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Capítulo 157 – Sinto Muito

Os alunos de dentro do espelho não tinham ideia do que estava acontecendo na capital, então a prova seguia normalmente.

Colin caminhava por um bosque seguindo a lua cheia. Ele sentia manas mistas, mas não conseguia identificar qual delas eram de seus companheiros.

— Isso é bem estranho… — sussurrou mantendo-se atento ao redor — Meus sentidos estão um pouco embaralhados, deve ser coisa desse nível.

Sentiu que alguém estava se aproximando.

“É um dos meus? Talvez…, mas não posso arriscar!”

Atento, Colin transformou Claymore e uma adaga e deixou a lâmina dançarina pairando sob sua cabeça.

Ele continuava atendo, no menor sinal de perigo atacaria para matar.

“Agora!”

Vush!

Mana elétrica percorreu seu corpo e ele avançou como um flash celeste em direção daquilo que se aproximava.

Colin conseguiu observar uma silhueta, lentamente, essa silhueta começou a ganhar forma.

“Merda!”

Abruptamente parou a adaga no pescoço de Samantha.

— S-Sou eu! — uma gota de suor escorreu por sua têmpora.

— Pensei que fosse um inimigo, quase machuquei você! — Ele transformou Claymore em um anel novamente — Sozinha?

Ela assentiu.

— E você?

— A mesma coisa. Consegue sentir a mana de alguém da guilda?

— Não, parece que as manas ficam embaralhadas.

“Então, o terceiro nível deve afetar nossos sentidos.”

— Vamos continuar caminhando, a gente deve achar mais pessoas.

Ambos seguiram em um silêncio incômodo. Quanto mais avançavam, mais para o absoluto nada pareciam seguir. As folhas e as árvores entorno estavam mortas. Não se ouvia nem mesmo o som de animais noturnos naquele lugar.

As manas que sentiram, ao menos um pouco, haviam desaparecido completamente, mas eles continuaram seguindo.

O silêncio incomodava, então Colin decidiu quebrá-lo.

— Como você está?

Samantha esperava que Colin dissesse qualquer coisa, mas aquilo foi novidade.

— Estou bem, eu acho…

— Você parece um pouco distante desde que a prova começou. Wiben também parece estar assim, mas ele tenta fingir que não — Ele a encarou por cima dos ombros — Aconteceu algo entre vocês?

Normalmente ela mentiria e afastaria aquele tipo de assunto de cunho pessoal, mas após os últimos acontecimentos com sua mãe e Wiben, ela sentiu precisar desabafar. Não havia feito ainda por não ter tempo para pensar no que a afligia, mas ali, no meio do nada e no silêncio, diversas coisas começaram a martelar em sua cabeça.

— Aconteceu… quer dizer, mais ou menos…

Colin ficou em silêncio, a deixando falar.

— Wiben vai deixar a guilda depois dessa prova para cuidar dos negócios da família, e a gente brigou por causa disso… A família dele sempre o desprezou, então por quê? — Ela desviou o olhar — Minha mãe me odeia e eu nem mesma sei o motivo disso, mal posso pisar em casa e o pessoal da guilda anda sempre ocupado resolvendo seus próprios assuntos…

— Medo de ficar sozinha? — indagou Colin.

Ela franziu os lábios e cruzou os braços.

Colin havia tocado na ferida.

Samantha por muito tempo teve somente seu pai, e Leerstrom sempre foi um homem ocupado, mas dava atenção a sua filha mais velha sempre que podia, já que era totalmente deixada de lado pela mãe.

Sua mãe, Ophelia, raramente a deixava brincar com as irmãs mais novas ou ter de levar amigos para casa. Ela cresceu com a pouca tutela do pai e rodeada por empregados, que quase sempre estavam ocupados com seus próprios afazeres.

Wiben apareceu em sua vida em um momento de fragilidade, e ela se apaixonou, principalmente por terem histórias parecidas, mas ela o admirou porque mesmo com esses problemas, Wiben sempre demonstrou ser tão resiliente.

Fazia algum tempo que ambos estavam seguindo caminhos opostos, mas isso não os impedia de estarem juntos. Wiben focou em fortalecer a si mesmo, deixando Samantha de lado, e com ele voltando para a família, ela sentia que tudo estava bem perto de acabar.

Temia em ter que encarar a mesma Samantha da infância, completamente sozinha dentro de um quarto cheio de coisa, porém, vazio.

