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Capítulo 141 – Escorpião Rei

Enquanto caminhavam pelo túnel rumo ao nono nível, Colin e os outros sentiram seus corpos estranhos, mas mesmo assim continuaram seguindo pelo túnel estreito em direção a luz.

Colin foi o primeiro a passar e seus amigos passaram em seguida.

Plac!

O errante sentiu lama abaixo de seus pés.

A neblina que nublava sua visão se dissipou aos poucos, revelando um pântano lamacento.

Ele olhou para o lado, vendo apenas Liena, Loaus e Kurth.

“Nos separamos?”

— Tinha mesmo que ser lama? — Indagou Liena tentando limpar a barra das calças.

As árvores ao redor não deixavam a luz do sol os alcançar.

Aquele lugar era silencioso, o tipo de silêncio incômodo que os deixava alerta.

O portal atrás deles desapareceu e Colin resolveu usar o talismã de comunicação.

Chamou uma, duas vezes, mas ninguém respondeu.

Então, ele usou a análise. Olhou ao redor procurando manas ou qualquer coisa que a manifestasse.

A lama toda tinha traços de mana.

“Tem algo errado…”.

Foi rápido, mas Colin conseguiu ver algo se mexer debaixo da lama.

Ele puxou sua lâmina dançarina da bainha e os outros ficaram em alerta.

— Viu algo, senhor? — indagou Loaus desembainhando sua espada.

— Tem algo ali… — Colin apontou com a espada.

— Deixa comigo! — Kurth retirou o arco de suas costas e puxou a corda conjurando uma flecha de vácuo.

Ele fechou um dos olhos e concentrou sua análise no olho aberto.

A coisa na lama se moveu novamente e Kurth disparou.

Boom!

Foi um disparo poderoso que jogou lama para o alto. Enquanto lama caia como chuva, eles viram algo grunhindo enquanto rolava de um lado para o outro no lamaçal.

— Que droga é essa? — indagou Liena.

Debatendo-se na lama, estava um humanoide-peixe de quase um metro e oitenta de pele levemente púrpura. Ele usava trapos, seus dentes eram afiados como os de uma fera, os pés eram semelhantes aos de um pato, e as mãos tinham quatro dedos com garras que atingiam facilmente dez centímetros.

A criatura havia perdido o braço esquerdo.

Mais criaturas estavam se aproximando entre as árvores, dessa vez segurando açoitadores e lanças arcaicas.

— Loaus! — chamou Colin — Você cuida dos da direita, Kurth dos da esquerda, Liena cuida daqueles que vierem do Sul e eu dos que vierem do Norte.

— Guiaaaaa! — Um dos humanoides partiu para cima de Liena. Antes de ele estocá-la com a lança, Liena se abaixou e puxou a adaga da cintura, cravando na barriga da criatura, o rasgando até o maxilar.

Kurth puxou a corda do arco e atingiu dois humanoides, os transpassando direto no abdômen.

Loaus girou sua lâmina e partiu para cima de uma criatura. Ele deu um passo para o lado se esquivando da estocada de uma lança e cortou a perna da criatura fora. Esquivou-se mais uma vez e arrancou o braço de mais uma criatura.

As criaturas que cercavam Colin estavam com medo de se aproximar, principalmente porque ele era maior que elas.

Colin envolveu sua lâmina dançarina com mana elétrica e a soltou.

A lâmina pairava no ar.

“Vamos testar você. Disseram que você faria o que eu mandasse, então…”

— Mate-os! — ele ordenou.

Crash!

Girando como as rodas de uma carruagem em alta velocidade, a lâmina partiu um humanoide-peixe ao meio. Outra criatura tentou se defender colocando a lança na frente, mas ele e a lança foram destruídos, rasgados ao meio como folhas de papel.

Vendo que não podiam vencer, os humanoides começaram a correr pântano adentro.

Kurth apontou sua flecha na direção deles, mas Colin o impediu erguendo a mão.

— Eles devem estar indo para o covil, só vamos segui-los com calma. A passagem para o oitavo nível deve estar lá.

A lâmina dançarina voltou voando para a mão de Colin e ele a guardou na bainha. Respirou fundo e juntou as duas mãos batendo palmas.

Um círculo mágico se abriu frente a ele e um lobo azul-celeste saiu de dentro.

— Fique de olho neles — ordenou Colin.

