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A caneta deslizava de papel em papel, enquanto os olhos amarelos de Ayla passavam por todo corpo do texto. Ela já estava naquilo a tanto tempo que parou por um instante após assinar o último documento.

Colocou a caneta de lado e espreguiçou, ainda sentada na cadeira. Massageou o ombro e afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha. Levantou da cadeira e caminhou até a sacada, sentindo a brisa no rosto.

Já havia se passado uma semana desde que o casamento foi marcado e uma semana que seus conselheiros foram avisados. A cidade de Runyra estava agitada, a notícia do casamento era boa para os negócios, e os nobres não se importavam com a índole de seu futuro rei, bastava que as leis seguissem as mesmas assim como as tributações.

A rainha cuidava da parte burocrática, já que muitos nobres haviam pedido permissão a ela para expandirem seus negócios pelas novas terras. Ela apenas cuidava dos detalhes, tributando com uma porcentagem os nobres que queriam abrir suas filiais fora dos portões de Runyra, garantindo também o seguro caso o negócio não vá como planejado.

Tudo aquilo também era novo para ela, e isso a empolgava. A monotonia da vida de uma administradora ganharia certa agitação. Estava ponderando conseguir uma secretária para deixá-la responsável por essa parte burocrática, ou quem sabe construir um departamento específico para a tarefa.

Toc, Toc!

A porta se abriu e Tony, o capitão, adentrou segurando uma carta. Ayla olhou para trás, e deu de ombros, continuando a encarar sua bela cidade.

— Quem me escreveu? Algum nobre insatisfeito?

Tony caminhou até a mesa.

— Não, senhora, foi Yanolondor.

Ela ergueu uma das sobrancelhas e se virou para o capitão.

— O que ele quer comigo?

— Não faço ideia…

— Então leia a carta.

— Sim, senhora — Tony a abriu removendo o selo — Para a rainha mimada de Runyra… — Ele leu após engolir o seco — A guerra de Rontes chegou ao fim com a vitória da minha divisão. Meu objetivo sempre foi fazer Rontes uma nação soberana, e soube por informantes que formará laços matrimoniais com o homem que chamam de “O carniceiro do centro-leste”, uma alcunha poderosa, mas não me assusta. Suas intenções são tão claras como o dia, mas suas ambições não se concretizarão. Darei somente um aviso, se renda a Rontes ou morra.

Tony abaixou a carta, olhando para Ayla, que não havia mudado de expressão. Após alguns segundos, ela bocejou.

— Isso é tudo? — Tony assentiu — Era provável que Yanolondor fosse vencer, só não esperava que fosse tão rápido. O plano de Colin de dar um jeito nos gigantes e pedir Rontes em troca já era.

— Por quê? A confederação do Norte não continua tendo poder sobre Rontes?

— Continua, mas Yanolondor é ambicioso. Com as forças militares do Norte fragmentada, duvido que a confederação consiga pará-lo.

— Acha que ele…

— Sim, ele vai avançar por todo norte, e deve conquistá-lo em alguns meses. Talvez ele fique ocupado com os gigantes, e talvez consiga neutralizar a ameaça deles, então daí sim ele redirecionaria seus esforços para o centro-Leste ou quem sabe ele limpe Rontes do Sul. — Ela sentou na cadeira — Isso só me faz pensar que temos que resolver logo nosso problema com Alexander. Lutar em duas frentes é perigoso, contra o Norte e Alexander juntos pode ser impossível.

— Quer que eu responda?

— Não precisa, não vou me render a Rontes e não planejo morrer. Yanolondor é um homem atrás de glória, e isso acabará o destruindo.

Tony pigarreou e Ayla espremeu a vista.

— Quer dizer alguma coisa?

— Com todo respeito, mas o seu noivo, senhor Colin, também não está atrás de glória? Digo… Unificar o continente não será a busca máxima da glória?

Ela cruzou os braços e empinou o nariz.

— Talvez, mas a busca pela glória é algo problemático. Digamos que estou aqui para mantê-lo com os pés no chão.

Aproximando-se, Tony colocou a carte de Yanolondor na mesa da rainha ao lado dos papéis recém-assinados.

— Ainda não entendi porque a senhora o escolheu. O seu pai queria que continuasse o legado dele, mas com um homem honroso, alguém capaz de liderar por vocação, não por colocar medo em seus seguidores. A senhora irá mesmo compartilhar sua vida com alguém assim? Entendo a importância dos carniceiros, sei o quanto eles foram úteis na invasão Orc a Runyra, mas mesmo assim…

Ayla assentiu, esticou o braço e apanhou a carta, passando o olho por ela rapidamente.

