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Capítulo 257 – Cela.

Os olhos esverdeados de Brighid abriam-se lentamente.

Ela sentia que seu estômago estava revirado.

Quando finalmente conseguiu focar a visão, percebeu estar em uma jaula cercada por outras pessoas, todas amarradas.

A luz que iluminava o local era fraca, mas o suficiente para poder ver as expressões preocupadas e apavoradas dos que estavam presos ali.

Brighid tentou mover as mãos, mas sentiu a resistência das cordas que as prendiam. Respirando fundo, ela tentou se acalmar e avaliar a situação.

“Maldito Elhad! Todas essas pessoas… vão todas ser traficadas para Caliman?”

Foi então que ela notou que havia uma porta na jaula, fechada com uma corrente grossa. Brighid se levantou com dificuldade e caminhou até a porta, testando a resistência das amarras a cada passo.

Chegando lá, ela tentou abrir a corrente, mas percebeu ser impossível sem uma chave.

Com um suspiro, Brighid se virou e encarou os outros presos.

— Alguém sabe onde estamos?

Ninguém disse nada, nem se quer a encararam nos olhos.

Ouviram passos no corredor e aproximaram-se dois homens com feições grotescas usando casacos de pele e gorros para se protegerem do frio.

— Finalmente acordou, hehe — Um deles aproximou-se da cela. — Meu amigo e eu fizemos uma aposta, ele apostou que você é uma Meia-Elfa por ser tão bonita, já eu acho que você é humana. Afinal, existem humanas tão bonitas quanto Elfas, não é verdade?

Brighid continuou com a carranca sisuda e em silêncio.

— Não vai nos dizer? — Com um sorriso de dentes apodrecidos, ele apontou para a cela vazia da frente. — A gente combinou que quem acertasse teria alguns minutos a sós com você, mas se não responder, vamos nós três para aquela cela, com todos eles olhando, e então, vai continuar se fazendo de difícil?

Brighid continuou em silêncio e o com o mesmo olhar.

 — Olha só essa vadia, certeza que ela quer fazer com a gente na frente de todo mundo, hehe, então tudo bem.

Um deles tirou a chave do bolso e enfiou no cadeado, mas parou ao ouvir uma voz do corredor.

— Nem pensem nisso! — disse Elhad caminhando com as mãos nos bolsos. — Essa mulher é ardilosa, ela mataria vocês antes que pudessem fazer algo.

Aqueles dois homens riram em desdém.

Hehe! Acha que acredito naquela baboseira de que foi ela que matou Fitorin e os outros? Aposto, meu ovo esquerdo, que isso foi coisa sua, desgraçado.

Após cruzar os braços, Elhad encostou na parede.

— Então vai, tenta arrastá-la para outra cela.

Engolindo em seco, aquele homem tirou a chave do cadeado e deu as costas.

— Vamos, parceiro, tem Elfas no final do corredor que valem mais a pena que essa vadia.

Ele afastou-se, dando uma encarada em Elhad que retribuiu com um sorriso de canto.

Frente a cela, Elhad acenou com a cabeça para Brighid e ela aproximou-se ainda furiosa.

— Devia ter deixado eles entrarem aqui.

Ele assentiu. — E deixar você fugir estragando tudo? Ainda não está na hora de nos separarmos, senhorita Brighid. Preciso das suas habilidades.

— E o que te faz achar que vou te “emprestar” minhas habilidades?

Enfiando as mãos nos bolsos, Elhad retirou uma chave e enfiou no cadeado, o abrindo, abrindo também a cela em um ranger agudo.

— Eu e você vamos dar uma volta, e para o seu bem, melhor que não tente nada.

Elhad a pegou pelo braço e a empurrou para fora, trancando a cela em seguida. Segurou o braço de Brighid e começou a caminhar com ela pelo corredor escuro e úmido, com paredes de pedra escura irregular.

O chão era de terra batida, úmido e escorregadio, enquanto o ar era gelado e cheirava a mofo.

À medida que Elhad conduzia Brighid pelo corredor, o eco de seus passos ressoava nas paredes de pedra, criando uma sensação de claustrofobia. As tochas nas paredes lançavam sombras distorcidas e irregulares, aumentando ainda mais a sensação de medo e desconforto.

Finalmente, chegaram a uma porta de ferro enferrujada, que rangeu quando Elhad a abriu. Atrás da porta havia uma sala escura, iluminada apenas por uma única vela tremeluzente em cima de uma mesa de madeira.

— Fica tranquila, vou te contar tudo que está acontecendo — disse fechando a porta atrás dele e encostando o quadril na beirada da mesa. — E então, o que quer saber primeiro?

Ela olhou para os dois lados e suspirou.

— O que você quer de mim?

Ele assentiu enfiando as mãos nos bolsos.

— Preciso que me ajude a trazer Sashri de volta.

— Sashri? — O semblante sério de Brighid desapareceu, transformando-se em um semblante de preocupação. — Ela está bem?

Brighid considerava a Elfa Negra Sashri uma companheira, já que haviam cozinhado juntas algumas vezes, conversaram bastante e até mesmo viajaram juntas.

— Sim, ela está bem — respondeu Elhad. — Sashri e eu somos traficantes de informações. Trabalhávamos para homens que acabaram desaparecendo, mas eles não eram nosso principal empregador. Passávamos tudo para o Anoitecer Florido — ele fez uma pausa. — Há algum tempo os Ubiytsys ajudaram o imperador de Caliman a ascender, mas o senado não concordou com isso por seu reinado ser ilegítimo, então escolheram outra família para assumir a frente do império.

— Me deixa adivinhar — interrompeu Brighid. — Ele acabou com toda oposição?

Elhad assentiu apontando o indicador para ela.

