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Vestidos com capas escuras que os envolviam, protegendo-os do frio intenso da paisagem nevada, Brighid e Eden montavam em cavalos distintos, lado a lado.

A beleza indescritível da paisagem contrastava com o clima hostil que os cercava, e o silêncio imperava, sendo rompido apenas pelo som rítmico dos cascos dos cavalos que ecoava naquele ambiente gélido.

O ar parecia congelar e cortar a pele, tornando cada inspiração uma tarefa árdua. Cada respiração era acompanhada por uma névoa visível, indicando a intensidade do frio.

A natureza em sua versão invernal impunha sua grandiosidade, com árvores cobertas por um manto de neve branca e cristalina.

A vastidão branca e imaculada se estendia até onde os olhos podiam alcançar, transmitindo uma sensação de solitude.

— A senhorita não é de falar muito, né — disse Eden. — Eu estou incomodando? Se tiver, pode dizer.

Ela abriu um sorriso de canto.

— Não é isso, só quero chegar logo a Runyra.

— Quando a senhorita foi trocar as luvas, vi que tinha um anel de casamento na mão direita. Ele está bem?

Brighid assentiu.

— Acredito que sim.

— … É dele que a senhorita está atrás?

— Sim… — Fazia semanas que Brighid viajava com Eden, ela estava começando a se sentir à vontade com o garoto. — A gente teve filhos, três de uma vez

Eden levantou as sobrancelhas, sua curiosidade aguçava enquanto começava a fazer suposições em sua mente. Observou Brighid, uma mulher de beleza marcante, porém com um semblante triste. Seus olhos pareciam perdidos, fixos em algum ponto distante, imersa em pensamentos profundos.

— Ele… abandonou você com as crianças? — indagou Eden, com certa hesitação.

Brighid sacudiu as mãos em negação, sua expressão carregada de tristeza.

— Não foi isso, ele jamais me abandonaria… O lugar onde costumávamos ficar foi destruído, e acabamos nos separando. Recentemente, meus filhos foram tirados de mim e agora minha única esperança de tê-los de volta é encontrar meu marido…

Eden engoliu em seco, sentindo um nó se formar em sua garganta. A dor de Brighid era tão intensa que parecia quase tangível, enchendo o ambiente com um peso emocional difícil de suportar.

— E-Eu sinto muito… — Ele forçou um sorriso para animá-la. — Bom, se a senhorita confia nele, então ele deve ser forte, né?

— Ele é! — Ela abaixou a voz. — Só espero que ele não tenha se perdido…

— O que disse?

Abrindo um sorriso, ela abanou as mãos.

— Não foi nada, e você, de quem está atrás? — Corado, ele coçou a bochecha com um indicador. — Uma garota?

— Si-Sim… be-bem… lembra quando disse que vi dois dragões se digladiando? Ela derrotou os dois! — Afastando a vergonha, ele decidiu afastar aquela conversa com foco nele. — O-O seu marido, como ele é?

Brighid sorriu com gentileza, deixando transparecer um misto de nostalgia e afeição em seu olhar. Por um instante, parecia mergulhar em lembranças preciosas, antes de começar a falar com fervor e paixão.

— Bem, meu marido é alto e forte. Seu pulso é firme quando necessário, e ele possui uma doçura inigualável quando o momento pede. É um homem habilidoso, capaz de conquistar qualquer coisa que se proponha a fazer. Além disso, ele tem um dom com crianças, sempre as fazendo rir e se sentir à vontade. É um excelente amigo também — expressou Brighid, enquanto uma pitada de orgulho se misturava à sua voz.

Ela fez uma breve pausa, permitindo que seus olhos brilhassem com um misto de amor e humor antes de prosseguir.

— Mas, sendo sincera, ele é um encrenqueiro de primeira. Sempre que surge uma discussão ou uma briga, ele não recua. Defende seus princípios com toda a força, talvez seja por isso que o amo tanto… Ele é um marido e pai exemplar, o tipo de homem que enfrentaria o mundo inteiro para proteger aqueles que ama. — Ele o encarou no fundo dos olhos. — Se você fosse amigos e você acabasse sendo capturado pelo rei Lumur, Colin iria sozinho até o castelo para te resgatar, mesmo que suas chances de vitória fossem nulas.

Um sorriso cúmplice surgiu nos lábios de Brighid, como se estivesse compartilhando um segredo com Eden.

— Às vezes, ser um pouco assustador é necessário para proteger aqueles que você ama! — sussurrou ela, ecoando palavras que também serviam de consolo para si mesma.

Eden sentiu um nó na garganta e engoliu em seco, tentando disfarçar a tensão que a invadia.

A visão que tinha do marido de Brighid era ambivalente, oscilando entre o bom e o ruim, mas preferia evitar um encontro cara a cara com ele.

— Es-Espero conhecê-lo um dia…

— Ele vai te adorar!

