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Capítulo 168 – Pai e Filho

Pai e filho continuavam encarando um ao outro.

Coen abriu um sorriso de canto.

— Você cresceu, garoto. — Ele olhou para Leona e ela se colocou na frente de Colin. Ficou de quatro e, tanto o cabelo quanto os pelos de suas caudas ficaram ouriçados enquanto ela rosnava — Dividiu a alma com um pandoriano de classe especial, quem diria que chegaria tão longe.

Colin tinha tantas perguntas, mas não conseguiu formular nenhuma.

— Vamos conversar — disse Coen — Respondei qualquer pergunta que tiver.

Colin engoliu o seco.

— Como você…

Coen deu as costas, caminhando para a entrada de uma casa. Passou pela porta destruída e chegou até a sala de estar que estava um caos. A família que morava ali parecia ter saído às pressas.

A aparição repentina de seu pai, alguém que ele jurou estar morto, o fez esquecer de sua busca pelas crianças. Quase como se fosse hipnotizado, ele seguiu o seu pai.

— Mestre! — Leona se colocou na frente dele. Seus instintos diziam que aquele homem não era confiável — Não podemos confiar nele!

— Ele é o meu pai!

— Não importa quem ele é, esse homem é perigoso, por favor, não vá!

Colin levou o alerta de Leona em consideração, mas ele queria respostas sobre o que ele era, sobre sua mãe, sobre suas irmãs. Aquela era a chance de obter tudo aquilo.

Ele havia conversado com Eilella sobre o passado de sua mãe, e que seu pai estava envolvido de alguma forma. Apesar de surpreso, ele não baixaria a guarda.

— Só conversarei com ele, mas me manterei atento.

Leona desviou o olhar.

— Entendo o que está sentindo, mas não se deixe ser seduzido por ele!

— Vai ficar tudo bem, confia em mim!

Leona assentiu.

Seguiram para a residência que Coen havia adentrado e ficaram na porta, observando Coen sentado na cadeira de madeira nos fundos.

Colin e Leona deram alguns passos, mas não se aproximaram demais.

— Está com medo do seu pai? — Indagou Coen com um sorriso de canto.

— Como você está vivo?

Coen assentiu.

— Soube que se encontrou com Saphielle. Aquela fedelha ainda insiste em me desobedecer.

— Responda minha pergunta!

— Oh! Aquele bebe chorão finalmente se tornou um homem?! Como estou vivo, não meio óbvio? Sou um errante como você. Depois que você alcança o apogeu, transcender o tempo se torna uma tarefa simples.

“Leona tem razão, ele não é confiável.” 

— Por que você e a mamãe nunca me disseram o que eu era?

— Por causa de suas irmãs.

Colin franziu o cenho.

— Como assim?

— Sua mãe pensou que suas irmãs estavam mortas, acometidas de uma doença. Então vaguei pelo cosmos e encontrei à terra. Um pequeno planeta bárbaro forjado no sangue de sua própria espécie. Séculos se passaram antes que você viesse ao mundo, e sua mãe decidiu deixar tudo para trás, criando você como um terráqueo, esse foi o meu maior arrependimento.

Colin engoliu o seco.

— Por quê?

— Você cresceu fraco, um bebê chorão que queria a todo momento o colo da mãe, e ela mimou você demais, a ponto de se tornar um homem deprimente. Com sete anos suas irmãs conseguiam fazer coisas incríveis, já você, com sete anos, não conseguia ficar na escola por cinco horas sem que ligassem para casa dizendo que você estava chorando sentindo saudades da mãe. Meu único filho homem reduzido aos mesmos terráqueos almofadinhas que cresceram com ele.

Colin permaneceu com o cenho franzido.

— Não é novidade que você nunca gostou de mim.

— Isso era no passado, hoje em dia você se tornou alguém capaz de chamar minha atenção. — Coen ergueu-se da cadeira — Ehocne me disse que você havia mudado, que era um homem feito agora. Conseguiu fazer uma das apóstolas de Drez’gan, sua esposa, e o melhor, soube que criou uma das minhas caídas por mim.

