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O Norte era um dos únicos lugares do continente que não mudava em nada, não importava quanto tempo passasse ou quão estação estivessem. Era sempre frio e branco.

Por ser hostil e de difícil acesso, as tribos e cidade mais ao oeste tinham que se virar, e nem sempre acabavam conseguindo isso. Ataques de trolls da neve e outras criaturas selvagens eram frequentes em tribos mais afastadas.

Duas pessoas bem agasalhadas estavam de pé em meio a nevasca, olhando para o horizonte.

O homem, de pele morena, cabelos brancos e uma meia-lua tatuada na testa, parecia emburrado com algo, enquanto seu companheiro, de cabelo escuro e pele clara, parecia não se importar com o frio glacial.

— Esse lugar é horrível para um encontro — disse o homem de pele morena, encarando o companheiro com o semblante franzido — Neve é um saco! Minhas bolas encolheram e eu mal consegui ver meu pau quando mijei!

O homem de cabelo escuro continuou em silêncio.

— Elgaz! Tá me ouvindo, seu filho da puta?

— Eles chegaram.

Bam! Bam!

O chão começou a tremer e várias silhuetas enormes apareceram no horizonte. Quanto mais perto chegavam, maiores ficavam.

Um gigante de cinco metros parou ante aqueles dois. Suas vestes eram feitas de peles de animais de grande porte, e havia uma espada enorme de aço em sua cintura.

Os companheiros dele eram um pouco menores, mas suas feições eram igualmente horrendas.

O líder dos gigantes franziu o cenho dando uma boa encarada naqueles dois.

— Nenhum de vocês é Drewalt! — disse o gigante chefe em um tom de voz poderoso — Vim conversar com Drewalt, não com seus lacaios!

O moreno de cabelo branco não recebeu bem aquela ofensa. Ele detestava ser visto como inferior a alguém.

— Está me chamando de “lacaio”? — ele indagou — Escuta aqui seu pedaço de bosta, você sabe quem sou eu?

— Garagrav! — chamou Elgaz — Não viemos brigar, viemos fazer negócios, mantenha a calma!

O gigante virou as costas.

— Sem Drewalt, sem negócio. — O gigante escarrou no chão como se tivesse cuspido um pedaço de rocha bruta.

Garagrav já estava irritado o suficiente e aquele gigante estava fazendo tudo pelo que ele passou ser inútil. Ele não era o tipo de homem que aceitava bem uma rejeição.

Nhack!

Em uma mordida, Garagrav arrancou um pedaço da pele do pulso e esticou a mão na direção do gigante. O sangue que escorria de seu pulso ganhou forma, se transformando em uma espada.

O gigante parou de se mover e encarou aquele dois por cima dos ombros. Seu sorriso de dentes faltosos demostrava o seu desprezo por aqueles dois.

— Você não quer fazer isso, lacaio.

Garagrav esboçou um sorriso de canto.

— Sabe, gigante, eu ouvi histórias sobre vocês quando eu era um pivete. Sempre acreditei que gigantes fossem seres fortes, imponentes, verdadeiros guerreiros que tinham a força como pilar. Então, eu ouvi que vocês foram derrotados por fadas e minha admiração e respeito caíram por terra. Hehehe não tem como eu perder para uma raça derrotada por seres insignificantes como fadas.

A guerra entre fadas e gigantes era um assunto tabu entre os gigantes.

Gigantes eram orgulhosos de sua força e poder, mas tiveram seu orgulho pisoteado quando foram expulsos da ilha das fadas com o rabo entre as pernas.

Desde o ocorrido há séculos atrás, gigantes vivem como nômades. Vagam pelo extremo norte e procuram ficar longe de qualquer civilização, montando sua própria tribo e focando em somente sobrevirem um dia de cada vez.

Franzindo o cenho, o gigante desembainhou sua espada enorme e apontou para Garagrav.

— Você fala demais para uma coisinha tão pequena.

— Coisas pequenas também podem ser poderosas, eu vou te mostrar!

Elgaz ficou em silêncio, apenas observando tudo. Depois que Garagrav começava, era impossível pará-lo até que o mesmo estivesse satisfeito.

Vush!

O gigante foi rápido, cingindo a lâmina acima de sua cabeça e descendo com tudo no gelo grosso.

Baam!

Parte do gelo rachou e pequenas montanhas de gelo ao redor se quebraram como vidro após atingidas pela onda de choque.

As roupas escuras de Elgaz sacudiram, mas ele não pareceu nem um pouco surpreso com a força do gigante.

— O quê? — O gigante arregalou os olhos.

Garagrav não estava ali, ele havia atingido o nada.

Sentindo um arrepio na espinha, o gigante olhou para trás e todos os seus homens estavam mortos.

