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Capítulo 176 – Uma nova era

Dragões continuavam a cair um por um, no centro da cidade. Abalos sísmicos eram sentidos incessantemente. Naquela altura da noite, cerca de cento e cinquenta dragões foram liquidados por Graff, enquanto a outra parte dispersou.

Não faltava muito para amanhecer, se Graff não fosse rápido, o sol o destruiria.

O vampiro pousou no topo de uma torre caindo aos pedaços e recolheu as asas. Seu estado de frenesi já havia passado quando ele se deu conta que estava clareando.

— Caídos de merda! Fugiram de medo de mim!

Ele dobrou os joelhos e saltou para onde Lestat e Orlock estavam. Os dois haviam liquidado cerca de cem dragões. Ao redor dele carcaças daquelas feras imponentes apodreciam.

— Onde está a apóstola do Deus Morto?

Lestat engoliu o seco.

— A deixamos ir.

— Tsc! Podíamos ter reduzido as forças do Deus Morto drasticamente, mas vocês decidiram ter compaixão. Que seja, vamos sair daqui antes do sol nascer.

Os vampiros cruzaram olhares.

— O senhor não está… bravo?

— Por que eu estaria? Matei muitos dragões hoje, minha força está bem maior do que quando chegamos aqui. Aquele errante na sua tentativa de derrubar o véu acabou fortalecendo a gente. Como eu ficaria bravo com um presente tão generoso hehehe.

Graff estava certo.

Ao matar um dragão, quem o matou acabava absorvendo parte da mana da criatura. Após matar tantos, a mana de Graff havia aumentado 40%, e a dos vampiros cerca de 10%.

— Vamos sair daqui!

— Sim, senhor!


Os primeiros raios de sol alcançavam o que um dia já foi um glorioso império. O cheiro de sangue começava a atrair os lobos, que entravam na capital em números excessivos. Haviam tantos corpos que eles dividiam o banquete com corvos e abutres.

De pé, longe da capital, Coen aproveitava o nascer do sol. Apesar de o véu não ter caído como planejado, ele estava satisfeito com o resultado.

Tap!

Alguém havia se aproximado por trás dele.

— Você demorou.

Bledha havia retornado.

Seu vestido negro estava queimado por grande parte, expondo seu abdômen, ante braço e toda perna direita. Seu rosto também estava com queimaduras leves, e seu cabelo, que normalmente era liso como vidro, estava bem bagunçado.

— Ele era mais forte do que pensei. — Ela jogou a cabeça de Ultan aos pés de Coen.

— Foi o que imaginei. Recuperou as pedras?

Ela segurava uma coroa dourada enfeitada por joias.

— Aqui estão. — Jogou para Coen e a apanhou sem olhar para trás — Era isso que amplificava a força do imperador. Porém, me pergunto, onde um homem como ele conseguiria algo assim?

— Tenho um palpite. — disse enquanto arrancava as pedras presas na coroa — As três bruxas da floresta.

Bledha ergueu uma sobrancelha.

— Por que elas fariam isso? — indagou.

Assim que arrancou todas as pedras, Coen jogou a coroa vazia ao lado da cabeça do imperador.

— Não sei, talvez quisessem me atingir de alguma forma, ou o motivo fosse outro. Elas sempre foram nebulosas quanto aos seus objetivos. Enfim, retornaremos para casa, Ehocne conseguiu pegar a garota da flama.

— E quanto a Graff, não íamos selá-lo?

— Não é mais necessário, não por enquanto.

Bledha notou algo de diferente em seu mestre.

— O que aconteceu com Volfizz?

— Ele está morto.

— O quê? — Os olhos dela arregalaram — Como?

— A apóstola do Deus Morto o matou, mas não se preocupe, consegui absorver a essência dele antes que ela retornasse para a grande árvore.

Bledha franziu os lábios e desviou o olhar.

— E onde ela está?

