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Capítulo 259 – Introspecção.

Bam!

Colin foi lançado para trás, segurando os braços em posição defensiva diante do rosto.

Vestindo apenas uma calça colada, ele encarou Leona, que estava vestida com roupas de treino que realçavam suas curvas e músculos bem definidos.

Com uma blusa justa e shorts curtos, suas pernas esculpidas chamavam a atenção, enquanto seu cabelo sedoso e escuro estava preso em um rabo de cavalo para mantê-lo longe do rosto durante o treinamento com o seu mestre.

Os braços de Colin tremiam e emanavam fumaça devido à força do golpe de Leona.

Hihi! O que achou disso, mestre?

O corpo de Leona já não era o de uma adolescente, mas sim o de uma mulher plenamente desenvolvida.

Colin abaixou os braços, encarando-a com um sorriso de canto.

— Você ficou mais forte desde que restauramos nossa conexão — ele comentou, reconhecendo a evolução notável de Leona. — Vamos continuar treinando e evoluindo juntos. Nosso objetivo é alcançar a variação vermelha, mas podemos deixar isso para outra hora. Por hoje, já fizemos o suficiente.

— Vai me levar para jantar ou algo assim? — ela perguntou, com um olhar curioso e um sorriso brincando nos lábios, enquanto colocava as mãos delicadamente para trás e inclinava a cabeça para o lado.

— Por que eu te levaria para jantar? Você pode comer qualquer coisa do palácio.

As orelhas peludas se inclinaram para frente enquanto ela fazia biquinho. Enrugou o nariz e encheu as bochechas de ar, deixando seu rosto ainda mais adorável.

— É sempre assim, mas aposto que se fosse a Ayla, o senhor a levaria em um lugar chique com comida gostosa, mas como sou eu, o senhor me trata como uma qualquer…

— Tsc… esse assunto de novo? Tá! — Ele deu de ombros. — Vamos comer alguma coisa, e depois disso não quero ouvir suas reclamações por uma quinzena inteira.

Colin virou-se de costas e Leona o abraçou por trás. Ela colocou os braços em volta da cintura dele, apertando-o suavemente, enquanto encostava o rosto em suas costas.

— Credo! Devia tomar um banho, mestre, o senhor tá todo suado, hihi!

— Então para de se esfregar em mim!

Leona esfregou o rosto nas costas dele novamente.

Hihi, que nojo! Agora é sua vez, me abraça e esfrega seu rosto nas minhas costas, mas o senhor terá que se abaixar já que é mais alto que eu.

— Eu não vou fazer isso, é nojento.

— É, mas o senhor sou eu e eu sou o senhor, esqueceu?

— Existem limites para isso, agora me solta, senão você vai comer a comida do palácio de novo, e sem rato frito dessa vez.

Ela o soltou e mostrou a língua.

— Chato! — Leona correu até a porta e apontou o indicador para ele. — O senhor vai ver! Ficarei tão bonita quanto aquelas nobres do palácio, espere por mim!

Ela disparou, avançando pelo corredor.

Colin balançou a cabeça abrindo um sorriso de canto.

Foi até o banheiro da sala de treino particular, apoiou as mãos na pia e encarou-se no espelho.

Seu cabelo ainda molhado grudava na testa.

Ele se encarou no reflexo, seus olhos amarelos fixos em si. Observou as linhas do seu rosto e, apesar de não ter nada de diferente, ele não se reconheceu.

Por um momento, seus olhos se desviaram do reflexo e ele fitou o vazio, como se buscasse uma resposta.

Desde que decidiu assumir as rédeas e decidiu ser o responsável pela mudança radical naquele mundo decadente, o Errante vestia uma máscara que o ajudava a lidar com toda aquela sujeira.

Seus inimigos e conspiradores não respeitavam nada senão a força, e foi isso que Colin mostrou a eles, principalmente quando se tratava daquele imundo jogo político.