Vários estavam sem membros, outros estavam sem a cabeça e com tripas deixando seus estômagos.

Garagrav estava com um sorriso estampado no rosto enquanto descansava sentado em cima do tórax ensanguentado de um gigante.

— Seu desgraçado! — urrou o gigante partindo para cima de Garagrav com sua espada.

Vush!

Eles estavam longe um do outro, mas em um movimento rápido e um tanto simples de braço, Garagrav conseguiu arrancar o braço do gigante, que veio ao chão num estrondo.

Baam!

— Arrgh! — O gigante ajoelhou. Aquela dor lacerante tomou conta não só de seu braço, mas de todo seu corpo.

— Muito bem! — Garagrav abriu um sorriso — É melhor que continue de joelhos enquanto falo, ou caso contrário será sua cabeça que sairá voando, fui claro?

O gigante apenas engoliu o seco.

— Diga para seus superiores que o Norte está livre para ser conquistado. Informações privilegiadas me disseram que o Continente irá se desestabilizar, então fiquem à vontade para brigarem com os Elfos da neve ou avançarem mais ao sul para o território dos Orcs. Vocês não precisam mais de proteção, seus grandes pedaços de merda!

Garagrav ficou de pé e saltou do corpo do gigante morto. Sua espada de sangue se desfez e seu pulso cicatrizou em uma velocidade impressionante.

— Viu como se resolve um problema, Elgaz? Esses malditos gigantes só entendem a língua da violência. Agora sairemos daqui, não aguento mais olhar para tanto gelo.

Elgaz suspirou. Garagrav era um homem completamente instável, mas ele era valioso para a organização. Garagrav não era um nome conhecido no continente, mas no oriente sua reputação era algo relatado com certa cautela e, ao mesmo tempo, temor.

— Vão acabar repreendendo a gente por isso… — disse Elgaz.

— Que se foda! O desgraçado nos chamou de lacaios do Drewalt, vê se pode!

Antes de desaparecer, Garagrav virou para trás encarando o gigante que ainda estava de joelhos.

— Ei! — berrou Garagrav — A Encruzilhada agradece pela grande parceria nos negócios, mas nossa sociedade infelizmente chegou ao fim. Passar bem, senhor gigante! Mande meus cumprimentos ao seu rei!

Eles desapareceram na nevasca.

Fazer negócios com A Encruzilhada era sempre uma faca de dois gumes. Ninguém sabia se eles de fato cumpririam seus acordos ou acabariam matando os próprios aliados.

A Encruzilhada tinha a convicção que o continente iria se desestabilizar, e tudo seria como foram séculos atrás, quando Alucard foi banido e as principais lideranças e forças do continente foram massacradas, fazendo ascender uma nova era de terror.

Por mais desesperador que o cenário fosse, um continente desestabilizado era uma mina de ouro. Mercenários poderiam realizar ataques e saques a qualquer vila sem proteção, novas forças começariam a ascender e a prata, ferro e aço seriam bem requisitados.

O único, porém, era que em um jogo como esse, só os piores dos piores ascendiam ao poder, já que eles não tinham escrúpulos e nem régua moral para atingirem seus objetivos.


Elhad havia abatido um Wyvern ancião sem muito problema, e com o pingente de Anton em mãos, Colin e seu grupo seguiram até o Wyvern, saindo pelo portal do quarto nível.

Boom!

Assim que passaram pelo portal, viram um ogro de cinco metros bater com o tacape de madeira em um dos estudantes, o arremessando em uma choupana e fazendo-o transpassá-la.

— Agora! — Berrou o líder deles.

Três outros estudantes conjuraram bolas de fogo e lançaram no ogro.

Bom! Bom! Bom!

Aquilo foi inútil.

Furioso, o ogro ergueu o tacape e o desceu com tudo.

Vush!

O tacape foi cortado ao meio por Safira antes de atingir o estudante.

— Sai daqui! — urrou Safira.

Apavorado, o estudante saiu correndo o mais rápido possível, quase tropeçando nos próprios pés.

O ogro encarou Safira enquanto sua baba escorria pelo canto de seus lábios. Os olhos da criatura eram esverdeados, mas não eram um esverdeado comum. Eles pareciam fulgurantes, queimando como a chama de uma vela.

“Ele está sendo controlado?” pensou Safira com a espada em punhos.

Crash!

Sem paciência, Stedd subiu nas costas da criatura e atravessou aquela pele rígida com suas unhas afiadas. O Ogro parou de se mover e encarou Stedd por cima dos ombros.

— Achei! — Stedd puxou a mão, arrancando o coração da criatura que caiu de joelhos e tombou. — Ainda não acabou!

Bam! Bam!