— Não sei, a mana dela desapareceu completamente horas atrás. — Coen enfiou as pedras no bolso e ergueu o braço direito conjurando um portal — Vamos voltar, você precisa descansar.

Ainda cabisbaixa, ela assentiu.

— Certo…


Com os primeiros raios da manhã batendo em seu rosto, Kurth despertou. Ele sentiu a grama esponjosa abaixo dele e levantou rapidamente, sentindo uma dor lacerante no braço esquerdo. Assim que virou, percebeu que seu braço ali não estava.

— Finalmente acordou. — Disse a voz doce de uma mulher — Pensei que não fosse sobreviver até o amanhecer.

Ele virou o rosto, vendo uma mulher bastante atraente sentada em cima de uma pedra.

— Q-Quem é você? — ele olhou ao redor, dando-se conta de estar no meio de uma floresta — A invasão, meus amigos, onde estão todos?

Ela abriu um sorriso provocante.

— Amigos? Fala daqueles que foram fatiados como porcos?

Kurth cerrou os dentes e desviou o olhar. Ele se lembrou de tudo antes de desmaiar, se lembrou de sua negligência contra Safira e como tudo aquilo terminou.

— Que merda! — socou o chão com o braço que lhe restava. — Foi culpa minha… eu… eu devia…

— Devia o quê? Estar morto? — Ela se ergueu da pedra e foi até Kurth, o encarando de cima — Foi um milagre você estar vivo quando cheguei, então não seja um mal-agradecido chorão, erga a cabeça e agradeça por ainda respirar.

Ele engoliu o seco.

— Por que me salvou?

Ela agachou na altura de Kurth, o encarando nos olhos.

— Você ainda respirava com um ferimento tão grave quanto aquele. Quem sabe você esteja destinado a algo grandioso?! É nisso que estou apostando. — Ela se ergueu — A propósito, me chamo Nezludra, e você?

— Kurth…

— Muito bem, Kurth, por que não vem comigo? Consigo cuidar de você até que esteja completamente curado.

Ele engoliu o seco.

— Tenho que encontrar o resto dos meus amigos…

— Bobinho, pensa em voltar a cidade? Sem um braço e machucado desse jeito você não resistiria por muito tempo. Aquele lugar deve estar cheio de salteadores, animais selvagens e todo tipo de louco que tenha sobrado.

Kurth não conhecia aquela mulher, mas confiou nas palavras dela. Apesar de ser uma estranha, ele estava com a guarda completamente baixa. Talvez fosse por ela salvar sua vida, ou por que ela era uma mulher atraente demais.

— Então tudo bem…

— Eba! — ela bateu palmas — Vem comigo, minhas irmãs vão adorar conhecer você.

— Suas irmãs?

— Sim, é uma longa jornada até o pântano.

— Pântano?

— Vamos logo!


Chuaa!

Água corrente escorria pelas pedras, descendo por um pequeno morro e indo até à entrada de uma gruta. Sentindo uma fisgada no abdômen, Brighid despertou após tossir duas vezes.

Cinco metros seguindo por seu flanco, havia um minúsculo lugar onde água passava, e logo a frente ela viu luz do sol. Ergueu-se escorando a mão na parede e deu dois passos até escutar alguém atrás dela.

— Não devia se mexer ainda — disse Morgana no escuro. Somente se via sua imponente silhueta e seus olhos vermelho sangue — Você gemeu de dor quase a noite toda, devia parar e descansar.

Brighid engoliu o seco.

Sem um pingo de magia, ela se sentiu intimidada pela enorme vampira. Morgana poderia acabar com ela facilmente se quisesse.

— T-Tá…

Brighid escorou na parede e se sentou.

— Hati foi buscar coisas para você comer, então vê se não se mexe demais.

Brighid assentiu.

— T-Tudo bem…

— Você está grávida, não está?

— …

— Você cheira a mulher grávida.

— Não sabia que grávidas cheiravam diferente…

— É o cheiro do seu sangue. Normalmente grávidas tem um cheiro mais doce. É dele? É do Colin?

