outros vampiros transformados do meu esquadrão, saíram do castelo a duas noites e foram capturados. Meus espiões disseram que Chrisearla e até mesmo a pequena Morgana está sendo torturadas.

Depois de engolir o seco, Alucard cerrou os dentes.

— Por que ela fugiu? Aqui ainda é mais seguro que lá fora, com os humanos matando tudo que não é humano.

— Nossa família está assustada, Alucard… mais da metade dos nossos irmãos estão mortos, e a outra metade tem perdido a fé em você.

Alucard ergueu as sobrancelhas.

— Em mim? Estou tentando salvar essa família!

— Não é isso que eles enxergam. Estão dizendo que você nos abandonou, que passa mais tempo naquele laboratório nas masmorras do que resolvendo os assuntos do clã. Chrisearla não será a primeira a deixar o castelo se isso continuar…

Alucard mordeu o punho cerrado enquanto olhava para o nada pensativo.

— Já entendi… vocês querem que eu ataque os humanos, não é? Uma declaração de guerra…

— Estamos em guerra com eles faz séculos, mas parece que só um lado que está perdendo. Olhe ao redor, Alucard, os humanos estão nos cercando, capturaram Chrisearla enquanto ela ainda estava em nosso território, a torturaram, até mesmo estão torturando a pequena Morgana. Você é o vampiro mais poderoso da história, o clã só quer parar de sentir medo… não deixe a esperança que ainda temos em você sumir.

Alucard sentou na cadeira e apoiou as duas mãos na cabeça enquanto seus cabelos tapavam seus olhos. Uma das razões de Alucard ser um pacifista, era porque ele tinha ideia da dimensão de seu poder.

Vampiros sempre foram vistos com maus olhos, e parte de seu sonho era mudar essa visão que tinham de sua raça, mas isso era impossível.

Tudo ao redor dele estava começando a ruir de diferentes formas. Haviam outras espécies para se preocupar além dos humanos, haviam os caídos, Elfos Negros e seres que chamavam de errantes. Seu clã estava vulnerável, ele apenas não queria colocar esse gigantesco alvo nas costas e fazer dos vampiros uma peça principal naquele jogo doentio pelo poder.

Depois de apoiar as costas na poltrona, Alucard deu um longo suspiro.

— Não tem outra maneira, tem?

— Receio que não, meu irmão…

— Certo, onde Chrisearla está?

— Reino de Runipon, mais precisamente na capital.

Alucard se ergueu.

— Vamos.

— Só nós dois?

— Somos o suficiente.



 

Embaixo de uma grande árvore que dava uma extensa sombra, uma salamandra feita de sombras abriu a boca. Alucard e Drewalt saíram lá de dentro.

Mesmo que estivessem debaixo da sombra da enorme árvore, a luz do sol machucava a visão de ambos, além de sentirem um calor infernal quando estavam ao ar livre.

Eles estavam de pé em uma colina, olhando ao longe a gigantesca capital de Runipon, considerado por muitos a capital mais populosa do continente, com quase cem mil habitantes.

Drewalt ergueu a mão direita em direção ao céu e moveu os dedos. Aos poucos, as nuvens começavam a se agrupar, nublando por inteiro a capital.

Era a vez de Alucard.

Ele ergueu as duas mãos na direção da capital e aos poucos uma esfera negra ganhou forma, ficando maior a cada segundo que se seguia. Depois de um minuto, uma esfera negra que parecia uma lua estava sob a capital, deixando aquela cidade completamente no escuro.

A população estava curiosa com a escuridão repentina, então muitos deixaram suas residências para ver o que estava acontecendo.

Um pingo escuro caiu do topo da redoma, depois outro e mais outro, iniciando uma chuva torrencial que durou trinta segundos.

O mais estranho, era que as pessoas não estavam molhadas, e aquela água se agrupou em pequenas poças enegrecidas. As poças começaram a borbulhar e assumiram uma forma humanoide.

