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Apesar de grávida com um estado de saúde um tanto instável, Ayla continuava sendo a única pessoa com quem Isabella ou Eithel reportavam sem ter um intermediário.

Sentada em um caixote, ela exibia uma presença serena e misteriosa, envolta em um longo vestido escuro que a protegia do frio cortante do lugar. Seu traje, de tecido grosso e quente, era repleto de símbolos sagrados e bordados intricados, revelando sua importância como uma sacerdotisa da Deusa da Neve.

Vestia um quente e longo vestido escuro. Sua cabeça estava coberta por um véu preto e em seus ombros repousavam uma pequena coberta bordada.

Um véu preto envolvia sua cabeça, acrescentando um ar de mistério ao seu semblante. Seus olhos, por trás do véu, transmitiam calma. Sobre seus ombros, repousava uma pequena coberta, um símbolo de sua condição delicada como gestante.

Ao redor de Ayla, o ambiente era iluminado pelas chamas trêmulas das velas, que lançavam sombras dançantes sobre os caixotes de madeira e os barris de provisões, criando uma atmosfera ainda mais misteriosa.

Tap! Tap! Tap!

— Até que enfim! — disse Ayla jogando o véu para cima de seus ombros. — Mais alguns minutos e eu iria para casa.

— Antes era uma taverna, agora, catacumbas, e da próxima vez? Latrinas? — Eithel veio caminhando do fundo, coberta por uma capa escura. Jogou o capuz para trás e sentou-se no caixote de frente para Ayla. — O que é isso? Por que se veste como uma religiosa?

— Veio falar da maneira como me visto ou veio me trazer novidades?

Eithel colocou uma mecha para trás da orelha.

— Certo, apenas negócios, né? — Ela enfiou a mão no sobretudo e retirou uma carta, entregando-a nas mãos da rainha. — Alexander parou de solicitar escravos, mas pelo que sei, seus soldados esquisitos já passam do número de milhares.

Ayla abriu a carta e usou a análise para não ter dificuldade para lê-la no escuro.

Eram informações sobre o balanço dos nobres de Noron, suas espadas, canhões, barris de pólvora, o aumento no número de trabalhadores atuando naquele país, a crescente no número de nortenhos em Noron e o também o número de oficiais do Império do Sul.

Dobrando o papel, Ayla o segurou na ponta dos dedos e o balançou. Uma faísca incendiou a carta e ela a soltou, deixando a carta desfazer-se em cinzas.

— Isso só confirma minhas suspeitas — disse ela. — O norte e o Sul estão trabalhando com Alexander. Se não atacaram ainda é porque estão sendo cautelosos.

— E o que você planeja fazer? — indagou Eithel cruzando as pernas. — Sem ofensas, majestade, mas lutar em duas frentes ao mesmo tempo, é suicídio. Runyra está deixando de ser um país guerreiro e se tornando um país comercial cheio de refugiados.

Ayla desviou o olhar pensativa. Estudava em silêncio suas opções.

— Você tem razão — disse ela. — Faz tempo que não enfrentamos algum inimigo ou entramos em alguma batalha. Tentamos buscar aliados, mas nos rejeitaram.

— E os oito países que dividiram a antiga Ultan? — Eithel abriu um sorriso enigmático. — Soube que eles escreveram a você, mas não os respondeu, por quê?

Ayla deu de ombros. — Colin disse que queria deixá-los confusos, em alerta. O verdadeiro motivo nem eu mesma sei.

— Há maneiras mais inteligentes de resolver isso, majestade, e você sabe disso. — Ela levantou o indicador. — Esses oito países têm homens o suficiente para serem um exército auxiliar.

A rainha balançou a cabeça.

— Depender de terceiros não é sábio. Se não pudermos lutar com nossas próprias forças, então isso só mostra que somos vulneráveis. Eles são guerreiros que vieram do Norte, não entendem diplomacia, apenas fogo e sangue. — Ayla abriu um sorriso de canto e empinou o nariz. — Se esses cretinos escreveram para mim, com certeza não era para firmar acordos. Tudo bem, você me convenceu.

Eithel ergueu uma das sobrancelhas. — De quê?

— Com o Norte e o Sul se juntando, a gente também não pode ficar de mãos abanando. Colocarei todos os oito países de joelhos.

— Pensei que tivesse se tornado uma religiosa.

— Isso não significa que eu vá ficar parada enquanto nos massacram.

— Lutará mesmo estando grávida? Não pode fazer mal a criança ou algo assim?