Eden esforçou para retribuir o sorriso, mas o suor frio que lhe escorria pela testa era uma clara evidência de sua ansiedade interna.

[Grito].

Os cavalos ficaram agitados.

— O-O que foi isso? — indagou Eden assustado tentando manter os cavalos sob controle.

De repente, avistaram uma figura solitária emergindo do meio das árvores, acompanhada por uma matilha de lobos selvagens.

Eles logo perceberam que uma garota estava em perigo.

Assim que os viu, a garota correu em direção a eles, ofegante, enquanto os lobos se aproximavam cada vez mais.

— Eden! — berrou Brighid saltando do cavalo enquanto desembainhava sua katana. — Mantenha ela segura!

O que mais chamou atenção foi que a garota era uma pandoriana. A garota cabra possuía olhos grandes e expressivos, com pupilas verticais semelhantes às dos felinos e seus chifres curvavam-se suavemente para trás, adornados com enfeites de metal.

Ela usava um casaco grosso e pesado, feito de lã escura, que ia até seus joelhos e tinha uma gola alta para proteger seu pescoço do frio.

Assim que botou os olhos em Brighid, ela teve certeza que ela não era sua inimiga.

Segurando a katana em forma de saque, Brighid passou correndo por ela, indo em direção aos ferozes lobos enormes de pelagem cinza escura e olhos amarelos brilhantes.

Eden ergueu o braço pra garota e ela subiu em seu cavalo, ficando de olho em Brighid enquanto os cavalos se agitavam.

Brighid derrapou enquanto os lobos a cercavam.

“Certo, meu anel de casamento está recarregado, mas são só lobos, não preciso de mana para vencê-los.” Analisou os lobos com calma, “Essa mana que emana desses olhos… eles estão sendo controlados?” Virou seu olhar para os pinheiros que cercavam aquela estrada. “Um druida? Não… é pequeno, mas sinto mana do abismo por perto.”

As presas afiadas dos lobos eram visíveis quando eles abriam suas mandíbulas para rosnar, exalando fumaça do frio. Alguns tinham cicatrizes nas orelhas e nariz, mostrando que já haviam lutado em batalhas anteriores.

“Aí vem eles!”

Quando o primeiro lobo saltou em sua direção, Brighid não hesitou em agir. Ela levantou sua espada e com a precisão de um exímio espadachim desferiu um golpe preciso que cortou o animal ao meio, derramando sangue e vísceras por todos os lados.

Swin!

O segundo lobo tentou atacá-la por trás, mas era como se ela tivesse um raio de visão anormal, virando-se rapidamente e o acertando com a lâmina da katana, fazendo com que ele caísse morto no chão com um profundo corte no abdômen, expondo suas entranhas.

Ela suspirou, soltando vapor tórrido pelos lábios.

“Sim, consigo sentir, a cada vez que mato um lobo, a energia fica mais forte”, ela olhou para a floresta em um ponto específico, “Está ali! Certo, chega de perder tempo com lobos, hora de ir atrás do meu inimigo de verdade”.

Os outros lobos ficam ainda mais ferozes e avançaram na direção de Brighid simultaneamente.

Mana verde saiu de seu anel de casamento e percorreu todo seu corpo. Lentamente, espadas feitas de mana começaram a ser conjuradas ao redor dela.

Ela dobrou os joelhos e as lâminas que flutuavam ao seu redor avançaram na direção dos lobos. 

Boom!

Em um impulso, ela avançou na direção da floresta após todos os lobos terem sido empalados por suas lâminas conjuradas.

“Aqui está!”

Assim que entrou na floresta, viu um cultista em cima do galho de uma árvore com olhos apreensivos, ele não esperava ser descoberto tão rápido.

Segurando a espada na forma de saque, ela lançou um corte arqueado na direção do cultista que saltou do galho antes dele ser cortado ao meio.

“Ela é rápida!”

Saltando para outro galho, o cultista coberto por uma capa escura estendeu a mão direita na direção dela e começou a concentrar mana na palma da mão, apontando para Brighid que novamente saiu da rota do ataque em um piscar de olhos.

Boom!

Um golpe de vácuo obliterou as árvores e abriu um buraco no chão, deixando cultista surpreso.

Ele tinha certeza que ela não conseguiria esquivar-se tão rápido.

— Merda! — Seus olhos continuaram a procurando. — Ali!

Saltou do galho novamente ao sentir outro golpe arqueado chegando e cortando à árvore em que estava ao meio.

Crash!

O cultista pulou com agilidade de um galho para outro, mas Brighid o surpreendeu, aparecendo tão próximo de seu rosto em um piscar de olhos.

“Como ela-”.

O cultista teve que confiar puramente em seus reflexos para evitar o golpe. No entanto, mesmo com a esquiva, Brighid conseguiu acertar seu braço esquerdo.

Swin!