— Exatamente. As duas filhas mais velhas foram mortas, assim como o caçula, sobrando uma garota e um garoto, os filhos do meio. Eles escaparam, e ninguém sabia onde estavam. Porém, eu encontrei o garoto, e foi aí que tudo começou a dar errado. O imperador suspeitou e foi atrás de nós. Sashri foi capturada e o imperador me obrigou a trabalhar para ele. O garoto continua escondido, mas não há nenhum sinal da garota — O brilho intenso dos olhos verdes dele contrastava com a expressão séria do rosto, dando a impressão de que havia algo sombrio pairando em sua mente. — Eu te contei a história resumida, mas meu objetivo é simples, vou derrubar o imperador, colocar o garoto no poder e resgatar Sashri, mas não consigo fazer isso sozinho.

Brighid suspirou, relaxando os ombros.

— Sinto muito pelo que está passando, também sinto muito por Sashri, mas minha prioridade são meus filhos. Devia vir comigo e falar com Colin, ele se tornou rei, não é? Ele pode ajudar.

O Elfo assentiu novamente.

— Tornou-se, mas mesmo sendo rei, não acho que ele vá me ajudar a derrubar um imperador de uma terra distante. Ele está em guerra no Centro-Leste, batalhar em várias frentes é suicídio.

Brighid assentiu com um longo suspiro.

— Sinto muito pela Sashri, ela é minha amiga, por isso sei que ela é forte. Sua situação é desesperadora, mas não quero me comprometer com sua causa… preciso encontrar meus filhos primeiro, e não posso fazer isso sozinha sem falar com o pai deles e muito menos resolver isso depois de te ajudar… não sei nem quanto tempo essa empreitada irá durar…

Elhad alisou o queixo enquanto desviava o olhar.

— Mesmo com o centro-leste se afundando em uma guerra, você ainda quer continuar? Assassinatos, estupros, tráfico de escravos, todo tipo de desgraça acomete essas zonas próximas à fronteira de Runyra, quer mesmo passar por isso sozinha?

Seus olhos esverdeados se encontravam com os de Elhad em frente a ela. Brighid ouviu atentamente cada palavra, mas não demonstrou medo.

— Eu sei o que tenho que fazer. Preciso atravessar a fronteira e encontrar meu marido. Ele precisa de mim e eu preciso dele. Não posso falhar.

Elhad franziu o cenho.

— Sabe que ele criou um grupo que chamam de carniceiros, não sabe? Ele se casou com outra mulher e dizem por aí que ele é um Rei louco.

Franzindo os lábios, Brighid desviou o olhar pensativa.

— Eu sei que pode parecer difícil de entender, mas conheço Colin de uma maneira que você não conhece. Ele precisa de ajuda e eu não posso simplesmente abandoná-lo. Além disso, sem a ajuda dele, é improvável que eu encontre meus filhos…

— Entendi — ele coçou a nuca. — Essa lealdade dos seres místicos me assusta… achei que se a trouxesse aqui e a fizesse entender meus motivos, você me ajudaria — Elhad desencostou da mesa. — Certo… hoje ao anoitecer vou libertar você. Uma rebelião começará, esteja ciente.

— Rebelião? Espera, vai se voltar contra os traficantes? Não é perigoso?

— Preocupada comigo? Você é mesmo adorável, mas fique tranquila, sei me virar.

Brighid desviou o olhar.

— Elhad… sinto muito…

— Tudo bem, espero que encontre os seus filhos e coloque um pouco de juízo na cabeça do Colin.

— Você devia vir comigo, mesmo que digam que Colin ficou louco, ele ainda se tornou rei, certo? E como você disse, as pessoas estão migrando para as terras dele por serem prósperas, ele ainda é o mesmo de antes. Se explicar a situação sobre Sashri para ele, tenho certeza que ele ajudará…

Elhad meneou a cabeça.

— Isso resultaria em uma guerra direta contra Caliman. É loucura demais, até mesmo para alguém como ele. Existem boatos que o Norte e o Sul devem se juntar para destruí-lo, Colin já tem problemas demais.

— Eles não vão conseguir destruí-lo, não importa quantos sejam — Brighid apoiou uma das mãos sobre o peito, dizendo as próximas palavras com uma convicção inabalável. — Elhad, meu marido não é o tipo de homem que nega o pedido de ajuda de alguém, principalmente de um companheiro.

Aquelas palavras foram o suficiente para Elhad.

Ele ainda não entendia toda aquela fé em alguém tão problemático.

Os olhos de Brighid continuaram brilhando em uma mistura de confiança e determinação, deixando claro que ela não tinha dúvidas do que saía de sua boca.

— Você é estranha, senhorita Brighid, mas não precisa se preocupar. Eu vou na frente, se Colin quiser ajudar, dou um jeito de entrar em contato, agora vamos voltar para sua cela antes que eles façam perguntas, e me desculpe por isso.

Ela ergueu as sobrancelhas.

— Isso o quê?

Bam!

Elhad a surpreendeu com um brutal soco no abdômen, derrubando-a no chão. Brighid golfou, iniciando uma crise de tosse.

Cof! Cof!

— Sinto muito, isso é para não levantarem suspeitas.

Ele a levantou pelo braço e a colocou em seu ombro. Abriu a porta e caminhou pelo corredor úmido ainda com Brighid tossindo sem parar.

Retornou para a cela onde ela estava e a jogou lá dentro, passando o cadeado.

Cruzou olhares com um dos guardas e se aproximou dele.

— Ela é minha, se alguém encostar um dedo nela ficará eunuco, ouviu?

— Si-Sim, senhor…

Por cima dos ombros, Elhad deu uma última encarada em Brighid, avançando pelo corredor.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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