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Capítulo 174 – Amadurecimento

Deitado ao lado de Safira, Colin limpou as lágrimas e sentou, encarando a companheira com o rosto sangrando em demasia. Limpou as lágrimas do rosto e ficou de pé.

— Alunys! — berrou — Ainda está aí?

Ela saiu de trás do muro de uma casa ao longe ainda com Leona nos braços. Se aproximou de Colin e viu Safira quase irreconhecível.

Após franzir os lábios, ela desviou o olhar.

— Senhor…

— Ainda tem o cordão que Samantha comprou para você?

— S-Sim…

Colin estendeu a mão.

— Me entregue, vou curá-la.

Alunys ajeitou Leona no braço e, assim que tocou o pingente, um portal se abriu atrás dele.

Bam!

 No mais puro reflexo, Colin cruzou os braços na altura do rosto, defendendo-se de um golpe pesado.

Após derrapar alguns metros, desceu os braços vendo os caídos.

Ele conhecia Walorin de algum lugar, mas quem realmente chamou sua atenção foi Ehocne. As tatuagens, o tom de pele, os olhos amarelos, para ele estava mais que claro quem era aquela mulher.

Ehocne desviou o olhar primeiro.

— Já faz um tempo, garoto! — disse Walorin — É uma pena nos encontrarmos nessas circunstâncias, mas fico feliz em saber que ainda está respirando!

Colin o ignorou completamente.

Var’on pegou Safira e a colocou no ombro. Apanhou também a foice dela e jogou para Walorin.

O rachado no céu ficou maior, indo de ponta a ponta naquela imensidão visível. Logo, um portal se abriu no céu, e dele, vários dragões começaram a sair.

Var’on e Walorin adentraram o portal atrás deles.

Ehocne cruzou olhares com Colin e seu semblante sério entristeceu-se.

— Sinto muito…

— Espera!

Ehocne desapareceu junto ao portal antes que Colin pudesse fazer algo.

Os dragões não demorariam a chegar.

— Alunys! Ainda tem mana sobrando?

— U-Um pouco!

— Consegue sentir a mana de Brighid?

Ela cerrou os olhos e se concentrou.

— S-Senhor, não consigo…

“Tsc…”

Rooar!

Um enorme dragão cinza estava se aproximando.

— Merda! — Colin transformou Claymore em um anel e pegou Alunys no colo — Se segura!

— T-Tá!

Ele dobrou os joelhos e seguiu em disparada pela rua.

Sua mana estava perto do fim, e ele não tinha certeza se conseguiria lutar contra um dragão naquele estado, então adentrou uma casa aos pedaços e ali se escondeu.

O enorme dragão voou baixo, fazendo as casas de madeira sacudirem sem parar.

Safira havia sido levada, seus amigos estavam mortos, as crianças estavam desaparecidas e ele não fazia ideia do paradeiro de Brighid.

Mais e mais dragões se aproximavam.

Alguns pousaram por perto, comendo os corpos em putrefação. Colin e suas companheiras continuaram quietos, esperando eles saírem dali.

Enquanto isso, mais próximo ao centro, a queda constante de monstros que pesavam toneladas fez parte do chão ceder. Cedeu tanto que foi possível ver o poço, e seus habitantes, que até então estavam a salvo no subsolo, começaram a sentir o perigo que vinha da superfície.

Tudo começou a ceder rapidamente.

Pedregulhos enormes despencaram, matando incontáveis civis. Gigante, o anão, observava a cidade que demorou anos para construir ser arrasada em segundos.

— Merda! — berrou para seus homens — Peguem o meu dinheiro, seus filhos da puta! Vamos sair daqui antes que sejamos esmagados!

Tarde demais.

Um pedregulho com quase cem metros de diâmetro despencou, esmagando o gigante, seus homens e boa parte da população do poço, que lentamente era enterrada em entulhos.

Cada resquício de Ultan esvaísse a medida que o amanhecer se aproximava.

[Minutos antes da aparição dos dragões].

