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Capítulo 186 – Reúna a legião

Ayla começou a ficar constrangida com o silêncio de Colin. Após alguns segundos ela notou que o clima não foi tão bom quanto ela pensava para um pedido daqueles.

Já que havia começado, ela iria até o fim.

— Será um casamento político para consolidarmos nossa aliança, matrimônio é mais seguro que amizade ou lealdade. Seu povo é forte, se eu resolver matar você ou vive versa, nossos povos entrariam em guerra e ninguém ganharia com isso. Você terá poder sobre meu território e eu teria poder sobre o seu. Juntos, teríamos um território grande o bastante para fundar um país, tudo que temos que fazer é vencer o pontífice! E então, o que me diz?

Ele continuou em silêncio e pela primeira vez em anos Ayla ficou desconcertada, sem saber o que fazer. Ela nunca havia sido rejeitada, e estava acostumada a contornar certas situações para que saíssem a seu favor, mas sentiu estar totalmente nas mãos do carniceiro. Se ele rejeitasse, não havia muito a ser feito.

— Diz alguma coisa… — Ela engoliu o seco.

— Já sou casado, majestade.

Ela soou frio e engoliu o seco novamente. O que ela estava oferecendo a Colin era uma chance única, tanto para ele quanto para ela. Juntar dois territórios tão grandes sem derramar uma única gota de sangue era algo inimaginável.

Perder aquela chance seria um golpe e tanto, então Ayla resolveu ser persuasiva a seu modo.

— Não precisa se preocupar, casamentos políticos não precisam de amor, é apenas uma soma de interesses. Propus isso a você por que é o melhor para ambos, será o único meio dos nobres de Runyra e os conselheiros aceitarem nossa aliança. Claro que alguns vão discordar, mas serão minoria. Economicamente, é um benefício a longo prazo, claro que teremos que limpar o seu território, e isso necessitará de investimento e tempo que com certeza valerão a pena em um futuro próximo.

Colin a encarou por cima dos ombros enquanto o cavalo continuava a galopar sob a luz da lua minguante.

— Então, em outras palavras, eu serei rei?

— Não sei se rei seria a palavra certa. Poderíamos fazer de nossos territórios países pequenos, e começar a ascensão de um império, claro que teríamos que discutir várias outras questões, mas em suma seria isso.

Ele virou para frente pensativo. Era uma boa proposta, e ele estava inclinado a aceitar no calor do momento, mas ainda pensava em Brighid.

— Por que eu? Por que fazer uma proposta assim para um cara que acabou de conhecer?

— Namoros, noivado, encontros casuais, isso é inútil para a elite, já que casamento para nós é um negócio. Se não quiser se casar comigo, basta me dizer, mas sem casamento não há acordo. Entendo que esteja pensando em sua esposa, mas entende o que está em jogo, não entende? Isso não se trata apenas de você, carniceiro, mas de todo seu povo. Essa é a única forma de te ajudar sem causar problemas para mim. — Ayla suspirou e franziu os lábios — Há conspiradores em meu reino, carniceiro, conspiradores que contestam minha autoridade. A única forma de aceitarem ajudar alguém com seu histórico, é se eles se beneficiassem de alguma forma. Do jeito que as coisas estão, não seria sábio, desestabilização política. Até mesmo os investidores de Runyra aceitarão ajudá-lo se ganharem com isso.

Colin continuou em silêncio e Ayla resolveu seguir com seus argumentos.

— Você comanda um dos três territórios do centro-leste e sobreviveu a queda de Ultan. Você é mais importante do que acha que é, e a elite de Runyra sabe disso. É melhor ter alguém como você conosco do que contra nós. A decisão é sua, decidirá como Colin, ou como um líder de uma nação?

Colin suspirou.

Ele estava indeciso. Se aceitasse, seu território seria grande o suficiente para cercar o território do pontífice pelo Leste e sul. Conquistaria quilômetros de terra sem conflitos e o suporte de Ayla seria essencial para livrar seu território de mercenários e monstros, trazendo, enfim, o desenvolvimento para aquelas terras. Com isso trariam o comércio e a segurança que muitos de seu território desejavam.

O errante estava cuidando de muitas pessoas no momento, ele não poderia tomar uma decisão daquelas olhando para o próprio umbigo. Casar com Ayla era um pequeno preço a se pagar pelo progresso.

Ele ainda não havia desistido de encontrar Brighid, as crianças ou seus amigos desaparecidos, mas ele tinha outras responsabilidades em mãos e objetivos mais ambiciosos que requeriam um pouco mais de atenção.

Após assentir, ele havia se decidido.

— Tudo bem. — disse ele — Me caso com você. Acertaremos isso quando resolvermos o problema com Nag e os invasores.

Ayla assentiu e apontou para o oeste.

— O forte fica depois daquela montanha, vamos nos apressar.

Colin sacudiu as rédeas do cavalo e ele ficou ainda mais rápido.


