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Os olhos de Heilee abriram devagar, e ela viu um quarto limpo e pequeno. Ela se sentou, e olhou para seu corpo. Suas roupas eram as mesmas e seu cansaço de dias havia esvaído por completo. Jogou a coberta de lado e seus pés descalços tocaram o chão frio de pedra.

Assustada, ela foi até a porta de madeira e a abriu devagar. Deixou uma fresta e encarou um corredor de pedra enfeitado por inúmeras venezianas. Ouviu o barulho de botas e fechou a porta rapidamente. Ficou com o ouvido na mesma esperando os passos se afastarem, mas eles não se afastaram, pararam ali, frente a ela.

Viu a maçaneta mexer e se afastou rapidamente, erguendo as mãos para lançar alguma magia mesmo que não soubesse nenhuma. A porta abriu, e ela viu as duas pessoas que a salvaram antes de ela desfalecer.

— Fiquem longe de mim! — ela ameaçou.

Jane jogou o cabelo para trás do ombro e abriu um sorriso sedutor. Olhou Heilee de cima a baixo e viu que suas roupas estavam encardidas e ela estava com olheiras profundas.

— É melhor abaixar as mãos, fofinha. Se fossemos fazer algum mal a você, já teríamos feito.

Heilee engoliu o seco e deu dois passos para trás. Abaixou uma das mãos e começou a tatear os bolsos. Ficou desesperada quando não encontrou o caderno de anotação de Ibras.

— Procurando isso? — Jane balançou o caderno. — Tem coisas interessantes aqui, fofinha. — Jane apoiou o caderno na testa. — Não precisa se preocupar, perambulei por suas memórias, sei tudinho sobre você.

Ela engoliu o seco. Aquela mulher exalava intensos sinais de perigo, ainda mais depois do que viu ela fazer com o ciclope.

— Fiquem longe de mim!

Jane jogou o caderno no chão, perto dos pés de Heilee.

— Pensei que você fosse mais “poderosa”, já que é uma manifestação da grande árvore. — ela apoiou o indicador no queixo e abriu um sorriso sedutor. — Talvez só precise ser “polida”. Você teve sorte, meu amigo e eu somos seres superiores, assim como você. A gente tem muito o que te ensinar.

— Lamentamos o que aconteceu com Ibras — disse Valagorn de braços cruzados encostado na parede próximo à porta — Ele estava cumprindo o seu dever como soldado. Agora você está segura — ele deu um passo à frente. — Você chegou à fronteira de Runyra, o homem para quem Ibras trabalhava reside na capital.

Heilee franziu os lábios e desviou o olhar. Lembrar de Ibras a deixava balançada. Seu peito doía e vinha aquela repentina vontade de chorar.

— Ele… ele morreu tentando me proteger…

— Sabemos disso — Valagorn virou-se de costas indo até a porta — Se seguir à direita no corredor, encontrará um banheiro. Os carniceiros lhe trarão roupas novas, e basta descer as escadas e seguir a esquerda que encontrará a cozinha. Está livre para comer o que quiser. Descanse, e amanhã após o sol nascer, nós partiremos. A capital sob comando do senhor Colin fica a um dia daqui se formos a cavalo.

Heilee deu um passo à frente. Abaixou-se e pegou o caderno.

— Tchau, tchau, fofinha! — foi a vez de Jane deixar o quarto.

Saltitante e com as mãos para trás, Jane ficou ao lado do amigo Elfo.

— E então, acha que ela pode nos ajudar a vencer o Deus morto?

— Ela terá que ser treinada, fortalecer o seu corpo, sua magia, seu espírito, só assim poderemos especular algo assim.

Jane o lançou um olhar sedutor.

— Devia ser mais otimista, Vanzinho, a garota é quase uma Deusa, só precisa de um empurrãozinho. Que bom que ela tem dois ótimos professores, não é?

— Talvez isso fosse verdade se estivéssemos com nosso poder total, mas agora, não passamos de peso morto, tanto para a garota quanto para Colin.

