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Capítulo 190 – Acordo entre monstros

No grande salão, as criaturas ocupavam seus acentos e comiam como selvagens tudo que ocupava aquela vasta extensão de mesa. Eles preferiam se alimentar antes de tudo começar, afinal, era uma ocasião especial.

Colin e Ayla estavam ao lado do outro, encarando toda aquela cena com olhar de repulsa.

— Olha! — Ela cochichou — Encontramos selvagens piores que você.

— Perto desses caras consigo ser o mestre da etiqueta.

Ayla sorriu e reparou que o humanoide leão não tirava os olhos deles. A rainha sentia que aquela criatura era poderosa, talvez um usuário avançado da pujança.

Assim que terminaram de comer, orcs adentraram o salão, pegando os pratos e vasilhas em cima da extensa mesa de madeira, a limpando em segundos. Ergoth sentou na ponta, era ele quem mediaria aquele encontro.

— Senhores! — disse o mais alto e claro que conseguiu — Sei que muitos aqui dentro tem desavenças, mas peço que mantenham a calma. Como expliquei a vocês, os dois a minha direita são o carniceiro do centro-leste Colin e a rainha de Runyra, Ayla. Eles querem chegar a um acordo conosco.

— Eles parecem saborosos! — disse um Gnoll lambendo os beiços — Por que ouviríamos esses dois? Eles querem acabar com Nag, certo? Mas e daí? Basta não mexermos com Nag e ele nos deixa em paz.

Ayla pigarreou e levantou a voz.

— Ergoth disse que vocês estão sujeitos aos Hobgoblins. Com a minha ajuda e a do meu companheiro podemos derrotá-los, já que soubemos também que eles são aliados importantes para Nag.

Os Gnolls começaram a rir sem parar.

— A fêmea fala bonito. — disse um homem rato escondido debaixo de seu capuz — Mas sem Nag, outro tem que tomar seu lugar, então me voluntario para assumir esse posto.

— Você? — foi a vez de um lobisomem de pelagem preta falar — Você e seu povo não passam de ladrões, sem falar que são fracos, não precisamos de um líder fraco!

As criaturas concordaram com os lobisomens, iniciando um burburinho.

— Ei, gênio! — chamou um Gnoll sem uma orelha — Para assumir, primeiro Nag tem que cair, e ninguém aqui têm a força para fazer isso acontecer! — Ele olhou para Colin e Ayla — Vocês parecem fracos, não sei como estão a frente de suas nações, espero que tenham um plano para acabarmos com os Hobgoblins, existem milhares daqueles desgraçados, talvez milhões!

— Eu e meu parceiro somos fortes — disse Ayla aumentando a voz — Se vocês cooperarem, podemos resolver isso sem muitas complicações e baixas.

Não só os Gnolls gargalharam, mas a maioria daqueles seres.

— A fêmea se acha poderosa, não é? Você seria esmagada pelos Hobgoblins, morreria nos portões antes de qualquer coisa. Aqueles canhões poderosos não esmagariam somente você, mas todas as tribos.

— Ela é a caçadora! — disse um homem-lagarto sorrindo — Provavelmente iria parir alguns goblins para o exército deles.

Os Gnolls continuaram rindo.

— Tsc! — Ayla fez muxoxo — Eu e meu companheiro comandamos 2/3 do centro-leste, conosco vocês têm alguma chance de se livrarem de Nag, mesmo que os Hobgoblins sejam numerosos, ainda somos sua melhor chance.

Foi a vez do grande leão falar.

— Vocês são os comandantes de seus territórios. — disse em um tom de voz grave e arranhado — E mesmo assim, ao invés de mandarem um exército, são só vocês dois. Querem nos levar para a morte para limpar esse território, não é?

— É isso mesmo! — berrou o homem-rato — Eles são expansionistas, é isso que querem, seria mais fácil conquistar o território hostil se estivéssemos mortos.

Outro burburinho iniciou, com criaturas apontando para Ayla e a xingando.