Afastando-se da cadeira, Coen deu alguns passos para o lado, encarando a estante de livros bagunçada.

— Suas caídas? — indagou Colin — Do que você…

— Qual o nome dela mesmo? — Coen estalou os dedos — Safira, né? A jovem Asmurg que enxerga você como um Deus. Bom trabalho em fazer companheiras tão fortes assim, me deixou orgulhoso.

Coen puxou um livro empoeirado e começou a folheá-lo.

— Os caídos me obedecem.

Colin deu um passo para trás.

“Os caídos… Obedecem a ele? Obedecem ao meu pai?”

— Essas duas garotas, os filhos do imperador, o filho de Jack Ubiytsy, os nobres, e até mesmo aqueles com talentos florescendo. Fiquei surpreso que um grupo tão notável siga alguém como você. — Coen fechou o livro num baque — Vim propor um acordo. Se você se juntar a mim, prometo esquecer o passado e recomeçar, o que me diz?

Colin transformou Claymore em espada, curvou o corpo e abriu levemente as pernas, mirando o pai com um olhar assassino.

— A invasão foi ideia sua?

Coen devolveu o livro a estante.

— De quem mais seria, Bledha? Aquela mulher é meu fantoche, faz tudo que eu mandar, assim como o resto dos caídos.

Coen sentia a mana de Colin transbordar.

— Acabei de encontrar o corpo de pessoas com quem me importo, e você vem me dizer que isso foi ideia sua? Acredita mesmo que eu entraria em um acordo com você depois do que me disse?

— Você passou tempo demais com sua mãe, ficou empático com gente inferior. Você tem o sangue ancestral da sua mãe e o meu sangue, o sangue dos amaldiçoados.

— Amaldiçoados?

— Isso não importa. Hoje é um dia decisivo, o primeiro dia de um futuro glorioso.

— Por que atacou a capital? Por que está fazendo tudo isso?

Coen deu mais um passo e Colin recuou dois.

— Já ouviu a história de como o véu caiu há dois mil anos? Dizem que houve uma guerra entre os Altmers e os Elfos Negros. Houve um grande genocídio de ambas as raças, centenas de seres poderosos morrendo de uma única vez, consegue imaginar isso? — Coen deu mais um passo — Quando um ser morre, por menor que seja, a mana é absorvida pela grande árvore que sustenta tudo, mas os milhares de manas retornando de uma única vez a sobrecarregou. Foi então que o espaço rachou, começando da Nebulosa de Órion até a nebulosa de Carina.

Coen abriu os braços e fechou os olhos, inspirando fundo. Ele parecia viver todo aquele momento.

— Foi então que tudo colapsou, trazendo alguns sortudos para esse lugar, para esse plano.

— Como você sabe disso tudo? — indagou Leona.

— Eu estava lá quando aconteceu. Era nítido a qualidade da mana desse plano. Foi então que conheci Volfizz, e ele tinha uma forma de mana peculiar. Ele era um abençoado pela árvore, assim como sua irmã Ehocne e sua cadelinha, Safira. Alguém tão forte como Volfizz nasceu alguns séculos depois do grande genocídio, e posteriormente arquitetei algo para que o véu caísse novamente, mas não funcionou.

Colin engoliu o seco.

— Do que está falando?

— Massacrei os Elfos da floresta, os Elfos negros, vampiros, matei e prendi dragões, fiz até mesmo duendes e gnomos serem extintos, mas mesmo assim, o véu não caiu. Eu não fazia ideia onde havia errado, até que os caídos começaram a nascer em menor intervalo de tempo, mas não só isso, os usuários de magia desta era são esplêndidos.

A mente de Colin não conseguia assimilar por completo tudo que seu pai havia dito, a única coisa que entendeu, foi que tudo que acontecia atualmente era culpa do homem na sua frente.

As guerras, genocídios, fome, miséria, tudo isso tinha um culpado.

— O processo para o véu cair já começou, não há como pará-lo. Muitos usuários de magia poderosos morreram essa noite, é só questão de tempo até todo esse reino virar pó, por isso filho, se junte a mim e daremos o próximo passo rumo ao futuro!