Brighid franziu os lábios e assentiu. Ela desconfiava que Morgana sentia algo por seu marido, mas não sentia ciúmes da vampira.

— Sim… É dele…

Morgana suspirou.

— Você também está sem magia, não está? O que aconteceu?

— Bem… Quando seres místicos engravidam, principalmente fadas, elas perdem os poderes. Não passo de uma mulher comum agora…

— Tsc! Péssima hora para ficar sem magia. Sabe o que está acontecendo lá fora? Dragões se espalharam por aí, centenas deles, e há uma gigantesca rachadura no céu, e o pior de tudo, tio Graff deve estar sabendo que deixei o clã para tentar ajudar Colin, não sei se ele tentará me matar, mas isso é um problema.

Morgana saiu do breu total e se aproximou de Brighid.

— Devido sua condição e a minha, só vamos poder viajar ao anoitecer, e para isso a gente precisará se disfarçar. Seu cabelo está tão escuro quanto o meu, por isso você será minha irmã mais nova, me ouviu?

— Sim…

— Ótimo! Você está vulnerável e é bonita demais, fique sempre perto de mim e ninguém pensará em fazer nada contra você. Não dá para passar meses pulando de gruta em gruta, então mandei Willy voar por aí e encontrar algum vilarejo para a gente ficar durante todo período da sua gravidez.

Brighid assentiu.

Estranhou a compreensão de Morgana, mas não reclamou. Agora mais do que nunca ela iria precisar de proteção e cuidados.

— Morgana, obrigada.

— Não entenda errado, não faço isso por você, mas pelo filho que carrega e por Colin.

— Mesmo assim… — Brighid segurou a mão de Morgana e abriu um sorriso gentil — Muito obrigada, sem você eu…

— Já entendi. Tsc! — Ela se ergueu — Descansa um pouco e partiremos ao amanhecer.

— Morgana… E quanto ao Colin? Sabe se ele está bem?

Ela fez que não.

— Não sei, mas ele deve estar. Estamos há quilômetros de distância da capital de Ultan, se ele estiver bem, com certeza ouviremos falar dele cedo ou tarde.

— É, você tem razão… Eu só estou preocupada com ele e os outros, não conseguir sentir magia… Isso é tão angustiante que eu-

— Não precisa encher a mente de preocupação, só descansa, tá?

— Tá!


Após a maioria dos dragões ter ido embora, Colin decidiu retornar ao seu apartamento. Alunys e Leona estavam com ele.

A universidade estava vazia.

Os prédios onde aconteciam as aulas estavam destruídos, junto a grande parte de toda universidade. Haviam cadáveres por todo lado, tanto de civis e alunos quanto de nortenhos.

O apartamento de Colin estava o mesmo, exceto pelo gigantesco rombo na parede da cozinha.

Um dos canhões havia atingido ali.

No seu quarto, os livros estavam espalhados no chão, ele procurava por algo.

— Achei! — Ele pegou o mapa para a masmorra do infinito — Sabia que havia guardado você em algum lugar.

Ele também trocou de roupa.

Seu guarda-roupa só tinha vestes prestas, então foi isso que acabou vestindo. Apanhou também uma mochila de couro, uma capa acinzentada e jogou a mochila por cima dos ombros.

Retornou para sua sala de estar encontrando Alunys e Leona. Elas também vestiam capas acinzentadas, até mesmo a pequena Leona.

— Pegou o necessário? — indagou a Alunys

— Sim!

— Ótimo, vamos sair daqui.

Nenhum deles haviam esquecido o que houve na noite passada, mas não tocaram no assunto. Alunys sabia que Colin estava preocupado com as crianças e principalmente com Brighid, mas não deixou transparecer.

Aquele homem era tudo que havia restado para ela, e Alunys não queria perdê-lo também.

Colin caminhou até a bancada da cozinha, olhou para o buraco na janela e foi até a bancada, abrindo a gaveta.

