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Eles já estavam a algumas horas treinando.

Brighid era fisicamente inferior a Colin, mas por ter uma enorme reserva de mana, ela conseguia se equiparar ao seu marido e em certos momentos até o superava.

Seu controle de mana perfeito não permitia que Colin causasse algum dano significativo a ela, mesmo quando ele acertava um golpe ou outro.

Durante aquele treino, o tempo de reação de Colin também havia aumentado.

Quando Brighid o atacava, ele conseguia perceber os músculos dela se mexendo, as veias de mana, e, por fim, o ponto fraco em cada golpe.

Seu único problema era rebater a mana no ponto de pressão.

Mesmo vendo o golpe e sua trajetória com clareza, Colin ainda falhava, mas não por muito tempo.

Depois de quase duas horas ele conseguiu concentrar mana no ponto em que era atingido, tornando sua armadura natural cada vez mais resistente.

A especialidade de Colin sempre foi o bom e velho mano a mano de mãos nuas, mas ele não costumava se garantir nisso quando o oponente era experiente e portava uma arma, por isso ele usava lâminas ou as manifestava quando era conveniente.

Brighid não tinha um corpo musculoso como Morgana ou tão malhado quanto Leona, o corpo dela era algo bem feminino e cheio de curvas, e mesmo assim ela conseguia facilmente superar Colin em vários momentos do treino.

Brighid avançou, e mesmo com um corpo não tão atlético, ela conseguia mandar Colin longe com um soco, e foi isso que ela fez.

[Pancada!]

Colin se defendeu cruzando os braços na altura da cabeça enquanto derrapava para recuperar o equilíbrio. Por fazer aquele treinamento com Eilika a mais de meio ano atrás, não era tão difícil analisar a mana de Brighid percorrer seu corpo. O tempo de reação dele já estava bastante elevado também, o difícil era rebater o ponto de pressão.

Brighid disparou na direção dele.

Instintivamente, ele cruzou os braços na altura da cabeça, mas ela deu um passo pro lado, indo direto para o flanco dele.

Ele viu a mana de Brighid naquele átimo. Viu aquela mana perambular ligeiramente pelo corpo dela e indo direto para o punho.

Colin também viu um minúsculo ponto de pressão ali, no osso metacarpo.

“Estou vendo, ela vai me atingir por ali, mas não acho que eu consiga rebater o ponto de pressão, não tenho talento para esse tipo de coisa”.

Em vez de tentar rebater, Colin defendeu, e seus pés derraparam pelo chão mais uma vez.

[Pancada!]

“Brighid e Walorin tem uma elegância para o combate que talvez eu nunca consiga ter. Sei é quebrar coisas, bater forte e destruir. Esse estilo extravagante não combina comigo.”

Brighid avançou mais uma vez.

“Lá vem ela de novo! Mesmo que eu defenda e use mana para isso, esses socos estão começando a me machucar. A pressão do golpe dela é descarregado inteiramente na minha defesa. Até mesmo uma muralha se quebraria depois de centenas de disparos de canhão.”

[Pancada!]

Brighid atingiu o antebraço esquerdo de Colin e ele sentiu uma pontada de dor. Devido à dor, ele espremeu seus olhos, e Brighid aproveitou essa brecha para atingi-lo com um pontapé no lado esquerdo do tronco, bem nas costelas.

Colin sentiu uma fisgada na costela e fez uma careta de dor.

Ele abraçou as próprias costelas e deu dois passos para trás apoiando um dos joelhos no chão.

Colin viu a sombra do pé dela sobre sua cabeça e rolou para o lado se esquivando daquele golpe que arrasou o chão num estrondo.

Boom!

Brighid estava forçando os pontos mais vulneráveis de Colin, o colocando para pensar de proposito, sem falar que Colin era o parceiro de treino ideal.

Ele não se machucava com tanta facilidade, e por ter tantos pontos físicos superiores a ela, só a deixavam ainda mais animada.

“Acho que eu consigo tentar algo diferente.” Pensou Colin mantendo os olhos na esposa “Normalmente ela consegue jogar o ponto de pressão direto para mim ao me tocar, como se ela descarregasse todo aquele poder num único ponto. Se eu conseguir aumentar minha defesa, então acho que consigo anular o ataque dela sem rebater… Não, farei com que esse ponto de pressão não saia!”

Brighid abriu um sorriso de canto.

“Então você está pensando, Colinzinho… Espero que tenha um plano, ou você sentirá ainda mais dor”.

