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Vislumbrando todo espaço astral, Colin estava com os cotovelos apoiados no corrimão de madeira na proa, fascinado com o que aqueles olhos conseguiam presenciar. Ainda era difícil acreditar que ele estava mesmo ali e não em um sonho.

Em seu relógio estava marcado que havia se passado quase três meses, mas essa percepção de tempo o deixava confuso de quanto tempo havia se passado no outro plano.

Naquele cosmos, corpos de Deuses mortos serviam de moradia para os seres etéreos e criaturas que viviam naquele plano, alguns Deuses eram enormes, quase do tamanho de um continente.

— No que está pensando? — indagou Sirela ao seu lado.

Ela estava ainda com o casaco de Colin, mas usava uma blusa por baixo que havia roubado dos Githyanki assim como as calças e botas.

— Falta muito para chegarmos? — ele indagou sem encará-la.

— Não sei, talvez isso leve anos, quem sabe, décadas, talvez séculos, mas isso não é divertido? — Abriu um sorriso genuíno. — É a primeira vez que saio em uma aventura como essa, é tão empolgante, não acha?

Colin a encarou de canto.

— É a primeira vez que tenho uma aventura assim, em um lugar como esse, mas depois de algum tempo isso só fica entediante.

— Que isso, senhor Colin, onde está o seu espírito aventureiro?!

— Só quero encontrar logo Claymore e sair daqui.

Sirela forçou um sorriso. Ela não queria que tudo aquilo acabasse tão cedo, as aventuras e aquela viagem eram algo raro naquele mundo. O plano astral era infinito, mas também era solitário. Ela não se recordava da última vez que havia passado horas conversando ou gargalhado com tanta vontade como nos últimos meses.

— Você tem família, né? — disse ela. — As meninas me disseram, “Senhor Colin tem filhos demais, esposas demais e atenção de menos para mim!” — disse imitando a pandoriana.

Colin abriu um sorriso de canto.

— Filhos até pode ser, mas esposas é só duas, e Leona está mentindo, estamos juntos há três meses e ela ainda vive reclamando.

— E como é a sensação? — Os olhos de Sirela brilhavam de curiosidade. — Deve ser trabalhoso, né?

Ele meneou a cabeça.

— Até que não. Meus filhos são obedientes, e minhas esposas são boas mulheres. Brighid é bonita e muito forte, mais forte que eu, talvez o ser mais forte que já conheci. Já Ayla também é bonita, mas suas aptidões estão na política, e diria que ambas são carinhosas, gentis, serão boas mães.

Sirela prestou atenção em tudo que Colin havia dito.

— Parece que tem uma boa vida, senhor Colin.

— É, eu tenho, mas e você, vai contar a verdade?

Ela engoliu em seco e desviou o olhar.

— Que-Que verdade?

— Aquele papo de banida do clã pode ter funcionado com Leona, mas vai ter que ser mais convincente comigo e com Heilee. Você sabia muito bem aonde ir, sabia que depois das montanhas havia a borda, sabia que os Githyanki apareceriam. — Os olhos dele ficaram sérios. — Vai mesmo ficar se fingindo de idiota? Depois de tudo que nos viu fazer, ainda quer mesmo continuar com esses joguinhos?

Sirela sentiu um arrepio na espinha e vislumbrou o plano astral enquanto a brisa do cosmos balançava seu cabelo ruivo.

— Eu não queria colocar vocês em perigo… bem… — Olhou no fundo dos olhos de Colin. — Sou conhecida como a Deusa das baixas marés, nunca tive tantos devotos, por isso não sou tão grande e tão poderosa quanto os Deuses Esquecidos que vagam por aí… — Ela desviou o olhar. — Os Deuses que você vê não desapareceram do dia para noite, isso leva tempo, e bem, esse é o meu destino, mas não serei tão grandiosa quanto eles, não irão me vislumbrar, e no fim, serei só um pedaço de pedra sem importância…

Colin assentiu, deixando os sentimentos dela de lado. — E você já esteve aqui antes, né? Vagando por aí a esma como agora.

Ela assentiu.