— Estava quase me esquecendo disso.

Ele pegou o calhamaço de papéis, nele, estavam os projetos autômatos e a vapor que comprou do anão no Norte.

— Pronto!

— Senhor, para onde vamos?

Colin ficou um tempo em silêncio, observando o que sobrou da universidade pelo enorme buraco na cozinha. Ponderava em ir para onde sua prima Eilella sugeriu, mas não tinha certeza. Encontrar as crianças e Brighid eram sua prioridade no momento, mas ele não poderia negligenciar as vontades de Alunys.

— Alunys, tem algum lugar para onde queira ir?

— E-Eu?

Colin foi até ela.

— Sim. A capital está deserta, deve encher de bandidos em breve assim que as notícias se espalharem. Ponderei ir até Valéria até onde minha tia e primas estão, mas ainda estou em dúvida… não sei para onde vou… se continuou procurando Brighid e as crianças, se vou até onde os Elfos da floresta estão, ou se tento encontrar alguém da guilda que tenha sobrevivido…

Alunys engoliu o seco.

— Senhor… Acredito que é melhor sairmos da capital primeiro, ou melhor, temos que nos afastar dos vilarejos que cercam o império de Ultan. Ultan deve ser invadido por seu rival, o império do sul. Todas as vilas próximas devem virar alvo.

Colin assentiu.

— Vamos para o centro-leste do império de Ultan, próxima à divisa com o Norte. Não há tantos habitantes nessa parte do território. Esperaremos a poeira abaixar. Sem Ultan, o continente inteiro ficará um completo caos, será difícil até mesmo alcançar o território dos Elfos da floresta.

— Mestre… — Leona se aproximou coçando o olho — Tô com sono… me leva no colo?

— Não, para de fingir.

Como se o sono desaparecesse, ela fez beicinho e empinou o nariz.

— Sabe o quão difícil é caminhar com pernas tão pequenas? E olha! — Ela abanou a cauda — Tenho uma cauda apenas, isso significa que sou fraca, então você terá que cuidar de mim para que eu não me machuque, portanto, me leve no colo.

— Foi sua mana que retrocedeu, não sua força. Você continua tão forte quanto eu, mesmo que pareça ter seis anos, então pare de me encher.

Ela mostrou a língua.

— Você ficou ainda mais chato!

Colin deu de ombros.

— Vamos continuar, e Alunys — Ele a encarou nos olhos — Juro que vou proteger você com a minha vida. Posso não ter mana, mas meu corpo é forte. Você sempre foi inteligente, então basta me dizer e deixarei você usar meu corpo como quiser.

Ela desviou o olhar.

— Senhor… não sei se eu…

— Você consegue sim. — Ele afagou o cabelo dela — Leona fará o mesmo por você.

— Não farei não! — respondeu a pandoriana.

— Fará, sim, eu sou o seu mestre, tem que fazer o que eu mandar!

— Tá! Então me leva no colo, mestre?!

— Não!

— Que porcaria de mestre que eu tenho. Humpf!

A Elfa deixou escapar um sorriso. Apesar do que acabaram de passar, os amigos que sobraram pareciam os mesmos, ou ao menos tentavam emular isso. Presenciar a cena de distração a acalmou. Pensou que Colin quebraria por completo depois de tudo que viu e teve que fazer, mas ele estava ali, continuava o mesmo de sempre, mesmo carregando sentimentos tão obscuros.

Observar a resiliência daquele homem a deixou mais calma, mais segura. Colin não achava que era de fato um líder, por não dar tantas ordens a guilda e deixar eles resolverem os próprios assuntos, mas para Alunys, era aquilo que o diferenciava.

Esse jeito dele forçava seus companheiros a se desenvolverem para alcançarem uns aos outros, estimulando uma saudável disputa interna entre eles, e ela agradecia a oportunidade de ter conhecido tanta gente importante, mesmo que muitos deles não estivessem mais ali.