Meg assumia a dianteira segurando as mãos de Brey e Bill. Ela não fazia ideia do que havia acontecido com seu irmão, e ela não teve tempo de pensar na cena horrível que foi a morte de Deb.

As ruas estavam repletas de pessoas fugindo, e Meg avistou a mesma cena se repetir bem na sua frente, quando um nortenho com a pele de urso sobre a cabeça, desceu seu machado direto no pescoço de uma garota.

— Por aqui! — Ela dobrou a esquina e viu a porta de uma casa aberta — Vamos entrar!

Assim que todos passaram, ela empurrou uma cadeira até a porta, bloqueando a passagem. Os mais novinhos também se esforçaram para pegar outras coisas e colocar frente a porta.

— Tobi! — disse Meg — Vá até à cozinha e olha se tem alguém na casa! O resto de vocês fica aqui comigo!

Tobi assentiu.

Meg foi até a janela e ficou na ponta dos pés, observando aquele cenário catastrófico. Os Nortenhos ainda continuavam massacrando qualquer um pelo caminho.

Boom!

Ela se abaixou protegendo a cabeça.

O tiro disparado pelo canhão de um galeão explodiu na residência da frente. Tanto civis quanto nortenhos haviam sido atingidos.

Bill e Brey estavam de mãos dadas escondidos debaixo de uma mesa de canto. Ambos choravam baixinho.

— Melyssa! Me ajuda a empurrar isso!

Meg e Melyssa foram até um armário de madeira onde ficavam algumas xícaras decorativas e o empurraram até a janela.

Tobi foi até a cozinha iluminada pela luz fraca de orbes e abriu várias gavetas procurando a maior faca que conseguiu. Aquela era a casa de um nobre, então o tamanho dela se destacava.

Assim que apanhou a maior faca que encontrou, dirigiu-se até a escada do segundo andar, coberta por um tapete vermelho. Segurou firme o cabo da faca e continuou ouvindo explosões e gritaria que vinham do lado de fora.

Alcançou o final do segundo andar e viu um pé descalço.

Engoliu o seco e subiu mais alguns degraus, vendo o corpo de um homem por volta dos quarenta anos com um machado cravado no pescoço.

— Anda logo com isso! — Ele ouviu uma voz advinda de uma porta aberta no final do corredor — É a minha vez!

Ele tirou o machado da garganta do cadáver, mas não conseguiu empunhá-lo, era pesado demais.

Deixou o machado ali e esgueirou pela parede.

Abriu a porta de outro quarto silenciosamente e o adentrou. Agachou e olhou ao redor, foi quando escutou algo raspando no chão.

“Tem alguém aqui?”

Rastejando como uma cobra, ele foi até uma cama longa de lençóis grossos. Apertou o cabo da faca em sua mão e com a outra mão jogou a coberta para o lado.

Viu outras duas crianças, um menino e uma menina, deviam ter a idade de Brey. O garoto tinha pele clara, mas seu cabelo e seus olhos eram escuros. A menina tinha a pele escura, cabelo branco e os olhos eram rosados.

Os olhos daqueles dois exalavam desespero.

— Shhh! — Tobi apoiou o indicador frente aos lábios.

Os dois assentiram.

Tobi se esgueirou até a porta, pegou a chave, fechou a porta e a trancou fazendo o mínimo de som possível. Deslizou as costas pela parede até alcançar o quarto com a porta aberta. Olhou para dentro e viu dois nortenhos nus da cintura para baixo. No chão estava uma mulher nua. Tobi não conseguiu encará-la muito bem, mas viu sangue próximo a cabeça dela.

Aquela mulher não se mexia, nem mesmo emitia nenhum som.

“Está morta?”

— Minha vez, sai daí!

O nortenho mais alto se afastou, e o mais baixo ficou por cima da mulher, fazendo movimentos cadenciados de vai e vem.

— Ainda continua bem quente!

— Anda logo com isso, temos que continuar a invasão.

— Tá, tá, já vou terminar!

O nortenho mais alto começou a vestir as calças e um alerta ascendeu na cabeça de Tobi. Meg e os outros estavam lá em baixo, se ele não agisse rápido, seus irmãos adotivos poderiam ter o mesmo destino daquele cadáver no fim do corredor, ou daquela mulher deitada no chão frio.