Mais dois ogros apareceram, bem mais altos e musculosos que o primeiro. Em vez de tacapes, eles seguravam espadas e escudos.

— Colin! — chamou Brighid apontando para cima de uma casa.

De pé no telhado, estava um ser encapuzado de vestes negras esvoaçantes.

— Sinto cheiro de magia mística! — disse o encapuzado em uma voz assombrosa.

Erguendo a mão esquelética, o encapuzado conjurou um círculo mágico, e na frente destes se formou uma bola de fogo esverdeada.

“Chamas verdes?” Pensou Colin “Esse cara está relacionado com o abismo?”

Vush!

O corpo de Colin estava quente devido à batalha anterior contra Anton. Ele usou a mana contida em Claymore e avançou em direção do encapuzado.

Saltando, o encapuzado se concentrou em Colin e disparou sua bola de fogo, que foi prontamente sugada pelo errante.

“Ele anulou?” pensou o encapuzado “Não! Isso é outra coisa!”

Enfiando a mão na manga de seu roupão, o encapuzado retirou uma foice prateada e avançou na direção de Colin.

Ting!

Toda a foice do encapuzado vibrava com aquela troca de golpes. Ele girou a foice e tentou degolar Colin, mas o errante rebateu aquela foice mais uma vez.

“Ele é rápido, e é forte também!” pensou o encapuzado “Já me decidi, matarei esse idiota e farei dele o meu lacaio!”

Ting! Ting! Ting!

Os dois continuaram a trocar saraivadas intensas de golpes em cima dos telhados. Nenhum deles estava dando tudo de si. Colin estava conhecendo o corpo de seu oponente, o analisando por completo.

O contrário também acontecia com ele.

“Ele só é rápido e forte, não passa de um brutamontes. Porém, não posso dizer que ele é um idiota. O rapaz é cauteloso, dá para sentir que ele ainda está se segurando. Está me analisando, não está?”

Apertando o cabo, o encapuzado incendiou a foice com chamas azuis e tentou cortar Colin ao meio usando toda força que tinha.

Ting!

A lâmina dançarina havia bloqueado aquele ataque.

Colin esboçou um sorriso de canto e pegou no cabo da foice, absorvendo toda magia contida naquela lâmina.

Scrash!

A foice se quebrou como vidro, deixando o encapuzado atônito com o movimento inesperado.

“Merda!”

Vush!

A cabeça do encapuzado foi arrancada e caiu próximo aos pés de Colin, que encarou aquele rosto magro de olhos esbugalhados e pele cadavérica.

“Acabou?” pensou Colin olhando para baixo “Não, ainda não!”

Bam!

Mais um ogro apareceu destruindo choupanas com sua espada. Dessa vez, o ogro não empunhava somente a espada, como também usava armadura.

Colin focou seu olhar na penumbra e sua análise viu olhos esverdeados fulgurantes correrem na mata próxima às casas do vilarejo em que estavam.

Colin olhou para baixo mais uma vez, se concentrando em seus companheiros.

Apoiando a mão no cabo de sua espada curva, Lei Song se concentrou como se fosse sacá-la. A sombra dela começou a serpentear.

Roaaar!

O ogro avançou de maneira abrupta, cingindo a lâmina sobre sua cabeça. Antes que o ogro pudesse completar seu golpe, Lei Song avançou sacando a espada em uma velocidade impressionante.

Vush!

 Ela saltou, em direção ao braço do ogro, o arrancando com armadura e tudo. Girou a espada no ar e cortou a cabeça do ogro enquanto caía em queda livre.

Antes que seus pés tocassem o chão, Lei Song embainhou novamente sua espada, apoiando seus pés gentilmente no chão.

Seu hanfu preto e longo acompanhou sua sutileza, descendo devagar, em sincronia com a qual o corpo do ogro tombava.

Lei Song suspirou e olhou em volta. Seus companheiros de guilda estavam a encarando.

Ela corou e desviou o olhar.

Era a primeira que ela mostrava suas habilidades na frente outra pessoa que não fosse Brighid.

— Olha só! — Stedd apoiou as mãos na cintura e abriu um sorriso — Jurei que você era um peso morto, mas parece que me enganei de novo. Esse torneio está mostrando uma surpresa atrás da outra.

Lei Song nada disse, só coçou a nuca meio sem jeito.

— O encapuzado foi por ali! — bradou Colin — Vou segui-lo!

— Espera! — Brighid saltou para cima do telhado — Não deixarei você ir sozinho!

Colin assentiu.

— Stedd e Samantha estão no comando! A gente volta logo!

Colin e Brighid desapareceram no breu.

Stedd se aproximou de um dos estudantes que havia salvo e esticou a mão direita.