— Sim… Você está sempre cercado de pessoas, às vezes sinto inveja disso…

— Não tem muito o que fazer — respondeu ele — Você só tem que aprender a conviver com a solidão. Acredito ser só quando você está sozinho consigo mesmo, que você acaba se encontrando de verdade — Ele a encarou por cima dos ombros novamente — Sobre sua mãe e irmãs, não precisa se preocupar. Elas vão crescer e ver quem sua mãe é de verdade, então só aguarde. Se achar mais fácil, posso conversar com ela para você.

Samantha ergueu as sobrancelhas.

As “conversas” de Colin sempre envolviam algum tipo de violência, e todos da guilda sabiam disso, mesmo que as intenções dele fossem somente conversar de fato.

— Vai bater na minha mãe? — indagou com a sobrancelha erguida.

— O quê? Claro que não! Vocês sempre interpretam errado!

Sem jeito, ela coçou a bochecha com o indicador.

— Pelo histórico…

— Histórico de quê? Olha, você pode até se sentir sozinha, mas o pessoal da guilda sempre estará disposto a ajudar um companheiro. Se não ajudarem, me fala e converso com cada um deles.

Samantha abriu um sorriso. O sentindo de conversar desta vez estava bem explicito em sua fala.

— Senhorita Brighid tem muita sorte… — disse baixinho.

— O que disse?

— Nada…

Ambos pararam de se mover.

Antes, sentiam manas embaralhadas, mas agora, sentiram duas manas colossais se aproximarem, antes que pudesse pensar em algo, os donos daquelas manas já estavam ali, de pé em cima de galhos de árvores.

— Achei você! — Vrumud mantinha os olhos em Colin.

Samantha foi para trás de Colin e enfio a mão em sua bolsa, retirando algumas moedas.

Era aterrorizante sentir aquelas manas de perto, nem mesmo Leidvard emitia algo tão sinistro assim.

— Colin… — A voz de Samantha tremulava — São monarcas da pujança…

“O quê? Os dois? Tsc… Não pensei que tivessem outros monarcas entre os estudantes.”

— O que faremos com a garota? — indagou Raudal a encarando — Ela não estava nos planos.

— Faça o que quiser com ela, do garoto cuido eu.

“O que faço?” Colin deu um passo para trás “Não tem como competir força contra dois usuários da pujança e proteger Samantha em simultâneo” Ele suspirou “Talvez se eu enfrentasse só um deles…”

— Colin! — Samantha tocou o ombro dele — Você confia em mim?

— Como assim?

— Confia ou não? — Os olhos dela estavam cheios de determinação.

— Confio…

— Então me escuta, eles querem nos enfrentar sozinhos, e isso é vantajoso pra gente.

— Ficou maluc-

— Confia em mim! Consegue enfrentar um deles, sozinho?

Colin abriu um sorriso convencido.

— Quem você pensa que sou?

— Ótimo! Não precisa se preocupar comigo, eu tenho um plano!

Ela se afastou de Colin.

— É melhor você vencer, me ouviu?

Sem dizer mais nada, Samantha concentrou mana nas pernas e começou a correr floresta adentro.

“Um plano para vencer um monarca da pujança em uma luta direta? Tsc… espero que esteja falando a verdade!”

A verdade, era que ela não tinha plano algum. Se ficasse, seria um fardo, e ela sabia disso. Seria melhor se Colin lutasse sem distrações.

— Não adianta fugir! — Raudal olhou para Vrumud — Isso não vai demorar, a garota não é tão forte. Vamos terminar logo e nos juntar aos outros para caçar a mulher Brighid.

— Brighid?! — Claymore se transformou em uma adaga e a lâmina dançarina foi energizada com mana elétrica — O que querem com minha esposa?

— Humpf! — Raudal empinou o nariz — Você não precisa saber.

Vush!

Colin usou os passos fantasmas, indo na direção de Raudal em um piscar de olhos.

“Que rápido!”

Ting!

Vrumud se colocou na frente de Raudal, empunhando sua espada de ouro.

Seu olhar cruzou com o olhar sinistro de Colin.

— Sou eu o seu oponente, garoto!

Boom!

A perna torneada de Vrumud chutou Colin para o chão em um estrondo ensurdecedor. Receber aquele chute foi quase quarenta vezes mais poderoso do que ser atingido por um canhão a queima-roupa.

Árvores, entorno de Colin, haviam sido destruídas no impacto, e o próprio, estava enterrado no chão.

