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Capítulo 220 – Acordo inesperado

Colin não voltou para se despedir de Ayla a noite. Tudo que ficou sabendo, foi que seu marido partiu na manhã seguinte junto da sua pandoriana. Ambos estavam muito bem agasalhados e usaram somente um único cavalo com provisões para apenas três dias.

Os carniceiros partiram minutos depois em direção ao ducado, levando ainda mais provisões e mais dinheiro. Algumas pessoas decidiram os acompanhar. Queriam ver como estava o processo de construção da segunda maior cidade do país recém-formado.

Eles comprariam terras, investiriam seus negócios e esperavam também trazer consigo suas famílias. Ayla foi alertada por seu pandoriano onírico que alguém queria vê-la as escondidas, alguém importante.

Alguém que preferiu ir atrás de seu pandoriano do que dela. Isso a deixou em alerta, já que não era fácil entrar em contato com um demônio onírico.

Após seus afazeres, ela foi até onde o demônio disse que sua visita a encontraria. Deixou a área gramada e avançou para uma parte não movimentada de sua capital. Dirigiu-se para um beco ladrilhado e adentrou uma taverna vazia.

O taverneiro, corpulento, de bigode e olhar de peixe morto, secava um copo com um pano.

— Majestade. — Zombou o taverneiro — Que honra ver você aqui, a que devo sua ilustre presença?

— Me diz logo onde está.

Ele apontou com o queixo para porta.

— Nos fundos e nada de destruir minha taverna, ou colocarei o prejuízo na sua conta.

Ayla caminhou até os fundos e girou a maçaneta, deparando-se com um quarto amplo, mas não estava mobiliado. Havia somente uma mesa de madeira no centro com duas cadeiras e um lustre enfeitado de orbes.

Em uma das cadeiras estava Nebeora assumindo sua forma de Ethel, a senhora de escravos.

— Até que enfim apareceu — disse Ethel cruzando as pernas — pensei que seu “bichinho papão” tivesse esquecido de me mencionar. Juro que morreria de tédio se tivesse que aguardar mais cinco minutos pela “poderosa rainha Ayla.”

Ayla puxou a cadeira e se sentou na frente dela.

— O que você faz aqui? O pontífice te mandou? Não é muito inteligente mandar uma aliada importante para a toca dos lobos.

Ethel abriu um sorriso de canto e retirou as luvas, jogando-as na mesa.

— Você é muito ousada, regente Ayla, vai se encontrar com o inimigo e vem sozinha sem seus guardas. Isso é confiança?

Ela deu de ombros e também cruzou as pernas se sentindo bem à vontade.

— Não sou fraca para precisar de proteção, e mesmo que conseguisse me matar, acha que deixaria meu país com vida? Me mate e o pontífice sentirá o verdadeiro inferno em questão de dias. Um bando de padres que sabem usar magia conseguirá parar o avanço de um exército bem preparado? Claro que não, é por isso que Alexander prefere ataques surpresas, ele sabe que em um conflito direto entre nossas forças, ele seria destruído.

Ethel assentiu com a cabeça.

— Você é bem convencida. Garanto que se eu tivesse mal intencionada, você morreria e nem saberia de onde veio.

Ayla abriu um sorriso de canto e ergueu uma das sobrancelhas.

— Estou aqui, tente me matar se tiver coragem.

Ethel maneou a cabeça enquanto sorria.

— Quero falar de negócios, aliás, desejo felicidade ao seu casamento. Onde está seu marido?

— Sou eu quem cuida dos assuntos políticos, pode falar para mim o que tem em mente.

Ethel enfiou a mão no bolso do vestido e retirou um caderno de anotações, entregando para Ayla.

— Aí está a localização de todos do centro-leste que estão cooperando com o pontífice. Anotei também quantos homens cada um deles tem, onde escondem suas riquezas, onde estão suas famílias, até mesmo quantos escravos cada um deles possui.

Ayla foleou o caderno, vendo as informações por cima.

— Por que alguém que está com o pontífice me entregaria algo tão valioso assim? Percebeu que é apenas questão de tempo até serem derrotados e decidiu mudar de lado?