Ao chegarem ao forte, nada viram além de pilhas de escombros e de cadáveres. Como imaginavam, os homens de Ayla foram massacrados. Notaram também algumas torres de cerco queimadas e várias máquinas de guerra destruídas do outro lado do muro.

Ayla sentia um aperto no peito ao caminhar por aqueles corpos. Foi ela que assinou os documentos para que aqueles homens fossem mandados para o forte. Conheceu a família de muitos deles, famílias que viviam em vilas próximas aos fortes, e que agora provavelmente haviam encontrando um fim trágico nas mãos dos invasores.

Havia muitos corpos de Orcs, e até mesmo de ciclopes, o que significava que aqueles homens fizeram o impossível para segurar os invasores nos portões. Caminhou na parte superior da torre e observou com cautela o limite de seu território. Avistou crateras, a grama chamuscadas e um mar de Orcs abatidos, além de focos de fumaça isolados. No fundo, estava um desfiladeiro, e atrás dele o sol da manhã começava a nascer, passando por aquela pequena fresta rochosa.

O cheiro de sangue era tão forte que sentiam o gosto na língua.

— Eu conhecia a maioria desses homens…

— Não precisa se martirizar, eles eram soldados, sabiam o que estavam fazendo.

— Eu sei, mas mesmo assim… — Ela suspirou e focou seu olhar no desfiladeiro — Me surpreende que este lugar esteja vazio. Nag deve ter mandado somente os Orcs descartáveis para dentro do meu território e recuou.

Colin olhou para baixo, depois para os dois lados.

O desfiladeiro era a única passagem possível para o território de Ayla em quilômetros.

— Vamos seguir, Ayla?

Assentiu com um suspiro.

— Vamos. O desfiladeiro é a única coisa que nos separa do território selvagem. Se avançarmos, precisaremos continuar até encontramos Nag e acabarmos com ele.

— Sabe que isso é uma armadilha, não sabe? Nag pode estar atraindo você para fora propositalmente. Não sei como ele saberia que você estava fora da capital, mas é o que tudo indica.

Uma dúvida ascendeu na mente de Ayla.

Os Orcs poderiam, num primeiro momento, ter, sim, optado por uma invasão em larga escala, mas as coisas podem ter mudado de última hora. Ayla alisou o queixo e começou a considerar as opções. Nag pode ter recebido informações privilegiadas de que a própria regente estava fora da capital, e o melhor, ela estaria acompanhada do líder dos carniceiros do centro-leste.

Acabar com eles seria como colocar 2/3 do centro-leste de joelhos e, mesmo numerosos, Orcs não conseguiriam fazer isso sem um plano elaborado, e planos não eram o forte de Orcs. Foi então que ela cogitou não só a possibilidade de traição, mas também a possibilidade de alguém estar por trás dos Orcs, organizando tudo.

Sua mente se lembrou dos três conselheiros que seu espectro comentou. Com ela fora da jogada, seria mais fácil dar um golpe a assumir tudo. Ela olhou para Colin e ele a olhou de volta. Por um instante se perguntou se Colin a trairia, já que seria bem convencional se juntar ao pontífice, destituí-la e assumir o seu reino, mas ela não sabia ao certo se deveria levar essa hipótese em conta. Ayla não quis levar essas questões adiante, mesmo que elas fizessem sentido. Em sua mente, Colin era essencial para o futuro de seu reino, então focou em outras opções.

A visão idealizada que tinha do carniceiro estava influenciando seu julgamento.

O carniceiro parecia alguém que não seria capaz de tais atitudes, principalmente pelo que ouviu dele.

“Ele não deve ser esse tipo de homem” pensou “Mas não posso abaixar minha guarda.”

— Colin, é melhor avançarmos.

— Tem certeza? Se for uma armadilha como especulamos, então é melhor não os subestimarmos.

— Não subestimamos os Orcs, foram eles que nos subestimaram. Isso acabará em menos de uma semana, confia em mim. Proponho retornarmos para o cavalo e ir em direção ao desfiladeiro.

Assim fizeram, com Ayla segurando as rédeas dessa vez. Avançaram pelos corpos do lado de fora e cruzaram o cenário desolador até adentrarem o desfiladeiro. Ayla parou o cavalo e olhou para trás, vislumbrando o cenário infernal novamente. Desceu do cavalo e dobrou os joelhos, apoiando a mão no cabo da espada. Energizou sua lâmina e lançou dois cortes arqueados no topo dos desfiladeiros.

Cabrum!

Grandes pedaços de terra se deslocaram, tapando a passagem até Runyra. Ayla girou a espada e devolveu a bainha.

— Isso deve atrasá-los caso resolvam atacar novamente. — Disse subindo no cavalo — Fique atento, carniceiro, os Orcs podem estar em qualquer lugar a partir daqui.

Colin somente assentiu e o cavalo tornou a trotar novamente.


