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Capítulo 246 – Finalmente encontrei!

Sentada em cima do enorme dragão branco, Ayla estava com um capuz sobre a cabeça, com um cachecol no pescoço tapando também a boca e suas mãos estavam no bolso. Havia voado a noite toda em direção ao sul, voando bem alto, quase acima das nuvens para não ser descoberta por ninguém.

Seus cílios brancos estavam congelando, e suas bochechas estavam mais rosadas que o normal. Até mesmo alguém como ela se sentia afetada pelo frio glacial do inverno, ainda mais após voar por horas em cima de um dragão, recebendo toda aquela ventania diretamente no rosto.

Usou parte de sua mana para aquecer seu corpo, impedindo que congelasse por completo, mas decidiu a preservar caso acontecesse algum imprevisto.

— É logo abaixo — disse o demônio escondido na sombra. — O verdadeiro Anoitecer Florido está bem abaixo de nós.

Ayla se ergueu e saltou até a cabeça de seu dragão, dando uma olhada para baixo. O sol estava acabando de nascer.

— Ophibith, fique por perto. Oculte sua mana e permaneça atenta. Não descarto a possibilidade de tudo isso ser uma armadilha feita pra me atrair até aqui.

Dobrando os joelhos, Ayla saltou.

Após alguns segundos em queda livre, Ayla, estava se aproximando do chão em alta velocidade. A rainha mantinha sua análise ativada, passando o olho pelas ruas da cidade lá em baixo, procurando algum rastro de mana que fosse poderoso, mas não encontrou nenhum que chamasse sua atenção.

Dobrando os joelhos, ela concentrou mana nas pernas, juntou as mãos e começou a conjurar vários círculos mágicos feitos de eletricidade ao seu redor. Cada círculo era composto por diferentes símbolos e glifos, e eles começaram a brilhar intensamente à medida que ela caía.

Enquanto isso, Ayla manteve a calma e concentrou sua mana, controlando sua queda livre com magia. Ela se movia rapidamente, girando e mudando de direção, ziguezagueando de círculo em círculo até alcançar o chão.

O sol ainda estava nascendo, então as ruas estavam vazias, com poucas pessoas sonolentas indo e vindo.

A cidade se erguia majestosamente diante dos olhos da rainha. Suas ruas de pedra sinuosas e estreitas eram rodeadas por edifícios imponentes de arquitetura barroca, cada um mais elaborado e adornado que o outro.

As fachadas das construções eram ricamente decoradas, com detalhes elaborados em relevo e esculturas de mármore que retratavam figuras religiosas, mitológicas e históricas dos Sulistas. Os telhados eram de ardósia, cuidadosamente colocados em padrões elaborados e intrincados.

As igrejas e catedrais se destacavam na paisagem urbana, com torres altas e pináculos ornamentados. Suas fachadas eram adornadas com detalhes elaborados em pedra e afrescos que retratavam cenas de batalha dos heróis de seu povo contra os Orcs, considerados uma praga no Império do Sul.

As praças eram igualmente impressionantes, com fontes monumentais de mármore e bancos de pedra, cercados por edifícios imponentes.

As cores vibrantes dos edifícios, em tons pastéis de rosa, amarelo e azul, contrastavam com o azul profundo do céu de inverno.

Ayla ficou vislumbrada por um momento, toda arquitetura da cidade diferia da sua capital, que denotava algo mágico e misterioso.

Até a roupa dos habitantes era diferente, mais refinada. As poucas mulheres que por ali transitavam, usavam cosets, afinando a cintura e dando destaque aos seios. Usavam também Painers, que iam debaixo dos vestidos e serviam para dar a impressão de uma cintura mais larga.

Os homens usavam trajes mais finos e escuros. O colarinho era reto e as mangas abotoadas. Por cima da camisa básica ia um colete mais grosso, terminando em pontas retas de cada lado do abotoamento frontal. O colete era enfeitado por botões ornados de ferro.

Alguns prefeririam o velho suspensório ao colete luxuoso, mas devido ao frio, todos usavam calças em tecidos luxuosos. Seus sapatos eram botas de salto fino, e a maioria usava chapéu coco, cartola ou até boina.