Encarou a tatuagem do sol na palma da sua mão esquerda que simbolizava o matrimônio com Brighid e depois encarou a tatuagem que era uma linha fina circundando seu pulso, simbolizando o matrimônio com Ayla.

Ele estava visivelmente abalado, com uma expressão de frustração e raiva estampada em seu rosto. Sua mão tremia enquanto ele a apoiava firmemente em sua testa, tentando conter a intensidade de suas emoções.

— Merda! O meu tempo está acabando! — disse furioso com veias saltando de sua têmpora. — Eu ainda não consegui mudar nada! Mas eu não posso parar agora, eu tenho que continuar, ficar maior que todos eles, ficar tão grande a ponto de esmagá-los!

Colin começou a sentir um aperto no peito, como se algo estivesse pesando sobre ele.

A cena do massacre de Ultan passou por sua cabeça.

Lembrou-se de avistar o cadáver de Loaus, Liena, Kurth e Wiben. Lembrou-se dos momentos de felicidade entre eles e por fim lembrou-se de Safira.

As lembranças fluíam em sua mente como um filme, transportando-o para momentos preciosos e cheios de significado.

Ele reviveu o instante em que a conheceu, as circunstâncias que os uniram e a conexão especial que se desenvolveu desde então. A imagem do celeiro veio à tona, lembrando-o do momento em que ele a resgatou, protegendo-a daquele soldado e dos perigos que surgiram posteriormente.

Um sorriso nostálgico surgiu em seu rosto ao relembrar os momentos de diversão que compartilharam, os risos sinceros e as brincadeiras que os aproximaram. Os conselhos sábios que ele oferecia a ela também vieram à tona, momentos em que sua experiência e sabedoria eram compartilhadas com generosidade.

As cenas dos treinos e dos desafios superados juntos surgiram vívidas em sua mente, ressaltando a cumplicidade e o crescimento que experimentaram como equipe. A imagem da turma reunida, unida por laços de confiança e amizade, trouxe um sentimento de pertencimento e calor no coração.

No entanto, essa corrente de lembranças felizes foi abruptamente interrompida quando ele se deparou com a lembrança da dor que ela infligiu aos membros de sua guilda. Um peso sombrio tomou conta de sua expressão facial, e seu olhar se encheu de um misto de tristeza, decepção e raiva.

As memórias de suas ações drásticas contra ela vieram à tona, lembrando-o do momento em que ele quase tirou sua vida como uma resposta à ação dela e ao sofrimento que ela causou.

A dualidade de sentimentos se refletia em seu rosto, evidenciando o conflito interno que o assombrava.

Uma mistura avassaladora de emoções tomou conta dele quando as palavras de desculpas dela ecoaram em sua mente. Uma onda de tristeza e arrependimento se espalhou por seu corpo, apertando seu peito e fazendo sua respiração se tornar agitada e ofegante.

Cada palavra pronunciada parecia ser um peso insuportável, carregando consigo a dor de cada golpe que ele havia infligido.

O nó em seu estômago se apertou ainda mais, provocando uma sensação de desconforto e náusea.

Um amargor invadiu sua boca, e ele não conseguiu conter o vômito que se aproximava. Um gosto amargo subiu por sua garganta, e ele se curvou, deixando o conteúdo do seu estômago escapar.

Com as mãos trêmulas, ele se apoiou ao lado do espelho e encarou a imagem refletida. Mesmo não sabendo ao certo o que de fato ele era, os restos de comida no canto dos lábios eram um lembrete gritante de sua própria humanidade, de suas imperfeições expostas.

Naquele momento, não havia disfarces nem máscaras para esconder a realidade.

Ele se olhou nos olhos, encontrando um olhar cheio de dor e vulnerabilidade. Era como se todas as suas defesas tivessem sido derrubadas, deixando-o exposto ao seu próprio reflexo e às consequências de suas ações.

Através do espelho, ele confrontou a complexidade de sua própria existência. Era uma imagem cruamente honesta, uma representação de um ser imperfeito, ferido e em busca de alguma esperança.