A súcubos fez beicinho.

— Você é muito chato. Veja a oportunidade que temos em mãos! A garota faz um contrato com Colin e pronto, com um pouco de treino, ele será invencível!

— Hum… Talvez.

— Minha nossa, desse jeito você vai acabar afastando os seus amigos, sabia? Se me der licença, prepararei um banho porque mereço.

— Até.


No esconderijo, os Elfos respeitavam Colin depois que a notícia sobre ele correu, e assim como o povo de Runyra, eles o viam como um símbolo de prosperidade, um símbolo de recomeço. O errante estava em um canto, observando as pessoas arrumarem suas coisas para a partida quando um Elfo se aproximou dele.

Ele era alto como todo Elfo, esguio, cabelos loiros e tinha olhos azuis. Era um pouco mais alto que Colin, mas se sentiu intimidado ao se aproximar do errante.

— Senhor… — disse baixinho.

— Sim?

O Elfo desviou o olhar e alisou a nuca.

— O-Ouvimos sobre o senhor, sabemos quem é… Minha filha sempre o mencionava em suas cartas antes de Ultan cair… lamento pelo que aconteceu.

“Filha?”

— É, foi um golpe bem duro para todo mundo, mas a gente está se reerguendo aos poucos. Afinal, quem é sua filha?

Ele alisou a nuca novamente.

— Alunys…

Colin franziu o cenho e depois arregalou os olhos.

— Caramba! Agora que a mencionou, o senhor se parece com ela — Colin curvou o corpo. — Sua filha tem sido muito importante para mim.

— N-Não precisa se curvar, senhor. Me deixa muito orgulhoso em saber que ela está ajudando alguém tão importante.

— Alunys é uma boa menina, ela agora está administrando um ducado e ficou bem forte.

Os olhos do Elfo se encheram de lágrimas ao ouvir aquilo.

— P-Perdão, senhor, mas faz muito tempo que não vejo meu bebezinho, sendo sincero, faz anos, ela deve ter se tornado uma mulher agora.

— É, ela cresceu bastante nesses últimos anos.

— Deve ter vinte anos agora — ele fungou — Isso me traz recordações.

“Alunys tem vinte anos? Pensei que tivesse dezessete…”

O Elfo segurou as mãos de Colin.

— Quer vir até minha casa? Minhas esposas e minhas filhas estão desmontando tudo. Adoraríamos fazer tudo isso enquanto o senhor nos fala de Alunys.

— Seria um prazer!

Colin seguiu aquele homem até uma parte mais afastada daquele esconderijo. O pai de Alunys tinha quatro esposas e seis filhas. Duas delas eram apenas algumas semanas mais novas que Alunys, o restante tinha entre dez a quinze anos.

Aquele conjunto familiar era chamado de ninho, e havia cerca de vinte ninhos em torno de todo acampamento. Poucos geravam filhos saudáveis que viveriam mais que cinco anos, tornando a mortalidade infantil a mais alta dentre as raças de Elfos.

Somado a tudo isso, o nascimento de meninos havia se tornado bem raro de um milênio até os dias atuais, forçando os elfos a adotarem esse modelo de ninho para não acabarem extintos.

Era comum que se uma esposa ficasse viúva, ela passaria a ser esposa do irmão do falecido ou de algum parente próximo ligado a ele. O pai de Alunys tentou empurrar para Colin suas duas filhas mais velhas, e elas foram bem receptivas com o carniceiro, afinal, não havia ninho entre a família real.

A adesão dos ninhos não era obrigatória, mas cultural. A maioria aderia por ter a consciência de que se não o fizessem, sua raça seria extinta em menos de um milênio.

As duas moças, que se pareciam com Alunys, o trataram como rei enquanto empacotavam tudo. Arrumaram um jeito de cozinhar para ele, serem receptivas, conversar, e Colin em momento algum as rejeitou, apenas aproveitou todo aquele tratamento privilegiado para comer bem, já que a comida que trouxe de Ultan havia acabado.

