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[Três meses atrás.]

Em um vilarejo nas montanhas, as pessoas se levantavam com o raiar do sol. Os homens se preparavam para ir caçar, e as mulheres junto as crianças se preparavam para a tarefa doméstica. Um rapaz jovem arrumava o cabelo e ajeitava a gola da camisa enquanto caminhava em direção a uma residência humilde.

Levava uma garrafa de leite em uma das mãos e pães na outra. Ergueu a mão com os pães e bateu três vezes na porta. Ele suspirou e engoliu o seco. A porta abriu devagar e ele viu uma bela mulher de cabelo preto e olhos verdes trajar um vestido branco. Apesar de estar com quatro meses, sua barriga estava enorme, principalmente por ter três bebezinhos lá dentro.

Os seios de Brighid estavam fartos e, devido à dor nas costas, ela mal conseguia caminhar. Apesar de tudo, ela tentava ser a mais educada possível com quem se dispunha a levar coisas para ela. A maioria era homens entre dezesseis a quarenta anos.

Às vezes recebia flores, doces, até mesmo alguma joia de família. Ela nunca recusou nenhum presente, e seu jeito meigo e convidativo deixava os rapazes pensarem que ela estava retribuindo suas investidas, quando, na verdade, estava apenas sendo educada.

— S-Senhorita! — O rapaz estava nervoso — E-Eu trouxe para você, um pouco de leite e pães, posso entrar? Colocarei no balcão da cozinha para não sobrecarregar a senhorita.

Brighid abriu um sorriso gentil.

— Claro!

Ambos entraram e Brighid caminhou com uma das mãos apoiada nas costas e a outra em baixo da barriga.

— Pode deixar em cima da mesa. — disse ela.

O rapaz fez o que lhe foi pedido.

— Senhorita Morgana não está?

— Não, minha irmã trabalha nas cidades abaixo da montanha ao dia. Deseja falar com ela?

O rapaz engoliu o seco e fez que não.

— Senhorita Morgana me dá medo hehe.

— Quer café? Preparei um pouco.

— Eu aceito.

Brighid foi até a cozinha e pegou a garrafa de café. Pegou uma xícara e a encheu, entregando para o rapaz. Os dons culinários de Brighid continuavam impecáveis. Era impossível negar qualquer coisa de uma mulher tão gentil e bela.

O rapaz bebeu o café e sentiu um gosto indescritível. A água não estava tão quente e o café não estava tão forte e nem tão fraco.

Estava perfeito.

— A senhorita já ponderou abrir um estabelecimento de café? Tenho certeza que venderia muito. Não é tão popular, mas pode ser um negócio do futuro.

Brighid afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha e colocou um pouco de café para si.

— Não tenho dinheiro para isso e daqui a alguns meses ganho eles — Brighid alisou a barriga — Acho que não terei tempo para cuidar de um negócio assim.

O rapaz, de cabelo e olhos escuros, engoliu o seco. Brighid e Morgana vieram ao vilarejo cerca de um mês atrás. Fizeram um acordo com o ancião local e compraram a casa mais humilde da vila. As mulheres não gostaram dela por ser bonita demais, e os rapazes gostaram dela pelo mesmo motivo.

As moças da vila a julgavam em silêncio, principalmente porque Brighid se dizia casada, mas nunca viram seu marido, e uma mulher casada não seria tão receptiva com outros homens segundo elas.

Já haviam colocado rótulos nela e quase nenhuma das mulheres da vila conversava com ela, sequer a olhava no rosto.

O rapaz, na flor da idade, encarava Brighid vez ou outra, sentindo uma atração bem forte, típico da adolescência. Não esperava que partisse para os finalmente com ela, mas como um garoto jovem e idiota, pensava que poderia conquistá-la de alguma forma.

— S-Senhorita Brighid! — Ele engoliu o seco — Desculpa a pergunta, mas o que seu marido está fazendo? Digo… deixar uma mulher como a senhora aqui, sozinha com a irmã… Não vejo isso como a atitude de um homem.

Brighid sentou no sofá delicadamente e pegou um crochê que aprendeu a fazer. Já havia feito duas roupinhas de bebês, com tempo livre, estava fazendo a terceira.

— É um pouco complicado de explicar, Talfen, mas meu marido não é um monstro.

Talfen puxou uma cadeira e se sentou ante a ela.