— Estou fazendo tudo certo, não estou?

Ele começou a falar como se estivesse conversando com alguém que estava do outro lado do vidro.

— É claro que está — respondeu à pergunta, como se o espelho fosse uma entidade viva e consciente.

— Não importa o que digam, vamos consertar tudo antes de morrermos, né?

— Sim, logo os seus filhos estarão vindo ao mundo, não quer que eles cresçam nesse inferno, não é? Por isso você continuará aguentando firme, foi isso que fez desde que chegou aqui. Você é o mais forte, esse é o fardo de ser o mais forte.

— Acha que elas me perdoariam?

— Claro, elas te amam, mas antes disso, vamos limpar esse mundo de todo verme que ainda rasteja pelos becos e todos os que ameaçam seus amigos e sua família! — Um sorriso macabro se formou em seu rosto, enquanto suas pupilas se contraíam abruptamente. — Coen, Drez’gan, e qualquer outro verme que se colocar no seu caminho, você vai mostrá-los quem você realmente é! Quando tudo acabar, você estará de pé sobre o cadáver deles, porque é isso que eles merecem!  

— Sim!

— A garota, Safira.

— … O que tem?

— Precisa apagar seus sentimentos em relação a ela.

Ouviu-se apenas o gotejar da pia por alguns segundos.

— Por que eu faria isso?

— Não é óbvio? Isso te deixa fraco. Me responda, se Brighid ou até mesmo Ayla fossem feridas por ela, o que você faria?

Outro silêncio.

— Viu só? O fato de não a aceitar como inimiga te deixa nesse estado deplorável. Olha como você está agora, quase chorando como uma garotinha. Preste atenção, você é o pilar desse país, da sua família, se você cair tudo desmorona, vira pó! Chorar pelos cantos e se lamentar não é o tipo de privilégio que você tem.

— …

— Sabe que estou certo. Acha que derrotará Coen, Drez’gan ou até Alexander se ficar agindo como um chorão sentimental? É assim que quer proteger os seus filhos, amigos e até suas esposas? Seja o homem que tem que ser. Acha que Ayla, Brighid e até seus contratos confiam em você por qual motivo? Você é implacável. Protege os seus, os deixa seguros, e ainda se mantém são nesse inferno. Esse é o homem que você tem que ser! Chorar e se lamentar é o privilégio dos fracos, e esse não é o seu caso!

Ele assentiu.

— Certo, você tem razão, eu tenho que continuar.

— Bom garoto, agora você vai para o jantar com Leona, chegará em casa e passará um tempo com sua esposa. Ela é apaixonada por você, então não precisa de muito para agradá-la. Amanhã você passará um tempo com as crianças, lerá para os garotos, brinque com as garotas e treine com aqueles dois que querem seguir os seus passos.

— Certo!

— Agora vá encontrar com sua pandoriana.

Colin fechou os olhos lentamente, permitindo-se um momento de paz interior.

Um suspiro escapou de seus lábios, carregado de alívio. Enquanto seus olhos permaneciam fechados, sua expressão se suavizou, revelando um semblante tranquilo e sereno.

Ele abriu a torneira e deixou a água fluir, enxaguando sua boca em um gargarejo revigorante. Sentindo o frescor da água em sua garganta, ele sentiu uma sensação de limpeza, como se estivesse liberando não apenas as impurezas físicas, mas também os fardos emocionais que o assombravam.

Ao sair do banheiro, um largo sorriso iluminou o rosto de Colin. Seus olhos brilhavam com uma nova energia, refletindo uma mudança interna que transbordava para o exterior.

Com uma mão, ele alisou os cabelos para trás, como que afastando os pensamentos negativos que antes o atormentavam.

Uma sensação de leveza preencheu seu ser.

Era como se um peso imenso, que havia sido carregado por tanto tempo em seus ombros, finalmente se dissipasse.

Ele se sentia revigorado.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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