— Em algum lugar há uma cidade, é como uma bolha d’água colossal que vaga pelo plano astral onde vive um ecossistema aquático inteiro. Era lá que eu morava, até surgirem boatos do Devorador de Deuses séculos atrás. Os Deuses foram bem rígidos e fizeram uma seleção, aqueles que conseguiram passar permaneceram na cidade, o resto de nós acabou expulso, destinados a vagar pelo plano astral.

Sirela cerrou os punhos e desviou o olhar abrindo um sorriso forçado.

— A maioria acabou pego pelos Githyanki e levados para a super cidadela deles, construída em cima de um Deus morto colossal, já eu, fui para o outro lado da borda, vaguei por décadas e décadas fugindo do tal Devorador de Deuses até que encontrei vocês…

Colin assentiu. — Esse Devorador de Deuses parece ser um problema, né?

— Sim, os quatro Deuses mais fortes do plano Astral montaram exércitos inteiros para irem atrás dele, e até capturaram súcubos, Elfos astrais, e até mesmo Githyanki para que os adorassem e assim recuperassem parte de seus poderes. Bem… Deuses de grau menor como eu podem ajudar bastante gente assim, então é perigoso vagar por aí sozinha. — Ela abriu um sorriso. — Que bom que me encontrei com vocês, né?!

A sensação de arrepio percorreu a espinha de Sirela e daqueles a bordo do veleiro como um suspiro sombrio do próprio abismo.

Levantaram seus olhares trêmulos para vislumbrar a presença angustiante de dois seres alados que se pareciam com anjos, mas a sensação que transmitiam era totalmente diferente.

Os olhos de Sirela, dilatados e desamparados, foram tomados por um turbilhão de medo insondável, uma sensação sufocante que parecia se estender além da compreensão.

O peso da presença dos seres alados parecia pressionar seu corpo e sua mente, envolvendo-a em um véu de terror impenetrável.

— Me-Merda! Sa-São guerreiras de elite de Vallkuna!

— E isso é ruim? — indagou Colin desinteressado.

Ela fez que sim com a cabeça repetidas vezes.

— Vallkuna é um dos quatro Deuses soberanos do plano astral, e suas guerreiras de Elite são poderosas, tão poderosas que alguns até as confundem como Deusas de grau médio!

— Humpf! — grunhiu Leona sentada no convés. — Não parece grande coisa para mim.

— Leona, isso é sério! — Sirela parecia desesperada. — Se suas guerreiras de Elite estão aqui, então significa que Vallkuna já está de olho na gente!

Aquelas duas se pareciam com as lendárias valquírias da mitologia nórdica. Usavam armaduras brilhantes e resplandecentes, adornadas com detalhes dourados e símbolos sagrados.

Seus elmos eram decorados com penas, evocando a imagem clássica de uma valquíria. Elas possuíam asas majestosas e imponentes, e em suas mãos iam lanças douradas enormes.

Com os braços cruzados, Colin deu um passo à frente.

— Oi… não queremos problemas com vocês ou essa tal de Vallkuna, então deem logo meia volta.

— Você é o Devorador de Deuses, não é? — perguntou uma delas.

— E se eu for? — Colin apoiou uma das mãos no cabo da espada em sua cintura e Sirela ficou desesperada.

Aquele bando de loucos parecia ansioso por problemas.

— Pe-Pessoal! Po-Por favor, vamos conversar!

— Elas não vieram aqui para conversar — disse Heilee ficando ao lado de Colin. — Olhe como elas estão. Vieram aqui para tentar nos matar, isso é óbvio.

Sirela engoliu em seco, sentindo um tremor percorrer suas pernas trêmulas. Ela estava plenamente consciente da imensa magnitude dos quatro grandes Deuses que dominavam aquele plano.

O desafio iminente não era apenas enfrentar as duas criaturas diante dela, mas sim afrontar diretamente Vallkuna, a deusa suprema.

Uma das Aladas avançou com sua lança numa estocada direta em direção a Colin. Ele, porém, mostrou-se ágil o suficiente para se defender a tempo. O movimento foi tão rápido que Sirela mal teve tempo de acompanhar com os olhos.

Ting!

