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Capítulo 195 – A guerra do território hostil – Parte 04

Como se fosse o exército de uma mulher só, Ayla avançava em seu ziguezaguear interminável pelos Orcs, destruindo todos que se colocavam em seu caminho. Era agoniante para Nag observar aquela cena. Ele já havia enviado quase quatro mil Orcs, e todos eles estavam sendo subjugados.

Seu maior medo era perder seu poderio militar e ser futuramente subjugado pelos Hobgoblins, já que a chance de não o verem como uma ameaça depois deste confronto era enorme.

Ele olhou para trás, vendo seus guerreiros com olhar apreensivo, assustados com a possibilidade de avançar. Como líder, Nag não poderia se mostrar abalado na frente de seus homens.

— Se preparem, vamos avançar! Nosso alvo está se cansando, foquem na mulher e, do carniceiro, cuido eu. Quando terminarem, voltem e se reorganizem, a vitória é nossa, não precisam temer! — Nag ergueu seu machado e o apontou para o campo de batalha — Mostrem a eles porque o território hostil pertence a nós!

Na dianteira, a última leva de Orcs começou a avançar enquanto Ayla ainda estava ocupada enfrentando a horda anterior. Enfrentá-los não era um problema, mas sim, sua condição física. Havia muito tempo que ela não se mexia assim, e era a primeira vez que enfrentava tantos inimigos de uma vez.

Ayla desejava parar e recuperar o folego, mas ela não queria fazer feio na frente do carniceiro. Se seu número de inimigos não fosse tamanho, ela usaria mais mana e decidiria aquilo mais rápido, mas até que estava gostando da emoção do combate. Fazia quase uma década que ela não se empolgava assim.

— Parece que Nag finalmente resolveu lutar. — Colin viu a horda se aproximar e transformou Claymore em uma adaga.

Os homens de Nag se dividiram em dois, fechando Ayla pelos flancos, enquanto o próprio Nag continuou indo pelo meio.

Os Orcs relutavam em se aproximar da caçadora e Ayla se aproveitou daquilo. O medo deles enrijeciam seus músculos e deixavam seus golpes previsíveis, facilitando o trabalho dela.

— Ayla! — berrou Colin na grama alta, observando-a de cima travar aquele combate — A última leva de Nag chegou, tenha cuidado!

Crash! Crash!

Ela cortou a jugular de um lobo e um Orc ao meio na horizontal. Dobrou os joelhos e avançou em linha reta em uma arrancada, decapitando vários Orcs em um curtíssimo espaço de tempo.

— Você também, tenha cuidado! — Ela quebrou o maxilar de um orc com um pontapé — Nag pode ser fraco, mas não baixe a guarda!

Foi a vez de Colin dobrar os joelhos. Ele se concentrou em Nag ao longe e usou a mana contida em Claymore. Esperou os Orcs se aproximarem ainda mais e, quando estavam há menos de cinquenta metros de Ayla, Colin avançou, num estrondo.

[Passo fantasma].

 Cabrum!

Nag se moveu a tempo, defendendo-se da adaga de Colin com seu machado. Seus guerreiros ficaram assustados em como ele havia aparecido na frente de Nag tão rápido enquanto o orc ainda estava em cima de seu lobo.

Mesmo que Colin estivesse de pé no lobo e Nag sentado, a altura do Orc não diferia tanto da de Colin.

Eles estavam encarando um ao outro enquanto disputavam força. O carniceiro portava um olhar ensandecido, era como se estivesse fora de si. Sua pupila estava contraída e seu sorriso era largo.

— Desça logo desse cachorro, Nag, vamos lutar!

Nag engoliu o seco e cerrou os dentes. Aquele homem parecia completamente fora de si, mas a verdade era que Colin estava excitado. Fazia tempo que ele não tinha a luta emocionante que buscava a meses, e após ouvir tanto sobre Nag, o carniceiro depositou no Orc as expectativas de um combate brutal, o preferido de Colin.

Ting!