— Futuro? Que futuro é esse que você quer, se tudo será destruído?

— Fique ao meu lado e você verá!

Diferente de outros inimigos que Colin enfrentou, seu pai era alguém completamente diferente. Mesmo frente a ele, Colin não achou aberturas para avançar, e isso o fez ficar em uma postura mais defensiva.

Ele havia construído tanta coisa ao longo do ano que o discurso de seu pai jamais alcançaria seu coração, não importava o quão inflado fosse.

“Ele é o meu pai, mas… por culpa dele Potter e Deb estão mortos, por culpa dele que as pessoas estão sofrendo o inferno. Tenho que matá-lo, aqui e agora”.

Colin apertou o cabo da espada e toda sua intenção assassina foi sentida por Coen como um açoite violento.

— Então você escolheu seu lado, garoto… Bom, soube que a apóstola de Drez’gan está grávida de alguns fedelhos seus — Coen abriu um sorriso de canto — Após acabar com você, a matarei junto daqueles vermes em seu ventre.

A cólera de Colin era mais que perceptível, mas ele manteve a calma enquanto analisava o seu pai.

— Você disse que está vivo desde a queda do véu — provocou Colin — Teve tempo de sobra e ainda não conseguiu concretizar o seu plano, seja lá qual ele for. Admita, você é um fracasso como pai e como líder dos caídos, até Saphielle percebeu isso.

Coen ergueu o braço direito na direção de Colin.

— A vadia da sua mãe espera você no pós-vida.

Cabrum!

Um majestoso relâmpago carmesim deixou o círculo mágico de Coen e avançou contra Colin, que tentou absorver aquela magia, mas não conseguiu, sendo enterrado no que havia sobrado da entrada de uma casa do outro lado da rua.

Ambos estavam bem. Seus corpos resistentes não deixaram que se ferissem.

— Impressionante que você seja quase um monarca da pujança em tão pouco tempo. Até um lixo como você acabou se beneficiando do sangue.

Colin deixou seu ódio fluir lentamente por todo seu corpo. Aquele era seu pai, mas Colin não se martirizou por ponderar dar cabo da vida de seu progenitor.

— Mamãe foi banida por culpa sua?

— Pensei que alguém tão esperto quanto você já tivesse entendido tudo. Sua mãe foi uma peça essencial na criação de algo maior.

Coen desceu as escadas destruídas da soleira.

— Peça?

— Com a caída da flama, o jogo de verdade começa.

Ele parou a metros de Colin.

— Não deixarei você se aproximar de Safira! Nunca!

— É você quem vai trazê-la até mim. — Coen ergueu o braço direito — Você enfrentou muitas pessoas poderosas até agora, não é?! Colin, o assassino do bakurak, Colin, o errante, Colin, o Elfo Negro, Colin, aquele que vaga entre os vampiros. A verdade, é que você nunca enfrentou um ser realmente desafiador em combate.

Leona puxou sua adaga ante magia e outra que amplificava a mana na lâmina. Colin empunhou Claymore na forma de espada e na outra mão empunhava a lâmina dançarina.

A pandoriana trajava sua túnica de agilidade que Colin havia a dado de presente, a deixando ainda mais rápida que seu mestre.

“Uma forma de mana tão limpa quanto sombria” pensou Coen “Consigo sentir essa pressão brutal emanar tanto de meu filho quanto de sua pandoriana. O talento dele é parecido com o das irmãs, é o meu filho, afinal”.

— Leona! — chamou Colin — Esse é o tipo de situação onde nenhum de nós precisa se segurar. A maioria das pessoas da vizinhança já evacuou. Esqueça toda situação entorno e foque apenas nesse homem. — Colin abriu um sorriso de orelha a orelha — Vamos lutar para matar!

Aquelas palavras deixaram os lábios de Colin com uma satisfação palpável.

— Palavras animadoras, filho, mas não passam disso — Coen abriu um sorriso de canto — Mostrarei a você o poder total de um monarca do céu.

Cabrum!

O ar vibrou, e Coen sentiu aquela intensão assassina na pele. Seu filho e sua poderosa pandoriana avançaram.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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