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Tiveram a noite de sono mais tranquila em semanas. Não havia necessidade de se preocupar com bandidos, lobos e qualquer monstro que fosse.

A sensação de segurança era algo inexplicável.

Colin ficou na sacada observando o movimento, enquanto suas companheiras dormiam tranquilas. Era bem cedo, então a cidade ainda estava acordando.

Aproveitando a calmaria, Colin pegou suas roupas e saiu do quarto descendo as escadas até a recepção. O anão caolho perguntou se havia algo de errado, e Colin apenas disse para o anão dizer as garotas que ele havia saído, mas já voltava.

Era impressionante o número de universitários que perambulava pela cidade mesmo naquele horário.

Passando por um grupo que conversava sem parar, Colin acabou ouvindo algo que chamou sua atenção.

— Ouvi que Anton vai participar do torneio de seleção!

— Sério? Isso não é só para plebeus?

— É, mas o irmão mais velho dele também entrou desse modo, então acho que ele está tentando seguir os passos dele.

— Anton é um nobre, mas é um filho da puta miserável.

— Concordo perfeitamente, espero que um plebeu acabe com ele!

Colin não era nem um pouco discreto, então manteve o olhar mirado naquele grupo de amigos, e eles perceberam.

— O que foi, Elfo? Perdeu algo aqui?

— O que é esse torneio de seleção que mencionaram? — indagou Colin.

Um dos rapazes franziu o cenho e se aproximou de Colin, a centímetros dele.

— Você fede, Elfo, devia tomar um banho!

Os amigos do rapaz começaram a rir, mas Colin não deu a mínima.

— Sim, mas o que é esse torneio de seleção?

Aquele grupo de amigos cruzaram olhares um com o outro. O rapaz frente a Colin se sentiu um pouco intimidado com aquele olhar que não desviou um segundo sequer do seu.

Ele engoliu em seco e deu um passo para trás.

— É um torneio que plebeus participam para entrarem na universidade…

Colin assentiu.

— E onde me inscrevo?

— Basta ir até qualquer posto de controle do império e dar seu nome…

— Obrigado! — Colin passou pelo rapaz e deu dois tapinhas em seu ombro.

Enquanto se afastava, os rapazes mantiveram os olhos nele.

— Que merda foi essa, Myuri? — indagou um dos rapazes com certa indignação. — Você ficou assustado com um cachorro de rua?

— O Elfo não é normal, deu pra sentir… ele tem olhos amarelos, deve ser um Elfo bem forte, todos os de olhos amarelos são.

— Acredita mesmo nessas histórias? São só lendas de Elfos.

— Por que a gente não testa? — sugeriu outro amigo. — Eu conheço um cara da guilda de Loafe que aceita arrebentar qualquer um por uma quantia de moedas.

Todos eles se entreolharam ao ouvir o nome “Loafe”. Alguns engoliram em seco e outros começaram a soar frio.

— Tem certeza? Não é meio perigoso mexer com esses caras?

O rapaz fez que não.

— É só pagar e já era, vamos lá!

Eles continuaram relutantes, mas aceitaram. A maioria queria saber se o mito dos olhos amarelos era verdade.


Após visitar um dos mercados locais, Colin retornou ao quarto com comida e os ingredientes que Brighid havia pedido. Elas ficaram preocupadas por um instante com o amigo, mas ao ver que ele estava bem e que havia trago comida, a preocupação de ambas desapareceu.

Ele trouxe um pouco de pão fresco e leite, que por sinal, estavam deliciosos.

Levou menos de cinco minutos até que elas acabassem com toda comida.

Após um longo arroto, Brighid pediu para eles afastarem os móveis que ela faria um círculo mágico.


Ela ficou alguns minutos passando seu minúsculo indicador pelo soalho.

— Pronto! — disse estufando o peito. — Agora sentem-se, vou mostrar uma coisa!

Eles sentaram-se e Brighid bateu palmas.

O círculo todo começou a brilhar em um verde intenso e o quarto todo foi engolido por uma escuridão, seguida por um alvo que lhes cegou por um instante. Assim que a visão retornou, eles se viram sentados na grama e sentiram a brisa no rosto.

Estavam em um vasto campo gramado, com borboletas voejando ao redor e pássaros cantando sem parar. Até mesmo o sol estava perfeito, nem muito forte, e nem muito fraco.

A temperatura era amena e agradável.