O grandão seria mais difícil, mas Tobi queria pegá-lo primeiro, aproveitar aquele momento de distração.

Sem ponderar muito as opções, ele apertou o cabo da faca e adentrou correndo o quarto.

O grandão subia as calças e sua espada estava afastada.

Crash!

Cravou a faca longa direto na virilha do grandão.

— Mas que merda!

Bam!

Um soco no rosto jogou Tobi do outro lado. Ele se chocou contra a estante e vários livros caíram em cima dele.

O Nortenho que estuprava a mulher arregalou os olhos. Ele não esperava que tivesse alguém naquela casa além daqueles dois.

— R-Raizu! — Ele se desvencilhou da mulher e começou a subir as calças. — Você está bem, cara?

O grandão suava sem parar tirando uma faca de quase trinta centímetros da virilha da veia femoral.

— Seu pivete de merda! — Raizu olhou para o companheiro magricela — Tá esperando o quê?! Mata esse filho da puta!

O magrelo olhou para as espadas encostadas no canto e disparou para pegá-las. Tobi também disparou em direção da espada e puxou a coberta da cama, jogando em cima do magrelo.

Bam!

Sem visão, o magrelo bateu com o rosto na parede e Tobi pegou a espada menor que era quase do tamanho de uma adaga, a desembainhou e apunhalou aquele homem que ainda debatia debaixo das cobertas.

As marcas de sangue apareceram debaixo do lençol e Tobi foi golpeado no estômago, mas ele ignorou a dor e avançou contra o homem mais uma vez, o apunhalando repetidas vezes até que ele parou de se mexer.

O grandão ainda suava demasiadamente para remover a faca de sua virilha. Tobi limpou o sangue que escorria do nariz e encarou aquele homem com olhos furiosos.

— Pivete de merda! Você está morto!

Scrash!

Ele retirou a faca da virilha e a empunhou enquanto estava ofegante.

— Vou te matar!

O homem avançou na direção de Tobi a passos desengonçados, e o garoto também avançou na direção daquele homem que era quase três vezes o seu tamanho. Ele não sentia medo, apenas dizia para si mesmo que se não fizesse nada, aquelas crianças lá em baixo seriam as próximas a serem mortas. Aquele era um homem grande, e ele sabia como atingi-lo, mesmo que fosse um plano terrível.

Tobi já tinha ouvido muitas histórias de Colin, o homem que considerava um pai, e em como ele costumava lutar contra inimigos mais poderosos.

“Tenho que mirar no pescoço, abdômen, ou na parte de dentro da coxa!”

O garoto deixou uma abertura do lado esquerdo intencionalmente.

— Morra, pivete de merda!

Woosh!

Tobi se esquivou dando um salto para o lado.

A faca passou de raspão pelo seu braço esquerdo, arrancando sangue. Sua sorte, era que ele era mais rápido, então avançou contra as pernas daquele homem.

Crash!

Ele o apunhalou no joelho, e o grandão desabou, deixando a faca cair.

— Arrg! Seu… Pivete de merda!

Tobi chutou a faca do grandão para longe e ficou a alguns metros daquele homem que agonizava de dor.

— Seu… Merdinha! Vou te matar!

O olhar de Tobi não parecia de uma criança que acabou de matar alguém pela primeira vez, era o olhar de um assassino a sangue-frio.

— O que foi, garoto? Não consegue matar alguém olhando nos olhos? Hehehe Eu sabia, sabia que você era um covarde!

— Tobi? — chamou Meg na porta vendo o nariz do garoto sangrar e o seu braço também sangrando sem parar — Minha nossa, você precisa de cuidados! — Ela parou de se mover quando viu aquele homem se arrastando até encostar na parede.

— Então você não está sozinho hehehe O que foi, vai deixar a garota fazer todo trabalho? Vem me matar, seu covarde!

Tobi continuou imóvel.

Aquele homem não parava de sangrar e lentamente foi ficando pálido.