— Não vou pegar leve nesse próximo ataque! — ela bradou.

Colin se ergueu e cerrou os punhos depois de limpar o sangue que escorria por seu nariz.

— Pode vir!

Brighid avançou como de costume, mas ela estava mais rápida. A fada achou estranho Colin abrir a guarda, o companheiro parecia estar esperando aquele golpe.

Colin a esperou chegar bem perto e concentrou uma quantidade absurda de mana no punho direito.

“O que você tem em mente?” pensou Brighid indo com o punho cerrado na direção do queixo de Colin.

Com mana concentrada na mão direita, Colin segurou o punho de Brighid num baque surdo.

Ele não havia rebatido o ponto de pressão, mas impedido que ele escapasse. Foi como se ele dobrasse a ponta da mangueira impedindo a água de sair, o que implicaria na água forçando outra saída. Isso fez os vasos sanguíneos do braço dela estourarem de dentro para fora.

Crash!

Ambos arregalaram os olhos.

Brighid por estar surpresa com o que acabou de acontecer e Colin pelo medo de tê-la machucado gravemente.

— Brighid! — bradou Colin desesperado — Eu não queria ter feito isso!

Em contrapartida, Brighid estava calma. O braço dela sangrava como nunca, sua carne estava rasgada, a dor era lacerante, mas mesmo assim seu semblante não mudou.

“Claro…” pensou ela “Bloquear o ponto de pressão por onde a mana vai escapar… por que não pensei nisso antes? Mas o caso de Colin é diferente. Ele usou tanta força que quebrou minha mão assim que a segurou. Provavelmente ele não deve ter percebido isso, mas a força anormal dele junto ao controle de mana foi essencial para que isso acontecesse.”

O braço dela foi envolto por uma luz amarela e lentamente se curou.

— Estou bem, não precisa se preocupar.

Colin suspirou.

— Desculpa, não achei que isso fosse acontecer…

Ela abanou uma das mãos.

— Tudo bem, fico feliz que você tenha encontrado uma maneira de parar esse tipo de ataque. Como conseguiu?

Foi a vez dele de imitar a companheira exibindo um sorriso convencido. Ela sabia como aquilo foi feito, só perguntou para aumentar a autoestima do marido de propósito.

— Eu queria fazer o golpe voltar para você, mas bloqueei o golpe, impedi ele de sair pelo ponto de pressão do seu golpe.

Brighid assentiu.

— Faz sentido. Acho que a gente consegue testar as duas coisas.

Colin coçou a bochecha com o indicador.

— Não quero machucar você… sinto mal de bater na minha esposa grávida…

Ela apertou a bochecha dele.

— Que fofo! Por isso você fará com múltiplos inimigos agora!

Colin cruzou os braços e ergueu a sobrancelha.

— Como assim?

— Preciso de um tempo para criar Golens e evocar espíritos elementais que irão possuir os golens. Será como se você enfrentasse seres mágicos.

— Certo…

Brighid estendeu o braço com a palma virada para o chão e um círculo mágico começou a moldar lentamente dezenas de minúsculos golens de barro.

— Eles usarão magia, então tente usar sua tatuagem para absorver magia. — Haviam dois golens de ferro usando espadas — Tente rebater os pontos de pressão usando uma arma. Você irá enfrentar múltiplos inimigos que usam magia enquanto absorve e devolve os pontos de pressão, então daremos o próximo passo para aprender evocação.

Um enorme círculo mágico esverdeado se formou abaixo dela. Os minúsculos Golens foram envoltos por mana verde e começaram a crescer até atingirem quase três metros de altura.

Outro grande círculo apareceu em cima de Brighid, e dele, água, terra, fogo e ar se misturaram e foram em direção aos golens que instantes depois começaram a se mover.

Ela cruzou os braços e se sentou no chão.

— Vou ficar aqui assistindo e irei comer o almoço que preparei.

Colin ergueu uma das sobrancelhas.

— Eu não deveria almoçar também?

— Não! Seu corpo ainda está quente, será bom para você continuar treinando.

Brighid estalou os dedos e os inúmeros golens começaram a ir em direção de Colin.

 



 

Nas primeiras duas horas, Colin teve uma leve dificuldade para fazer os golpes refletirem usando a Claymore, e isso fez ele ser pressionado até que pegasse finalmente o jeito.

Depois de mais três horas ininterruptas de treino, ele conseguia mesclar o uso de Claymore, absorção de magia e redirecionar o ponto de pressão, tudo isso de maneira bem acelerada.

