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Capítulo 20 – O Lithium.

Brighid, incapaz de usar sua magia de cura, dedicando a noite inteira a cuidar dos ferimentos de Colin, utilizando apenas panos e água.

Cada movimento delicado que ela fazia, pressionando suavemente os tecidos úmidos contra os machucados, era impregnado de preocupação e cuidado.

Embora Colin insistisse repetidamente que estava bem, Brighid não conseguia evitar sentir uma sensação de impotência. Cada curativo colocado, cada ferida tratada, era um lembrete doloroso de que estava sem magia.

Para Safira, ver o rosto de Colin marcado por curativos era uma imagem difícil de ela aceitar. Mas em vez de se entregar ao desespero, Safira encontrou força naquela situação desafiadora.

Cada curativo que Brighid aplicava em Colin, cada expressão de preocupação em seu rosto, servia como um lembrete constante de que ela precisava se fortalecer.

Antes que Brighid tocasse seu rosto novamente, Colin segurou sua mão. Já está bom.

— Mas Colin, eu ainda-

— Tá tudo bem. — Ele abriu um sorriso. — Vá descansar, vocês duas. A gente enfrentou um demônio, né? Não vai ser um humano que vai me matar.

Sem dizer mais nada, Brighid assentiu.

Enfim, eles foram dormir.


Na manhã seguinte, cada movimento que Colin fazia com a boca era acompanhado por uma dor lacerante que percorria suas gengivas sensíveis.

Cada tentativa de comer ou beber se transformava em um desafio angustiante, levando-o a desistir diante da intensidade do desconforto.

A sensação de fraqueza e debilitação o assombrava, lembrando-o constantemente das limitações impostas pelos ferimentos recentes.

No mercado da cidade, havia uma pequena esperança de encontrar alguma poção de cura capaz de aliviar o sofrimento de Colin. Porém, aqueles que se aventuravam em busca desse elixir vital logo percebiam a realidade desafiadora: as poções de cura eram extremamente caras, fora do alcance da maioria das pessoas.

Era um recurso escasso e valioso, reservado principalmente para aqueles com maior poder aquisitivo.

Diante desse cenário, pequenos grupos de estudante começaram a adotar uma estratégia alternativa. Em suas missões e empreendimentos, eles recrutavam indivíduos capazes de usar magias de da Árvore do Reparo.

Esses usuários de magia tinham a habilidade de canalizar energias curativas para tratar ferimentos e restaurar a saúde dos companheiros de equipe.

Embora não fosse uma solução tão eficiente e instantânea quanto uma poção de cura, o poder de cura desses usuários de reparo era uma alternativa viável e mais acessível.

Conforme a manhã avançava, Brighid sentia um sutil retorno de seu poder mágico. Uma sensação familiar de energia pulsante começou a se manifestar dentro dela, como se uma conexão vital estivesse sendo restabelecida.

Aquela pequena faísca de poder foi o suficiente para reacender a esperança em seu coração e fortalecer sua determinação em ajudar Colin.

Apoiando as mãos sobre o tórax dele, Brighid se esforçou para curá-lo. Sua mana havia retornado parcialmente, deixando o processo de cura longo e cansativo.

[…]

— Humpf! — suspirou Brighid afastando uma mecha de cabelo para trás da orelha. — Como se sente?

Colin tateou o rosto e não sentiu dor alguma.

Então ele pegou uma bandeja vazia e enxergou seu próprio reflexo.

Estava perfeito.

— Obrigado, Brighid… me perdoem por preocupar vocês duas…

Brighid abanou uma das mãos.

— Tá tudo bem! Fico feliz em ver que você já se recuperou.

Colin sempre se achou bom de briga, mas tomou uma surra onde nem conseguiu arranhar seu oponente. Ele não sentia raiva, mas estava ansioso por um segundo round, porém, precisava se fortalecer pra isso.

Era bem provável que o grande torneio envolvesse ainda mais combates, e ele tinha que se fortalecer o mais rápido possível.

O único empecilho era que o torneio aconteceria em seis dias.

Eles não tinham tempo.

— Fada! — chamou Colin sentando-se na cama. — Consegue nos invocar em algum plano para treinarmos? Ou algo que consiga agilizar nosso aprendizado com magia?