Tendas feitas de peles de animais abatidos e ossos eram erguidas por todo acampamento. Em um canto havia humanos acorrentados pelo pescoço com lobos gigantes os observando enquanto salivavam.

Outros orcs caminhavam pelo acampamento afiando suas armas feitas de ossos e ferro fundido nas chamas de um vulcão. Eles pareciam se preparar para outra invasão, polindo suas armaduras demoníacas e afiando aquilo que chamavam de arma.

Em uma tenda maior, enfeitada com um grande crânio de dragão acima dela, estava o líder em seu simples aposento. Sentado no chão, estava um Orcs de pele avermelhada usando peles de animais por cima dos ombros e com calças cobrindo da cintura para baixo. Seu cinto era enfeitado por crânios de lobos e sua feição era bastante desagradável. Tudo aquilo somado ao seu enorme e musculoso corpo junto as infindáveis cicatrizes davam a ele um ar intimidador.

Suas tatuagens tribais escuras cobriam parte de suas tatuagens, mas a maioria continuava exposta. Em sua mão estava uma jarra de vinho e ao seu lado seu imponente machado com detalhes ornados por toda extensão do cabo.

Frente ao Orc estava um homem loiro de belas feições trajando uma batina. Ele tinha feições tão delicadas, que poderia ser confundido com uma mulher facilmente.

Nas mãos daquele sacerdote ia apenas um copo d’água. Ele o bebeu delicadamente e apoiou o copo na pequena mesa frente a eles.

— É bom ver que está se reerguendo, Nag. — disse o loiro com uma voz doce e afável — Pelo visto está usando com seriedade todas as informações que dei a você.

Nag terminou seu vinho e bateu a jarra na mesa.

— Sem esse papo furado, sacerdote, meu acordo com Alexander não mudou só por que você disse uma coisa ou outra. Matarei a caçadora e as terras dela serão minhas.

Rian, o sacerdote, assentiu com um sorriso de canto.

— Basta usar o item que forneci a você, mas apenas faça como último recurso, entendeu?

O orcs bufou, balançando o cabelo de Rian.

— Pensa que preciso de algo como aquilo para vencer?

— Está subestimando uma mulher que massacrou os Orcs incontáveis vezes. — Ele abriu um sorriso debochado — Admita, Nag, sem minha ajuda vocês ainda estariam tentando passar aquele forte. Vocês orcs, são guerreiros, mas são fracos.

Enfurecido, Nag se levantou.

— Desdenha do meu povo, sacerdote?

— Desdenhar? Claro que não, estou afirmando um fato. Minhas fontes disseram que Colin, o carniceiro, está com eles. Sabe quem foi Colin? Claro que não sabe — Rian bebeu um gole de sua água — Já faz algum tempo, mas Nostradamus, um vampiro em ascensão, reuniu todos os clãs para invadir Ultan. Diziam ser o grupo mais numeroso desde a era de Alucard, e sabe o que aconteceu? Eles foram massacrados. Os boatos contam que esse Colin estava envolvido, o mesmo Colin que era famoso na capital, administrando a guilda universitária mais poderosa com diversos membros excêntricos em sua equipe. Agora adivinha só, esse Colin está com Ayla, uma mulher que seu grupinho incompetente não conseguiu vencer uma única vez.

Bufando novamente, Nag destruiu a mesa com um poderoso chute enquanto continuava a bufar incessantemente.

— Você tem a língua bem grande para um ser tão pequeno.

— Não achei que o grande Nag fosse tão sensível assim para ser ferido por palavras. — Rian ergueu as sobrancelhas — Vocês estariam condenados sem mim.

Cerrando os punhos, Nag ponderou em avançar em Rian, até que outro orc adentrou a tenda segurando uma bola de cristal. Ele era velho, corcunda e com diversos piercing e brincos nas orelhas. Usava uma túnica roxa e tinha longos cabelos brancos.

— Senhores, tenho algo para mostrar, venham, vejam! — disse em um tom de voz rouco mostrando a bola de cristal minúscula que cabia na palma de sua mão.

A esfera mostrava Ayla e Colin juntos em cima de um cavalo.

— São eles — disse Rian com um sorriso — Seus alvos fizeram o trabalho de virem até nós. Melhor começar a mobilizar o exército que sobrou, já que seus alvos são possivelmente as duas pessoas mais perigosas do centro-leste. Boa sorte, Nag.

Rian colocou as mãos para trás e caminhou para fora da tenda. Sua batina começou a esvoaçar e ele levitou.

— Não desaponte o senhor Alexander, ele tem grandes expectativas em você.

Woosh!

O sacerdote saiu voando.

— Senhor, quer que eu reúna alguns homens? — indagou o xamã corcunda.

— Reúna todos que sobraram.

— T-Todos? Até os ciclopes e os Trolls?

Nag assentiu.

— Eles ainda têm um longo caminho até as nossas terras. Quanto antes abatermos esses dois, mais fácil teremos nosso próprio território.

— Como queira, senhor, reunirei toda legião!

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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