A maioria se parecia com gárgulas e morcegos feitos de sombra. Seus tamanhos eram diversos, indo de 10 centímetros até três metros de altura.

As pessoas acharam que aquilo era algum tipo de evento especial proporcionado pelos magos da corte, até que uma gárgula de três metros arrancou a cabeça de um homem com uma mordida.

Foi então que o caos se instaurou.

Uma correria começou, enquanto as sombras humanoides matavam tudo que estava em seu caminho. As gárgulas abriram a boca e bolas de fogo saiam dela, explodindo residências inteiras.

Os soldados começaram a se mobilizar, mas logo eram subjugados pelas feras de sombra.

O rei de Runipon viu tudo aquilo pela janela.

— Os vampiros resolveram atacar! — esbravejou o rei vendo pela janela o caos — Vamos, August, prepare seus homens!

August começou a correr em direção ao salão, onde guardas e mais guardas estavam se preparando. Havia uma confusão enorme naquele local.

O salão era amplo com capacidade para abrigar 20 mil pessoas, mas ele já estava começando a ficar superlotado com o número de soldados feridos que não paravam de chegar.

Os curandeiros estavam desesperados, procurando o soldado em estado mais grave para prestar socorro.

— Príncipe August! — disse um soldado com o rosto ensanguentado — Os homens solicitam reforço imediato na ala norte, as criaturas estão avançando.

August não teve chance de vestir sua armadura. Apoiou a mão no pomo de Claymore e partiu em direção a ala norte. Passou pelos portões do palácio e viu cadáveres e corpos dilacerados por todo lugar.

Era ele quem realmente fazia aquele tipo de ataque, estar do outro lado foi um verdadeiro choque. August não pensava que ser o alvo fosse tão apavorante.

Explosões e monstros feitos de sombras, essas eram as únicas coisas que ele via na sua frente. Empunhou sua espada e partiu para cima de uma gárgula, cortando seu pescoço.

A gárgula desmanchou como barro e desapareceu.

— Rápido, homens, essas coisas podem ser vencidas!

Bradando em fúria, os soldados partiram em direção as criaturas. Alguns conseguiram derrotar algumas, outros foram simplesmente mortos. Por mais que August e seus homens se esforçassem, o número de inimigos não parava de crescer.

Olhando para os dois lados, August começou a sentir medo da morte. Os homens sob seu comando estavam sendo pisoteados como insetos, sem falar nos civis que somavam centenas de baixas e continuavam aumentando.

Ele viu um de seus homens ser degolado na sua frente e depois viu um de seus soldados ser comido vivo.

— Príncipe August! — berrou um dos homens — O que devemos fazer? Reagrupar?

August continuou em silêncio.

— Príncipe, responda!

Crash!

O soldado foi esmagado pelas enormes patas de uma gárgula. Os olhos de August se arregalaram ao ver aquilo, O terror e o pânico já haviam tomado conta do seu corpo. Sua respiração ficou acelerada e suas mãos começaram a vacilar, quase soltando a espada em punhos.

— Senhor! — berrou um dos soldados.

Os soldados restantes viram que aquele que devia os guiar estava completamente aterrorizado.

— Que se dane! — disse o soldado passando por August e fugindo o mais rápido que conseguiu.

Vários outros soldados o seguiram, deixando suas espadas e armaduras para trás, a fim de ganharem mais mobilidade.

August fez o mesmo. Devolveu Claymore a bainha e correu o mais rápido que conseguiu. Ele era um soldado, ser analítico era parte do trabalho, por isso ele sabia muito bem que as chances de vitória eram zero.

Um homem estava subindo no cavalo para fugir, mas August o derrubou, subiu no cavalo e cavalgou o mais rápido que conseguiu para bem longe dali.

Não restaria nada ali para ele chamar de lar, apenas uma pilha de escombros e cadáveres.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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