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Capítulo 123 – Crepúsculo de Sangue – Parte 08

Coen soube por seus espiões que seu caso com Celae foi descoberto pelo rei. Os detalhes que ouviu o deixaram furioso, ainda mais depois de saber que ela estava desaparecida a dias. Sua maior preocupação não era que ela tivesse sido vendida como escrava ou violentada por humanos, ele estava preocupado mesmo era com o pingente.

Os vampiros estavam começando a avançar, assim como os Elfos Negros.

Coen estava no topo de uma montanha congelada, vendo bem ao longe sua presa adormecer calmamente.

Sem o colar, ele não poderia fazer nada além de observar o colossal dragão Tiamat cochilando, deitado em um rio de lava. Suas escamas eram negras e reluzentes. Aquele corpo enorme podia ser considerado a montanha mais alta da região para viajantes despreocupados.

Para alguns humanos, aquele dragão era considerado um Deus, e religiões foram feitas em sua homenagem. Tiamat não era o tipo de dragão que destruía tudo ao seu redor, exceto se fosse provocado. Ele passava a maioria do tempo dormindo longe de qualquer civilização.

Ele era tão monstruoso que apenas o bater de suas asas poderiam mudar o clima de um lugar, trazendo o calar infernal ou um frio glacial.

Coen mal podia se conter de vontade de enfrentar aquilo, mas ele não era um tolo, sabia que não tinha a menor chance.

O errante esticou o braço e adentrou no portal, saindo em um campo verde repleto de erosões.

A pequena Bledha e Volfizz estavam treinando. A habilidade de esgrima de ambos era algo belo de se ver. Não haviam aberturas em suas técnicas e seus cortes eram limpos e precisos.

— Como estão indo às coisas? — perguntou Coen ao se aproximar.

Suados e vestindo roupas de treino, aqueles dois abaixaram suas espadas e recuperaram o fôlego.

— Encontrou ela? — perguntou Volfizz.

Coen fez que não com a cabeça.

— Ela desapareceu completamente… talvez esteja morta.

— E se ela estiver morta, o que vai fazer?

Coen coçou a nuca e deu de ombros.

— Não tem muito o que fazer. Os vampiros continuam caçando vocês dois com Alucard atuando na linha de frente agora. Sem falar que os errantes continuam me caçando como loucos.

Volfizz enfiou a espada de prata no chão e sentou-se em uma pedra, alisando o cabelo molhado de suor para trás.

— Você está certo, o cerco está fechando para gente. Pelo menos a torre está ficando pronta, certo?

Coen assentiu.

— Errantes, Elfos Negros, Elfos da floresta, Vampiros, humanos e Tiamat. De todos estes, teremos realmente trabalho com os vampiros. O restante pode deixar que eu cuido.

Volfizz o olhou com um semblante incrédulo.

— Certo… vai cuidar de todos esses idiotas sozinho? Tiamat eu até entendo, mas o resto…

— Confia em mim, parceiro.

— Eu confio. Se você realmente conseguir um feito desse, então pode deixar que lido com Alucard.

— E como planeja fazer isso?

— Vou segurá-lo durante um tempo e a pequena Bledha aqui vai me ajudar.

— E-Eu? — disse ela abanando as mãos — N-Não acho que eu consiga ajudar o senhor, ainda estou aprendendo…

Volfizz assentiu.

— Sei disso, mas você já é uma guerreira. É provável que você atualmente só perca para Alucard, Graff e Drewalt. Falarei com os nobres e reunir o maior exército que esse mundo já viu. Atacaremos durante a lua cheia.

— Por quê? — indagou Coen — Não é mais fácil atacarmos durante o dia?

Volfizz fez que não e apontou para Bledha.

— A pequena ali fará um ritual de banimento. O ritual só funcionará se o alvo estiver em seu ápice. É um ritual demorado, então precisará ser meticulosamente preparado e jamais poderá ser interrompido.

Bledha engoliu o seco.

Ela ficou nervosa só de pensar em uma tarefa tão importante ser de responsabilidade dela.