Ele tremeu de dor enquanto olhava seu braço sangrando e pendendo em um ângulo estranho.

Foi um golpe tão rápido e preciso que as folhas das árvores em volta do galho onde estavam, tremularam.

Com uma explosão de mana abaixo dos pés, o cultista saltou para o alto, pousando brutalmente na estrada, assustando os cavalos e levantando uma nuvem de neve.

Bam!

Seu braço pendurado esguichava sangue enquanto ele suava demasiadamente.

— Merda! — Focou seus olhos na floresta, vendo olhos esmeralda emergirem do breu. — Quem diabos é você?

Brighid saiu do breu com um semblante sério segurando sua espada na forma de saque.

— Você tem acordo com o abismo? — Ela indagou, parando de mover-se.

O cultista abriu um sorriso nervoso.

— Como você sabe disso? Tsc, não importa! Não vou ficar aqui perdendo meu tempo com você!

Respirando fundo, ele enfiou a mão no abdômen, o perfurando. Seus lábios sangraram, e seus olhos ficaram esverdeados, assim como seu cabelo escuro. 

Seu braço reconstituiu-se e ele ficou maior e mais forte, abrindo um sorriso convencido.

— É melhor começar a rezar!

Ele dobrou os joelhos, apoiou a palma da mão sobre a outra, dobrando os cotovelos e mantendo as mãos ao lado do corpo.

“Canhão Galick… nesse nível ele seria bem destrutivo”, de soslaio ela encarou Eden e a pandoriana que estavam ao longe observando a luta. “Ele tem mana do abismo, se eu me concentrar, posso usar meu anel de casamento como ponte e absorvê-la. Certo, essa será a minha aposta, mas se não funcionar, posso acabar bem ferida.”

O cultista continuou concentrando-se, com seus braços ficando maiores, mais inchados e sua mana transbordando como uma torneira agressiva. 

Hehe, não vai nem tentar fugir? É melhor não mesmo, não faria diferença!

Brighid abriu um sorriso de canto e estendeu o braço direito.

— O que está esperando? — zombou.

— Tsc… sua vadia! — ele estendeu os braços. — Canhão Galick!

“Aí vem ele!”

O canhão Galick envolto por uma energia esverdeada intensa avançava pela estrada coberta de neve, destruindo tudo em seu caminho.

Brighid via aquele poder se aproximar dela como uma avalanche. Da palma de sua mão conjurou um círculo mágico do seu tamanho.

O círculo começou a devorar aquele poder, mas o cultista não conseguia vislumbrar aquilo.

Eufórico, o cultista concentrava todo o seu poder enquanto a neve derretia e explodia em todas as direções.

A estrada tremia enquanto a energia pura rasgava tudo ao seu redor.

Aos poucos, o cabelo de Brighid mudava do preto para o verde, com sua trança longa sacudindo sem parar.

Assim que o cultista abaixou as mãos, não viu nada além de uma névoa cobrindo o caminho.

Hehe, o que achou disso?

— Na verdade, fiquei decepcionada. — O cultista sentiu um arrepio na espinha ao ouvir aquela voz próxima de sua orelha.

Ele saltou para longe, afastando-se dela o mais rápido que conseguiu.

— Como você… — disse suando frio, reparando que ela estava diferente. — Você também é uma usuária de magia do abismo? Tsc… por que está contra mim? Vo-Você é poderosa, senhor Alexander vai recompensá-la, te-tenho certeza!

Brighid encarou a palma de sua mão.

“Isso não chega nem perto do meu poder original, e essa mana é suja, artificial, mas vai servir pro momento. Essa sensação… isso veio antes de conseguir essa mana, é como se eu estivesse evoluindo bem rápido.”

Ela olhou com um semblante sério para o cultista que não parava de tremer.

— Est-Está me ouvindo? — Brighid continuava encarando sua mão e o cultista viu sua visão ser partida ao meio. — O que é iss-

Antes que pudesse reagir, seu corpo foi abruptamente cortado ao meio, sem que ele sequer tivesse tempo de compreender de onde veio o golpe.

Eden e a garota que o acompanhava ficaram paralisados. A expressão de pavor era evidente em seus rostos, especialmente em Eden, que jamais imaginara que alguém aparentemente tão doce como Brighid pudesse se revelar tão aterrorizante.

O semblante sério de Brighid não desapareceu à medida que ela se aproxima do cavalo.

— Se machucou? — perguntou para a garota.

— Na- Não…

— Ótimo, vamos sair da estrada, devem ter mais cultistas por perto.

Ela aproximou de seu cavalo, guardou sua katana na bainha e subiu. Balançou as rédeas e o cavalo trotou para longe, deixando para trás lobos mortos e um cultista cortado ao meio.

Eden encarou as costas dela e se lembrou das palavras que Brighid havia dito.

“Às vezes, ser um pouco assustador é necessário para proteger aqueles que você ama”.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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