Brighid franziu os lábios e desviou o olhar.

Existia um processo, uma técnica específica que poderia acelerar significativamente o aprendizado, mas seus riscos não podiam ser subestimados.

Ainda assim, Brighid hesitava em revelar a verdadeira natureza desse método, pois temia as possíveis consequências se Colin ou Safira se machucassem seriamente. Era uma decisão difícil de ser tomada, carregada de responsabilidade e incertezas.

Em meio a esse dilema, Brighid fixou seu olhar nos olhos de Colin.

Seus olhos expressavam uma combinação de determinação e preocupação. Era como se, naquele instante, ela tentasse transmitir todas as dúvidas, receios e esperanças que habitavam seu coração. Seus olhares se conectaram, uma intensidade silenciosa se formou entre eles.

Colin, por sua vez, percebeu o peso e a seriedade nas palavras não ditas de Brighid.

Com um suspiro profundo, Brighid tomou sua decisão.

— Existe um meio, mas é perigoso…

— Vai colocar você em perigo? — Ele indagou, e Brighid fez que não com a cabeça.

— É perigoso pra vocês dois, já que precisarão se esforçar bastante.

— A gente faz! — Safira levantou-se da cama portando um olhar confiante. — Não faz, senhor Colin?!

Colin assentiu com um sorriso.

Ao observar aquele sorriso reconfortante, Brighid deixou escapar um suspiro aliviado. Ela se ergueu da cadeira, cujo lugar ao lado da cama havia se tornado seu posto de vigília constante ao tratar do amigo.

— Me deem meia hora, prepararei tudo.


Após meia hora de ausência, Colin e Safira voltaram ao quarto que haviam deixado momentos antes. Ao adentrarem o espaço, o que encontraram diante de seus olhos foi uma visão inesperada.

O cenário antes conhecido havia se transformado completamente.

O quarto, que outrora era um espaço de tranquilidade e conforto, estava agora coberto de rabiscos e desenhos feitos com giz. As paredes, móveis e até mesmo o teto foram tomados por linhas tortas, formas abstratas e cores vibrantes.

Cada centímetro do ambiente parecia ter sido transformado em uma obra de arte improvisada.

Colin e Safira trocaram olhares perplexos e, por um momento, ficaram sem palavras.

Era uma visão bastante impressionante.

— Vocês dois! — disse Brighid. — Vão se trocar!

— Trocar?

Ela fez que sim.

— Vocês precisam se sentir um com o seu corpo, sem incômodos de coisas de fora, por isso troquem as roupas e vistam algo mais leve.

Incomodado, Colin suspirou e coçou a nuca.

— Certo… — Ele retirou-se para os fundos indo até o banheiro.

Colin, de frente para o espelho, despiu-se da camisa, permitindo que seu olhar percorresse o reflexo de seu corpo.

Cada detalhe que se revelava diante de seus olhos mostrava uma transformação notável, resultado dos intensos treinos e esforços que dedicara desde que chegara àquele mundo desconhecido.

Seu físico, agora mais esculpido e tonificado, exibia um abdômen que começava a se definir, revelando linhas firmes e musculatura evidente.

Os ombros, agora mais amplos, conferiam-lhe uma postura mais imponente, como se sua presença tivesse ganhado uma nova dose de poder e confiança.

Ao se admirar naquele espelho, uma sensação de satisfação e orgulho preenchia o peito de Colin.

“Devem ser resultados do treino…”, pensou consigo.

Após a breve pausa diante do espelho, Colin decidiu voltar ao quarto, trajando apenas um short. Ao adentrar o ambiente, seus olhos encontraram Safira e Brighid, que vestiam regatas justas e shorts curtos.

A presença delas ali, tão próximas, despertou um certo desconforto em Colin, que optou por evitar olhares diretos, buscando manter uma postura respeitosa e discreta.

Enquanto Safira e Brighid também pareciam conscientes da situação, o ambiente carregava uma atmosfera sutilmente tensa.

Um leve constrangimento pairava no ar, revelado pela maneira como evitavam certos gestos ou contatos que poderiam intensificar ainda mais a tensão palpável.