Até mesmo as carruagens carregavam certo luxo.

Eram de um verniz reluzente, as rodas eram enormes e até mesmo os cavalos pareciam grandes, bem diferente daqueles criados no centro-leste.

Foi um contraste interessante para Ayla, que estava acostumada a uma realidade completamente diferente. Alguns estranhavam por ela não estar trajando um vestido. Suas roupas eram básicas, camisa, casaco com capuz que ia até os joelhos, além da calça justa e botas escuras.

Estava claro que ela era uma estrangeira. Com tantos olhos sobre si, Ayla ajeitou o cachecol e começou a dirigir-se em direção ao luxuoso Anoitecer Florido.

A frente era luxuosa e não parecia um prostíbulo, mas sim alguma estrutura histórica pelo excesso de detalhes em sua fachada. Por fora, ele era pintado de preto, com vidraças por toda sua extensão, vidraças que nublavam a visão do que acontecia lá dentro.

Ayla subiu as escadas e passou pela porta onde haviam dois homens bem agasalhados na entrada. Eles estavam com boinas, roupas escuras e fumavam cigarro. Apenas cruzaram olhares com Ayla antes de ela adentrar o estabelecimento e ser açoitada por um forte cheiro afrodisíaco, mas apesar disso, era um lugar tranquilo.

Por dentro, parecia ser bem maior do que ela pensava. Havia três andares com dezenas de quartos, e havia uma espécie de bar ao fundo onde algumas garotas conversavam com rapazes e vez ou outra algum rapaz saía de algum quarto com um largo sorriso enquanto a garota se despedia sendo a mais simpática possível.

Diferente dos bordéis do centro-leste, as garotas não andavam seminuas. As moças mais requisitadas somente atendiam com horário marcado, enquanto as novatas tentavam conseguir alguma coisa no bar do bordel, mas não conversavam com qualquer um.

O cliente teria que estar depilado lá em baixo e de banho tomado, além de um bolso cheio de moedas.

— Posso ajudá-la? — indagou uma mulher de vestido, sorriso meigo, seios fartos e o cabelo escuro preso em um coque.

— Quero falar com a responsável pelo estabelecimento.

A mulher ergueu uma das sobrancelhas.

— Certo… posso saber o motivo?

— Medelina! — chamou um homem de boina no segundo andar — A patroa quer vê-la, traga a mulher com você. — O rapaz se afastou entrando em uma porta.

— Perdão! — ela curvou o corpo. — Me siga por gentileza.

Dirigiram-se até a escada no canto e a subiram, caminhando pelo corredor. Ouviram alguns gemidos enquanto passavam por algumas portas, até adentrarem a porta que o segurança havia adentrado.

Deram de cara com um corredor extenso, iluminado por luzes rosadas. O chão era coberto por um extenso tapete avermelhado e haviam espelhos para todo lado. Ayla se manteve em guarda o tempo todo, ficando atenta para não se distrair com os espelhos.

No fim do corredor havia uma porta, e foi por ela que passaram. Chegaram até a sala da proprietária.

Havia uma enorme mesa no centro com diversos documentos bem organizados, sofás luxuosos na esquerda, direita e centro, de frente para a mesa. Também tinha uma estante de livros que ia do chão ao teto na esquerda. Atrás da mesa havia uma parede de vidro.

A Elfa de pele morena era majestosa e elegante, com cabelos louros cacheados que caiam em cascata sobre seus ombros. Seu corpo esguio e gracioso era adornado com um vestido de seda que realçava suas curvas perfeitamente desenhadas. Seus olhos castanhos eram hipnotizantes e brilhavam com uma mistura de mistério e desejo, enquanto seus lábios rosados eram sedutores e convidativos. Ela exalava confiança e graça em cada movimento, deixando todos os que a viam fascinados por sua beleza inegável e seu charme cativante.

O homem de antes estava no recinto com as mãos para trás, esperando alguma ordem.

— Podem ir — disse em um tom de voz suave e sedutor. — Nossa convidada fica por minha conta.