— Não trouxe ninguém comigo porque não era necessário — respondeu furiosa — Se Nag não tivesse invadido meu território, nada disso estaria acontecendo!

— Vamos acreditar nessa fêmea? — indagou uma das criaturas — É só enxergar a situação, eles querem nos matar!

— Matar? Estou aqui para ajudar vocês!

— Mentirosa!

— Senhores! — Chamou Ergoth — Se contenham, por favor!

Um burburinho se iniciou, com as criaturas se xingando. Ayla não esperava civilidade, mas naquele ritmo jamais chegariam a um acordo. Tudo que propunha as criaturas jogavam pedras. Era como se eles não quisessem acabar com Nag ou estivessem assustados demais para pensar em algo.

Ayla encheu os pulmões para dizer algo, mas Colin a silenciou, colocando a mão em sua coxa.

— Por que vieram aqui se não querem aceitar nossas opções? — Indagou Colin — Ayla e eu valemos por um exército. Perguntem a Ergoth, todos os monstros que enviaram para nos matar foram mortos, sabe por quê? Porque são fracos, então acho que deviam ser mais complacentes com a situação de vocês. Não são vocês que estão nos ajudando, somos nós que estamos ajudando vocês.

— Viram só? — O homem-rato apontou o indicador — Esse Elfo e a fêmea dele vem até aqui para nos insultar!

— Isso mesmo! — berrou um Gnoll — Ele é um Elfo Negro, não é? Por que daríamos ouvidos a ele?

A paciência de Colin estava esgotando.

— Tudo bem. — Disse ele ainda mantendo a calma — Não precisam ajudar. Ayla e eu resolveremos o assunto com os Hobgoblins, sozinhos, e quando matarmos Nag, aqueles no comando do território hostil seremos nós. Podem ficar aqui sentados reclamando, vocês são fracos, não precisamos de vocês, só iam atrapalhar.

O silêncio durou por alguns minutos naquele salão, até que uma risada estridente ecoou por todo salão. As criaturas não conseguiram segurar a gargalhada. O único sério era o homem leão.

— Ouviram isso? Esse Elfo e a fêmea vão cuidar de tudo sozinhos, hihihi que piada!

— O Elfo nem magia têm e diz algo assim? Háháhá esses mestiços são hilários!

Ayla cerrou os punhos e abriu a boca para dizer algo, mas Colin disse antes dela.

— Ergoth! — chamou Colin em meio as risadas histéricas — Todos os líderes estão aqui, certo?

— S-Sim, senhor.

— Ótimo. Então será mais fácil.

Cabrum!

Ouviu-se o ressoar de um trovão no salão.

A cabeça de um dos Gnolls rolou pela mesa enquanto Colin estava em cima dela. As risadas cessaram e as criaturas arregalaram os olhos.

— Vocês só entendem pela força, certo? — Ele abriu um sorriso diabólico — Isso só torna tudo mais fácil!

Apavoradas, as criaturas sacaram suas espadas e começaram a correr, algumas, avançaram contra Colin.

Crash! Crash! Crash!

Um massacre começou naquele lugar, com Colin indo de um lado para o outro matando toda criatura que ficava no seu caminho. Ayla estava atônita com aquela atitude, mas não teve tempo para digerir o que Colin estava fazendo. Esquivou-se de uma espada e empalou um Gnoll com as mãos nuas.

Ergoth estava confuso em como tudo havia se escalado. Fora ele quem os chamou ali, mas não teve tempo de se sentir culpado. Colin e Ayla portavam sorrisos sinistros em seus rostos à medida que tiravam mais e mais vidas. Sentiu que se permanecesse ali, o próximo seria ele.

Ting! Boom!

Colin defendeu a patada do homem-leão, transpassando as paredes do salão e derrapando na terra do lado de fora. Todos que vieram com seus líderes ficaram chocados com a cena. Não esperavam um combate, não tão cedo.

Os ogros começaram a se preparar. Pegaram seus tacapes a fim de destruir o vilarejo junto aos orcs, mas a cabeça de dois deles explodiu.

