Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 165 – A Santa

Do topo de uma enorme residência, o sacerdote Heien observava com alegria a capital queimar. O som dos gritos e os barulhos de explosões se tornavam melodia em seus ouvidos.

Fazia tempos que desejava o fim de Ultan, mas não fez nada esperando que Ultan colapsasse sozinha.

Com a falta de soldados, de mão de obra e de comida, ficava cada vez mais evidente a queda de Ultan. Primeiramente, era um império corrupto que vivia da arrecadação exorbitante de impostos para a compra de terras por debaixo dos panos, favorecendo um pequeno grupo de oligarcas alinhados ideologicamente com o imperador.

O império mais poderoso do continente estava desmanchando bem na sua frente, levando todos os aliados junto.

— Que maravilha! — Heien abriu os braços, sentindo a brisa agressiva do vendaval — E pensar que desejamos isso todos os dias a nossa Deusa! Enfim, nossos pedidos foram atendidos!

— Senhor Heien! — Chamou umas das freiras ao seu lado — Não é melhor irmos? Temos que verificar se está tudo bem com a diocese.

— É claro que está tudo bem, o ataque está acontecendo apenas aqui. — Heien virou-se de costas — Vamos retornar para casa e organizarmos tudo com o arcebispo. Após hoje, duvido que sobre algo do império.

Heien desapareceu na escuridão junto as freiras.

Boom!

Ultan estava de pé, no topo de uma torre de vigia, tendo um panorama da situação em que seu império se encontrava.

Um dos canhões disparados por um galeão passou bem ao seu lado, mas ele não moveu um centímetro sequer. Continuou parado com o olhar fixado nos céus.

Alguém estava se aproximando.

Andando pelos céus, Bledha vestia seu clássico vestido preto, usado majoritariamente em velórios. A cada passo que dava, se formava um pequeno círculo mágico enegrecido abaixo de seus pés.

Enfiando as mãos no bolso do vestido, Bledha encarou o grande Ultan de cima. O vestido dela se agitava com o toque da brisa gelada junto a seu longo cabelo escuro.

— Finalmente nos encontramos, imperador.

Ultan ergueu a mão e conjurou uma poderosa lâmina de fogo que brilhava intensamente.

— Quem é você?

— Bledha Shattermast! — curvou — A seu dispor.

Num movimento abrupto, o grande imperador retirou sua capa vermelha aveludada e a deixou ser levada pelo vento.

— Você tem muita coragem para vir até aqui e tentar me matar pessoalmente.

Bledha olhou para baixo, vislumbrando a destruição da capital.

— Parece que acabou para o grande império de Ultan. Uma passagem bem curta. Garanto que daqui a cem anos, você será esquecido pela história, como outros grandes impérios foram.

— Hehehe está falando de toda destruição que seu pessoal causou? Pensa que me venceu? Isso não é problema para mim. Posso reconstruir tudo de novo, como fiz há vinte anos. — Ultan também começou a caminhar no ar. Passou bem ao lado de Bledha e continuou subindo. — Vamos lutar lá em cima, não quero destruir o que restou da minha cidade.

Bledha apenas sorriu.

Ambos continuaram caminhando, para além das nuvens.


Cof! Cof!

Leerstrom estava coberto por sangue, mas quem tossiu não foi ele, e sim Wilster, que estava rente a parede, com a espada de Leerstrom cravada em seu peito.

O Ubiytsy abriu um sorriso abatido e Leerstrom se afastou, deixando sua espada ali, cravada no abdômen de seu oponente, o segurando contra a parede.

Ambos estavam com os corpos fadigados e repletos de cortes, mas diferente de antes, Wilster não estava se curando, mas também não estava morrendo.

— Melhor ficar quieto dessa vez, primogênito de Jack!

— Hehehe Monarcas arcanos da flama são sempre irritantes. Foi divertido lutar com você, fazia anos que ninguém me feria assim.

O comandante recuperou o fôlego e deu alguns passos para trás, se afastando do Ubiytsy.

— Aonde vai? — indagou Wilster — A capital deve estar destruída a essa altura, até suas filhas e sua mulher devem estar mortas, apodrecendo em algum buraco ou sendo cadelas de homens do Norte.

Leerstrom não deu ouvidos e continuou caminhando.

Apanhou uma espada qualquer no chão e analisou o corte, devolvendo-a bainha e a amarrando na cintura.

— Jurei servir a coroa, garoto. Enquanto os herdeiros estiverem vivos continuarei lutando. Você não entenderia, já que homens como você não tem honra.

— Hehehe comandante Leerstrom, você é mesmo um homem intrigante!