— Já perdi tempo demais aqui — Raudal saltou de galho em galho, indo atrás de Samantha.

O gigante urso pardo segurava sua espada de ouro, estampando seu sorriso orgulhoso. Usou apenas uma ínfima parte de sua força para causar todo aquele estrago.

Colin saiu do buraco que se encontrava enquanto massageava o pescoço.

O sorriso de Vrumud se desfez quando ele notou que o errante ainda estava inteiro.

— Já fui chutado assim dezenas de vezes por uma monarca da pujança — Colin abriu um sorriso de escárnio — Não me leve a mal, mas eu esperava mais se tratando do chute de um monarca.

“O garoto está fingindo, impossível que não tenha sentido nada com isso.”

Vrumud estava certo.

Colin sentia pontadas na costela, como se o apunhalassem a cada segundo, mas manteve sua postura, afinal, aquilo era parte de sua estratégia.

“Merda!” pensou Colin “Não dá para bloquear os pontos de mana dele… O desgraçado é mais forte que eu. Preciso enfraquecê-lo!”

Do outro lado da floresta, Brighid estava atenta, vendo várias manas poderosas se aproximarem uma a uma. Era melhor se esconder e pensar em uma estratégia, mas ela sabia que aquelas pessoas eram poderosas.

Ela não queria envolver inocentes em seu embate.

Seis manas distintas estavam se aproximando, e ela sentiu a mana de um ser místico em meio a elas.

“Uma fada?”

Eles haviam chegado.

Apesar de estarem sob efeito das poções de polimorfia, a análise de Brighid conseguia os ver realmente como eram. Pairando ao lado de Leidan, estava uma fada, e na outra árvore, estava um rosto conhecido, Leidvard.

— Os boatos estavam corretos — disse o ruivo — A mana dela é assustadora. Tá na cara que ela não é uma mulher comum.

— Ela é uma fada! — disse Reiha, a fadinha — Consigo sentir a essência dela, mas não é só isso — Ela se escondeu atrás de Leidan — A mana dela é tão pura quanto sombria, essa mulher é perigosa…

Não era a primeira vez que Brighid encontrava uma fada fora da ilha, mas era a primeira vez que estava prestes a lutar contra uma.

Após ouvir aquilo, ela teve a certeza que era o alvo.

— Não quero lutar contra vocês, muito menos com alguém da mesma espécie que a minha.

O ruivo abriu um sorriso.

— Como se você tivesse escolha hehe.

Brighid analisou meticulosamente a mana de cada um deles.

Não era problema enfrentar múltiplos inimigos, o problema é que ela tinha que limitar suas técnicas para não prejudicar os filhos que carregava no ventre.

Seria ótimo se alguns deles fizessem parte de seu repertório de conjuração, mas depois do que aconteceu com seu corpo, era arriscado demais tentar algo assim.

— Le Jun — chamou o ruivo — Você avança primeiro, vamos ver o quão boa essa suposta “fada” é!

Flexionando os joelhos até ficar em cócoras, Le Jun desembainhou sua espada lentamente. A energia que aquela lâmina totalmente escura transmitia, era algo familiar.

Brighid já sentiu algo assim antes, até mesmo recentemente quando viu Safira carregando uma foice.

“Outra espada forjada da raiz da grande árvore? Isso pode ser problemático…”

Boom!

As pernas finas de Le Jun ficaram bizarramente grossas, e ela avançou como um raio na direção de Brighid. A fada, ficou em guarda e esperou a Kinesi se aproximar. Apertou o cabo de sua espada conjurada e chocou sua lâmina contra a de Le Jun.

Ting! Scrash!

 A lâmina de Brighid estilhaçou como vidro.

“Peguei você, fada!”

Le Jun girou o cabo da espada e avançou com um corte pela lateral. Abriu bem o cotovelo para aumentar o alcance da espada.

Woush!

Brighid se abaixou a tempo, deixando Le Jun cortar somente parte do rabo de cavalo da fada.

Assustada, Brighid saltou para trás e alisou o cabelo.

Seu cabelo, que antes ia até quase a nádega, agora ia até à altura dos ombros.

O pano que ela usou para prender o cabelo se desfez, e a brisa da noite assoprou, agitando as folhas e o cabelo de Brighid.

— Ficou melhor assim! — Le Jun assumiu sua posição de guarda, apontando a espada em direção a sua oponente.

Brighid olhou para Le Jun, depois olhou para os companheiros dela que continuavam imóveis.