Scrash! Scrash!

Saindo do grande salão, Ayla estava fazendo sinal de arma com a mão direita, enquanto segurava a cabeça de um homem-rato na esquerda.

— É melhor ficarem bem onde estão. — Bradou Ayla jogando a cabeça perto daquela multidão — Os líderes de vocês estão mortos, vocês agora estão sob nova jurisdição.

Ela cruzou os braços encarando Colin.

— Como sabia? — Indagou o leão humanoide desembainhando sua enorme espada de aço.

Colin ergueu as sobrancelhas.

“Do que ele está falando?”

As criaturas estavam apreensivas. Estavam com medo de Ayla, mas eles haviam ordens para cumprir.

Ouviu-se o som coletivo de aço raspando nas bainhas.

— T-Tem certeza que é seguro continuar com o plano? — indagou uma das criaturas. Suas mãos tremiam tanto que ele mal conseguia segurar sua adaga.

— N-Não quer a recompensa que senhor Nag prometeu? Eles são apenas dois, e há centenas de nós aqui.

— E-Eu sei, é que se Bonlion for derrotado, então…

As criaturas chegaram a um consenso.

Todas elas largaram suas espadas. No território hostil, o que predominava era a lei da selva, a lei do mais forte. Quando os líderes de todas aquelas tribos souberam que Ayla e Colin estavam em seu território, contactaram Nag para conseguir algum benefício.

Nag prometeu que aquele que trouxesse suas cabeças, viveria como rei. As criaturas não vieram com pretensão de um acordo, vieram para matar seus alvos, mas suas presas acabaram se tornando predadores. Seus líderes tinham planos mirabolantes, emboscadas bem trabalhadas, só não imaginavam que os forasteiros fossem tão imprevisíveis.

Sem um norte, as criaturas não sabiam o que fazer. Bonlion era a criatura mais poderosa das terras hostis depois de Nag. Se ele fosse derrotado, então não haveria por que continuar lutando. Mesmo com aquele número expressivo de monstros, eles seriam derrotados.

Com medo da morte, eles observavam aquele embate, torcendo para que o humanoide leão segurando uma enorme espada de aço saísse vitorioso.

A mana de Bonlion era bastante intimidadora, causando um calafrio nas criaturas. Era a primeira vez que veriam a lenda do território hostil em combate.

Colin transformou Claymore em uma adaga e dobrou os joelhos se preparando para avançar. Ele poderia usar a mana de Claymore, mas não quis.

— Finalmente um desafio de verdade!

Enquanto Colin sorria, Bonlion exibia seus dentes em fúria.

Bam!

Ambos avançaram em alta velocidade.

Bonlion segurou sua espada ao lado de seu corpo, apertou o cabo e aplicou um corte arqueado, que foi defendido por Colin. Um tilintar agudo foi ressoado, levantando poeira e trazendo uma poderosa lufada de vento que estremeceu as residências de madeira entorno.

Concentrando mana nos braços, Bonlion afastou a espada e tentou cortar Colin de cima para baixo, mas aquele golpe foi defendido novamente, afundando Colin até o calcanhar na terra.

Apesar de os golpes conterem uma força descomunal, Colin estava tranquilo.

— Esperava mais de você, homem leão. — Colin jogou a espada de Bonlion para o lado, girou a adaga na palma da mão, transformando-a em uma espada e avançou, decepando o braço de Bonlion.

Crash!

Não havia um pingo de mana naquele golpe, apenas força bruta. Nem mesmo Bonlion acreditou. A criatura saltou para trás com a mão no braço arfando em demasia.

Nenhuma das criaturas que via a luta deu um pio, continuaram em silêncio, aflitos com a possibilidade de ali estar nascendo um novo rei.

Ayla abriu um sorriso de canto, orgulhosa do futuro marido.

Colin chutou o braço de Bonlion e abaixou, pegando aquela espada enorme. Jogou de volta para o homem leão e ela cravou no chão ao lado da criatura.

