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Capítulo 265 – Confiança.

Sentado à mesa no silêncio do quarto, Colin mantinha o abajur aceso enquanto Ayla descansava tranquilamente.

Em suas mãos, repousavam os documentos trazidos por Marcellus algumas noites atrás.

Com um olhar atento e cauteloso, ele mergulhava na análise minuciosa de cada página.

Os registros de Gustav e Dieter não apresentavam grandes surpresas. Eram homens influentes, detentores de vastas terras, prósperos comércios e reputações a zelar.

Colin passou por esses documentos com agilidade, já que nada neles levantava suspeitas ou demandava sua atenção especial.

No entanto, os documentos do velho Franz eram distintos. Eles lançavam uma sombra de estranheza e curiosidade sobre ele. Franz possuía uma série de estabelecimentos duvidosos, incluindo bordéis espalhados por diferentes localidades, até mesmo fora de Runyra, em vilas menores.

Colin notou um detalhe peculiar: todas as funcionárias dos bordéis de Franz eram Elfas. Essa peculiaridade despertou sua curiosidade e o levou a buscar informações adicionais. Ele examinou o dossiê com afinco, procurando pistas ou detalhes que pudessem oferecer um vislumbre do que estava por trás desse peculiar negócio.

No entanto, para sua frustração, percebeu que informações importantes pareciam estar faltando naquele conjunto de documentos.

Colin fechou os documentos lentamente, com uma expressão pensativa em seu rosto.

Aquele mistério relacionado aos estabelecimentos de Franz o intrigava profundamente. Ele sabia que precisaria ir além da superfície, investigar e obter informações mais precisas para desvendar o que se escondia por trás da fachada aparentemente inofensiva daqueles bordéis.

Colin colocou os documentos cuidadosamente de volta na mesa. Ele sabia que havia mais a descobrir e que precisava se preparar para enfrentar os segredos sombrios que poderiam ser revelados ao explorar as profundezas daquele dossiê misterioso.

“Marcellus, está escondendo algo de mim, seu desgraçado?”

Em seguida, ele caminhou até a cama, deitando-se confortavelmente com as mãos entrelaçadas atrás da cabeça.

Ayla, despertada pelo movimento de Colin, virou-se e acomodou a cabeça em seu peito, buscando conforto e segurança em seus braços. Com a voz levemente sonolenta, ela quebrou o silêncio.

— Achou o que queria? — indagou curiosa

Colin deixou escapar um suspiro suave, transmitindo calma e tranquilidade.

— Ainda não, mas amanhã eu acho.

Ayla acariciou suavemente o peito de Colin.

— Se quiser, posso te ajudar…

— Não precisa, volte a dormir. — Ele beijou a testa dela.

— Boa noite, querido.

[…]

No momento em que os primeiros raios do sol despontaram no horizonte, Colin já se encontrava imerso em sua sessão de meditação, dedicando horas à busca por equilíbrio e serenidade na sala de treinamento.

Uma vez concluída essa prática essencial, ele vestiu-se cuidadosamente, optando por uma camisa preta que realçava sua figura, combinada com um casaco elegante, calça impecável e botas firmes. Sua jornada o levava em direção à prestigiosa área nobre de Runyra.

Preferindo a caminhada, Colin aproveitou o frescor da manhã enquanto avançava em direção à residência de Marcellus.

Durante sua jornada, várias pessoas reconheceram sua presença e o cumprimentaram cordialmente.

Ao alcançar o portão imponente, ele prontamente indagou sobre a presença de Marcellus naquele momento.

Para sua surpresa, foi informado de que apenas sua esposa e amigas da família se encontravam presentes, enquanto Marcellus e a filha do casal estavam fora, deixando Colin intrigado, uma vez que Marcellus nunca havia mencionado ter filhos ou os apresentado formalmente.

Apesar de ter considerado adiar sua visita para outra ocasião, os servos prontamente garantiram que a Sra. Marcellus estaria disposta a recebê-lo em sua ausência.

Movendo-se com confiança, Colin cruzou o limiar da majestosa mansão.

Cada corredor e salão pareciam ainda mais espaçosos e imponentes sem a presença de outros visitantes, ampliando a grandiosidade do ambiente ao seu redor.

Guiado pelos serviçais atenciosos, ele foi conduzido até uma elegante sala de chá, onde uma mesa redonda estava adornada com requinte e as três mulheres estavam reunidas.