“Essa mulher deve ser a mais habilidosa em combate dos cinco, então significa que estou sendo testada enquanto o restante deles me analisa com cautela. Essa mulher é rápida e tentará buscar combate direto constantemente. Não posso gastar mana atoa com conjurações que ela derrotaria facilmente, então melhor usar mana de maneira útil.”

Brighid abriu um sorriso.

Não era um sorriso comum, era algo perverso.

Todos eles, sem exceção, saltaram para trás após sentirem um arrepio na espinha.

— Qual a graça? — indagou Le Jun.

Sem que Brighid fizesse sinais de magia, um círculo mágico se formou atrás dela. De dentro, saiu uma mão, e logo depois um corpo avermelhado com quase cinco metros de altura.

Tinha um corpo peludo, o rosto era áspero e rígido. Era fácil de se pensar que aquela criatura estaria usando uma máscara ritualística. Os cabelos daquilo eram espetados e longos e, em sua testa, iam dois grandes chifres.

A criatura se sentou como um cão.

— Senhora… — disse a criatura em um tom gutural arranhado — Já faz algum tempo, como tem passado?

Os caçadores de monarcas ficaram atentos àquela coisa. Era uma criatura horrível, e mesmo assim, não parecia ter mana alguma.

— Estou bem! — respondeu ela — Ainda guarda a espada de Nion?

— Claro, minha senhora…

A criatura apoiou a mão no queixo e as suspeitas se confirmaram, ele havia levantado uma máscara até a altura do nariz. Abriu a boca e mostrou os dentes serrilhados.

Gradualmente, o cabo de uma espada saiu da boca da criatura. O guarda mão era totalmente enegrecido, mas a lâmina era feita de um material diferente, parecia cálcio coberto por uma camada fina de esmalte.

— Um dente? — indagou o ruivo.

Brighid pegou a espada pelo cabo e cortou o ar duas vezes com ela para se acostumar, enquanto mantinha os olhos na lâmina.

Era uma espada grande e curvada, como uma Nagakiba. Apesar de grande e pesada, aquela espada tinha o peso de uma pluma para quem a portasse.

Ela olhou para a criatura.

— Pode ir.

— Obrigado, senhora.

Após uma reverência, a criatura voltou para o círculo mágico e o círculo se desfez em pequenas partículas.

Drez’gan havia lhe dado a espada de presente, uma espada que pertenceu outrora a Nion, um antigo rei do abismo. O poder daquela lâmina era tamanho, que ela não poderia ser guardada em uma bainha normal, então, um demônio glutão foi criado especialmente para guardar a poderosa espada.

O glutão era uma criatura do abismo do mais baixo nível, então não era problema ele atravessar planos, já que sua mana era pífia.

Brighid apontou a comprida espada na direção de Le Jun e mana do vácuo a percorreu, distorcendo até mesmo o espaço entorno da lâmina.

Aquela era uma espada feita das presas de Bahamut, o dragão platina. Um dragão que desapareceu antes mesmo de Tiamat, a rainha dos dragões malignos.

Brighid não fazia ideia de como Drez’gan havia conseguido algo assim, mas ela não recusou o presente.

O sorriso de Brighid era genuíno.

Estava ansiosa de enfrentar todos eles, já que havia reconhecido-os como oponentes.

“Acredito que Colin está me influenciando mais que o normal…”

Após suspirar, Brighid apoiou o pé direito na frente, segurou o cabo da espada com as duas mãos e a cingiu acima da cabeça, dobrando bem os cotovelos.

Le Jun também mudou sua posição de guarda, assumindo a guarda baixa. Ela deixou a ponta da espada apontada para baixo.

“Arrancarei essas suas mãos delicadas, fada!”

Ambas mantinham o olhar fixo na outra.

— O que está esperando? — provocou Le Jun — Está com medo, fada?! É bom que tenha mesmo!

— Sinto muito por isso…

— Sente muito? Está se achando dem-

Os olhos de Le Jun se arregalaram com a visão que teve. Assim como Anton, ela sentiu ser uma formiga frente a um titã disposto a parti-la ao meio junto de metade daquela floresta.

— Merda!

O ar entorno da fada vibrou e, parte dele ficou distorto.

Diferente de Anton, ela era um monarca arcano do vácuo. Brighid continuou olhando para Le Jun e, em um rápido balançar de espada, ela cortou o ar, dividindo parte dele em dois.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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