O lobo latiu e correu para a parte mais densa do pântano, seguindo as criaturas.

Fora do espelho, a multidão observava aquilo nos telões que pairavam no ar. Muitos estudantes já haviam sido mortos, porém, isso não havia tirado a grandeza do evento.

O espelho era gigantesco, todos os dez níveis tinham a extensão de um pequeno país, por isso era difícil de estudantes se encontrarem nos níveis.

A cada nível, esse tamanho diminuía, como uma pirâmide que fica menor a cada centímetro que se aproxima do topo.

Hodrixey havia organizado tudo perfeitamente, deixando cada equipe enfrentar uma criatura poderosa para avançar na prova, além de precisarem também do pingente de uma equipe qualquer para avançar o próximo nível.

Haviam equipes que ainda estavam no nível dez, e haviam equipes que já estavam no nível sete.

Charlotte, a irmã de Samantha, estava ao lado da mãe Ophelia assistindo ao show. Ophelia se recusou num primeiro momento a presenciar toda aquela barbaridade, mas Charlotte conseguiu a convencer.

Ophelia ficava irritada a cada minuto que se seguia.

Ela esperava se deleitar com a morte dos companheiros de Samantha, mas eles eram fortes demais. As chances de eles enfrentarem um monstro e serem derrotados era bem baixa.

— Eu não disse, mãe?! A guilda da Samantha é bem forte! — Ela apontou para o telão que mostrava Colin — Aquele é o senhor Colin, o homem que comentei com a senhora!

Ophelia franziu o cenho.

— Por que está tão animadinha?

— Bem… — Charlotte desviou o olhar e coçou a bochecha com o indicador — As pessoas dizem que a guilda dele é a mais forte da universidade… e Diana e as outras meninas disseram que eles já venceram esse torneio…

— Já venceram?! Essas garotas não sabem de nada! Os pais delas sabem que estão torcendo para um criminoso?

Charlotte franziu os lábios.

— Senhor Colin não é um criminoso…

— Está defendendo um criminoso? Ótimo! Outra filha que prefere criminosos a ouvir a própria mãe!

— Não é isso… é que eu nunca vi Samantha tão feliz depois que se juntou ao grupo dele… e ele cuida dos filhos do imperador, então não tem como ele ser um criminoso…

Ophelia cruzou os braços e continuou com o cenho franzido.

— Se continuar a me responder, nós vamos para casa e você ficará de olho em Elizabeth até o fim das festividades, me ouviu?

— Desculpa, mãe…


A alguns quilômetros de distância de Colin, Brighid e o restante da Guilda não estava em um pântano, mas em uma floresta comum.

— Tem certeza que é por aqui? — Indagou Elhad encarando Leona que estava à frente do grupo.

— É claro que é! — ela respondeu — Mestre Colin e eu dividimos a alma, sei exatamente onde ele está!

Até o momento, eles não haviam visto nenhuma forma de vida animal ou humana, nem mesmo ouviam o canto dos pássaros ou o zumbir dos insetos.


Numa caverna, corpos eram devorados por vermes num canto enquanto humanoides-peixes mantinham um grupo de pessoas ajoelhadas.

Alguns estavam tão machucados que seus hematomas os deixaram irreconhecíveis.

Um dos humanoides apontou para uma mulher de cabelo escuro e a empurrou.

Ela ficou ali, caída no chão frio enquanto os companheiros ao seu lado estavam tremendo de medo.

— Gur Gur Guraah! — berrou um dos humanoides.

— Eu já disse que não entendo o que vocês dizem! — disse a mulher irritada.

— Sinto muito pela recepção inadequada — disse uma voz na penumbra — Vocês sabem… depois de ficar tanto tempo preso aqui, você acaba se entediando.

Um humanoide, mais alto que os demais, apareceu segurando um cajado. Ao contrário do resto deles, esse em especial era coberto por adornos de ouro.

— Como você fala nossa língua? — perguntou a mulher.

— Aprendi com outros humanos que nos visitaram eras atrás, e pelo visto continuam visitando.

— O que você quer de nós?

O humanoide se aproximou da mulher, a encarando com aqueles olhos de peixe que não piscavam nunca.

— Sair daqui, queremos sair daqui!

A mulher abriu um sorriso de canto.

