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Runyra estava em clima de festa. As ruas se encheram de curiosos ansiosos e crianças animadas se reuniam ao longo da rua principal.

Uma mistura harmoniosa de Humanos e Elfos se aglomerava, todos unidos em antecipação à chegada do Rei, cujo decreto havia espalhado pelas ruas a notícia de que aquele dia era especial na capital daquele próspero reino em expansão.

Com o som do clarim ecoando pelo ar, dezenas de carruagens majestosas partiram do palácio, deslizando pela cidade adornada em suas melhores vestimentas festivas. As tavernas transbordavam de alegria e animação, enquanto o espírito festivo impregnava cada pedaço da cidade.

Acompanhando a comitiva real, parte da guarda real marchava orgulhosamente. Sacerdotes da igreja da Deusa da Neve também estavam presentes, seus mantos brancos flutuando ao vento.

As carruagens percorriam as ruas centrais da cidade, deixando para trás um rastro de alegria e esperança. Soldados e sacerdotes, com sorrisos calorosos e olhos radiantes, estendiam as mãos e retiravam brinquedos de madeira cuidadosamente confeccionados, entregando-os com carinho às crianças que se aglomeravam ao redor. Para os adultos menos afortunados, eram providas cestas repletas de alimentos essenciais, que lhes garantiriam sustento por dias.

Os filhos adotivos de Colin, imbuídos de entusiasmo contagiante, juntavam-se à alegre tarefa de distribuir brinquedos, acompanhados pelo próprio Colin e pela rainha Ayla.

Tanto elfos como humanos entoavam aclamações e aplausos, prestando homenagem ao casal que irradiava benevolência e generosidade.

Todos os filhos de Colin estavam bem vestidos, os meninos usavam casacos longos, calças justas, coletes de linho, cintos largos para marcar a cintura e botas de couro.

As filhas usavam vestidos longos e esvoaçantes, com saias longas. Algumas usavam mangas longas e bufantes, outras, mangas longas e justas, adornadas com rendas ou bordados. Meg usava um cinto que destacava sua feminilidade, e todas elas usavam sapatos de saltos e algum acessório no pescoço ou orelhas, além dos cabelos bem escovados.

— Aqui, essa é pra você! — disse Melyssa entregando uma boneca de pano a uma Elfa mais nova que ela que estava com os olhos brilhando.

— Moço! Moço! — Duas crianças balançavam o braço para que Tobi as encarasse. — Aqui! Aqui!

Tobi pegou duas espadas de madeira e entregou a eles fazendo o sinal de positivo com o polegar.

Aqueles dois abriram sorrisos de orelha a orelha e se afastaram correndo para brincarem de soldados.

Mais adiante, humanos e Elfos cercavam a carruagem de Colin que estava junto a Ayla, entregando as cestas básicas a todos que queriam.

Membros da igreja também ajudavam, todos eles com um sorriso no rosto.

Aquele era um verdadeiro clima de festa, mas nem todos estavam satisfeitos com a alegria alheia.

Do alto de uma torre, um grupo de nobres observava a agitação da cidade por suas janelas de vidro. Ali, reunidos em suas vestes requintadas, deixavam seus olhares percorrerem a paisagem agitada.

— É para isso que aqueles regentes mestiços usam nossas moedas? — indagou um deles segurando uma taça de vinho. — Eu não disse a vocês que entregar essa cidade nas mãos de um bárbaro só iria atrapalhar as coisas?

Junto dele estavam outros nobres observando tudo pela janela.

— Franz já disse que está dando um jeito nisso. — disse outro nobre. — Logo esse reinado não terá passado de um breve pesadelo, apenas isso.

— Estamos falando de assassinato ou renúncia?

— Talvez os dois. — Ele bebeu um gole do vinho em mãos. — Não posso confirmar nada, mas soube que Franz tentará fazer um acordo com os oito países.

Um deles abaixou a voz.

— Então é assassinato?

— Bem que poderia, hehe!