— Não esqueça sua espada. — Zombou ele — A única chance de me vencer é com isso. Ainda consegue lutar ou prefere se render?

[Rugido!]

Bonlion estava furioso, se sentia humilhado por aquele mestiço que nem ao menos usava armadura. O carniceiro havia pisado em sua honra, em seu orgulho, e aquilo não ficaria barato. Ele agarrou o cabo de sua espada e deixou sua mana transbordar, atingindo todos com uma poderosa intensão assassina.

Dobrando os joelhos, Bonlion avançou e Colin esquivou-se daquela ligeira lâmina. Um corte foi lançado na direção das criaturas, matando um punhado delas.

Boom!

As criaturas começaram a correr pela sobrevivência.

Ainda furioso, Bonlion avançou rapidamente, aumentando a velocidade de seus golpes, mas ao invés de desviar, Colin defendeu dezenas de ataques.

“Isso pode acabar atingindo os Orcs escondidos nas casas” pensou Colin defendendo outro golpe “Então vamos para outro lugar!”

Colin saltou, se afastando da criatura que não queria dar a ele nenhum segundo de folga.

Bam! Bam! Bam!

Bonlion continuava avançando, rugindo a cada ataque enquanto Colin continuava saltando para trás, saindo da zona residencial.

Impressionados pelo combate, as criaturas os seguiram observando a luta. Ayla saltou para cima do grande salão e usou a análise para observar o embate.

A velocidade dos golpes de Bonlion triplicou, assim como sua força. Colin continuava defendendo aqueles golpes, mas eles estavam ficando mais pesados, até que se defendeu do golpe da espada sendo arremessado para o lado, derrapando.

— Acaba com ele, Bonlion! — berravam as criaturas — Mostre o inferno a esse Elfo!

Quanto mais tempo passava, mais forte Bonlion ficava, aumentando também todos seus atributos físicos. Colin estava começando a ser pressionado, mas isso não o abalou.

Para o errante era divertido ser pressionado daquela maneira por alguém. Foi então que Colin decidiu parar de defender e fugir, começando a atacar.

Woosh!

Colin saltou para trás e dobrou os joelhos, transformando Claymore em uma Katana e a segurando ao lado do corpo como se fosse sacá-la.

Bonlion sentiu um arrepio na espinha e saltou para trás suando frio. Seus movimentos rápidos e frenéticos tiveram uma pausa, e seus instintos diziam para que ele não se aproximasse do carniceiro.

Ele estava assustado e sem perceber, sua mão começou a tremer. Aquela era a sensação de estar cara a cara com um predador perigoso, uma sensação que Bonlion não experimentava há tempo. Não fora apenas o poderoso leão que sentiu, todas aquelas criaturas também sentiram.

“Esse cara… Ele ainda está se segurando?”

Sua parte fera mantinha sua razão, e sua razão dizia que enfrentar aquele homem seria inútil. Ele estava dando tudo de si e mesmo assim nada estava adiantando. Então ele tomou uma decisão. Bonlion largou a espada, ficou de joelhos e encostou a testa no chão.

— Eu… me rendo…

As criaturas ficaram surpresas, mas nada disseram.

Colin suspirou, transformou Claymore em um anel e caminhou até seu oponente. Ficou frente a ele e ergueu o braço. Bonlion começou a suar frio à medida que aquela mão se aproximava da sua cabeça, mas Colin nada fez. Apenas o acariciou, e Bonlion ficou confuso.

— Não vou matar você, pode se erguer.

Bonlion engoliu o seco e encarou Colin de baixo.

— Senhor…

— Sinto muito pelo seu braço, me empolguei no momento. — Colin deu dois tapinhas no ombro do leão e enfiou as mãos nos bolsos — Pode se levantar, a luta acabou.

Um silêncio sepulcral invadiu aquele lugar, ouvindo apenas o barulho dos chinelos de Colin se aproximando dos monstros que estavam incrédulos. O poderoso Bonlion havia desistido, e aquilo só havia confirmado um fato, eles tinham um novo rei.