Se dependesse de Brighid, ela já teria ido para a segunda etapa do treinamento, mas Colin insistiu. Ele não queria somente aprender a absorver mana e rebater os pontos de pressão, ele queria ser tão bom nessas coisas que fosse impossível falhar ao fazê-las.

Foi como Brighid pensou. Colin não era tão habilidoso em certas áreas, mas sua habilidade para combate era algo quase único. Era bem difícil de acreditar que a quase um ano atrás ele sequer sabia usar magia.

Um dos golens de ferro cingiu a espada acima da cabeça e desceu com tudo. Claymore que era uma lança se transformou em uma espada e Colin prontamente devolveu o ponto de pressão daquele golpe, estilhaçando a espada de ferro.

Um dos golens lançou uma bola de fogo e Colin soltou a espada, absorvendo a mana da bola de fogo antes mesmo de alcançá-lo. Apanhou novamente a espada ainda no ar e usou os passos fantasmas.

Em um passo de mágica, ele apareceu atrás do golen e o cortou ao meio.

Em seguida usou os passos fantasmas mais cinco vezes, cortando ao meio mais cinco golens num piscar de olhos. Um golen de pedra tentou atingir as costas dele com um soco, mas Colin se recuperou e devolveu o soco focando no pronto de pressão do oponente, devolvendo todo impacto do golpe.

A mão do golen foi completamente destruída.

Colin o cortou ao meio usando os passos fantasmas mais uma vez.

O errante não esperava que o corte da Claymore fosse tão limpo. Ele não precisava usar muita força em seus golpes, apenas aplicava uma pequena quantidade de mana e a lâmina se tornava ótima para o corte.

— Acho que já chega. — Disse Brighid — Você aprendeu mais rápido do que eu previa e levou só umas cinco horas para isso.

Claymore se transformou em uma pulseira de ferro dessa vez.

— Tem certeza? Não sinto que evolui muito…

— Você evoluiu. Cada um desses Golens tinha capacidade para se igualar a magos de nível cinco em termos físicos. Os Golens de ferro eram superiores, se igualando a magos de nível 6 e 7. Eles não parecem mais um problema para você.

Colin assentiu e Brighid continuou.

— Só tem um problema nessa sua técnica, você usa parte de sua mana para bloquear a descarga de mana do inimigo, mas isso não deve funcionar contra inimigos que descarregarem uma mana mais poderosa que a sua, isso, somado a força física dele. Em suma, quanto mais forte fisicamente for seu inimigo, mais falha sua técnica será.

Aquelas palavras deixaram Colin pensativo.

— Morgana… essa técnica funcionaria nela?

Brighid fez que não com a cabeça.

— Ela provavelmente não só quebraria sua defesa, como faria você receber duas vezes mais dano, mas eu só posso te ajudar até aqui, o resto você terá que aprender sozinho. No mais, você terá que polir sua técnica. Sua sorte é que você é bem forte, então serão poucos que conseguirão superar sua técnica em um combate real.

Colin assentiu.

— E agora? — Ele perguntou — Ainda não estou cansado, você está?

— Ainda não. Mas a gente parará agora, você precisa comer.

Colin deu de ombros.

— Tudo bem, estou mesmo com um pouco de fome.

Brighid conjurou uma marmita e a esquentou em um círculo mágico com toda vontade do mundo, enquanto Colin a aguardava terminar.

Eles se sentaram debaixo de uma árvore e Colin começou a comer a marmita que Brighid havia esquentado.

Estava delicioso como sempre.

Brighid encarava ele comer com um olhar apaixonado estampado no rosto. Mesmo que ela recebesse diversos elogios, nada a alegrava mais do que ver Colin devorar com ímpeto algo que ela preparou com tanto carinho.

Ela também pensava no quanto seu marido era alguém genial e provavelmente alguém bem sortudo.

Colin havia suprimido a falta de técnica com força bruta. Era impressionante que mesmo em meio a uma desvantagem evidente, ele dava um jeito de se virar. Parecia até que ele havia nascido para esse tipo de coisa.

Isso só a deixou mais empolgada para ensinar a ele evocações.

Colin parou de comer e encarou o rosto alegre da esposa.

— O que foi?

Ela abanou com uma das mãos.

— Não é nada, eu só estava pensando em como você é incrível.

Colin provavelmente nunca havia ouvido um elogio tão sincero e tão direto na vida, e por isso ele não soube como reagir.

— É estranho você ficar me bajulando desse jeito…

Ela apertou a bochecha dele.