Com o movimento do machado, Nag conseguiu afastar o carniceiro, mas ele não foi para muito longe. Claymore se transformou em uma lança de dois gumes. Colin a envolveu com mana elétrica, levou o braço lá atrás e a lançou abruptamente.

Woosh!

Rasgando o ar, a lança atravessou inúmeros Orcs antes de cravar na cabeça do lobo gigante de Nag, o derrubando.

Crash!

Aproveitando a chance, Colin avançou como um louco. Nag rolou algumas vezes na grama e se levantou prontamente para o combate. O que viu foi a mão de Colin indo em direção a seu rosto, mas ele usou o cabo do machado para se defender, sentindo os ossos de seu braço vibrarem.

Bam!

Enquanto derrapava para trás, Colin continuou avançando, socando Nag cada vez mais rápido enquanto o orc se defendia da forma que conseguia. A força que o carniceiro colocava em cada ataque era descomunal, fazendo até mesmo os ossos grossos do braço de Nag trincarem.

“Esse desgraçado!” Nag continuava se defendendo “Ele luta como um louco, uma besta! Então esse é o líder dos carniceiros? Ele é… insanamente forte!”

Bam!

Colin parou de dar seus socos e aplicou um pontapé na costela de Nag, fazendo o Orc esbugalhar um dos olhos devido à dor. Suas mãos ficaram molengas e ele soltou o machado.

“Merda!”

Bam!

O punho de Colin foi enterrado no abdômen do enorme Nag. O orc golfou sangue e o carniceiro saltou, afundando a canela no rosto dele em outro golpe brutal. Ouviram o barulho de algo quebrando e o Orc foi lançado na direção de seu lobo, bem em cima de uma das pontas da lança de dois gumes.

Crash!

Nag olhou para baixo, vendo a ponta da lança transpassar seu abdômen pelas costas.

Aquilo o fez golfar ainda mais.

Os orcs que observavam a luta de perto ficaram descrentes com o que presenciavam. Seu senhor da guerra havia sido derrotado sem mostrar nenhuma de suas habilidades especiais.

A moral deles desmoronou.

O rosto de Nag havia sido destruído.

Um de seus olhos saltava para fora, havia um buraco aberto em sua testa e a maioria de seus dentes haviam sido arrancados devido ao pontapé.

Aquela era uma visão humilhante para aquele que outrora era temido.

A visão de Nag estava ficando turva e sua consciência desaparecendo, até que ouviu uma voz em sua cabeça.

“Use o frasco que lhe dei, Nag. Você não pode derrotar o carniceiro com seu próprio esforço. Use o frasco e vença, ou não o use e morra!”

O Orc se afastou da lança e golfou sangue mais uma vez. Caminhou trôpego em direção ao Lobo branco abatido e bateu um dos joelhos no chão. Começou a olhar suas coisas derrubadas na grama com sua visão que escurecia, procurando uma bolsa parda.

Ele a encontrou, mas seu corpo desabou. Esforçando-se, ele se arrostou até ela e a abriu, apanhando um frasco prateado. Tirou a tampa com as mãos trêmulas e relutou em tomar por um instante.

“Eu… eu não tenho mais nada a perder.”

Ele tomou, sentindo o gosto amargo de sangue velho. Sua garganta começou a arder e as veias de seu braço começaram a pulsar mais rapidamente. Os dentes de Nag começaram a crescer novamente, mas estavam pontiagudos. Seu único olho foi para o meio de sua testa e sua pele avermelhada ficou ainda mais vermelha. Seus ferimentos se fecharam e chifres começaram a crescer em sua testa, assim como asas negras de pássaro ganharam forma em suas costas.

Nag sentia extrema dor enquanto seu corpo mudava de forma, e sua consciência se afogava em um mar infindável. No fim, havia restado uma criatura com um olho, dois pares de asas, chifres e pele vermelha sangue. Seu corpo era alto e cheio de músculos, exalando uma energia única.

Colin caminhava calmamente até onde havia lançado Nag enquanto os Orcs abriam espaço. Ele parou há alguns metros, vendo aquela criatura estranha de pé, encarando sua própria mão.