— Então sinto muito em decepcionar você, mas infelizmente isso será impossível. Mesmo se conseguirem sair, duvido que fiquem vivos mais que alguns minutos.

O humanoide apontou para a mulher e depois para os companheiros dela.

— Guiaa Gurun Guir! (Matem todos esses desgraçados!)

As criaturas seguraram todos eles e se preparavam para executá-los.

— Se não podem me ajudar — disse a criatura — Então eu não preciso de vocês!

— Guiiaaaaa! (Socorro!) — berrou uma criatura ao entrar correndo na caverna.

Crash!

Uma flecha de vácuo atravessou a cabeça da criatura e o que restou dela rolou até os pés do humanoide com o cajado.

Os outros humanoides não entenderam o que aconteceu e ficaram perdidos.

Crash! Crash!

Mais dois deles caíram.

O humanoide que podia falar ergueu o cajado em direção a entrada da caverna. O cristal na ponta de seu cajado brilhou em azul e um muro de gelo tapou a entrada.

— Reforços?! — indagou a criatura a mulher — Seus amigos não vão conseguir salvar vocês!

Boom!

O muro de gelo foi despedaçado.

Os humanoides viram um homem alto acompanhado de outras três pessoas.

— Desgraçado! — berrou a criatura — Vocês estão mortos!

— Você fala? — indagou Colin com as sobrancelhas erguidas — Que coisa mais bizarra!

Girando o cajado, o cristal na ponta começou a brilhar em rubro.

— Morra!

Um círculo mágico apareceu na ponta do cristal e uma tormenta de fogo foi em direção a Colin e seus companheiros. A mulher de cabelos escuros e seus companheiros estavam no caminho da tormenta, assim como outros humanoides.

Aquela tormenta conseguiu cobrir toda caverna, até que ela se extinguiu.

O chão queimava como carvão, mas a mulher e seus companheiros ainda estavam lá.

Colin se pôs frente a eles e absorveu o poder com suas tatuagens.

O humanoide não entendia o que havia acabado de acontecer.

“Ele absorveu? Mas como?”

— Tenho que vencer você para ir para o nível oito?

A criatura rangeu os dentes pontiagudos e girou seu cajado mais uma vez. Outro círculo se formou na ponta do cristal, um círculo celeste.

Cabrum!

Um poderoso raio deixou o círculo indo em direção a Colin, que ergueu o braço direito e absorveu aquela magia sem problema.

— Que merda! — O humanoide quebrou a ponta do cajado e pegou o cristal. Ele quebrou o cristal em dois e enfiou na boca dos seus dois soldados mais próximos que começaram a engasgar.

— Guiia Guir! (acabem com eles!) — berrou a criatura apontando para Colin na entrada da caverna.  Depois de isso dito, o humanoide correu rapidamente para o fundo da caverna, desaparecendo na escuridão.

Os humanoides que engoliram os cristais começaram a ganhar músculos e ficaram enormes, com quase sete metros de altura.

Rooaaaar!

Rugiram as criaturas, deixando quase todos eles surdos.

Os passos das criaturas fizeram tremer toda caverna.

A mulher no chão e seus companheiros ficaram espantados com que estavam vendo. A magia que exalava daquelas coisas era enorme e, ao mesmo tempo, maligna.

Colin se abaixou e cortou as cordas que amarravam a mulher.

— Fique aqui — disse ele se erguendo — seus amigos estão seguros com meu pessoal.

— Você é aquele Colin, não é? — Ela indagou acariciando os punhos — Não importa o quão forte você seja, é impossível vencer essas coisas!

— Eu não vou lutar com isso.

— O quê?

— Você e seus amigos ficam aqui e quando eu voltar, vocês nos darão todos os seus equipamentos e o pingente.

Colin se ergueu e olhou para seus três companheiros.

— Aquele peixe deve ter alguma carta na manga, então deixarei esses dois com vocês.

Eles assentiram.

— Espera! — bradou a mulher — Você vai embora? Mas e a gente?

Colin nada disse, apenas envolveu seu corpo em faíscas e desapareceu na penumbra.

Fora do espelho, os nobres cochichavam entre si, e até mesmo ouvia comentários de alguns soldados em relação à cena que viram segundos atrás.

— O Elfo absorveu aquelas magias, não absorveu? — cochichou um nobre.

— Sim, foi isso que aconteceu!