Próxima a esse grupo, com uma criança sonolenta aninhada em seus braços, encontrava-se Amanda, uma das amigas mais próximas da Sra. Marcellus. Enquanto segurava seu filho de apenas três anos, ela era um contraste notável com a opulência e a corrupção que permeavam o mundo dos negócios e a elite.

Amanda era, em grande medida, ignorante quanto às intricadas tramas do poder. Diferentemente dos nobres, que nutriam um ódio irracional em relação à família real, ela não conseguia compartilhar desse sentimento.

Não era por possuir um coração excessivamente gentil, mas sim porque ela havia conhecido de perto aquele “monstro” tão frequentemente mencionado nas conversas dos nobres. No entanto, para sua surpresa, o “monstro” não se assemelhava nem um pouco ao que imaginava.

Amanda não conseguia enxergar o mesmo ódio e ressentimento que seu marido e os outros nobres nutriam em relação à família real. Pelo contrário, a cada dia parecia testemunhar uma população que amava ainda mais seus governantes, sem se deixar influenciar pela narrativa negativa que os nobres insistiam em propagar.

Aquela manhã na residência dos Marcellus ecoava incessantemente em sua mente. As palavras proferidas por Colin ainda ecoavam em sua memória, revividas durante as noites de sono do filho, nas histórias que ela meticulosamente narrava, detalhe por detalhe. Era a forma que tinham de compartilhar momentos de cumplicidade e estreitar os laços, imergindo juntos nas narrativas das grandiosas aventuras protagonizadas por Colin.

À medida que os dias passavam, a trama conspiratória se tornava cada vez mais evidente. Embora não fosse uma mulher perspicaz por natureza, ela tinha consciência de que Colin possuía uma sagacidade admirável.

As histórias que ouvira diretamente de sua boca a haviam convencido de suas habilidades extraordinárias, despertando em seu íntimo uma mistura de temor e admiração.

Assim que os nobres se afastaram, seu marido continuou olhando pela janela, focado nas festividades.

Aproximou-se dele com a criança nos braços e o chamou.

— Sharic… — Ele a encarou de canto. — É sobre o Rei… bem… ele é mesmo uma ameaça?

Bebendo do vinho novamente, ele ergueu uma das sobrancelhas.

— Que pergunta é essa? — Ele aumentou a voz. — Não viu o que ele fez com Dieter e Franz? Acha que ele fez aquilo por qual motivo? É uma declaração de guerra!

Ela sentiu um nó na garganta e uma inquietação se apoderou de seus pensamentos, enquanto ela avaliava cuidadosamente se deveria ou não expressar o que estava em sua mente. As palavras pareciam flutuar à beira de seus lábios, prontas para se libertarem, mas, ao mesmo tempo, uma sombra de dúvida a envolvia.

— E se Franz e Dieter tiverem o provocado? — Ele apertou a taça em sua mão e franziu o cenho. — Be-Bem… ele vive ajudando as pessoas, dá até mesmo terras aqueles mais pobres, ajuda financeiramente as pessoas que chegam aqui sem nada a se reerguerem depois de fugir da guerra… e… ele deixou essa cidade mais próspera…

— Dê o pequeno Sharic para uma das servas, eu e você temos que conversar.

Amanda engoliu em seco, entregando seu filho para uma de suas diversas servas, seguindo o marido para um corredor particular, fechando a porta.

Estavam em um escritório.

Sharic caminhou novamente até a janela com as mãos para trás.

— É isso que você acha? — Amanda estava começando a ficar assustada. — Começou a pensar assim depois daquela vez que ficou tomando chá com o rei mestiço e aquelas duas idiotas? Acreditou mesmo em todas aquelas mentiras que ele te contou?

Nervosa, Amanda começou a mexer nos dedos.

— E-Eu não… be-bem, eu não sei…

— Claro, você nunca sabe de nada. Era só o que me faltava, minha mulher defendendo outro homem na minha frente.