Bons líderes conseguiam desenvolver habilidades extraordinárias em pessoas comuns, e para Alunys, ninguém conseguia superar Colin nisso.

— Farei meu melhor, senhor! — Ela curvou seu corpo.

Colin deixou escapar um sorriso.

— Para o centro-leste, então.

— Sim, senhor, para o centro-leste!


Os sobreviventes ao incidente da capital, principalmente aqueles que se reuniram na saída do portão principal, começaram a marchar para o mais longe possível da capital.

Seus cavalos levavam pouquíssimas provisões. Apesar do grupo todo ser menos que trezentas pessoas, não haveria comida para todos, e o perigo fora dos portões da capital eram gigantescos, ainda mais após a libertação dos dragões.

Leerstrom assumia as rédeas daquela multidão, junto a Anton, Straus e Janora.

Eles encontraram um vilarejo pequeno no caminho, mas ele já havia sido saqueado. Haviam cadáveres e Nortenhos mortos pelo local. Leerstrom não pensou que Nortenhos tivessem se dispersado para tão longe, mas decidiu que aquele lugar era perfeito para pernoitar, descansar, procurar mais provisões, armas, equipamentos.

As pessoas começavam a se organizar onde iriam dormir e decidiam quem ficaria na vigia. Leerstrom armou um cerco posicionando alguns poucos soldados em lugares estratégicos.

Dentro de uma cabana, Leerstrom observava um mapa aberto em cima de uma mesa. Ao seu lado estavam Janora e Straus.

— E se formos por aqui?! — Straus apontou para um desfiladeiro no mapa — Pelo que sei, há um vale verde depois do desfiladeiro.

— Tem muitas crianças conosco. — respondeu Janora — É uma passagem perigosa, seria melhor contornarmos.

— Contornar? — indagou Straus — E dar direto com a vila dos orcs? Sabia que o clã que habita essa região é selvagem?

— E daí? A gente acaba com eles.

— Como? Temos menos de vinte soldados, e só dez de nós tem experiência em combate. Seriamos massacrados!

— Não com o comandante do nosso lado.

Ambos olharam para Leerstrom, que estava em silêncio.

— Certo! — Ele assentiu — Eu e mais dois vamos dar um jeito nos Orcs. Eles devem ter comida e armas. — Ele tocou o ombro dos dois — Mesmo que hajam civis, temos que armá-los e treiná-los. Precisamos de soldados, deem uma espada aos homens que tenham entre dezesseis e quarenta anos. Os que quiserem comer, terão que contribuir.

— Sim, senhor!

— Pai?! — Samantha adentrou a tenda. Ela usava um pijama branco.

Janora e Straus assentiram e deixaram a tenda.

— Pensei que não fosse acordar. Você estava horrível quando aquele garoto trouxe você.

— Onde estamos? — indagou — E o que aconteceu com a capital?

— Você estava desacordada, não é? Ao menos foi poupada de ver todo aquele inferno. Sua mãe e suas irmãs não contaram a você?

Samantha desviou o olhar.

— Elas estão abatidas… Charlotte parece traumatizada, e Elizabeth parece muda, e mamãe… bem, ela ainda não fala comigo. Ninguém aqui fala nada.

Leerstrom ofereceu a cadeira para ela sentar, e assim ela o fez. O comandante pegou um copo e o encheu com whisky barato que encontrou naquele lugar, oferecendo o copo para a filha.

— A capital não existe mais.

— O quê?!

— Fomos atacados e os invasores nos destruíram. As pessoas que você viu são tudo que restou do império de Ultan.

Samantha não conseguia acreditar naquilo.

— Mas… — Ela aumentou o tom de voz — Não é hora para brincadeira, pai! Lembro que estava lutando contra um monarca da pujança e quando acordei eu…

— Acha que eu brincaria com algo assim?

Ela engoliu o seco e desviou o olhar.

— Não… — Ela bebeu um gole do whisky — Como eu… acabei aqui?