— Então ele é um errante? Pensei que estivessem extintos.

— Não deviam parar essa prova? Hodrixey não sabe que errantes são bestas sem sanidade?

Ultan estava escutando aquele burburinho enquanto estava sentado em seu trono. Leerstrom havia dito a ele o que viu quando Colin enfrentou o primeiro-tenente Straus.

Diferente dos nobres e oligarcas que temiam Colin, Ultan o via com bons olhos, já que era um homem bem pragmático. Colin era uma ferramenta importante demais para ser descartada. Ter um errante como subordinado poderia ter suas vantagens.


Arfando, o humanoide havia alcançado uma sala com diversos monólitos de escorpião entorno. Mais adiante, havia um trono de pedra, onde estava sentado um homem aparentemente.

Ele tinha cabelos brancos que iam até o ombro, usava adornos de ouro e roupas do deserto. Sua pele era acinzentada, seus olhos avermelhados e um detalhe que chamava a atenção, era sua cauda de escorpião.

— O que foi? — Ele indagou, sentado naquele trono de pedra, de maneira relaxada — Não conseguiu extrair nada dos forasteiros?

— Não é isso senhor! — disse o humanoide, ainda arfando — Eles diferem dos outros, tem um homem com eles que consegue absorver mana! E-Eu lamento, mas tive que usar o cristal que você me deu…

O homem escorpião abriu um sorriso de canto.

— Você é rápido.

Colin estava atrás do humanoide com as mãos enfiadas nos bolsos.

— Então é você quem eu tenho que matar para ir para o nível oito? — Indagou Colin parando ao lado do humanoide-peixe, que estava tremendo de medo.

— Acho que já perdi as contas de quantas vezes ouvi essas mesmas palavras — O homem se levantou — O espelho parece bem cheio dessa vez, o que é isso, algum evento importante?

Colin deu de ombros.

— Algo assim.

Lentamente, o homem escorpião desceu as escadas de seu trono.

— Ao menos você não parece ser fraco como os outros que vieram antes de você — ele cheirou o ar duas vezes — Sem falar que você fede a ser místico. O que é? Uma dríade, ninfa ou… uma fada?

— Quem sabe.

Eles pararam a cinco metros de distância do outro.

— É sério? Uma fada? Hehehe Fadas não são os seres puros que dizem ser a espécie mais difícil para se ter contato? Qual o segredo, mantém ela em cativeiro? Se bem que esse cheiro é tão forte que me deixa enjoado. O que fez para feder tanto assim?

Colin tirou a mão direita do bolso e coçou a nuca.

— Meio que me casei com uma…

O escorpião ergueu as sobrancelhas surpreso.

— Uau!… Isso, sim, é surpreendente. Talvez você seja do tipo que valha a pena matar, já que possui esse tipo de laço com um ser místico tão poderoso quanto uma fada. Você com certeza não é normal — O escorpião flexionou levemente os joelhos — Já me enjoei de fracotes que veem aqui de tempos em tempos, me dê alguma emoção, Elfo!

O humanoide-peixe olhou para um e depois para o outro.

Ele sentiu que aquelas duas manas estavam prestes a se chocar, então ele saiu correndo.

Boom!

A cauda do escorpião se esticou até Colin se chocando contra ele em um bote ligeiro.

A poeira abaixou, revelando Colin defendendo daquela cauda com Claymore em sua forma de espada.

Veias do braço de Colin saltavam para fora enquanto ele impedia aquela cauda de avançar.

“Ele é tão forte quanto eu!” pensaram os dois em simultâneo.

— Meu subordinado disse que você pode sugar mana! — disse o escorpião — Então só usarei meus pés e mãos contra você, espero que não se importe!

Colin jogou a cauda do escorpião para o lado e usou os passos fantasmas.

Ting!

Ele tentou arrancar a cabeça do escorpião, mas o máximo que ele conseguiu foi arranhar superficialmente o pescoço.

“Que rápido!” pensou o escorpião saltando para longe.

“Que pele dura!” Pensou Colin saltando para o lado oposto.

Nenhum dos dois poderia ficar mais feliz com aquilo.

O escorpião passou décadas enfrentando inúmeros oponentes que nem sequer conseguiam tocá-lo, e Colin estava atrás de uma batalha brutal e desafiadora fazia semanas.

O corpo de ambos mal podiam se conter de excitação.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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