— Sabe, Tony, vi Colin enfrentar uma criatura com uma mana tão densa que colocaria seus melhores soldados de joelhos. Teve um momento naquela batalha, que ele foi atingido por um poder capaz de mudar a geografia do local, um poder esmagador, algo que beirava o divino, e eu o vi se levantando orgulhoso depois daquilo. — Ela jogou a carta na mesa — Bastaram alguns golpes e Colin derrotou aquela criatura capaz de destruir um reino sozinha. Foi ali que entendi o que é ser o pilar de uma nação, um símbolo. A história como conhecemos mudará, Tony, e quero fazer parte disso. Se não tem mais nada a dizer, pode ir.

O comandante fez uma reverência e se retirou.

Ayla relaxou na cadeira e suspirou. Ela tinha uma crença enorme em relação a Colin, e acreditava que ele seria realmente um pilar. A rainha o admirava, e queria que daquela união nascesse uma linhagem que perduraria por mil anos, algo que tivesse início bem ali, com ela e o carniceiro. Unificar o continente e governar sobre ele já daria a Ayla um nome que seria lembrado para sempre.


Havia se passado uma semana desde que Colin e Ayla juntaram forças. O povo do ducado aprendia rápido, e pouco a pouco, excursões eram organizadas para fora dos portões, focando em eliminar os demônios que estavam entorno.

Falone, Lettini e Dasken foram designados a comandarem esquadrões próprios com cerca de trinta membros cada. Lettini, a medrosa, tinha dificuldades para se impor, mas gradualmente estava perdendo a timidez. Eles também passaram a liderar excursões, fazendo seus soldados ficarem mais experientes a cada batalha.

O grupo de apoio que Ayla havia enviado, fora bastante útil. Eles eram usuários de magia, então só deixou os treinos em conjunto ainda mais desafiadores.

Colin havia recebido algumas cartas contendo ameaças veladas a ele. Eram de mercenários que se apossaram de terras do duque e construíram ali suas bases. Diziam para Colin se render ou comprar as terras de volta, mas ele não os respondeu.

A resposta que Colin daria seria a base de sangue.

O sol acabara de nascer, e já se via soldados trajando armaduras negras do lado de fora do ducado. Colin estava junto de Dasken e seus homens. O carniceiro também havia ganho uma armadura preta bastante confortável, apesar de armaduras não fazerem o seu estilo.

Elas eram encantadas, o deixando prevenido a danos mágicos fortes demais, além de não serem pesadas, deixando seus movimentos naturais.

Alguns dos homens de Dasken portavam estandarte dos carniceiros, o temido lobo com a lua carmesim atrás. Eles marchariam para um território do duque conquistado pelos mercenários.

O plano de Colin era simples, eles começariam estabelecendo perímetros como Ayla fazia, erguendo torres de vigia, tornando seu território mais protegido.

Eles não estavam oficialmente casados, mas seus territórios estavam se fundindo gradualmente. Cabia a Colin tornar essa fusão completa.

Enquanto isso, o grupo de Lettini já estava em marcha para o oeste e Falone para mais ao leste. Todos eles tinham o mesmo objetivo, recuperar territórios tomados por mercenários.

A maioria daqueles homens e mulheres começaram a lutar a menos de um mês, mas Colin pensou que seria hora de parar de matar goblins, lobos e demônios, e elevarem o nível, enfrentando oponentes sencientes.

Ele queria ver como os três líderes de esquadrão se portavam.

Fuuuon!

A trombeta foi soada, começando a marcha do grupo de Dasken. A maioria daqueles homens estava com medo, a outra parte estava ansiosa. Dasken era o mais tenso deles. A vida de soldados estaria em suas mãos. O resultado da batalha travada seria fruto de suas decisões.

Ele parou seu cavalo ao lado do de Colin, vendo a grande marcha avançar segurando os estandartes que começariam a ser o símbolo do terror de mercenários.

— Tem certeza que não quer ajuda, senhor? — indagou o comandante.

— Tenho. Enquanto vocês avançam, eu irei para o covil dos goblins. Podemos assentar um forte naquela região.

Dasken engoliu o seco.

Ele ouviu que o covil de um goblin era tão numeroso que venceria facilmente um exército sozinho, mas ele tinha fé em seu líder.

— Desejo sorte, senhor!

— Desejo o mesmo.

Dasken sacudiu as rédeas e o cavalo trotou, se juntando a grande marcha.

Outros dois cavalos se aproximaram.

Jane e Valagorn estavam cobertos por capas negras em cima de dois enormes cavalos. Os alforjes estavam cheios e os dois pareciam preparados para uma longa viagem.

— Aonde vão? — Indagou Colin.