O carniceiro não conseguia sentir, mas a mana daquela criatura era algo perverso, algo que Ayla sentiu, mesmo estando longe.

— Nag, é você? — Indagou Colin.

A criatura o ignorou e continuou olhando para as próprias mãos.

Colin pegou Claymore, a transformando em uma espada.

Ao longe, Valagorn ficou apreensivo. Aquela mana diferia de tudo que ele já sentiu. Tinha uma essência pura, mas a crueldade fazia frente aquela pureza. Olhou para Jane, que mantinha uma expressão semelhante.

— Jane… O que é aquilo?

— Como esses desgraçados fizeram isso? — Ela se ergueu abruptamente — Vamos ajudar o garoto!

— Nem pensem nisso!

Um grande círculo mágico abriu abaixo deles.

Rian estava logo atrás portando um sorriso no rosto. Nem Jane ou Valagorn o sentiram chegar.

“Runas?” Jane se perguntou “São de alto nível. O garoto deve estar usando bastante mana para manter isso ativo.”

— Invocações de alto nível nesse plano… Colin é mesmo surpreendente de conseguir trazer vocês. Se estivessem com força total, isso seria complicado para mim.

Apesar de estarem presos, Jane e Valagorn permaneceram calmos. A súcubos até abriu um sorriso de canto e apoiou a mão na cintura de forma despreocupada.

— Não vai nos prender nesse círculo por muito tempo, pirralho. E como conseguiu fazer aquilo?

Rian deu dois passos em direção a Jane.

— Você não precisa saber, súcubos.

Valagorn olhou para um e depois para outro.

— Jane, pode me explicar o que está acontecendo?

Ela assentiu e suspirou.

— Aquela criatura, ela tem a energia da grande árvore, mas eu vi, o Orc bebeu algo, certo? O que foi? Um chá de ervas feito da raiz da grande árvore? Um tônico? Ou… sangue? — Rian abriu um sorriso e Jane franziu o cenho — Sangue que contém energia da grande árvore? O que vocês… Como?

— Assista, súcubos, vamos ver até onde o seu garoto consegue chegar.

Jane caminhou até a borda do círculo mágico, ficando cara a cara com Rian.

— Obrigada.

Ele ergueu uma das sobrancelhas.

— Por que está agradecendo?

— Seu bichinho será um ótimo treino para o meu Colinzinho.

— Com esperanças de que ele consiga vencer? Hehe Não sabia que demônios tinham esse senso de humor.

Jane deu de ombros e abriu um sorriso sedutor.

— Tá, vamos entrar no seu jogo, garoto. Ficaremos aqui e esperaremos, mas quando seu feitiço acabar, meu Colin estará de pé, e eu mesma me encarregarei de acabar com você.

Sorrindo, Rian assentiu.

— Eu gostaria de te ver tentar, demônio.

— Não se preocupa, você verá.

Abrindo a boca, a criatura expeliu um vapor e seu único olho focou em Colin.

— Car… ni… cei… ro… — disse em um tom de voz rasgado e grave. Ele abriu as asas e apontou a mão para Colin. — Mo… rra.

Colin sentiu um arrepio na espinha, mas não viu nenhuma manifestação de mana, até que um círculo mágico se formou metros acima dele.

Woosh!

Se movendo por instinto, Colin foi para o lado e uma pressão assustadora esmagou o chão, abrindo um buraco e levantando poeira.

Boom!

“O que foi isso?” Se perguntou enquanto derrapava “Esse não é o mesmo Nag, e é a primeira vez que vejo esse tipo de magia. É magia de pressão?”

A carne na palma da criatura começou a borbulhar e, uma espada, ganhou forma. Era uma espada feita de pele e ossos, com diversos olhos se mexendo por toda sua extensão. Os olhos pararam de se mexer e focaram em pontos específicos. Círculos mágicos abriram em várias partes daquele campo de batalha e esmagaram Orcs, lobos e tudo que estivesse pela frente.

Boom! Boom! Boom!