O carniceiro contou tudo sobre Alunys e as aventuras que passaram juntos. A exaltou como se ela fosse um tipo de heroína, e suas irmãs mais novas começaram a enxergá-la dessa maneira.

Ao final do dia tudo estava pronto.

O vilarejo inteiro estava preparado para partir.

Mais à vontade após passar o dia com ele, o pai de Alunys se aproximou entregando um copo de chá de erva para Colin.

Ambos estavam encostados na parede observando o povo se preparando para partir.

— Um dia cheio, né? — O pai de Alunys bebeu do chá e apontou o queixo para suas filhas mais velhas — O que achou delas, senhor?

Colin deu de ombros.

— São bonitas.

— Sabia que o senhor ia gostar. Elas sabem colher, plantar, cozinhar e são obedientes.

O errante sabia o que ele estava tentando fazer desde o começo.

— Já tenho meu próprio “ninho”, senhor. 

— Oh… e-eu não sabia.

Colin abanou as mãos.

— Melhor a gente ir, ou ficaremos para trás.


Em cima do cavalo, Colin trotava devagar rumo ao lado da rainha dos Elfos da Floresta. O jeito dela era agradável, quase idêntico ao de sua mãe. Atrás deles estavam os Elfos da Floresta levando carro de bois, carruagens e cavalos. Colin e a rainha estavam na dianteira, liderando todos eles.

Leona estava sentada atrás de Colin roncando baixinho, enquanto Colin contava os casos com sua mãe. Cykna ficava feliz em ouvir histórias da falecida irmã, e ficava feliz que ela havia criado um bom garoto, apesar de a aparência de Colin ser bem intimidadora.

As guerreiras estavam espaçadas, mantendo os Elfos em segurança. Longe dali, observando os peregrinos de cima das montanhas, os membros da ordem permaneciam atentos a cada passo que eles davam.

— Não vamos atacar? — indagou um dos caçadores.

Leyvell, o líder dos caçadores de espectros, mantinha os olhos em Colin.

— Vamos apenas observar por enquanto. — ele abriu um sorriso de canto. — Foi como você disse, Josan, a pandoriana parece que não nos detectou. De qualquer modo, um dia de vantagem foi bom para a gente, agora é só esperar eles chegarem até o desfiladeiro.

Josan ficou em silêncio e outro homem se dispôs a falar.

— Aquela é a rainha dos Elfos da Floresta? Hehe, e parece que há um monte de Elfas com eles. A gente pode ganhar uma boa grana vendendo todas essas vadias.

— Não sem aproveitar antes — disse outro caçador — A rainha é minha.

— Idiotas! — repreendeu Leyvell. — Sejam realistas, quando isso acabar, metade de vocês estarão mortos — Eles engoliram o seco e ficaram em silêncio — Aquele é o carniceiro do centro-leste, e aquela é a rainha dos Elfos da floresta. Não vai ser fácil acabar com eles, então mantenham-se focados.

Leyvell deu dois tapinhas no ombro de seu companheiro.

— E a rainha é minha, depois que eu acabar, façam o que quiserem com ela, só não a matem.

Todos os caçadores sorriram, exceto Josan que continuou com os olhos lá em baixo, naquele grupo que peregrinava pelas pradarias ao longe cobertas por neve.

Atrás de Colin, Leona abriu lentamente os olhos e abraçou o carniceiro.

— Estamos sendo seguidos. — disse baixinho. — Eles têm um cheiro familiar.

Colin franziu o cenho e assentiu.

— Entendi.

Cykna viu a mudança repentina no semblante do sobrinho.

— Aconteceu alguma coisa?

Colin fez que não com a cabeça.

— Está tudo bem, tia, pode ficar tranquila.

Ela não havia acreditado nas palavras dele, então ficou atenta ao redor. O sobrinho assumiu um semblante bastante assustador, algo que fez até mesmo ela ficar em guarda.

Após prometer que todos estariam protegidos, Colin se sentiu responsável por eles. Ainda havia um caminho longo até seu território.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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