Cada uma delas procurava disfarçar a própria inquietação, enquanto Colin se esforçava para não ceder a tentação de encara Brighid.

— É melhor a gente se sentar… — disse Brighid desviando o olhar. — Começarei o ritual logo…

E assim fizeram.

Sentados de pernas cruzadas na posição de lótus, Colin, Safira e Brighid mergulharam na prática da meditação.

Com os olhos fechados, seguiram as orientações de Brighid, concentrando-se em suas respirações. Inspiravam profundamente pelo nariz, sentindo o ar encher seus pulmões, e soltavam o ar suavemente pela boca, permitindo que a tensão deixasse seus corpos.

Enquanto as palavras de Brighid ecoavam suavemente, Colin se surpreendia com a melodia e a fluidez daquelas expressões que ele nem sabia que poderiam ser pronunciadas por qualquer pessoa. Cada palavra parecia carregada de um poder oculto, entrelaçando-se no ar e envolvendo o quarto em uma aura misteriosa.

Gradualmente, a luz branca começou a se espalhar, envolvendo tudo ao redor. Os traços do giz, anteriormente rabiscados por todo o quarto, agora ganhavam vida e brilho, imersos naquela luminosidade intensa.

A sala se transformou em um espaço sagrado, onde o divino e o humano pareciam se encontrar.

A imensidão do branco que os cercava começou a se alterar, cedendo espaço à escuridão profunda.

Das sombras emergiram pontos luminosos, pequenos pontos de luz que brilhavam intensamente. Um a um, esses pontos se multiplicaram, transformando-se em constelações celestiais, suspensas no vasto éter do universo.

— Podem abrir os olhos.

À medida que os olhos se abriam, as constelações se expandiam, formando galáxias inteiras.

A escuridão foi engolida por um mar infinito de estrelas, envolvendo Colin, Safira e Brighid em uma atmosfera cósmica e transcendental. A sensação de insignificância diante da grandiosidade do universo era avassaladora, mas ao mesmo tempo inspiradora.

Naquele momento, os limites do quarto se dissiparam, e os três viajaram através do tempo e do espaço, testemunhando a majestade das galáxias distantes.

A magnitude das estrelas e das constelações despertava uma sensação de conexão com algo maior, algo além da compreensão humana.

Enquanto Brighid suspirava, seu semblante tranquilo e gentil se transformava diante dos olhos de Colin.

Uma aura poderosa parecia emanar dela, envolvendo-a como uma névoa mágica. Era como se sua presença se tornasse imponente e imensurável, transcendendo sua aparência física.

Colin sentiu-se repentinamente diminuído diante da grandiosidade que Brighid irradiava.

Suas feições, apesar de permanecerem as mesmas, agora pareciam carregar um significado mais profundo, ocultando segredos e mistérios que ultrapassavam a compreensão humana.

Ela era mais do que uma simples fada gentil; era uma força da natureza, um ser além dos limites da percepção comum. Diante dela, ele se conscientizava de sua própria insignificância diante do poder que ela emanava. Seus instintos lhe diziam para ter cautela, como se estivesse diante de algo intangível e incontrolável.

Embora Brighid mantivesse sua forma física inalterada, seu poder transcendia a aparência superficial. Era como se sua essência se expandisse além dos limites do espaço e do tempo, permeando cada partícula do ar ao seu redor.

— Tá tudo bem! — disse ela em um tom gentil. — Essa é a dimensão de Tyeryuilio, ela é a única capaz de fazer vocês alcançarem o Lithium.

— Lithium? — ele murmurou.

Brighid assentiu.

— O Lithium é uma fonte de conhecimento que abrange desde o início até o fim de tudo o que conhecemos. É uma espécie de catalisador de eventos e a maior biblioteca do mundo. No entanto, sua leitura é extremamente desafiadora, e cada indivíduo pode interpretá-lo de maneiras diferentes. Ao alcançá-lo, seus corpos serão capazes de se adaptar melhor à magia, permitindo até mesmo um aprendizado mais rápido das habilidades.

— E qual o perigo?

Brighid engoliu em seco, revelando a gravidade da situação.

— Existe a possibilidade de vocês acabarem mortos ao encontrá-lo. Portanto, minha orientação é que, assim que o encontrarem, se afastem dele o mais rápido possível!