A surpresa o inundou quando Colin percebeu que a Sra. Marcellus estava acompanhada por outras duas mulheres igualmente bem vestidas.

Elas compartilhavam momentos de descontração, desfrutando de xícaras de chá fumegante enquanto conversavam animadamente.

— Majestade! — Sra. Marcellus saiu de onde estava e foi até Colin entrelaçando seu braço ao dele. — Quando me disseram estar aqui eu não acreditei! — Ela olhou para seu empregado. — Pode ir, eu assumo daqui!

Ela caminhou elegantemente até a mesa e olhou feliz para as outras duas mulheres.

— Senhoritas, esse é o Rei Colin! Ele e meu marido são grandes amigos!

Uma delas se levantou e deu a mão para que Colin a beija-se, e assim ele o fez, assumindo uma postura totalmente diferente do seu habitual.

Beijou a mão de uma e depois da outra.

— Vimos você na festa — disse a loira. —, mas sabe como festas são, não deixam pessoas importantes sozinhas. — Ela olhou para os fundos. — A Rainha não veio com o senhor?

— Minha esposa tem seus afazeres administrativos, o que me deixa livre, já que minha alçada é outra.

Elas cruzaram olhares.

— Já que o senhor está livre, por que não fica um pouco? — perguntou a outra mulher de cabelo escuro. — Não recebemos outras visitas ilustres como a sua.

Colin olhou para as três e assentiu com um sorriso.

— Acho que tudo bem!

Aquelas duas exalavam elegância na atmosfera refinada de uma sala de chá com aspectos da era vitoriana.

Vestindo longos vestidos esplêndidos, feitos de tecidos suntuosos e adornados com rendas e bordados intricados, elas emanavam um ar de sofisticação e graça.

Agora, sentadas em poltronas estofadas, as mulheres delicadamente seguravam suas xícaras de porcelana, que eram ornadas com detalhes dourados e desenhos florais requintados. Seus gestos eram suaves e graciosos, demonstrando uma etiqueta impecável.

A primeira mulher, de cabelos escuros meticulosamente penteados em uma elaborada coiffure, possuía uma pele pálida e uma postura impecável. Seus olhos brilhavam com inteligência e uma pitada de ousadia, revelando sua natureza perspicaz.

Ela tinha traços finos e delicados, realçados por um sorriso discreto que parecia guardar segredos intrigantes.

A segunda mulher, com cabelos loiros ondulados elegantemente presos em um coque alto, possuía uma expressão serena e tranquila.

Seu rosto irradiava uma beleza clássica, com lábios suavemente rosados e olhos azuis brilhantes que refletiam uma serenidade cativante. Sua postura era ereta, demonstrando uma confiança inata.

Ao Colin foi oferecido chá, e ele ficou bem à vontade.

Retirou o paletó e o apoiou nas costas da poltrona. Deixou os braços descansando sobre os braços da cadeira, esticou as pernas e cruzou os tornozelos.

Seu olhar, que era tão assustador quanto enigmático, pairava sobre as três enquanto elas falavam sobre coisas fúteis.

Falavam sobre outras nobres, seus filhos, como estariam outros países e até perguntaram a Colin como era fora de Runyra.

Ele cruzou as pernas, deixando um dos tornozelos apoiados no joelho.

Mulheres da realeza e crianças tinham algo em comum, ambos adoravam ouvir histórias sobre aventuras, já que suas vidas não tinham tanta emoção e seu imaginário conseguia deixar as coisas mais incríveis do que realmente eram.

Colin contou da vez que foi até o abismo, detalhe por detalhe, ocultando algumas partes importantes e às vezes conseguindo ir além do fato, o tornando quase um verdadeiro herói da própria história.

A vantagem de Colin, era que ele sabia contar história, mudando seu tom e colocando emoção em partes importantes.

Conforme ele chegava ao clímax, a atmosfera ficava carregada de uma expectativa silenciosa. Era como se o tempo parasse por um momento, enquanto todas se rendiam à presença cativante e dominadora do rei de Runyra, que parecia possuir um magnetismo irresistível.

Para nobres que não viram muita coisa do mundo, Colin parecia possuir um conhecimento profundo sobre a vida e aventuras que despertavam nelas um desejo de fazer parte daquelas histórias.