Leerstrom desapareceu no escuro sem dizer uma única palavra. Fazia tempo que ele não lutava daquela forma. Seu corpo sentia o cansaço e também a idade. Parou de se mover e encostou as costas na parede, respirando fundo.

Começou a considerar o que Wilster disse como possibilidade. Desejou ir atrás da linhagem real, mas seu lado paterno falou mais alto.

— Merda!

Após desvencilhar da parede, ele havia decidido para onde iria. Assim que deixou o coliseu, deparou-se com um cenário desolador.

Estátuas, monumentos, residências importantes, tudo estava destruído ou em chamas. O lado patriótico em Leerstrom era muito forte, então não deixou de lamentar com a cena não só da destruição, mas também do mar de cadáveres que cobria o chão como um tapete.

O comandante não tinha tanta mana, mas poderia contar com sua habilidade de esgrima, cujo conseguiu subjugar o filho mais forte de Jack Ubiytsy, um homem temido de norte a sul no continente.

— Socorro! — Um garoto berrou correndo ao longe com um bebê nos braços — Alguém me ajude!

Atrás dele, soldados Nortenhos empunhavam espadas.

— Volte aqui, pirralho! — O soldado levou a mão lá atrás e arremessou a espada.

Ting!

A lâmina foi rebatida por Leerstrom.

O garoto, de cabelo escuro e olhos amarelos, viu uma fagulha de esperança naquele homem loiro de bigode.

— Onde estão seus pais, garoto?

Franzindo os lábios, o garoto desviou o olhar.

— Entendo… Se afaste, mas fique por perto.

Mais homens do Norte os alcançaram as pressas. Com o caos da capital, os guerreiros Nortenhos estavam capturando crianças e mulheres para serem escravizados ou servirem a objetivos pessoais dos captores.

Ao todo, vinte homens cercavam Leerstrom.

— Não precisam se preocupar, é só um homem como todos os outros! Sem magia ele não pode fazer nada!

— Aaaa!

Um dos Nortenhos avançou portando um machado. O homem era grande com braços fortes, mas Leerstrom não se intimidou. Deixou o homem se aproximar e, antes de seu inimigo fazer algum movimento de corte, Leerstrom usou sua experiência e arrancou a cabeça do Nortenho em um movimento inesperado.

Os outros Nortenhos arregalaram os olhos.

Nenhum deles esperava um movimento como aquele.

— Ledo engano de vocês, rapazes. Guerreiros de verdade não dependem de magia para lutar, suas habilidades são mais que o suficiente.

Furiosos, Nortenhos avançaram contra Leerstrom todos juntos, mas nada adiantou.

O comandante fazia cada golpe valer a pena, atacando cada Nortenho fatalmente, até que não restasse mais nenhum deles. Quando terminou, mais quinze corpos haviam se adicionados ao mar de cadáveres.

O garoto observou tudo aquilo com os olhos bem abertos, sentindo-se protegido junto daquele homem.

— Se machucou? — O garoto fez que não com a cabeça — Ótimo, vamos seguir para a saída da capital. Meus homens devem ter conseguido evacuar boa parte dos cidadãos.

Boom! Boom!

Leerstrom ouvia canhões. Ao olhar para o alto, viu dois enormes galeões próximos, disparando incessantemente contra a capital.

— Garoto, se esconda, isso não vai demorar.

— S-Sim senhor!

Fazendo o que lhe foi ordenado, o garoto abraçou o bebê em seus braços e escondeu-se atrás de um grande destroço, encarando as costas de Leerstrom.

O comandante se concentrou com um suspiro e avançou em disparada pela rua destruída.

Saltou por alguns destroços e subiu em algumas residências, saltando entre elas até alcançar o ponto mais alto da redondeza.

O majestoso galeão estava há cinquenta metros de distância.

Leerstrom concentrou mana em suas pernas e saltou, caindo graciosamente no convés.

Alguns Nortenhos congelaram por um instante, perguntando-se como aquele homem havia conseguido saltar tão alto. Leerstrom não deixou que concluíssem seu raciocínio e avançou contra os tripulantes.

Woosh! Woosh! Wossh!

Decepou vários braços, pernas e cabeças, até alcançar o homem com as mãos no leme. Após o decapitar, Leerstrom virou o leme abruptamente, colocando o galeão em rota de colisão.

— Abandonar navio!

Alguns Nortenhos saltaram, mesmo que não tivessem chance de sobreviver. Leerstrom fez o mesmo, caindo em cima de um telhado de palha, o transpassando.

A queda foi suave o suficiente para que ele saísse pela porta da frente da casa e vislumbrasse dois enormes galeões se colidindo em pleno ar.