— Bem-vindos ao plano de Rosglos! — disse a fada empolgada.

— O que a gente faz aqui exatamente? — indagou Colin.

Brighid ergueu o indicador.

— Este plano não é caótico, portanto, dá pra fazer exatamente o que imagino. Colinzinho, você estava dizendo que a gente chama atenção demais, então vou fazer algo que já fiz há muuuito tempo e funcionou!

Toda aquela falação só estava os deixando ainda mais curiosos.

— E o que foi isso que você fez?

Ela abriu um sorriso.

— Vou me tornar uma de vocês!

Nenhum dos dois entendeu o que ela quis dizer com aquilo.

— Uma de nós? — indagou Safira coçando a bochecha. — Como assim?

— Aff! — suspirou Brighid. — Vocês são bem lerdos… eu quis dizer que vou ficar grande também, então poderei me disfarçar! Fadas e outros seres místicos costumam fazer isso para andar livremente entre os povos do continente. Claro que demorará um pouco até eu me acostumar e levará tempo até minha mana normalizar.

Colin não achava uma ideia ruim, mas o problema seria a mana dela. Se Brighid se tornasse uma inútil que não consegue se defender ou ajudá-los, então não valeria a pena o processo.

— Você ainda vai conseguir lutar? — indagou Colin

— Claro que sim! Mesmo que meu poder seja reduzido pela metade, ainda serei uma monarca, e o melhor, não atrairei mais problemas, pois, os humanos acharão que sou um deles. Tecnicamente isso será verdade, já que minha essência de Fada irá mesclar com a de humana que criarei artificialmente.

Colin deu de ombros.

— Então tudo bem. É uma boa ideia, Brighid.

Ela voejou até a beirada de um lago pequeno e pegou um pouco de barro com aquelas mãozinhas. Jogou o barro no chão e jogou também todos os ingredientes que Colin havia trago.

Fez um círculo mágico em volta dos ingredientes e abriu outro pequeno círculo mágico acima dela.

— Isso vai levar alguns minutos, esperem um pouco!

Esticando o braço, Brighid fez todos aqueles ingredientes se misturarem, tornando-se um líquido pastoso e fétido. O ingrediente final que faltava era a baba do Ogro.

Brighid se sentou no chão com as pernas cruzadas e palmas juntas.

Um outro círculo mágico apareceu acima de sua cabeça e a baba de ogro molhou todo o corpo dela.

Colin e Safira tinham expressões engraçadas de repulsa enquanto estavam em silêncio assistindo tudo.

Após isso, Brighid abriu a boca e o líquido mucoso começou a ser derramado em seus lábios.

O gosto era horrível, mas ela engoliu tudo. Era impressionante que um corpo tão pequeno tinha um estômago tão grande.

Após sentir aquele gosto horrível e de se melecar toda, a fada começou a recitar um encantamento.

— Auir Tregunor Maruso tusan outri reuinuir misori cresunoru destufiur aquirobuni jutreuir bunir moruwa lupici weuitu.

Todo corpo dela brilhou em um lampejante verde-esmeralda e lentamente começou a crescer.

Conforme crescia, suas asas diminuíam até sumir, e o líquido mucoso entrava em sua pele.

Levou cerca de 10 minutos até aquele processo todo chegar ao fim.

A nova Brighid exibia um corpo curvilíneo e atlético, que sugeria uma mulher adulta de 20 a 25 anos, dedicada a manter a forma.

Seus seios tinham um tamanho médio, suas pernas eram grossas e seu quadril levemente largo.

O cabelo dela caía solto, escorrendo pelos ombros e indo até as nádegas. Seus olhos se abriram devagar, revelando um verde vibrante, como o de seu cabelo.

O vestido que ela usava, com atributos mágicos, havia se ajustado ao corpo dela, mas parecia apertado demais.

Os lábios de Brighid eram simétricos e avermelhados, e seu olhar extremamente provocante, ao mesmo tempo em que exibia uma inocência cativante.

Ela pigarreou e falou com uma voz doce e jovial, como se um anjo sussurrasse:

— Então, o que acharam?

Safira estava boquiaberta com a beleza de Brighid. Era a mulher mais bonita que ela já vira na vida. Por um momento, Safira achou que estivesse de frente para alguém da realeza.

Colin permaneceu ali de braços cruzados, totalmente neutro. Mesmo ela se parecendo com uma humana, Colin não conseguiu apagar a ideia que ela era aquela fada minúscula e irritante.