Colin e Safira trocaram olhares, conscientes da seriedade da situação.

— Ótimo! Agora, fechem os olhos e concentrem-se. Este processo pode levar horas, talvez até mesmo dias, mas não desistam de jeito nenhum. Vocês entenderam?

Colin e Safira engoliram em seco, mas se mostraram dispostos a seguir em frente.

— Sim, estamos prontos!

Eles fecharam os olhos, preparando-se mentalmente para o desafio que os aguardava.


Já se passaram exaustivas oito horas naquela dimensão, e a resistência física e mental dos três estava quase no limite.

Colin persistia incansavelmente em sua busca pelo Lithium, enquanto Safira havia conseguido vislumbrar um vislumbre desse elemento precioso.

No entanto, o objetivo de Brighid era guiá-los para que ambos pudessem descobrir o Lithium ao mesmo tempo, sincronizados em seu avanço evolutivo.

Manter a dimensão intacta e desempenhar o papel de guia nesse raro processo evolutivo era uma tarefa para poucos monarcas. Brighid, por sua vez, possuía habilidades excepcionais nesse sentido, sendo praticamente uma enciclopédia quando se tratava de conhecimento arcano.

Determinada a levar o processo adiante, Brighid adotou outra posição de mãos, intensificando seus esforços.

A concentração era palpável em seu rosto, os olhos cerrados não eram obstáculos para sua percepção ampliada. Como se por um milagre, uma esfera negra começou a se formar exatamente no centro de Colin e Safira.

A fada sentiu que finalmente os três estavam entrando em sincronia, e isso a motivou a se dedicar ainda mais, ampliando seu poder.

Enquanto sua têmpora pulsava com veias salientes e seu corpo transpirava intensamente, Brighid se entregava completamente a essa árdua tarefa. O suor escorria por sua pele, evidenciando o esforço sobre-humano que ela empregava nesse momento crítico.

O resultado de seus esforços parecia estar se manifestando diante de seus olhos, impulsionando-a a continuar lutando incansavelmente.

No meio daquela dimensão, a pequena esfera negra começou a se transformar gradualmente em um pequeno broto, enquanto o tempo parecia acelerar diante dos olhos de Colin, Safira e Brighid.

O broto cresceu rapidamente, transformando-se em uma árvore imponente de proporções gigantescas.

Brighid soltou um suspiro de alívio e abriu os olhos, revelando a conquista alcançada. Ela declarou com satisfação:

— Conseguimos! Vocês podem abrir os olhos agora.

Colin e Safira, ainda maravilhados, obedeceram e contemplaram a visão diante deles.

Raízes emergiram da árvore central, estendendo-se pelo espaço ao redor, e dessas raízes, outras doze árvores começaram a brotar, cada uma delas majestosas e frondosas.

Cada árvore possuía uma cor distinta, formando um espetáculo vibrante e exuberante.

Colin teve dificuldade em assimilar tudo o que estava presenciando.

Seus olhos, sensíveis à intensa luz emitida pelas árvores, pareciam lutar para se ajustar àquele brilho intenso. Era como se visse um vislumbre de uma miragem distante, algo além da compreensão humana.

No entanto, após alguns segundos, seus olhos finalmente se acostumaram à luminosidade, permitindo que ele visse claramente as doze árvores em constante crescimento.

Suas raízes se estendiam ao infinito, conectando-se com a imensidão do espaço em que se encontravam, criando um cenário impressionante e mágico.

Ele ficou de pé e olhou ao redor.

— Isso é o Lithium?

Brighid fez que sim e ergueu o indicador.

— Esta é somente uma pequena parte dele. Uma minúscula parte de um todo quase infinito.

Colin ergueu sua mão direita lentamente e aposentou-a suavemente no tronco da árvore central. Em um instante, sua mente foi arrebatada por uma enxurrada de imagens e informações que se desdobravam a uma velocidade vertiginosa.

Ele viu tudo, desde os primórdios da existência até sua destruição inevitável. Presenciou a ciclicidade da vida e da morte, testemunhou o surgimento da magia e sua eventual extinção.