Foi uma explosão impressionante de se observar.

Os fragmentos do cristal mágico que faziam o galeão voar, fez com que estivesse assistindo a um show de fogos de artifícios, com explosões magníficas.

Leerstrom apertou o cabo de sua espada e correu pela rua, matando qualquer nortenho que se colocasse em sua frente.

— Garoto! — chamou — Onde você está?

Ele saiu de trás da pedra, mas não estava sozinho, haviam outros civis com ele que presenciaram a tal cena.

— S-Senhor Leerstrom… — balbuciou a velhinha com lágrimas nos olhos.

Outras pessoas também ficaram emocionadas. Nenhuma delas pensou que alguém viria para salvá-los, não com todo caos que Ultan se afogava.

Mais Nortenhos se aproximavam, cobrindo toda rua.

Era uma visão aterrorizante de se presenciar.

— Pessoal! — bradou o comandante — Fiquem onde estão, eu cuido disso!

Boom!

Casas foram varridas e algo acabou atingindo em cheio os Nortenhos, matando grande parte deles. Alguém saiu do meio da nuvem de poeira, nocauteando diversos bárbaros com os punhos nus.

Também haviam aqueles que usavam lâminas e um estilo de combate bastante único.

— Anton?! — Leerstrom abaixou a espada.

Junto de Anton estavam seus companheiros de guilda. Ele abriu um sorriso de canto ao avistar o tão temido Leerstrom com o corpo cheio de ferimentos.

— É mesmo você, comandante? Hehe, você tá bem detonado.

— Pirralho… — Ficaram de frente para o outro — Pensei que estivesse na enfermaria.

— Essa confusão toda me fez despertar. — Anton inclinou a cabeça vendo todo aquele pessoal por cima dos ombros do comandante — Meu pessoal limpará o caminho para você até a saída da capital.

Leerstrom assentiu e devolveu a lâmina a bainha.

— Viu minha esposa e minhas filhas pelo caminho?

Anton apoiou as mãos na cintura e abriu um sorriso.

— Minha pandoriana escoltou alguns habitantes para a saída. Não se preocupe, sua família está bem.

O sorriso de Anton se desfez quando ele viu algo brilhar abaixo de seus pés e seguir além.

— Isso… é um círculo mágico?

As pessoas entraram em pânico ao ver fendas abrirem entorno deles e Golens enormes as deixarem junto de andorinhas.

Em vez de se dispersarem, as pessoas se agruparam, confiando em Leerstrom e em Anton para os proteger, mas eles não precisaram fazer nada. Andorinhas pousaram nos ombros dos feridos, curando seus ferimentos mais graves e desfazendo em partículas posteriormente.

Anton jamais esqueceria a forma daquela mana que abraçava parte da grande capital, não após senti-la de perto.

— Leerstrom! — chamou Anton — Minha Santa está nos ajudando, está nos salvando!

— Sua Santa? — Leerstrom sabia que já havia sentido aquela mana antes.

“A mana da companheira de Samantha!”

Após dobrar os joelhos, Anton saltou para cima de um telhado e abriu os braços.

— Brighid, a santa está nos protegendo! — bradou em euforia — Sintam-se privilegiados por sentirem essa mana gentil. Ela nos curou e enviou seus soldados para nos ajudar! Não desperdicem essa segunda vida que a Santa deu a vocês!

Após o último encontro com Brighid, Anton passou a enxergá-la de outra forma. Sua adoração a ela fazia sentido para ele desde que sentiu aquele poder que não poderia comensurar.

Brighid o deixou viver, curando também seus ferimentos. Sua vida a partir daquele ponto havia ganho um novo sentindo.

Ele estava disposto a espalhar para o mundo sobre Brighid e seus milagres como uma forma de evangelho e, após curar tantas pessoas de uma única vez sem nem ao menos tocá-los diretamente, novos adeptos deram ouvidos as palavras de Anton como se ele fosse uma espécie de profeta.

O toque daquela mana gentil e o calor que sentiram foi como se uma mãe abraçasse um filho, o envolvendo em afago.

— Que os Deuses abençoem a Santa! — urrou um dos homens e outras pessoas repetiram o que foi dito.

Até mesmo a concepção de fé de Leerstrom havia sido abalada. Ele não conseguiria ignorar o que estava acontecendo, o poder descomunal que sentia vir do coliseu não era o poder de um ser daquele mundo, era algo quase divino.

“Se minha Samantha está junto de alguém com um poder tão assustador, então ela deve estar bem.”

— Certo! — Leerstrom avançou — Me sigam!

Picture of Olá, eu sou Stuart Graciano!

Olá, eu sou Stuart Graciano!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