— A próxima lua cheia é daqui a duas semanas, então vou me preparar. — Volfizz se ergueu, apanhou sua espada pelo cabo e a apoiou no ombro — Você deveria fazer o mesmo.

— Não devia ser eu a enfrentar Alucard?

Volfizz abriu um sorriso de canto.

— Não precisa se preocupar, eu e Bledha aguentamos. Continue procurando a Elfa enquanto a gente se prepara.

 



 

Graff tinha seus encontros regulares com as fadas, e a cada encontro ele tentava convencê-las a se juntar a ele. As respostas eram sempre as mesmas.

Depois de Alucard ter varrido um reino inteiro para debaixo do mapa praticamente sozinho, os vampiros voltaram a ter confiança em seu líder.

A fim de maximizar o exército de vampiros transformados, Drewalt separou os vampiros transformados mais promissores e deu a eles exércitos inteiros. Estes exércitos tinham autonomia para agirem da forma que quisessem.

Cada exército tinha sua especialidade. Alguns eram mais bestiais, outros eram mais inteligentes e outros eram mais pacíficos.

Mais tardes estes mesmos exércitos se dividiriam em pequenos clãs, se espalhando pelo continente como praga.

Apesar de enfrentarem alguns errantes em excursões, vampiros eram dificilmente derrotados, já que sempre andavam em bando, um bando bastante numeroso. Isso só deixou as cidades vizinhas ainda mais assustadas, causando um êxodo em massa para o Leste.

Neste mesmo período também ocorria uma migração forçada para o deserto, porém, a maioria destes imigrantes eram mulheres. Mulheres humanas, Elfas da floresta, Orcs, a pequena raça de aladas e havia até mesmo um pequeno número de Elfas negras que foram vítimas da brutalidade do exército dos Elfos Negros e consideradas impuras por seus amigos e familiares.

Sem amparo, elas se juntaram e foram em massa para o único lugar considerado seguro no continente, o próprio deserto de Caliman, lar de inúmeros monstros e criaturas que só existiam ali naquele ecossistema.

A maioria delas carregava crianças mestiças, crianças que eram o produto de constante abuso e violência sexual.

A travessia de Caliman era considerada a mais perigosa do continente. Apesar de altas baixas, haviam boatos de que o primeiro grupo de imigrantes encontrou um enorme oásis, fundando ali uma pequena vila.

Quando chovia, o rio chamado de Olin transbordava, irrigando parte da terra e tornando a terra bastante fértil durante parte do ano.

Vilas inteiras se assentaram próximas ao rio que percorria todo centro-sul do escaldante deserto de Caliman.

Mesmo que aqueles boatos fossem atrativos para invasores, apenas mulheres desesperadas que não tinham nada mais a perder se arriscavam em uma travessia tão arriscada.

Vampiros tinham pavor ao calor, e humanos não estavam a fim de arriscar seu exército em uma travessia tão perigosa. Estas eram uma das razões para que o deserto de Caliman fosse completamente excluído da geopolítica atual, considerado pelos nobres e futuros imperadores um país que nunca seria nada além de areia e deserto.

Os líderes do continente estavam perdidos e com o rabo entre as pernas. Os vampiros estavam atrevidos e cada vez mais brutais. Muitos já estavam considerando aquela uma iminente derrota, onde a maioria só aguardava pacientemente a morte.

A situação no reino dos Elfos da floresta também não era nada boa. Com os Elfos negros mais perto dos portões, a população estava em pânico. Diferente dos guerreiros imponentes que eram os Elfos Negros, os Elfos da floresta eram bem menos experientes em batalha e no uso de magias.

Celae já estava a semanas dentro de seu esconderijo. As crianças eram sorrateiras e costumavam vagar por buracos minúsculos atravessando túneis que conectavam toda cidade. Eles traziam as notícias que ouviam e Celae ficava a par delas.

Mesmo sendo odiada por seus conterrâneos, ela não desejava que a cidade fosse invadida e tomada. Ela não queria ver a brutalidade dos Elfos Negros de perto.

Celae havia cortado o longo cabelo dourado, aderindo a um cabelo curto na altura dos ombros. Sem muitas coisas para fazer naquele lugar, ela se dedicou a ler os livros que as crianças roubavam e se arriscou até mesmo em exercícios físicos.