— Vai querer me controlar agora, Colinzinho? — Jane lançou o seu olhar sedutor — Valagorn e eu vamos investigar mais sobre o sangue de Thitorea. Se existir mesmo uma pessoa com os atributos da árvore, então ela seria útil para a gente.

— Jane está certa — disse Valagorn — A gente acredita que se tivéssemos essa pessoa, então você poderia fazer um contrato com ela, beneficiando a todos nós. Se você der sorte, ela também poderá reconstruir seus canais de mana.

“Então minha mana pode retornar?”

— Vocês não estão fracos demais para saírem por aí em um mundo infestado de monstros e bandidos?

— Colinzinho, continuamos sendo entidades, e eu sou venerada nesse plano. Minha mana crescerá gradualmente, e o Elfo do mar ali é bem competente, não se preocupe conosco.

Colin ergueu uma sobrancelha.

— Tem certeza? O ducado ficará desprotegido.

Jane abriu um sorriso e abanou as mãos.

— Os soldados da bonitinha são competentes, assim como o seu pessoal, vocês ficarão bem, não se preocupe.

Ele assentiu.

— Certo… Tomem cuidado.

Valagorn assentiu e Jane deu uma piscadela. Eles partiram, se juntando ao grupo de Dasken enquanto Leona e Alunys se aproximavam em seus cavalos, trajando armaduras negras de couro.

— Mestre! — Leona não poderia estar mais feliz. Era a primeira missão que faziam juntos em semanas — Alunys demora anos para se arrumar, nunca vi ninguém demorar tanto para vestir uma armadura que nem de ferro é.

Alunys ajeitava a armadura enquanto seu cavalo se aproximava.

— Vamos exterminar um covil — disse ela colocando uma mecha de cabelo para trás da orelha — Nunca fizemos isso antes, só quero estar bem preparada.

— Deixou o ducado aos cuidados de Cronius e Belani? — indagou Colin.

— Sim, como o senhor me instruiu. Os cavaleiros prateados estão sob ordens deles — Ela fez uma pausa — Tem certeza que é seguro deixá-los sozinhos? Não é que eu não confie na sua noiva, mas…

— Tá tudo bem. — O cavalo de Colin começou a trotar. Suas companheiras o seguiram — Ayla está me usando, então vou usá-la também. Ela não ganha nada se me trair, porque sabe que se fizer, eu mesmo acabo com ela. Os soldados prateados sabem usar magia, e ficaram alguns recrutas também. Será bom para eles aprenderem uma coisa ou outra.

Leona fez beicinho.

— Por que vai se casar com alguém que usa você? — ela indagou — na verdade, por que o senhor vai se casar de novo?

— Já disse a você, é um casamento político. Não será um casamento tão sério.

— Sei… E se ela quiser um filho seu?

Colin coçou a bochecha com o indicador e pigarreou.

— Isso não vai acontecer.

Leona fez um beicinho ainda mais chamativo.

— Você e senhorita Brighid nem eram casados e copulavam bastante, tanto que ela engravidou do senhor. O que me garante de que o senhor manterá sua palavra?

Alunys olhava para um, depois para o outro. Eles haviam ficado juntos por meio ano. Aquele tipo de conversa entre os dois era normal. No começo ela se sentia desconfortável, mas acabou se acostumado.

— Aliás, mestre Colin, o que vai dizer para senhorita Brighid quando ela souber que o senhor se casou mais uma vez e engravidou uma megera?

Colin a encarou com o canto de olho.

— Não vou engravidar ninguém.

Ela apontou com o indicador para Colin enquanto encarava Alunys.

— Viu?! Ele não negou que irá copular com essa vagabunda de cabelo branco!

Colin revirou os olhos.

— Esse seu ciúme é desnecessário. Não acontecerá nada entre mim e Ayla.

Ela cruzou os braços e virou o rosto abruptamente.

— Não estou com ciúmes. Parte da alma do senhor é minha, então nós dois juntos somos um só. Devia me consultar quando for copular com outra mulher!

— Meu Deus…

— O que foi? — Ela se virou para Alunys — Lulu, não concorda comigo?

Após um suspiro, Alunys coçou a ponta do nariz.

— Prefiro não me envolver nessa discussão.

— Viu! — exclamou Leona — Ela concorda comigo!

— Eu não concord-

— E se eu quiser copular com algum homem, mestre Colin, não prefere que eu o consulte primeiro?

Colin deu de ombros.

— Prefiro não saber dessas coisas.

Leona ficou ainda mais irritada. Ela queria que Colin sentisse ciúmes dela, na mesma proporção que ela sentia dele, mas isso não era possível. Colin era a alma dominante e Leona a passiva. O pandoriano sempre era mais dependente emocionalmente de seu mestre.

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Olá, eu sou o Stuart Graciano!

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