— Cuide de você, Eithel. E diga a Sulestino que quero relatórios mais detalhados de suas ações.

Eithel ergueu-se.

— Claro, majestade. Seu pedido é uma ordem. Minha cabeça ainda não consegue entender o que você e seu marido estão fazendo… Arrumando briga com a elite, se tornando alvos propositalmente, e mesmo assim mais gente continua chegando a esse país. As pessoas são realmente loucas.

Ayla deu de ombros.

— Elas se sentem seguras aqui.

— E você realmente tem um plano contra todo Centro-Leste?

Ela assentiu.

— Óbvio, mas não pense que eu contaria a você. Se não tem mais nada a relatar, então é melhor ir.

— Está me expulsando?

— Não, apenas poupando o seu tempo e o meu.

Foi a vez de Ayla levantar-se e ir para os fundos. Eithel a viu ajeitar o véu na cabeça e se afastar. O barulho das botas da rainha diminuiu e ela engoliu em seco.

— Tsc… rainha maluca.

Retornando ao seu quarto, Ayla pegou um papel, pena e tinteiro. A guerra já havia começado oficialmente, mas nenhum dos lados fez seu movimento contra o outro.

Enquanto Runyra se fortalecia economicamente, seus vizinhos se fortaleciam militarmente. As pessoas estavam acomodadas com a paz, e isso era maravilhoso por um lado, mas desastroso por outro.

Um ataque inimigo em um povo acomodado e um exército despreparado poderia ser desastroso. Ela não poderia ficar parada enquanto os nobres de seu reino conspiravam contra ela e os abutres ficavam à espreita esperando um deslize.

Ayla, desde jovem, fora educada com a sabedoria de não se deixar convencer ou agir precipitadamente, mantendo-se destemida diante de qualquer desafio, mas exercendo prudência equilibrada e uma abordagem humana.

Essa postura a permitia manter a confiança em si sem se tornar imprudente e lidar com desconfiança sem se tornar inacessível ou intolerante. Seu caráter era forjado por uma combinação sutil de firmeza e cautela, tornando-a uma figura respeitável e admirada por sua sabedoria.

Sua primeira carta era endereçada para o território hostil.

A Ergoth, o Orc que comandava o território hostil com a benção de Colin, foi ordenado para que reunisse parte de seus homens e ocupasse toda ruína de Ultan, eliminando toda criatura ou mercenários que repousasse naquelas florestas.

Após fechada com um selo real, ela começou a escrever uma segunda carta, endereçada a um dos oito países, um vizinho direto, separado somente pelas florestas da ruína de Ultan.

Ela dizia que queria uma reunião com este autoproclamado rei, uma reunião que decidiria o futuro daquele lugar que chamava de país, de sua família e de tudo que um dia ele construiu.

Aquilo soava como uma ameaça, e era desse modo que ela queria que soasse.

Escreveu também para a coligação do Norte. Apesar de as notícias dizerem que o Norte foi inteiramente tomado, ela não acreditava nisso. Os principais membros da coligação eram orgulhosos Elfos da neve, ela apenas queria buscar algum com coração amargo e com ódio de Yanolondor para se voltar contra ele.

Por fim, escreveu para Isabella do Anoitecer Florido.

Na carta, Ayla solicitou que Isabella entrasse em contato com o máximo de milícias e grupos de mercenários no império do Sul. Ofereceria terras e dinheiro a eles se entregassem a cabeça de Lumur.

No fundo, ela não acreditava que isso fosse possível, mas queria ao menos desestabilizá-lo, mantê-lo ocupado enquanto ela se prepara.

Assim que terminou, ficou parada olhando as duas cartas seladas, até que molhou a pena novamente e pegou outra carta. Aquela última era endereçada a Valéria, um ultimato.

Ayla sabia que parte das finanças da antiga Ultan eram endereçadas para Valéria, tornando aquele país o mais rico do continente atualmente. Tê-los como aliado seria crucial para suprir todos os custos que uma guerra causava ao estado.

No fundo, Ayla esperava que fosse ignorada em um primeiro momento, mas bastavam as engrenagens de seu plano conjunto começarem a se mover que Valéria sentiria na obrigação de responder, com uma resposta hostil ou amigável.

Não havia espaço para falhas, deslizes ou erros, tudo tinha que acontecer perfeitamente, ou o golpe que sofreria poderia ser irrecuperável.