Mundos incontáveis desfilaram diante de seus olhos, incluindo o seu próprio. Silhuetas indistintas de inúmeras pessoas emergiram enquanto o mundo se afogava em desolação.

Colin observou seres enfrentando entidades terríveis, e vislumbrou o absoluto caos que envolvia esses confrontos cósmicos.

Após um momento que pareceu uma eternidade, Colin finalmente retirou sua mão do tronco, sentindo uma intensa sensação de vertigem.

Sua mente girava tentando assimilar a magnitude do que acabara de vivenciar.

Aturdido e atônito, ele caiu sentado no chão, buscando firmar-se e encontrar algum ponto de apoio para compreender a vastidão do conhecimento que acabara de ser revelado a ele.

— Que merda foi essa?  — Ele balbuciou.

Safira também tocou o tronco, e logo foi ao chão.

Quando ela olhou para a palma de sua mão, viu labaredas azuis deixarem a ponta de seus dedos.

— O que você viu? — perguntou Colin.

Ela encarou Brighid com os olhos arregalados.

— Eu… não entendi direito… vi tanta coisa, mas…

— Mas o quê?

— Não sei… eu estava junto a algumas outras pessoas… estávamos sentados em tronos enquanto pessoas machucadas nos serviam como se fossem escravos… vi sangue em minhas mãos… vi… — Ela fez uma pausa fixando seu olhar em Colin. — Vi o Colin morto…

Aquilo pegou Colin e Brighid de surpresa.

— Ei, Brighid, por que ela não viu o mesmo que eu?

— Be-Bem… a árvore só mostra o que quer mostrar…

— E quais as chances do que a árvore mostrou ser verdade?

A Fada titubeou, seus lábios tremeram e seus olhos se encheram de lágrimas. Com a última reserva de energia que lhe restava, ela se lançou em um abraço apertado em Colin.

Safira, incapaz de conter suas emoções, começou a chorar incontrolavelmente. Brighid, tomada pelo mesmo desespero, uniu-se ao pranto da Asmurg.

Ambas caíram em prantos, desmoronando em uma torrente de lágrimas, enquanto Colin permanecia perplexo, sem conseguir assimilar o que estava acontecendo.

Movida por um impulso instintivo, Safira correu até Colin e se lançou em seus braços. As duas soltaram gritos descontrolados, como crianças assustadas, extravasando toda a angústia que tomava conta delas.

— Eu não quero que você morra… — disse Brighid fungando o catarro que saía pelo seu nariz.

Brighid apertou forte o pescoço de Colin em um abraço e ele caiu para trás. Ele estava exausto demais para se levantar, continuou ali de costas para o chão invisível, encarando uma nebulosa.

“Se essa visão a deixou desestabilizada desse jeito, então essa suposta visão provavelmente é certeira… que saco, justo agora que eu estava começando a gostar desse mundo… que seja, acho que não nasci pra ter um final feliz.”

— Safira, Brighid! — Colin apoiou as mãos no ombro de ambas afastando-as enquanto sentava-se. — Não precisam se preocupar, todo mundo vai morrer um dia e relaxem, quem sabe a gente consiga reverter isso com o tempo.

Safira o encarou com um semblante desolado e limpou as lágrimas com as costas das mãos, fungando mais algumas vezes.

— Mas a árvore disse que-

Colin afagou o cabelo de Safira com uma mão e o de Brighid com a outra.

— Mesmo que você tenha visto aquilo na árvore, uma coisa que aprendi é que as coisas podem mudar. Não se preocupem comigo, ficarei forte o bastante para que eu nunca morra, é uma promessa.

Aquela era uma demonstração rara de afeto por parte de Colin. Para Colin, o que mais chamava atenção na visão de Safira não era sua morte, mas que Safira estava junta a outras pessoas.

Seriam esses os outros, Caídos?

Ficando de pé, Colin encarou ao redor, fitando cada árvore individualmente.

— Me sinto melhor agora. Obrigado Brighid, graças a você, minha percepção mágica parece um pouco mais apurada, sinto que também estou mais forte.

Brighid limpou as lágrimas de seu rosto e desviou o olhar.

— Por nada…

— Não faz essa cara, Brighid, tá tudo bem. — Colin ficou em cócoras, encarando-a no olho.