— Tem duas crianças escondidas debaixo da cama no quarto do lado — disse o garoto jogando as chaves na mão de Meg — Pegue-as e as leve lá para baixo para ficar com os outros.

Meg percebeu a mulher nua no chão e engoliu o seco.

— E você, v-vai ficar aqui?

— Vou ficar até ele morrer.

— T-Tá!

Ela olhou o cobertor no chão cheio de rasgos e encharcado de sangue. Após isso, Meg deixou o quarto.

— Sabia, sabia que você não tinha coragem de me matar, é só um garotinho que deu sorte hehehe. Se quiser continuar protegendo a garota e quem estiver com ela, terá que começar a matar, garoto, olhando no olho de preferência.

Tobi continuou parado.

O corte em seu braço esquerdo fez o sangue encontrar seu caminho até começar a gotejar no solo.

— Qual foi, garoto? Vai me deixar sangrar até a morte? — Aquele homem começou a ficar ofegante. Seu tom de pele estava bastante pálido também.

Mais alguns minutos se passaram, até que a morte o alcançou.

Tobi o fitou no fundo dos olhos e desviou o olhar. Saiu do quarto, passou pelo cadáver no chão e parou no topo da escada. Sentiu o estômago embrulhar e golfou tudo que havia comido no jantar.

Tossiu mais algumas vezes e se sentou no topo da escadaria.

Limpou o resto de comida que estava no canto de sua boca e suspirou. Ao menos conseguiu proteger sua família por hora, mas uma invasão em larga escala estava acontecendo do lado de fora.

Desceu as escadas lentamente e encontrou todos próximos à porta. As outras duas crianças estavam juntas a Brey e Bill debaixo da mesa.

Meg fitou o olhar abatido de Tobi e engoliu o seco. O garoto apoiou as costas na parede e deslizou até sentar-se no chão.

Melyssa foi até o amigo e, com sua prótese de ferro, rasgou a borda de seu vestido, indo até Tobi e enfaixando sua mão ferida.

Nenhuma das crianças quis saber o que aconteceu lá em cima.

Boom!

Outra explosão veio do lado de fora, dessa vez foi em uma casa bem ao lado.

— Isso não vai acabar nunca?! — Meg olhou pelo canto da janela e entrou em desespero. O homem que apunhalou Deb estava de volta, caminhando tranquilamente pela rua — Droga! Ele está aqui, vão lá pro fundo, rápido!

— E-Ele voltou? — gaguejou Brey.

— Então o Potter… — balbuciou Tobi ainda encostado no canto.

Meg franziu os lábios e cerrou os olhos. Ela não queria pensar o pior, mas era inevitável. Não era hora para desabar em lágrimas, seus irmãos adotivos ainda corriam perigo.

— Vamos! — Ela pegou a mão das duas crianças e as arrastou para o fundo. — Todos vocês, pros fundos, agora! — As crianças correram — Tobi! Vem logo!

— Eu não vou. Vingarei Potter e senhorita Deb!

— Ficou louco?! Se ele… se ele conseguiu matar Potter, então você não tem chance!

— Sai logo daqui, Meg, eu quero ficar.

— Não vou te perder também! — Meg pegou no pulso de Tobi — Vem!

— Me solta!

Bam!

A barricada que Meg fiz foi completamente destruída.

Ver aquele homem mais uma vez foi desesperador. Elnan deu um passo para dentro e encarou as duas crianças em um canto.

— Não tem como escaparem de mim. — disse sorrindo.

Tobi ficou na frente de Meg, protegendo-a.

— Que corajoso — debochou Elnan — Seu amigo lá atrás fez a mesma coisa, e o que acha que aconteceu com ele? — Ele fitou a adaga na mão de Tobi — Ao menos você está usando uma arma de verdade.

Tobi apertou o cabo da adaga e avançou contra Elnan.

— Aaaa!

Meg tentou segurá-lo, mas não conseguiu.

Elnan enfiou a mão no sobretudo e retirou também uma adaga, abrindo um largo sorriso.

— Se quer tanto assim ser abatido, porquinho, pode deixar que eu mesmo cuido disso!

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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