Os dois assentiram e se retiraram, fechando a porta atrás deles.

Ayla permaneceu de pé, desconfiada de ter sido arrastada para uma armadilha.

— O que foi, rainha Ayla? Pode ficar tranquila, eu não mordo! — A Elfa deu uma piscadela.

— Como você me…

— Sei tudo sobre você, meu anjo, o meu trabalho é esse, saber das coisas. — ela apoiou um dos braços na mesa e sobre ele escorou seu queixo. — Se está aqui, significa que recebeu minha mensagem, mas confesso que não esperava você, queria o carniceiro. 

Ayla franziu o cenho — O que queria com meu marido?

— Conversar. Muita gente me procurou para saber mais do seu marido, sabia? O nome dele me rendeu um bom dinheiro na última quinzena. — ela ofereceu o sofá. — Por que não se senta? Temos muito o que conversar.

Ainda desconfiada, Ayla sentou-se.

— Quem é você?

Ela começou a tamborilar o dedo na bochecha.

— A versão resumida? Sou Isabela, dona do Anoitecer Florido e amiga de “reis”. E você é a famosa Ayla, caçadora de Orcs, herdeira de Runyra e uma excelente estrategista. Confesso que não esperava que me encontrasse tão rápido, isso me lembrou que não posso subestimá-la.

A rainha franziu o cenho.

— Você disse que “procuraram” você para saber do meu marido, quem a procurou?

Isabela fez que não com o indicador.

— Não é assim que as coisas funcionam, majestade, mas é a grande Ayla que está bem na minha frente, então irei relevar — O sorriso dela ficou ainda mais sedutor. — O alto escalão de Lumur me procurou para saber do carniceiro.

— Tsc! Esse cretino quer mesmo entrar em guerra contra Runyra?

— Quem sabe, fofinha. — Isabela afastou uma mecha de cabelo para trás das orelhas. — Sabe, a ascensão meteórica do seu marido não chamou só atenção de Lumur, mas a minha também — ela começou a encaracolar um cacho com o indicador — Há quase dois anos alguém me trouxe a informação de que um garoto havia vencido um Bakurak, o que é surpreendente. Tenho quase oito séculos de vida, meu amor, e nunca vi um Bakurak.

— Vá direto ao ponto.

— Relaxe, bonitinha, devagar é bom, já experimentou? — ela abriu um sorriso. — Claro que já, consigo imaginar esse seu rostinho sério se contorcendo quando-

— Isabela! Direto ao ponto.

— Certo, certo — ela abanou as mãos. — Algum tempo depois do incidente do Bakurak, ouvi que o garoto havia formado uma guilda com pessoas bem peculiares. Depois ouvi dizer que ele estava se relacionando com uma monarca de duas árvores, a única que se tem conhecimento. Soube também que ele acabou ferindo alguém do alto escalão de Ultan, destruiu a guilda do famoso Loafe e teve os próprios filhos de Ultan em sua equipe, coisas assim não passam despercebidas. Então, Ultan cai, e esse mesmo garoto reaparece, agora sendo chamado de carniceiro, se casa com a poderosa Ayla e em menos de um ano se torna rei de um país.

— Tá… onde quer chegar com tudo isso?

— Não é óbvio? Seu marido é uma fonte de dinheiro, e pelo jeito que está indo, o Sul entrará em guerra com Runyra, e estou apostando em vocês.

Ayla assentiu e franziu o cenho.

— O que vai fazer? Me vender informações?

— Vender? Sim, mas entregarei tudo do Sul sem custos, porém, há uma condição.

— Que condição?

— Quero abrir bordéis por Runyra, aos menos quatro ou cinco filiais.

A rainha fez que não com a cabeça.

— Você quer que eu te dê permissão para me espionar? Pensa que sou idiota? Você ganha a vida vendendo informações nesse — Ayla olhou ao redor com desdém. — Nesse estabelecimento. Priorizo o meu país, o meu povo, eu nunca os venderia assim para uma cafetina de quinta!

Isabela não desfez seu sorriso, mesmo com todas aquelas ofensas.

— Vai mesmo negar a minha ajuda, majestade? Posso te colocar a um passo de cada inimigo seu.