— É o seguinte! — bradou Colin encarando a multidão — Vocês agora trabalham para mim e Ayla. A rainha de Runyra em breve se tornará minha esposa, e o território de vocês não será de vocês, ele agora é nosso, e qualquer um que quiser contestar isso pode vir e me enfrentar.

Nenhum deles se atreveria a isso, o instinto deles dizia que era melhor não contrariar aquele homem.

Colin continuou.

— Propus aos antigos líderes de vocês que nos ajudassem a acabar com os Hobgoblins, mas eles recusaram. Acredito que sob nova liderança nossas desavenças cessem e a gente possa caminhar juntos ao progresso. Meu objetivo é acabar com Nag, e espero que vocês cooperem. — Colin apontou para Bonlion — Ele obedece a mim e minha companheira, os líderes que as tribos de vocês escolherem obedecerão a ele.

Colin olhou para Ayla em cima do telhado e ela assentiu com a cabeça, saltando para próximo dele.

Cruzou os braços e cruzou olhares com Colin ates de encarar a multidão de criaturas. Mesmo que fosse apenas um olhar, eles se entenderam, sabiam o que o outro queria dizer.

Ela estufou o peito e disse:

— Quando Nag cair, o território hostil fará parte de Runyra. Nós os deixaremos em paz e até permitiremos comércio para nossas terras, claro que vocês terão que seguir algumas regras, mas acredito que irão se comportar. Vocês serão uma força independente de Runyra, mas atenderão ao nosso chamado sempre que precisarmos. Não vou me intrometer no que fazem no território hostil, mas por hora, ele é o capitão — Ela apontou para Bonlion — Os líderes que escolherem de cada bando serão os tenentes. O restante da organização hierárquica entre seus bandos será exclusivamente escolha de vocês, mas quero que decidam isso até o fim do dia.

Após aquelas criaturas reconhecerem seus novos governantes, nenhum deles ficou debochando ou sorriu. Todos estavam sérios prestando atenção em Ayla como se suas vidas dependessem disso.

— Meu companheiro não mentiu — continuou Ayla — Eu e ele enfrentaríamos os Hobgoblins e Nag sozinhos se vocês não tivessem sido tão desrespeitosos. Agora todos vocês irão para a batalha para se redimirem pelo que fizeram. Se quiserem fugir e se aliar a Nag em vez da gente, a escolha é de vocês, mas não esperem misericórdia se fizerem isso. Garanto que o traidor enfrentará um destino pior que a morte!

Depois do que presenciaram, nenhum deles ponderou mudar de lado. As criaturas sabiam que Nag não era tão mais poderoso que Bonlion, e eles queriam estar do lado dos mais poderosos.

Tremendo de medo, um Gnoll deu um passo à frente.

— S-Senhora, existem milhares de Hobgoblins, talvez milhões, e nossos números não se comparam aos deles. Se começarmos essa guerra, será algo sem volta.

Ayla assentiu.

— Vocês têm canhões, catapultas, torres de cerco e máquinas de guerra, não tem? Basta posicioná-las no lugar certo. Vocês irão para a batalha, mas eu e meu parceiro faremos a maior parte.

As criaturas ainda continuavam relutantes, mas eles não tinham escolha.

— Q-Quando planeja atacar os Hobgoblins, senhora?

— Eles estão há quantos dias daqui?

— Dois dias e meio, senhora. Levando as máquinas de guerra pode acabar levando quatro dias.

Era bastante tempo, mas não havia outra saída.

— Quanto tempo de distância dos territórios dos Hobgoblins até onde Nag está?

O Gnoll calculou o tempo mentalmente.

— Algumas horas, senhora, um dia levando as máquinas de guerra.

— Perfeito. Avançaremos diretamente, sem máquinas de guerra. Assim que os Hobgoblins caírem, vamos até o território de Nag em uma marcha organizada e terminaremos com isso de uma vez por todas. Vocês estão dispensados, decidam seus líderes e comecem a se preparar. Partam quanto antes com as máquinas de guerra. Meu companheiro e eu partiremos em dois dias, chegando a tempo para a invasão.