À medida que as histórias avançavam, o interesse e a admiração das mulheres cresciam ainda mais. Elas estavam totalmente imersas no mundo que ele criava através de suas palavras, perdendo a noção do tempo.

No entanto, Colin, consciente de seu poder de atração, finalmente anunciou que era hora de partir. Ele se levantou da poltrona com uma elegância impecável, revelando seu porte imponente.

— Senhoritas, está quase na hora do almoço e não quero atrapalhá-las mais.

— Mas e sobre o líder dos caçadores de espectros, não vai contar? — indagou Rebecca, a mulher de cabelo escuros.

— E quando invadiu o covil dos vampiros? — Foi a vez de Amanda, a loira. — Bem… a gente já ouviu essas histórias, queríamos saber como foi pelo senhor…

Colin pegou sua jaqueta e a vestiu, ajeitando o colarinho.

— Sinto muito, senhoritas, que tal deixarmos para amanhã?

— Sério?! — disseram em uníssono.

— Claro, por que não? Contarei daquela vez que conheci o líder do covil dos vampiros. — Moveu-se até a porta. — Boa tarde, senhoritas.

Quando a abriu, lá estava Marcellus, com o cenho franzido e suando frio.

— O que está fazendo aqui?

— Querido! — A esposa de Marcellus foi até o marido, dando-lhe um selinho. — Senhor Colin nos fez companhia nesta manhã, eu diria que ele é quase um livro de fantasia, você não faz ideia das histórias que ele tem para contar!

Colin abriu um sorriso de canto.

— Tive sorte de ter boas ouvintes.

— Não seja modesto, háhá, bem deixarei vocês sozinhos, devem ter muito o que conversar.

Colin assentiu com um sorriso e deixou a sala de chá, caminhando para o fundo do corredor. Seu sorriso desapareceu lentamente enquanto encarou Marcellus de soslaio.

— Veio aqui ameaçar a minha família? — indagou Marcellus com raiva e medo ao mesmo tempo. — Entreguei tudo que pediu, não há necessidade disso!

Colin continuou calado.

Ele enfiou as mãos nos bolsos e se virou por completo na direção de Marcellus, o encarando com olhos perfurantes.

— Sua casa é bonita e sua esposa é muito simpática.

— Vou perguntar novamente — Marcellus cerrou os punhos. — O que faz aqui?

Colin ficou bem próximo a Marcellus, que mesmo intimidado manteve sua postura.

— Pensei que fosse leal a mim, mas você anda cheio de segredos, não é? Protegendo os seus amigos, Marcellus?

Ele engoliu em seco.

— Não sei do que você-

Bam!

Em um rápido movimento, Colin agarrou Marcellus pelo pescoço e o bateu na parede, aproximando seus lábios próximos aos ouvidos dele.

— Eu disse que você era meu, e agora mente na minha frente depois de eu confiar em você? Está partindo o meu coração, Marcellus.

Colin não aliviou, impossibilitando Marcellus de dizer qualquer palavra.

Foi quando Colin o soltou e ele caiu de bunda no chão enquanto alisava o pescoço e tossia demasiadamente.

— Vai me contar toda verdade? — Colin ficou em cócoras, fixando seus olhos nos de Marcellus.

Apavorado e sem saída, ele assentiu.

— A culpa não foi minha, todos concordaram em não dizer tudo a você, porque não confiam em você…

— Todos quem?

— Todos… os senhores de mina, do ferro, das fontes, alguns conselheiros da Rainha, barões em ascensão e nobres menores.

Colin desviou o olhar e apoiou a mão no queixo.

“Entendi… a elite de Runyra realmente me odeia. Não posso descartar a chance de já estarem tramando contra mim por detrás das cortinas. Eles são nobres, orgulhosos demais, minhas ameaças não vão funcionar, só vai deixá-los mais irritados”, Colin voltou os olhos para Marcellus, “Ele é minha única fonte de informação nesse antro de corrupção e conspiração, não posso descartá-lo ou me livrar de todos os nobres sem causar uma crise em Runyra”, um sorriso desabrochou em seu rosto, “Então é isso, tenho que admitir, vocês são bem corajosos.”

 — Marcellus, tenho uma proposta para você. — Colin ergueu-se, estendendo a mão para Marcellus, ajudando-o a se levantar. — Posso dar a você a chance de fazer parte da família real.