Demorou um tempo para que ela se acostumasse a rotina de treinos, mas depois que pegou o ritmo seu corpo se adaptou surpreendentemente rápido.

Em sua mão direita ia um livro relacionado ao uso de magia e sua mão esquerda pegava amendoins em uma vasilha de barro e levava a boca.

As crianças brincavam no fundo, mas isso não a incomodava. Até que ela estava se virando bem, o único empecilho eram suas dores no peito que sentia vez ou outra por não tomar mais os medicamentos receitados pelos druidas.

“Eu devia ter aprendido magia desde cedo… a única coisa que consigo fazer é aumentar alguns atributos físicos, mas deve ser o suficiente.”

Ela fechou o livro e se ergueu.

— Crianças! — chamou — Venham aqui!

Elas pararam com a baderna e se aproximaram.

— Tenho que ir embora.

As crianças se entreolharam. Os mais novinhos ameaçaram chorar, enquanto os mais velhos ficaram nervosos.

— Você não pode!

— Você é a nossa mãe, não pode nos abandonar!

Celae deu um suspiro.

— Escutem, a cidade corre perigo de ser invadida e todos vocês podem acabar se machucando se eu não fizer nada, por isso preciso que me levem para fora da cidade por uma passagem segura, tenho um amigo que pode ajudar.

— Não! — berrou uma garota com lágrimas nos olhos — Você não vai!

Celae apoiou as mãos na cintura e deu mais um suspiro.

— Se eu não for, vocês vão acabar se machucando e não vão perder somente a mim… todos vocês vão acabar se machucando para valer, é isso que querem? Querem me ver morta?

As crianças engoliram o seco.

Celae se abaixou e com um aceno de mão chamou a garota que berrou.

— Vocês também são importantes para mim, por isso tenho que proteger vocês, como uma mãe faria, certo?

A garota ficou na ponta dos pés e a abraçou. As outras crianças fizeram uma rodinha em um abraço coletivo.

— A senhora vai voltar? — indagou a garota enquanto mexia nos dedos de nervosa.

— Farei o possível para voltar, eu prometo!

Depois de afagar o cabelo dela, Celae se ergueu.

— Alguém pode me levar para fora?

— Eu levo! — disse o garoto Elfo, que havia a trazido para o esconderijo. — Arrumem uma capa para ela, vamos sair à noite.

 



 

Vestindo uma capa preta que tapava também sua cabeça, Celae seguiu o jovem Elfo pelos becos e vielas inundados em penúria. Havia tantos indigentes que ninguém sequer reparou nos dois, já que estavam ocupados tentando sobreviver.

Muitos reviravam latas de lixo, outros bebiam água de poças ou se alimentavam de restos descartados por soldados. Era deprimente ver aquela situação, mas ela não tinha tempo para sentir pena no momento.

Entraram nos esgotos da cidade e seguiram por dois quilômetros até alcançar uma grade de ferro. Celae a empurrou e saiu do lado de fora da cidade.

Estavam em um morro onde havia uma descida bem íngreme, mas não seria problema descer aquilo. Celae olhou para baixo e se preparou para descer escorregando, mas o garoto Elfo chamou por seu nome.

— A senhora não vai voltar, não vai?

Celae assentiu.

— Eu sinto muito…

O garoto correu até Celae e deu nela um abraço apertado.

— Pedirei aos deuses que cuidem da senhora…

— Obrigada, também pedirei aos deuses para cuidarem de vocês.

Ele se desvencilhou dela.

— Como acaba? — ele perguntou.

— O quê?

— A história do herói Colin.

Celae deu de ombros.

— Você decide como acaba. Um final feliz, triste, agridoce, é escolha sua agora.

O Elfo abriu um sorriso de canto.

— Adeus… mãe…

Ela retribuiu o gesto. Não havia problema em tratá-lo de maneira afável, já que provavelmente nunca mais se veriam. 

— Se cuida, filho.

Celae saltou, escorregando pelo lodo até encontrar o solo fofo, quase um lamaçal. Desceu a touca da capa até os olhos e desapareceu na noite.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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