As criaturas mais nada disseram. Foram direto para suas carruagens e começaram a se retirar do jeito que conseguiram. Eles não tinham tempo a perder.

— Você! — Ela chamou, se aproximando do homem-leão — Qual seu nome?

— Bonlion, senhora…

— Certo, Bonlion, a decisão de fazer você capitão foi do meu companheiro, a decisão de poupá-lo também. Ele se arrependerá de ter dado uma segunda chance a você, Bonlion?

O homem-leão se ergueu e bateu a mão que lhe restou no peito em sinal de respeito.

— Pode confiar em mim, senhora, não vou decepcioná-la, nem a você e nem ao novo rei. — Ele se curvou — Se me der licença, tenho muito trabalho a fazer.

Ela assentiu.

— Pode ir, capitão.

Bonlion pegou sua espada e girou, devolvendo a bainha.

Ayla suspirou aliviada e caminhou até Colin, ficando ao seu lado.

— É isso? — Ela indagou observando as caravanas se afastarem — Reunimos todas as tribos do território hostil?

— Parece que sim.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Faça.

— Por que poupou Bonlion? Pelo que ouvi dos carniceiros, pensei que não eram nem um pouco misericordiosos.

Colin deu de ombros.

— Eles são como animais, aprendem na base da força e respeitam quem é o mais forte. Bonlion agora é o nosso gatinho, fará o que a gente quiser. Depois de Nag cair, o território hostil ficará livre, certo? Precisamos que alguém fique de olho nesses idiotas, e eles respeitam Bonlion. — Colin coçou a nuca — Sei que seria complicado arranjarmos algum informante qualificado no meio desses caras.

Abrindo um sorriso, Ayla esbarrou nele com o quadril.

— Está pensando como um administrador, estou gostando de ver. Pelo menos meu marido não será apenas músculos, e isso me deixa um pouco mais aliviada. Se no futuro eu me ausentar, então você consegue tomar conta de tudo.

— Já está pensando em deixar o trabalho pesado comigo?

Envergonhada, ela ponderou quais seriam as próximas palavras que sairiam de sua boca. Com o casamento marcado e a junção dos territórios cada vez mais próxima, seus pensamentos se remeteram a meios de prosperar sua dinastia.

— Não é isso, talvez seja necessário, vai que eu acabe ficando grávida… — Disse meio sem jeito — Não posso ficar com o trabalho exaustivo de administrar um reino desse tamanho sozinha…

Colin ficou em silêncio e suspirou. Ele se lembrou de Brighid e se perguntou com quantos meses ela estaria agora. Questionou em silêncio se estava protegida ou se alimentando direito. Ayla sentiu que foi um pouco direta demais, e Colin percebeu que a companheira estava ficando mais desconcertada que o normal. Para não causar um clima estranho, ele sorriu e abanou a cabeça.

— Quer ficar grávida para não trabalhar? — Eles começaram a caminhar rumo a residência onde se hospedavam — É a pior desculpa que já ouvi.

Ayla deu uma cotovelada na costela dele.

— Não é desculpa, quer que seu filho cresça e seja um preguiçoso?

— Que lógica é essa?

— Bem, eu vou trabalhar bastante na gestação, então o bebê nascerá cansado.

Colin ergueu as sobrancelhas e abriu um sorriso de canto.

Ayla franziu o cenho e apontou para ele furiosa.

— Estou falando sério!

— Tá, tá, que tal a gente só descansar?

— Está achando que sou maluca, não está?

Os dois se afastavam em uma conversa descontraída e alguém os observava lá de cima, bem no alto, próximo às nuvens. Com as mãos para trás usando a análise avançada, Rian viu todo aquele desenrolar de eventos.

— Você mudou desde que nos vimos pela última vez, Colin. — Ele alisou o cabelo loiro para trás enquanto sua batina se agitava devido ao vento — Pelo jeito que as coisas se resolveram aqui, nós vamos nos reencontrar em breve. Quero ver o quanto você evoluiu.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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