— Co-Como o senhor…

— Sua filha mais velha tem quantos anos?

— Tre-Treze…

— O meu filho mais novo tem dez. Podemos ser família, o seu nome será perpetuado na história de Runyra, e sua dinastia pode durar um milênio, não é isso que deseja? Poder?

— E-Eu não-

— Sinceramente, essa briga com os nobres é bem desgastante, e nada me impede de ir até cada um deles e matá-los, acabando com essa briga. Claro que tudo ficaria um caos no começo, mas Runyra se recuperaria, assim como outros surgiriam para tomar o lugar daqueles nobres que não existem mais. Brigar contra mim é perda de tempo. Estou dando a você uma chance de continuar vivo, assim como sua esposa, sua filha… sua linhagem… O que me diz? Vai querer continuar com essa briga ou vai escolher finalmente um lado?

Engolindo em seco, Marcellus desviou o olhar.

— Se eles descobrirem… eu e a minha família…

— Acha que deixaria que machucassem a família da minha futura Nora? Todas as histórias que contam sobre mim são verdadeiras. — Colin abriu um sorriso convencido. — Fui até o abismo e lutei contra o apóstolo de um Deus, pacifiquei o território hostil em semanas, me tornei Rei e Runyra tornou-se uma referência para o continente. O submundo do Sul não existe mais, eu trouxe de volta os Elfos da Floresta, e você ainda acha que um bando de nobres fará algo contra mim? O resultado dessa briga já é claro como o dia, e se não estiver do meu lado, considerarei você, sua esposa e sua filha, os meus inimigos, é isso que deseja para sua linhagem?

Marcellus continuava suando frio, comprando a ideia de Colin lentamente. A verdade, era que o que Colin estava oferecendo era o caminho mais rápido para a ascensão de sua família e dos seus negócios.

— O que o senhor quer que eu faça?

— Continue me trazendo informações, e se eles tiverem conspirando contra mim, contribua da melhor forma, ninguém pode suspeitar de você, entendeu? E mais uma coisa, não esconda nenhuma informação de mim, se o fizer, eu saberei, e considerarei isso como traição. — Colin abriu um sorriso. — Não quer que sua família sofra por suas decisões, né?

— Na-Não irei traí-lo, meu senhor!

— Ótimo! Agora tenho que ir. Diga a sua esposa que o chá estava uma delícia. Diga também que falamos sobre negócios, nada que ela deva se preocupar.

Colin colocou a mão na careca de Marcellus.

— Perdoei um deslize, não perdoarei outro.

— En-Entendido…

Enfiando as mãos nos bolsos, Colin afastou, indo para fora da mansão enquanto era acompanhado pelos servos.

Após sair da residência e caminhar um pouco pela rua deserta, Colin enfiou as mãos nos bolsos e abriu um sorriso de canto.

— Vai me seguir até quando?

— Como você…

— Sou casado com sua mestra, não é tão difícil.

A sombra de Colin começou a oscilar, e o demônio onírico coberto por uma capa escura se fez presente.

— Desobedecendo sua mestra? Que decepção.

O demônio, flutuando no ar, circundou Colin, apontando aquela mão cadavérica para dele enquanto seu rosto estava escondido pela sombra do capuz.

— Você deixou minha mestra cega, e eu não confio em você!

— Relaxa, demônio, estamos do mesmo lado, esqueceu?

— Algo me diz que só há um lado, o seu!

Um sorriso formou-se nos lábios de Colin.

— Já que está aqui, pode ficar de olho em Marcellus por mim?

— Por que eu obedeceria a você?

— Você quem sabe. Posso falar com Ayla e ela fará você fazer o que estou pedindo.

A criatura murmurou um resmungo.

— Você mentiu para aquele homem?

— Marcellus? Claro que sim. Acha mesmo que confio nele? Se aparecer alguém mais poderoso que eu, ele vai me trair. Por enquanto ele é útil. Quando não for, o farei se juntar aos outros nobres que ficarem contra mim.

— E a família dele? Vai matá-la também?

— Só se eles entrarem no meu caminho. Se não tem mais nada a dizer…

O demônio entrou na sombra de Colin e desapareceu.

— Confiarei no seu julgamento dessa vez, Errante.

A voz da criatura diminuiu até extinguir-se.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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