— É mesmo você? — ele perguntou.

— É claro que sou eu! — ela apoiou as mãos na cintura e fez uma pose de modelo enquanto o encarava. — E então, Colinzinho, gostou?

Com os braços cruzados, ele deu de ombros.

— Pra mim você é só uma mulher normal agora — ele virou-se de costas. — Podemos sair desse plano se já tiver acabado?

Brighid ficou extremamente irritada, se pudesse daria um soco em Colin. Ele mal havia olhado para ela. A fada esperava no mínimo algum elogio, mas o que recebeu foi indiferença.

Ela cerrou os punhos e fez beicinho.

O plano todo começou a rachar e se estilhaçou como vidro. Aos poucos os pedaços de vidro se desfaziam em pequenas partículas.

Eles estavam de volta ao quarto.

— Vamos sair um pouco — sugeriu Colin. — Brighid precisa de roupas novas, a gente também, Safira.

Brighid cruzou os braços e virou o rosto fazendo beicinho.

— Pelo menos isso vou ganhar, roupas novas… — disse irritada.

— Tem uma loja de roupas do outro lado — Colin tirou a jaqueta e se aproximou de Brighid passando a jaqueta por seus ombros. — Use isso até a gente chegar do outro lado.

Seus olhos encontraram os de Colin e, por alguns segundos, Brighid ficou paralisada.

Ela ainda estava se acostumando com seu novo corpo, e cada sensação parecia intensificada. Não conseguiu desviar o olhar, e à medida que o tempo passava, sentiu o rubor subindo em suas bochechas, denunciando sua timidez.

— Vamos! — Colin se afastou dela indo até à porta.

Safira olhou alternadamente para Brighid e Colin, percebendo que havia uma tensão diferente no ar. Ela não entendia muito bem a natureza desse clima, mas sabia que era diferente de tudo o que já tinha sentido antes.

Brighid puxou as mangas da jaqueta para cima e inspirou rofundamente, percebendo o aroma que emanava do colarinho. “Este é o cheiro de Colin?”, pensou consigo mesma. “É agradável, mas acho que ele precisa de um banho.”

— Andem logo! — apressou Colin na porta.

As duas desceram as escadas juntas a Colin e passaram pelo anão que continuava sentado fumando cachimbo. Ele encarou os três de canto e quase deixou o cachimbo cair da boca quando viu Brighid.

“Quando foi que aquele Elfo trouxe uma mulher pra cá?”, Ele olhou as costas de Brighid de cima a baixo “É uma meretriz? Mas de qual bordel? Nunca vi na capital. Mulheres tão bonitas costumam fazer muito sucesso por aqui”.

Eles cruzaram a rua e Brighid sentiu os olhares curiosos das pessoas sobre ela. Ela instintivamente puxou a saia do vestido para baixo e se encolheu dentro do casaco de Colin, cruzando os braços em defesa.

— Por que todo mundo está me olhando desse jeito? — ela sussurrou, sentindo-se desconfortável com a atenção não solicitada.

— Não liga pra eles. — respondeu Colin empurrando as portas da loja de roupas.

Até mesmo a atendente da loja se surpreendeu. Era comum que mulheres assim fossem esposas de homem de poder ou já estivessem comprometidas com algum velho rico da corte, mas ela descartou a hipótese quando viu uma mulher como aquela junta de um Elfo Negro e uma Asmurg.

A realeza nunca andaria com esse tipo de gente.

Apesar de se desiludir, a recepcionista foi bem gentil com todos, indicando as melhores peças de roupas, os preços mais acessíveis e dizendo a eles o que ficaria bom em cada.

Brighid passou um bom tempo experimentando diversas peças de roupa, pedindo opiniões a Colin, Safira e à atendente da loja. Depois de várias tentativas, ela escolheu uma camisa de manga longa branca, um colete azulado e um lenço no colarinho, combinando com calça e sapatos pretos. Suas roupas justas realçavam suas curvas, deixando-a ainda mais atraente.

Safira vestia uma camisa de manga longa branca e uma saia que cobria suas coxas, além de meias-calças longas e sapatos pretos.

Já Colin optou pelo look mais básico possível.

Moletom preto, calças pretas e sapatos da mesma cor.

As garotas pegaram mais algumas roupas, e Colin pegou mais dois conjuntos idênticos. A atendente ficou maravilhada com um cliente comprando tantas roupas caras de uma única vez, e considerou que ele poderia ser algum mercenário rico ou um tipo de cafetão bancando aquelas duas.