— Seu pingente, amigo.


Brighid estava pensativa.

Aquele encapuzado tinha o formato de mana diferente, não parecia nada vivo. Era uma mana bem parecida com a dos soldados de Drez’gan.

— Colin! — ela chamou — Acredito que aquele encapuzado deve ser algum líder de culto com pacto com Drez’gan.

Os dois corriam do lado do outro tão rápido, que se via um vulto azul e esverdeado passando pelas árvores como se fossem fantasmas.

— Acredita que ele está envolvido nisso? — Indagou Colin.

— Não! Ele não tem poder para interferir diretamente em outro plano dessa forma. Deve ser só algum seguidor dele.

Colin assentiu.

— Fique atenta! Se as coisas ficarem complicadas, você foge, entendeu?

— Eu não fugirei e deixarei você para trás!

Era tudo que Colin queria ouvir. Brighid era uma companheira ainda melhor que Leona. O estilo de combate de sua pandoriana era semelhante ao dele, bruto e explosivo.

Brighid já era mais cautelosa, e era essa cautela que ele precisava no momento.

— Certo! — ele exclamou com um sorriso — É a primeira vez que lutaremos juntos em um combate real. Isso não empolga você?

Brighid esboçou um sorriso de canto.

Desde que recuperou toda sua força, ela queria usá-la contra alguém tão forte quanto. Colin era um excelente parceiro de treino, mas ela ainda se segurava para não o machucar.

A ideia de lutar sério a empolgava.

— Empolga! — ela respondeu com um sorriso — Suponho que passei tempo demais com você, estamos ficando parecidos.

Colin retribuiu o sorriso.

— A gente já tá perto, se prepara!

Brighid fez que sim.

— Certo!

Há alguns quilômetros dali alguém os observava em cima de uma árvore.

— Muito bem, Fledris! Saiu melhor do que imaginei! — debochou Leidvard sentado em cima do galho de uma árvore alta — Pedi para atrair só o garoto, mas adivinha quem veio junto?

De braços cruzados encostado no tronco da árvore estava Fledris, um homem de cabelo escuro vestindo roupas pretas. A pele dele era branca como a neve, seus cabelos longos e seus olhos escuros como seus cabelos.

— O ruivo disse para não enfrentarmos a monarca de duas árvores sozinhos. É melhor fugirmos e esperarmos até o próximo nível para enfrentá-la.

Leidvard saltou e caiu ante ao companheiro.

— O ruivo isso, o ruivo aquilo, ele é um covarde com medo de uma gostosinha que não mostrou nada além de habilidades curativas e de defesa.

— Não me diga que você…

— Isso! Pode fugir com o rabo entre as pernas se quiser, mas enfrentarei aqueles dois aqui e agora! Não posso mais me segurar de ansiedade!

Fledris deu de ombros e tornou a caminhar para longe.

— Faça o que quiser, mas não espere que eu o ajude nisso. Essa luta é só sua.

Leidvard arregaçou as mangas do braço esquerdo, revelando dezenas de marcas contratuais.

— Eu não preciso de ajuda! Agilizarei o nosso trabalho e o daquele imbecil do lótus. Capturarei a monarca e matarei o Elfo!

Erguendo o braço esquerdo, três marcas começaram a brilhar em alvo e alguns portais se abriram entorno de Leidvard.

De dentro, saíram três criaturas de aparências angelicais.

Uma delas, era um anjo de características femininas. Tinha dois pares de asas e segurava uma lança dourada. Ela era alta, vestia uma túnica branca e seus cabelos dourados esvoaçavam mesmo que não tivesse vento algum, no local.

O outro ser tinha um único par de asas, olhos dourados, cabelo branco, vestia uma túnica branca e segurava uma espada feita de energia luminosa, bem semelhante à luz.

O último, era o mais grotesco dos três.

Ele tinha três pares de asas, dois pares de braços, a cabeça tinha o formato do crânio de um bode e um par de chifres de alce saía daquele crânio.

A criatura também tinha as pernas e caudas de um dragão e, todo seu corpo, era branco como neve.

Leidvard parecia exausto após evocar aquelas criaturas. Depois de alguns segundos recuperou o fôlego.

— Moleque! — disse a criatura mais grotesca em um tom de voz grave e arranhado — Eu disse para me evocar somente quando fosse necessário! É melhor que tenha um bom motivo para isso!

Leidvard apontou para o Noroeste.

— Não se preocupe! Nessa direção há certos inimigos que quero que enfrentem. Um deles é um homem e o outro uma mulher. Não me importo com o homem, mas preciso da mulher viva.

A criatura grotesca bateu os três pares de asa e avançou como um raio pela floresta. Os outros dois foram logo atrás.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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