Foram magias ainda mais poderosos do que aquela aplicada em Colin. A criatura virou-se de costas, vendo um raio amarelo indo e vindo ao longe, ceifando a vida de inúmeros Orcs.

— Ca… ça… do… ra… — Ele apontou a espada para onde Ayla lutava e todos aqueles olhos focaram nela. Um enorme círculo mágico abriu-se sobre aquele campo de batalha, um círculo que cobria um raio de quase meio quilômetro.

Ayla olhou para cima e os Orcs fizeram o mesmo, vendo um enorme círculo violeta.

Kaboom!

Uma pressão esmagadora veio de cima para baixo, dizimando tudo que estivesse no círculo, que após o golpe, desapareceu. Tudo que foi atingido por aquilo foi destroçado, não restando nada além de uma enorme poça de sangue.

Os olhos de Colin arregalaram e ele sentiu um aperto no peito. Ele não conhecia Ayla a tanto tempo, mas já a considerava algo além de uma ferramenta política, eles haviam se tornado amigos.

— Ayla! — berrou a todos os pulmões.

— Que foi? — Indagou ela aparecendo ao lado dele, encharcada de sangue. Faíscas amarelas serpenteavam por seu corpo — Esse é Nag?

Colin ficou aliviado ao vê-la viva. Suspirou e recuperou sua postura.

— De alguma forma ele se transformou nisso, e parece que está bem mais forte que antes.

Ayla engoliu o seco ao sentir aquela mana transbordar, a afogando em angústia. Temeu não por sua vida, mas pela de Colin. O carniceiro era o responsável por unir o território hostil e por fazê-la acreditar que o sonho de seu pai poderia ser concretizado. Se algo acontecesse com ela, ele seria o único capaz de prosseguir com o plano de pacificar o continente, um plano que era de ambos.

— Colin… — Seu tom de voz exalava preocupação — Você não consegue sentir mana, né? Essa coisa… Não acho que a gente consiga vencer isso…

Colin abriu um sorriso largo. Ouvir aquilo só o instigou ainda mais.

— Isso é ótimo! — Ele começou a caminhar em direção a criatura — Se até você está me dizendo isso, então deve ser verdade.

— Aonde está indo? Não ouviu o que eu disse?

— Ouvi. Fique aí e testemunhe, majestade.

A teimosia e imprudência de Colin a incomodava, principalmente porque ela se importava com ele e via um futuro grandioso para ambos. Era mais sábio recuar e repensar em um plano, mas Colin queria enfrentar aquela coisa sem plano algum.

— Testemunhar o quê? A mana daquela coisa é-

— Ayla! — Ela ficou em silêncio e engoliu o seco — Eu não vou perder, e se eu perder aqui, então significa que eu não merecia me tornar rei, imperador, ou ocupar qualquer cargo de poder. Por favor, confie em mim.

Após cerrar os punhos, Ayla franziu os lábios e assentiu. Colin transmitia uma calma que ela não conseguia entender, mas a calma dele a deixou em paz e a fez confiar nele. Apesar de imprudente, Colin já era um homem feito. Ela julgou que o carniceiro sabia o que estava fazendo.

— Cuidado…

Ele assentiu e continuou caminhando em direção a criatura, que aos poucos começava a raciocinar. Seu pensamento ficava mais rápido, mais lógico.

— Carniceiro! — Disse sem pausas — Agora entendi, só tenho que matar você e aquela mulher. Então, tudo acabará.

Colin cravou Claymore na grama ensanguentada e tirou a parte superior da sua armadura de couro, a jogando no chão, ficando com uma regata escura. Alongou os braços, entrelaçando os dedos nas costas e os jogando para trás.

— Bem melhor. — Ele pegou a espada e abriu um sorriso — Vamos terminar com isso, Nag.

A mana entorno da criatura começou a transbordar, agitando a grama, o cabelo de Ayla e as roupas de Colin. Aquela manifestação ficava agressiva a cada segundo.

— Essa é uma ótima oportunidade de ver qual o mais poderoso, sua magia de pressão ou o meu corpo!

Nag abriu os dois pares de asas negras e os bateu, avançando na direção de Colin.

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