— Na-Não estou o defendendo, estou só falando o que todo mundo acha…

Ele encarou Amanda furioso.

— Todo mundo quem? Rebecca e a Sra. Marcellus? O marido de Rebecca está com o pé na cova e Marcellus perde cada vez mais influência a cada dia! — Ele deu um passo à frente. — É claro que acreditariam em qualquer coisa que aquele reizinho dissesse, querem se agarrar a outro homem antes que o barco afunde, parasitas malditas! — Aproximou-se mais perto de Amanda. — É isso que está querendo fazer também, Amanda? Quer se agarrar ao mesticinho por que, hein? Acha que ele pode nos vencer? Me responde!

Ela se assustou com os olhos irados do marido.

— Que-Querido, e-eu não-

Paft!

Com um movimento rápido e brusco, a mão de Sharic desferiu um tapa poderoso no rosto de Amanda, cujo impacto a fez tombar no chão como uma boneca de trapos.

O som de seus anéis chocando-se contra a pele acrescentou uma agonia ainda maior à violência do golpe. A dor latejava intensamente em seu rosto, enquanto a sensação de atordoamento se espalhava por todo o seu corpo.

Amanda levantou os olhos, fixando-os apavorados em Sharic, seu agressor.

Embora aquele não fosse o primeiro episódio de agressão que enfrentava nas mãos de Sharic, a lembrança das últimas vezes em que ele a havia machucado inundou sua mente, intensificando seu medo.

— Vai! Me diz! — Ele tirou o cinto. — Acha que vou perder para o mesticinho? Que eu morrerei? Pois saiba que sou bem mais esperto que ele e aquela vagabunda que chamam de rainha!

Furioso, Sharic começou a agredir a esposa com violentas pancadas do cinto, com o projétil rasgando o ar e encontrando o corpo dela em um estalo violento.

— Pe-Perdão! Querido, e-eu não queria te provocar! — disse protegendo o rosto enquanto seus olhos enchiam-se d’água. — Po-por favor, me perdoe!

— Você sabe o quanto esse desgraçado tem me prejudicado? Os negócios de Gustav estavam indo bem e eu iria ser promovido se aquele imbecil tivesse aceitado o acordo que Marcellus e os outros fizeram a ele! — esbravejou, não parando um segundo sequer de agredi-la. — Aquele miserável do Gustav já está velho, e os filhos dele são novos demais, aquela companhia seria minha, e esse mestiço estragou tudo!

Suando demasiadamente, Sharic parou de agredi-la, encarando a esposa encolhida com o corpo e o rosto marcados.

— Conquistei tudo isso com meu suor — disse bufando. — Não vou deixar que um plebeu que nem sangue nobre possui, chegar e tomar o que é meu, me ouviu? E você está proibida de ir até Rebecca, Sra. Marcellus ou até mesmo se encontrar com esse mestiço, chame uma das servas para curar você e vê se para de chorar, ou começo tudo de novo!

Ela fungou, limpando com cuidado as lágrimas das bochechas que latejavam.

— Era só o que me faltava, falarem desse reizinho de merda dentro da minha casa. Você vai ver, aquela família inteira terá o que merece, e quando ele cair, para quem Rebecca, Sra. Marcellus ou esse monte de Elfo correrá? Para ninguém, me ouviu? Ninguém! Você tem sorte de estar do lado do vencedor, Amanda, muita sorte!

Sharic saiu do quarto batendo a porta.

Amanda não se segurou mais, desabando em lágrimas, mesmo que chorar fizesse doer ferozmente o seu rosto.

Apesar da surra, ela ainda queria o bem do marido, julgando que aquilo não era culpa dele, jogando a culpa no estresse do trabalho, em Gustav ou até nela mesma por tocar naquele assunto que o deixou irritado.

De uma coisa ela tinha certeza, Colin era tão benevolente quanto cruel, e Sharic estava se colocando na frente dele, um obstáculo grande demais para alguém como Sharic superar.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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