— Por quê? Deixa você tímido?debochou.

— Não… só não estou acostumado a ficar recebendo elogio.

Colin acabou de comer. Colocou a marmita de barro de lado e deitou com os braços atrás da cabeça, a fim de dar o tempo da digestão.

Brighid se aproveitou e deitou ao lado dele, usando o braço direito de Colin como travesseiro.

Os dois observavam as nuvens se mexerem lentamente naquele plano simulado.

— Brighid… estou pensando em aceitar a proposta de Molkar e ajudá-lo a assassinar o imperador do sul.

Ela virou a cabeça para o lado o encarando.

— Não acha que está dando um passo maior que a perna?

Colin cerrou os olhos e suspirou.

— Acho, mas o problema é Ultan. Se ele avançar contra os Elfos negros, a gente será envolvido em uma guerra brutal. Duvido que eles não tenham alguma forma de se defender disso. Ultan praticamente suborna todos os países próximos dele, e esses países vão fazer o que Ultan mandar. Os Elfos negros provavelmente já sabem disso e devem estar preparando uma bela ofensiva, já que todos dizem que eles são os melhores usuários de magia do continente, presumo que seremos massacrados.

Brighid ficou em silêncio por quase um minuto inteiro.

— Colin… — disse num tom calmo e, ao mesmo tempo, meigo — Sei que está preocupado comigo, com as crianças e com nossos amigos, mas isso não significa que você deve tomar uma ação tão desesperada como essa… Molkar é um nobre, um político que mesmo que tenha os melhores intensões do mundo, não deixa de estar na lista de pagamento de Ultan… Não devia confiar tanto assim nele…

— Eu não confio, mas…

Brighid se sentou encarando o marido. Afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha e deu nele um selinho.

— Tive uma ideia! Tem aquele projeto do anão das ametistas energizadas, pode levar tempo, mas acho que a gente consegue fazer elas funcionarem. Recentemente aprendi a como retirar a maldição das fadas… E apesar de tudo lá é um bom lugar para criar as crianças…

Foi a vez de Colin de se sentar.

— Faz sentido… A ilha das fadas seria um ótimo lugar para fazer isso.

— Sim! — disse ela empolgada — Já viu unicórnios? A ilha das fadas é cheia deles, e tem as dríades, ninfas e um montão de outras raças que você não veria em nenhum outro lugar! — A empolgação dela ao falar de casa era contagiante — Minha mãe vai amar conhecer você! Colin, a gente tem que ir para lá!

Ele alisou o queixo.

— Mas aquele caído que colocou a maldição em você não está lá?

A empolgação dela desapareceu como fumaça.

— Não sei, mas deve estar…

Ela se aproximou de Colin e segurou as mãos dele, o encarando com aqueles vibrantes olhos esmeralda.

— Colin… você me ajuda a derrotá-lo? Acho que a gente consegue se formos juntos. Não quero envolver Safira e os outros nisso… não é que eu não confie na força deles, é que só acho que você aguenta mais porrada, então…

Colin tocou com o indicador na testa dela.

— Sou seu marido, é claro que vou te ajudar, mas tenho que ficar forte primeiro.

Ela se ergueu e apoiou as mãos na cintura.

— Então vamos voltar pro treino?

— Não vai esperar nem a comida fazer digestão?

— Ah! Desculpa…

Colin balançou a cabeça enquanto sorria.

— Estou brincando, vamos voltar para o treino. Eu não comi tanto assim. Dá próxima vez vê se faz mais comida para mim.

Brighid cruzou os braços.

— Engraçadinho, acha que sou sua empregada?

— Se não é, está bem próxima disso hehehe é brincadeira.

Assim que Colin se ergueu, Brighid deu nele um soquinho no braço e o encarou com um olhar apaixonado.

Brighid ficou a centímetros dele e levantou o indicador.

— Seu idiota… — Ela mordeu o lábio inferior enquanto cruzava olhar com ele — Agora aprenderemos sobre evocação e se prepare, não serei tão boazinha dessa vez.

Colin abriu um sorriso de canto e a abraçou pela cintura.

— Se você for cruel comigo, eu posso devolver na mesma moeda, quem sabe fazer bem pior…

Brighid colocou o indicador frente aos lábios de Colin.

— A gente tá no meio do treino, nem pense nisso.

— Pensei que fosse o intervalo…

— Fim do intervalo, agora para de me provocar e se concentra no treino.

Colin deu de ombros e se afastou dois passos.

— Você quem manda.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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