— Como ele é? Digo… Para ele ser o pai dos seus filhos, acredito que ele seja alguém especial…

Brighid deixou um sorriso escapar ao lembrar do marido.

— Ele é… É um pouco inconsequente, mas é um bom homem — Ela segurou o pingente que Colin havia a entregado meses atrás e mostrou a aliança dourada no anelar da mão direita. — Colin me deu isso depois que nos casamos, ele disse que de onde ele veio era um sinal de demonstrar compromisso.

Talfen assentiu. Da maneira apaixonada que Brighid falava do marido, o jovem percebeu que jamais teria chance com uma mulher como aquela.

— Então ele se chama Colin… Posso perguntar onde ele está agora?

Brighid desviou o olhar.

— O lugar que estávamos foi atacado, a gente se separou, então… Não sei onde ele está agora…

Vê-la cabisbaixa deixou o coração do garoto partido.

— Senhorita Brighid, não me importo em ajudá-la a criar seus filhos, d-digo, não quero roubar o lugar do seu marido, e-eu só quero ajudar, entende?

Brighid abriu um sorriso gentil, deixando o garoto corado.

— Obrigada, Talfen, você tem sido muito prestativo comigo desde que cheguei.

Ele coçou a nuca sem jeito.

— N-Não precisa agradecer, acho melhor eu ir andando antes que minha mãe fique uma fera — Ele se levantou — Amanhã volto e trago frutas para a senhorita. Maças fresquinhas da montanha, a senhorita vai adorar!

Brighid continuou sorrindo.

— Não precisa me mimar tanto, ficarei mal acostumada.

— F-Faço questão em ajudá-la nesse momento. Até amanhã, senhorita Brighid.

— Até!

O garoto saiu da casa de Brighid enquanto outras mulheres que estendiam roupa o encaravam ao longe.

— Garoto estúpido! — disse uma delas — Não sei porque ele vive levando essas coisas para ela, digo, ela está grávida e está conosco a quase um mês. O suposto pai nunca apareceu, e ela disse ser casada. Vagabunda mentirosa.

A outra mulher de porte mais robusto cuspiu na grama.

— Deve ter se envolvido com um homem casado e fugiu com o rabo entre as pernas. Conheci uma moça da vila de baixo que fez o mesmo. Outra vadia da pior espécie. Não sei porque o ancião aceitou uma desconhecida aqui.

— Homens, basta um rostinho bonito e jeitinho meigo para virarem completos idiotas. O idiota do meu marido queria convidá-la para jantar conosco, acredita nisso?

— Melhor essa vadia arrumar outro lugar para criar esses bastardos. Se ela ganha tanta coisa estando prenha, imagina quando esses bastardos nascerem? A vadia será disputada pelos idiotas e eles continuarão sendo usados.

— Concordo, espero que ela vá embora o mais rápido possível.

Brighid continuava no crochê, terminando a última roupinha. Sentiu algo gelado escorregar por seus pés e subir por suas pernas.

Nagini estava bem pequena se comparada a seu tamanho original. A serpente subiu pelo braço do sofá e enroscou-se no ombro de Brighid.

— Devíamos ir embora desse lugar. — Sibilou a serpente em um tom de voz arrastado que soou como um sussurro — Qualquer dia desses alguém mal-intencionado pode passar por aquela porta para te fazer mal.

Brighid suspirou.

— Eu sei… Morgana ainda não deve ter encontrado a ilha das fadas, será que passei as coordenadas corretas? Tem um milênio que não vou para casa, posso ter me confundido…

— Ela vai encontrar. — Nagini escorregou pelo braço de Brighid e ficou em suas coxas. — O garoto não desiste mesmo, não é? Daqui a alguns dias ele entrará por aquela porta e irá propor um casamento.

— Não acho que ele fará isso… Talfen só estava sendo gentil.

— Gentil? Uma gentileza desmedida, não concorda? Assim como todos aqueles outros homens que veem te trazer coisas, não é?

Brighid suspirou e abaixou o crochê encarando os olhos da serpente.

— O que está insinuando?

— Eles querem levá-la para a cama.

Após uma careta, Brighid retornou ao crochê.

— Não acho. Estou grávida, ganhei um pouco de peso, eles só estão sendo gentis, só isso.

— Para alguém tão inteligente, você às vezes é bem inocente. Ninguém é tão solícito com uma forasteira atoa. Mesmo estando um pouco fora de forma, você ainda é mais bonita que as mulheres daqui. Deveria parar de alimentar as esperanças deles.