Percebendo que eles tinham dinheiro, a recepcionista indicou o restaurante de uma amiga excepcional, e Brighid prometeu que passaria lá.

Todo processo foi bastante demorado.

Ambas ficaram bem felizes experimentando roupas e jogando conversa fora com a atendente. Colin ficou de canto observando tudo e se pegou sorrindo vez ou outra quando as encarava sorrir de felicidade.

Eles deixaram o estabelecimento com sacolas em mãos e cruzaram a rua indo direto para a estalagem.

Guardaram as coisas lá e saíram mais uma vez.

Estava quase na hora do almoço e todos pretendiam ir ao restaurante indicado pela atendente, mas antes, Colin queria inscrever-se no famoso torneio de seleção.

Haviam centenas de guarnições do império espalhadas pela capital, e Colin foi em direção da mais próxima.

Assim que chegou, viu um dos guardas encarando-o. Mesmo após os ver tantas vezes, a armadura negra dos soldados ainda lhe causava um estranho sentimento.

— O que você quer? — indagou o guarda, encarando-o de cima a baixo.

Colin apontou para um cartaz desenhado a mão, um cartaz que anunciava o torneio de seleção.

— Parece que teremos bastante Elfos esse ano, hehehe — O guarda puxou um papel, tinteiro e uma pena, apoiando-os em cima do balcão.

— Basta ler as cláusulas e assinar se deseja participar.

As cláusulas não especificavam o que aconteceria no torneio, apenas dizia que os alunos aprovados estudariam com bolsas de 100% e os materiais seriam de responsabilidade da universidade. A única coisa que deveriam pagar era a taxa de inscrição que era cinco peças de ouro por pessoa.

— Colin… — chamou a fada. — O que é isso?

— Você, Safira e eu participaremos do torneio de seleção da universidade. Se formos classificados ganharemos uma bolsa de 100% com tudo pago por eles. Ainda poderemos nos juntar a uma guilda ou criar uma — Colin olhou para o guarda. — Não estou certo, senhor Guarda?

— Certíssimo.

Assim que terminou de ler, Colin assinou seu nome e suas companheiras fizeram o mesmo sem nem ler o documento, já que tinham uma grande confiança naquele homem que seguiam.

Indo até os fundos daquele posto, o guarda pegou três pedras que se pareciam com rubis e os colocou no balcão.

Colin enfiou as mãos nos bolsos e tirou o seu saco de moedas. Contou quinze moedas de ouro e as apoiou no balcão.

— Desejo boa sorte a vocês. — O guarda apontou para um palácio que ficava em uma colina ao longe. — O torneio acontecerá ali daqui a sete dias, começando a contar a partir de amanhã. Levem esses três rubis e entreguem na entrada no dia do evento.

Colin enfiou os rubis no bolso e assentiu com a cabeça, dando as costas ao guarda.

Enquanto os observava se afastar, outro guarda apareceu.

— Ele não é o Elfo que trouxe a cabeça de um Bakurak ontem?

Aquela informação era curiosa. Soldados costumavam pegar rotas seguras em viagens para evitarem trombar com monstros ou qualquer criatura capaz de dizimar uma guarnição inteira.

— É sério? Um Bakurak?

O amigo assentiu e apontou com o queixo para o grupo de Colin que conversava entre si.

— O garoto tem um olhar assustador, mas deu pra sentir que aquelas duas são mais perigosas, principalmente a bonitinha de cabelo verde.

Deixando de ser um recruta recentemente, o guarda não conseguiu distinguir isso de nenhum deles, mas começou a notar ser a primeira vez que via um Elfo Negro de olhos amarelos que não tinha orelhas pontudas, um mestiço, talvez? Se a mulher era a mais poderosa, por que era o Elfo que parecia ser o verdadeiro líder?

Em dúvida, o guarda pegou os papeis de inscrições e olhou o sobrenome de Colin.

— Colin Silva… — ele olhou para o companheiro. — Conhece algum clã Silva?

Após pensar um pouco, ele fez que não.

— Nunca ouvi falar de um clã assim, talvez ele seja um Calimaniano.

— Não sei… talvez — ele devolveu os papeis a estante. — Enfim, de qualquer modo, acho que podemos esperar alguma coisa deles nesse torneio.

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Olá, eu sou o Stuart Graciano!

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