Parte daquele pensamento era excitante, já que ela nunca havia dado um passo tão grande como aquele, e queria saber como terminaria, com a expansão de seu domínio ou um brutal golpe em Runyra.


Com Colin em viagem, ela seguia sua rotina em cafés matinais sozinha, aproveitando o sossego e as pausas de seus enjoos. Enquanto tomava seu chá e lia um livro de história sobre os reinos que surgiram depois da grande era dos vampiros, Tuly adentrou a estufa com algumas cartas em mãos.

— Senhora, acabaram de chegar duas cartas essa manhã.

Ela apoiou a xícara no prato.

— De quem são?

Tuly olhou os selos.

— Um deles é do Norte, e outro selo eu desconheço. — Ele foi até ela, entregando as cartas em suas mãos.

— Obrigada, Tuly, pode ir.

Ele fez uma reverência e se retirou.

Ayla ficou em dúvida de qual abriria primeiro, e optou por abrir a carta que veio do Norte. Removeu o selo e abriu a carta que lentamente começou a ser escrita como se fosse brasa.

#folha​#

“Para a Rainha Ayla de Runyra

Nunca fomos apresentados antes, mas conheci o seu pai quando Runyra não passava de uma minúscula vila onde humanos e Elfos tentavam se dar bem. Gostaria de falar sobre as glórias do passado e enaltecer o seu pai, mas não foi ele que transformou Runyra em um país, você o fez.

Não sei o que anda ouvindo sobre o Norte, mas Yanolondor não o pacificou, nós nunca deixaríamos ninguém como ele nos governar. Ele é um arruaceiro sem propósito que deu apenas sorte. Claro que alguns traidores se juntaram a ele, membros da própria coligação do Norte. O deram armas, homens e números exorbitantes de suprimentos.

Temos que nos defender dos gigantes que vem do Oeste ao mesmo tempo que nos protegemos do usurpador no Leste. Muitos dos nossos já se foram, e nosso exército fica cada vez mais enfraquecido, não falta muito para aquilo que o usurpador espalhe por aí se torne real.

Disse que queria nos ajudar, não é? O que fará? Enviará homens, suprimentos, dinheiro? Se o fizer, acredito que não será de graça, certo?

Me pergunto qual o preço que está cobrando de algo assim.

De qualquer modo, soube de sua condição particular, e estou disposto a ir até Runyra para tratarmos os termos de sua ajuda.”

Ass: Barão Sigurd, “O Martelo do Norte”.

#folha-fim​#

— Informações manipuladas… — balbuciou ela apoiando a mão no queixo. — Não, são informações omitidas. Yanolondor não está deixando nada vazar do Norte, muito esperto, mas isso só expõe sua vulnerabilidade.

Ela estalou o dedo e faíscas foram até a carta, a transformando lentamente em cinzas.

Apanhou a outra carta e a abriu.

#folha​#

“Cara vadia de Runyra

A primeira coisa que fiz ao terminar de ler sua carta foi urinar nela, depois me sentei e tomei minha cerveja enquanto gargalhei com os meus homens.

O mais engraçado em tudo isso, foi pensar que você conseguiria me intimidar, intimidar a mim, o grande Leif, guardião das montanhas e o homem conhecido como a fera do gelo. Quer me caçar? Caçar a minha família? Tente se for capaz!

Invadirei suas terras, incendiarei as casas, levarei as mulheres, os homens conhecerão o meu machado e as crianças nos servirão para o resto de suas vidas!

Farei de você minha concubina e a entregarei para os meus homens, todos eles têm vontade de provar o gosto de uma rainha.

Você se arrependerá de ter me ameaçado, ameaçado o clã dos guardiões das montanhas, ameaçado o Grande Rei Leif!”

#folha-fim​#

Após ler a carta, Ayla riu baixinho.

— O orgulhoso povo do Norte, quase me senti intimidada com essas ameaças. Tuly! — Ele adentrou novamente a estufa. — Yuki e aqueles dois já devem estar terminando a missão. Arrume os cavalos, iremos até eles.

— Sim, majestade, mais alguma coisa?

Ayla pensou por um momento.

— Aqueles três comandantes dos carniceiros, Duskin, Lettini e Falone, convoque-os até a capital.

Tuly fez uma reverência.

— Uma convocação de guerra, senhora?

— Não, apenas um convite para uma conversa. Por fim, convoque toda elite de Runyra para um jantar daqui a três dias, todos eles. Agora vá.

Ele assentiu.

— Com licença, senhora.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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