— Claro, diz isso enquanto continuará vendendo informações do meu marido para qualquer um que tenha moedas para pagar. — Ayla suspirou. — Tenho os meus próprios termos.

Foi a vez de Isabela franzir o sobrolho.

— Que termos?

— Deixo você abrir suas filiais, mas quero saber de todas as informações que vazará sobre mim, meu marido, meu reino e meu povo, e só irá vazar as informações que eu permitir. Sei que isso deve ser péssimo para os seus negócios, mas se trabalhar nos meus termos, prometo que será bem recompensada.

— Hum… de que tipo de recompensa estamos falando?

— Terras e a minha proteção. É questão de tempo até o Leste ser dominado por nós. A gente mantém este acordo as escondidas enquanto você continuará vendendo as informações filtradas, e me dirá para quem as vende. Dessa forma, ambas se beneficiam de um acordo mútuo — Ayla levantou-se e ergueu a mão direita para um aperto. — Proponho um contrato com a consequência de morte se qualquer uma de nós o quebrar.

Isabela ficou pensativa.

Ela sabia que se o fizesse estaria assumindo um lado em tudo aquilo, mas era excitante imaginar em tudo que ganharia com a decisão. Para alguém que já viveu tanto e sabia de muita coisa, seria fácil recomeçar se tudo desse errado.

Uma coisa era certa, nem Ultan, que foi o homem mais próximo de unificar o continente, teve uma ascensão tão rápida. Apostar em Colin seria a melhor escolha para ela, seus negócios e até para seus futuros clientes.

— Sem traições e sem mentiras entre a gente, rainha — Foi a vez de Isabela levantar. — Estou ansiosa para trabalhar com você.

Elas apertaram as mãos e raízes envolveram a mão de ambas, desaparecendo em seguida.

— Bom, tenho que ir agora — Ayla tergiversou e foi até a porta. — Preciso descansar e de um banho.  

— Eu oferecia um de meus quartos, mas acredito que esse não seja um ambiente que uma mulher casada possa ficar. Até mais, meu anjo.

Ayla fechou a porta e a sombra de Isabela começou a oscilar, mas quem saiu dela foi uma garota de cabelo curto preto e olhos escuros.

— Ela é ardilosa — disse a garota. — Não devia ter aceitado tão rápido.

Isabela abriu um sorriso de canto enquanto olhava para o nada imaginando coisas.

— Não te excita saber como tudo isso vai se desenrolar?

— Não. Sei que deve estar empolgada com a ideia, mas o carniceiro e a rainha devem ser as pessoas mais odiadas de todo Leste. Alexander, nortenhos, sul, vai mesmo apostar nestes dois contra todos eles?

— Elga, querida, basta observar para qual lado a guerra está indo. A rainha é mais forte do que imaginamos, e o carniceiro chegou bem longe em menos de dois anos. Quero ver aonde isso dará.

— Tsc… você não está nessa por terras ou dinheiro, está? O que você quer de fato?

Isabela relaxou na cadeira enquanto olhava para Elga com seu olhar sedutor.

— Depois que se vive tanto tempo, as coisas ficam monótonas. Já experimentei tudo o que a vida tem a oferecer, e o que fica é a sensação de que não há mais nada de novo para descobrir ou fazer. Porém, agora é diferente. Há algo novo sendo desenhado no horizonte — ela apoiou o indicador na mesa. — E eu quero estar bem no meio disso.

— Você é maluca.

— Vai me dizer que não é nem um pouco excitante pra você?

— Não mesmo.

Isabela continuou sorrindo.

— Azar o seu, você continuará do meu lado, já que é minha pandoriana, hehe.

— Nem precisa me lembrar de algo assim — ela derreteu e adentrou a sombra de Isabela.

A Elfa negra continuou encaracolando os cachos enquanto imaginava coisas.

“Colin… fico imaginando que tipo de homem você é… sua esposa é bem esperta, tem um olhar selvagem e sabe muito bem o que quer… espero conhecê-lo em breve”. Seu sorriso ficou mais largo “Não me desaponte, garoto.”  

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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