— Agora que entendo um pouco o fluxo de mana, consigo ver com clareza as raízes que mantém essa dimensão saindo de você. A conclusão que tiro com isso é que você é forte pra cacete.

Colin encarou Safira e sorriu.

— Você, Safira, mesmo para uma criança, consegue ter uma mana com uma pressão tão grande… merda… é frustrante ser o mais fraco.

— Mas Colin, você não é fraco… — disse Brighid.

— Comparado a vocês duas, sou uma formiga, mas estou acostumado. Em todos os games que joguei, nunca me dei bem com personagens fortes demais.

Colin, apesar de não possuir uma mana tão elevada quanto suas companheiras, compreendeu a importância de usar sua inteligência e astúcia.

Ele encarou Brighid mais uma vez, transmitindo confiança através de seu olhar, e um sorriso se formou em seus lábios.

Brighid, sentindo um aperto na garganta, engoliu em seco, suas bochechas coraram novamente, revelando seu constrangimento diante da expressão de Colin.

— Por que tá me olhando assim? — indagou baixinho.

— Você consegue recriar outro plano como este? Porém, desta vez, será para treino de combate.

— Quer treinar com senhorita Safira?

Colin fez que sim.

— Isso, lutar contra Safira será um bom treino tanto para mim quanto para ela. Você disse que já ficou grande outra vez, sabe lutar, Brighid?

A fada desviou o olhar e coçou a bochecha com o indicador.

— Sei, mas até que meu corpo se acostume por completo pode levar um tempo. Tudo que posso fazer no momento é servir de suporte…

— É o suficiente! — Ele ergueu-se. — Vocês devem estar exaustas, e eu também estou. Vamos descansar um pouco e amanhã a gente treina.

Ambas grunhiram em concordância.

Juntando as palmas das mãos, Brighid recitou um encantamento em língua ancestral e toda aquela dimensão rachou e se quebrou em bilhões de pequenos pedaços que se transformaram em poeira, sumindo no ar.

Eles estavam de volta ao quarto.

Brighid cambaleou e se jogou na cama com os braços abertos.

Safira fez o mesmo, deitando ao lado de Brighid.

— Preciso de um banho… — balbuciou a Fada.

Colin virou-se de costas e abriu o guarda-roupa. Apanhou uma camisa branca, calça preta e um par de chinelos.

— Onde vai? — indagou Brighid coma voz rouca. — Não está cansado?

— Estou, mas deixarei vocês tomarem banho primeiro. Enquanto isso, darei uma volta.

Com certa pressa, Colin vestiu as peças de roupas.

Brighid seu uma última olhada nas costas dele antes de ele passar pela porta.

“Colin… você não está cansado, né? Passou por tudo isso e age dessa maneira… nem mesmo Safira tem tanta energia apesar de ser um Caído… o que diabos você é?”

Ele sentiu que seu corpo havia mudado um pouco. O físico de Colin estava levemente mais elevado, e a pressão que ele transmitia era praticamente outra.

Quem o observasse, julgaria que ele era alguém perigoso, principalmente por manter aquele olhar de predador.

— Volto em meia hora.

[…]

Eram quase onze da noite. Bordeis estavam abertos, com meretrizes do lado de fora convidando homens para entrarem. Os bares estavam cheios, e era possível ouvir o barulho de bardos cantarolando sem parar quando se passava na porta.

Apesar de ser uma noite bem viva, Colin não estava atrás de bebidas ou mulheres, ele queria outra coisa.

Afastou-se da estalagem indo um pouco mais ao norte, seguindo os estudantes que tropeçavam bêbados pelas calçadas.

Era impressionante o número de universitários visitando tais estabelecimentos, parecia que a universidade inteira havia combinado de sair naquela noite.

Com as mãos nos bolsos e rosto fechado, Colin evitou prostitutas e bêbados que não queriam se meter com alguém tão mal-encarado.

Ao passar na frente de um bar movimentado, Colin viu um rosto familiar passar pela porta. Aquele era um dos rapazes que estava junto de Wiben durante o ataque.

Ele paquerava uma universitária do lado de fora, agia como um idiota enquanto a garota dava gargalhadas.

— Achei você!

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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