Ethel deu de ombros.

— Não sou sua inimiga, rainha, e você não iria me querer como uma. Tenho meus próprios motivos, e um deles implica na queda do pontífice.

Ayla fechou o caderno.

— Agora que você me entregou isso, me dê um bom motivo para não te matar aqui e jogar seu corpo em uma vala qualquer.

— Isso é simples de resolver. Tenho informações privilegiadas sobre o pontífice e o que acontece em seu território. Posso te entregar bem mais que um caderno de anotações.

Ayla cruzou os braços e franziu o cenho.

— Tipo?

— Não é assim que funciona, rainha, já te dei informações privilegiadas demais por hoje. Espero que continuemos mantendo contato, e mais uma coisa, se cogita atacar meus “aliados” me ataque também. O pontífice não pode levantar suspeitas.

Ethel ergueu-se e pegou sua capa apoiada nas costas da cadeira.

— Acredito que essa reunião acabou, certo?

Ayla balançou o caderno.

— Se tiver uma única informação falsa aqui, eu mesma irei atrás de você e arrancarei sua cabeça.

Ethel passou a capa por seus ombros e desceu o capuz até os olhos.

— Não esperaria menos da rainha dos carniceiros. — Ela abriu um sorriso — Quando precisarmos nos reunir, avisarei o seu taverneiro ou a criatura que segue sua sombra, que convenhamos, não se esconde tão bem assim. Até mais, rainha.

O corpo de Ethel começou a derreter rapidamente, como se fosse cera. Seu rosto ficou deforme, assim como suas roupas. Aquela mulher desapareceu, virou uma poça d’água e adentrou o chão.

Ayla deu um longo suspiro e se ergueu guardando a carta no bolso. Havia muito trabalho para ser feito em tão pouco tempo, mas ela estava gostando do acúmulo de responsabilidades.

Finalmente sua vida estava ganhando a agitação que ela queria.


Ela retornou para o palácio e marcou uma reunião com os conselheiros. Solicitou que fosse formado um novo departamento focado em assuntos administrativos. Após a demonstração de Colin arrancando a mão de Herond, nenhum deles a contrariava com medo de serem os próximos.

Mais tarde, no mesmo dia, jovens aprendizes e escribas foram convocados. A eles foi feito o convite de trabalharem diretamente para a rainha. Três garotas entre quinze e dezenove anos aceitaram o emprego.

Ayla passou algumas horas em seu escritório com elas, explicando como funcionaria todo trabalho. Explicou onde os documentos ficavam, em que deveriam prestar mais atenção e quais documentos deveriam ser priorizados.

Disse que pedidos para que projetos de redução ou aumento monetário, não fossem aprovados sem sua consulta. Se trabalhassem corretamente, ganhariam um bom salário e trabalhariam menos de quatro horas por dia.

Com auxílio, Ayla conseguiu terminar o trabalho duas horas adiantado, mesmo parando várias vezes para sanar dúvidas de suas novas secretárias.

Agora, com tempo de sobra, Ayla sentiu vontade de fazer algo que desejava fazia tempo, treinar.

Caminhou até um grande salão designado especialmente para a elite de Runyra. Era um salão grande, com alvos, bonecos de treinamento que se moviam ao serem ativados com magia e havia até mesmo academia com equipamentos para musculação.

Ayla amarrou o cabelo e trocou de roupas, vestindo uma camisa que ia até o umbigo e short curto, deixando seu corpo bem a vontade para se mover. Ela havia ido com Colin até o território hostil, mas sentia que estava enferrujada, longe do seu auge de três anos atrás.

A primeira coisa que pensou foi em fazer seu corpo alcançar o limite. Começou com flexões, abdominais, agachamentos, fazendo uma série de quatro com mil movimentos em cada.

Assim que terminou a primeira bateria, foi a vez de ir para o boneco de treino. Treinou o chute circular alto, mas não encostava no boneco de madeira com articulações. Fez duzentos com uma perna e duzentos com a outra.

Quando se sentiu satisfeita, treinou socos. Dobrou um pouco os joelhos e alternava os socos, respirando a cada movimento.