— Aquele garoto, Wiben, foi ele quem trouxe você nas costas. Disse para que cuidássemos de você enquanto ele resolvia algo.

Samantha franziu os lábios.

— E… onde ele está?

— Mandei alguns homens de confiança procurarem por ele ou pelos herdeiros de Ultan hoje de manhã. — O comandante desviou o olhar — Sinto muito, filha, meus homens encontraram seu namorado… na verdade, o que sobrou dele.

As mãos de Samantha começaram a tremer, e Leerstrom continuou.

— Encontramos também princesa Liena, mas ela também já estava morta. Não achamos os outros, então deduzimos que eles também estejam-

— Mentira! — Ela se ergueu furiosa, seus olhos estavam cheios d’água — O senhor está mentindo!

— Sei que é difícil aceitar, mas é a verdade. Somos tudo que sobrou de Ultan.

Ela cerrou os olhos e abaixou a cabeça, chorando capciosamente. Leerstrom se levantou e foi até a filha, a abraçando.

— Tá tudo bem, filha, seu pai e suas irmãs estão aqui, você não está sozinha.

— Meus amigos… — disse em meio a soluços — Eles lutaram enquanto fiquei desmaiada, eu sou uma inútil…

Leerstrom afagou os cabelos dela.

— Isso é mentira. Você é habilidosa, e precisarei de você mais do que nunca, as pessoas aqui precisarão.

Ela fungou mais algumas vezes.

— Colin também está…

— Não sei. Depois do que testemunhei no torneio, acho que é provável que ele ainda esteja vivo, mas não posso confirmar nada.

Samantha assentiu.

— Eu… preciso de um tempo…

— Tudo bem. — Ele se desvencilhou da filha — Tire o tempo que desejar.


Dentro de um templo, ouvia-se o grito aterrorizante de Elnan. Sentado no banco de pedra, Coen estava quieto lendo seu livro, até que Ehocne se aproximou do pai.

— E então? — Ele indagou.

— Elnan vai ficar nesse estado por mais um tempo.

— E a garota?

— Quando ela acordar, não vai se lembrar de nada. A mente estará totalmente vazia, será o brinquedinho que você tanto quis ter.

Coen esboçou um sorriso.

— Você está livre por enquanto, libere Walorin e Var’on também.

— É isso? O trabalho está feito?

Coen deu de ombros.

— Quer mais o quê? O véu está rachado, os dragões estão libertos e Ultan caiu. Todos os nossos objetivos foram cumpridos. Algumas criaturas da ponta da árvore devem conseguir atravessar para esse plano. É só questão de tempo até o véu cair de vez.

Ehocne fez uma reverência, vou me retirar, senhor.

— Aproveite, Ehocne, você merece.

Ela assentiu.

— Irei, meu pai.


 

Longe dali, onde o sol não podia alcançar, dentro de uma densa floresta, o espaço começou a rachar e estilhaçou-se. Uma criatura corpulenta deixou o portal.

Ela era enorme.

Sua pele era avermelhada, seus olhos brancos, havia chifres em sua cabeça e, no lugar do seu estômago, havia um enorme olho. As pálpebras eram dentes pontiagudos e daquele olho escorria um líquido viscoso, que ao entrar em contato com a grama, a derretia.

Outras centenas de rachaduras se estilhaçavam ao redor de todo continente, saindo criaturas cada vez mais grotescas de dentro deles.

Scrash!

Outra rachadura estilhaçou.

Uma manopla enegrecida segurou as bordas da rachadura e Thaz’geth saiu lá de dentro. Assim que colocou os pés na grama, sentiu o ar limpo daquele lugar, e aquilo arranhou seus pulmões.

— Quanta magia poderosa! Isso é o paraíso!

Com Ultan fora da jogada e metade do continente desestabilizado, este era o começo perfeito para uma nova era, a era das trevas.

FIM DO PRIMEIRO ATO.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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