— Eu não dou esperanças, de onde tirou isso?

— É esse seu jeito doce demais, homens podem confundir esse tipo de coisa.

Brighid suspirou.

— Por que você sempre torna tudo tão complicado?

— Você que é simples demais. Pessoas são complexas, senhorita Brighid, não importa a raça ou espécie, todos são complicados. — Nagini deslizou pelas pernas de Brighid até encontrar o soalho — Vou caçar algo para comer, deveria descansar.

— Só irei terminar essa blusinha e já vou.

Nagini rastejou por um buraco na parede da sala, indo para fora.


Há alguns quilômetros dali, um homem coberto por uma capa preta segurava um medalhão dourado com uma pedra verde no centro. Ele estava no topo de uma torre. Moveu o medalhão algumas vezes até que a pedra verde começou a brilhar intensamente.

— Está mais a oeste! — Ele berrou — O brilho está forte, deve estar por perto.

Lá em baixo, um homem com cabelos escuros e uma longa barba, retirava a espada do peito de um demônio. Ele era cego de um olho e também estava com uma capa preta cobrindo o corpo.

— Tem certeza? — Indagou Magnus, o líder da ordem conhecida como caçadores de espectros — Faz semanas que estamos no mesmo rastro e ainda não encontramos nada.

— O medalhão não mente, senhor, ele está mais brilhante que nunca. Confie em mim, estamos perto.

Magnus assentiu e se virou para seus homens.

— Vamos continuar, já devemos estar perto.


Mais de trinta homens montados em cavalos sacudiram suas rédeas rumando para oeste. O caminho era tortuoso, mas eles eram fortes para lidar com bandidos, mercenários e até mesmo demônios avançados.

A ordem dos caçadores de espectros nasceu após a rachadura no céu se tornar visível e pequenas rachaduras começarem a abrir por todo mundo.

Um grupo de monges clérigos começou a organizar todos os mosteiros para combater a invasão, e seus homens originários da montanha de Brambéria focaram em combater a ameaça do abismo.

A Ordem contava com quase 200 membros, todos centrados principalmente no Oeste. Os anciões tinham suas técnicas para encontrar as criaturas que chamavam de demônios e as destruíam.

O líder de cada esquadrão levava um medalhão consigo que funcionava como uma bússola, apontando para o ser do abismo mais poderoso em um raio de quase duzentos quilômetros.

Na ordem havia apenas a elite da elite do grande monastério da montanha Gartilha, conhecida como a montanha mais alta de Brambéria e um local de difícil acesso.

Havia outra vertente na própria Ordem dos caçadores, uma vertente não tão benquista, pois, eles eram vistos como mercenários, e não como monges. Entre eles haviam vampiros, lobisomens e havia boatos que haviam até mesmo mutantes.

Eram chamados de mutantes aqueles que conseguiam mudar até mesmo sua fisiologia através da alquimia corrompida. Ao longo dos meses de trevas, eruditos usaram a si mesmos como experimentos, focando o uso constante de elixires para aperfeiçoar suas próprias habilidades, focando na capacidade de combate, tornando-se, assim, algo sobre-humano.

Apesar de diferentes, todos eles tinham o mesmo objetivo, limpar os monstros do continente. Alguns Elfos Negros já estavam de olho no grupo, atentos com a ordem para que não se tornassem uma ameaça.

A diocese estava concentrada em aumentar sua influência, principalmente no Centro-Leste financiando Alexander e seus projetos, mas eles também estavam de olho na ordem. Se viessem a se tornar um grupo religioso, eles agiriam para esmagar a Ordem, mas sabiam que não seria tão fácil.

Até mesmo os não monges viam a Ordem com bons olhos, visando se juntar a eles em futuro próximo. As chances da ordem se tornar uma força militar eram bem altas, e os agentes principais do Oeste estavam cientes disso.


O grupo de Magnus vagou pelas florestas obscuras no absoluto breu, guiados apenas pelo medalhão. Cruzaram pântanos hostis, enfrentaram bruxas do pântano, banshes, humanoides-peixe e até mesmo lagartos gigantes.

Após tudo isso, começaram a ver luzes no meio da escuridão.

— Um vilarejo! — disse Magnus — Nosso alvo está aqui, vamos matá-lo e terminar com isso.

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Olá, eu sou o Stuart Graciano!

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