Treinou cerca de quinze minutos com os punhos cerrados, depois com a palma estendida, como se perfurasse o ar. Alterou sua posição, treinou chutes baixos, frontais, e movimentava-se fingindo estar em uma luta real.

Para terminar, ficou de ponta a cabeça e realizou cem flexões. Sem voltar a posição comum, ficou de ponta a cabeça com uma única mão, depois com o indicador.

Treinou por quase seis horas, e mal viu o tempo passar. Seu corpo pingava suor, mas ela queria mais.

Depois da noite de núpcias intensa, ela sabia que seu corpo aguentava bem mais que aquilo. Treinou movimento com bastões, espadas, adagas, espadas de duas mãos e até mesmo arco e flecha.

Não usou um pingo de mana, apenas suas habilidades, exercitando sua memória muscular, deixando-a bem ágil. Estava na hora de elevar o nível do treino. Ayla energizou os bonecos com mana elétrica, dando a eles quase vida própria.

Se moviam rapidamente, indo de um lado para o outro, movendo-se como mestres de artes marciais. Ayla continuou se negando a usar magia, enfrentando os bonecos que se igualariam a um soldado de elite.

Teve um pouco de dificuldade de vencer o primeiro, mas arrancou sua cabeça depois de dois minutos. Com ainda mais fome, ativou os quatorze bonecos de treino, enfrentando todos de uma vez.


Ayla demorou vinte minutos até vencer todos eles. Ela queria encurtar aquele tempo, queria que o tempo caísse para dois. Foram seis tentativas até que conseguisse alcançar o desejado.

Encharcada de suor, ela olhou em volta, vendo pedaços de boneco de treino por todo lugar. Massageou o ombro e deu um longo suspiro.

Finalmente estava satisfeita.

“Acho que Colin seria um bom parceiro de treino. Ele tem um corpo resistente e ele é alto. Seria mais fácil de golpeá-lo, mas difícil de derrubá-lo. Quando ele voltar, proponho isso.”

Ayla caminhava até o banheiro que ficava nos fundos quando sentiu um arrepio na espinha. Com os olhos arregalados, ela virou para trás.

Parte do espaço rachou e se partiu.

Scrash!

Da rachadura no espaço, saiu um Elfo da neve de cabelos brancos longos e olhos azuis. Ele estava com a espada em punhos e trajava uma armadura demoníaca acinzentada, cheia de detalhes que os olhos se perdiam. 

De corpo quente, Ayla abriu as palmas da mão, conjurando duas espadas elétricas. Usou também a análise, fazendo seus olhos amarelos brilharem fulgurantes. Ela saltou para trás, energizando também todo o seu corpo.

Levantou as lâminas na altura do queixo enquanto encarava o intruso que olhava ao redor.

— Uma sala de treinamento? Um pouco arcaica, mas ainda assim, válida.

— Quem é você? — Indagou furiosa, tentando se recordar se já havia visto aquele Elfo antes.

Ele curvou o corpo em uma reverência.

— Yanolondor, e você deve ser Ayla. Vejo que não aceitou o meu pedido de paz.

Ayla deixou escapar um sorriso.

— Chama uma carta exigindo minha rendição de pedido de paz?

— É assim que fazemos em Rontes. Recebi notícias, soube que se casou com o carniceiro. Runyra, um país… Isso não é sonhar um pouco alto demais?

— Veio conversar ou lutar?

— Na verdade, eu vim ver como você é de perto e também vim declarar guerra. — Ele apontou para ela a espada enegrecida com runas cravadas na lâmina — Você juntou forças com o carniceiro, eu juntei com o pontífice. Você será esmagada, caçadora, junto do seu marido e seu país prematuro.

Ela abriu um sorriso de orelha a orelha. Mesmo cansada, ela ficou empolgada em não lutar com um simples boneco de treino.

— Estou bem na sua frente, por que não decidimos um lado da guerra aqui e agora? — Seu sorriso zombeteiro continuava — Exceto se estiver com medo. Assustei você, Elfo?

— Até parece.

Cabrum!

Ayla avançou.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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