O impacto do choque foi tão intenso que o próprio chão pareceu estremecer sob os pés de Colin, trincando-se perigosamente. Em um piscar de olhos, seus pés afundaram no solo e o veleiro foi partido ao meio, lançando todos eles em meio ao espaço infinito.

Boom!

Com um estrondo ensurdecedor, a Alada arrastou Colin consigo, levando-o em direção a uma ilha próxima e o empurrando com força contra o solo, enquanto continuavam a travar uma batalha de forças sobre-humanas.

As veias saltavam no braço de Colin, pulsando com uma intensidade feroz, assim como as veias da Alada, testemunhas do poder titânico que fluía através deles.

“Ela é mesmo poderosa, hehe, finalmente um desafio!”

Sua outra companheira saltou em direção a ilhas distintas, no entanto, antes que Leona pudesse alcançar a ilha que escolhera, a outra Alada lançou-se em sua direção com uma velocidade impressionante, apontando a ponta afiada da lança diretamente em direção ao seu pescoço.

Antes que o impacto se concretizasse, Leona entrou em ação com uma maestria surpreendente. Conjurando adagas de energia pulsante, forjadas a partir da essência da mana elétrica, ela as ergueu em posição de defesa, formando uma cruz reluzente.

Ting!

O impacto foi poderoso, lançando Leona pelos ares, enquanto suas mãos seguravam firmemente as adagas em posição defensiva.

Seus pés deslizaram brevemente em uma das ilhas perdidas no mar astral, deixando marcas momentâneas de sua resistência.

Sirela sentiu uma onda de apreensão percorrer seu corpo, confundindo seus pensamentos e deixando-a incerta sobre qual ação tomar.

Seus olhos percorriam a cena da batalha frenética, buscando uma direção a seguir. Seu coração lhe dizia para correr em auxílio de Leona, mas antes que pudesse tomar qualquer iniciativa, Heilee segurou firmemente seu pulso, interrompendo seu impulso.

— O que pensa que está fazendo?

— Heilee, nós temos que ajudá-los, se não eles pode-

— A gente só iria atrapalhar, e não se preocupe, esses dois aguentam.

Um nó se formou na garganta de Sirela, sua respiração se tornando rápida e ofegante.

Ela observou, atônita, a postura confiante de Heilee, aquele olhar firme e decidido transmitia uma confiança que deixou Sirela sem palavras.

Ainda no chão, com sua espada disputando forças contra a lança da Alada, Colin jogou a lança para o lado, deixando-a cravar no solo, bem perto de sua orelha.

O ruído ressonante do impacto reverberou no ar, ecoando como um aviso sombrio de perigo.

A energia pulsava pelo corpo de Colin, uma corrente elétrica carregada de poder. Sua mente e músculos se sintonizaram com essa energia, criando uma sinergia eletrizante que percorria cada fibra de seu ser.

Em um movimento rápido e preciso, ele desferiu um chute formidável no abdômen da Alada, uma explosão de força concentrada que a arremessou para longe.

Boom!

O impacto do golpe foi avassalador, desencadeando uma onda de destruição que deixou a ilha em ruínas, escombros flutuando no ar como testemunhas silenciosas da ferocidade daquele embate.

A Alada abriu as asas, recuperando-se do golpe e avançando na direção de Colin.

Com uma agilidade surpreendente, ela segurou os pulsos do Errante, restringindo sua liberdade de movimento. As asas bateram novamente, impulsionando-os através do espaço, atravessando duas pequenas ilhas flutuantes com a força do impacto.

Colin foi girado no ar, lançado em direção a outra ilha, mas sua agilidade o impediu de ser completamente dominado. Ele conseguiu recuperar-se no último instante, apenas derrapando sobre o solo áspero da ilha.

Rapidamente, Colin uniu os dedos em uma posição de mãos, concentrando sua energia mágica.

Um círculo mágico de proporções impressionantes materializou-se abaixo de seus pés, irradiando uma intensa luminosidade amarela, alimentada pela força da mana elétrica.

Era a primeira vez que ele utilizava aquela variação de magia em um combate real, extrapolando os limites dos treinos e se entregando ao poder máximo de sua habilidade.

As correntes elétricas, faíscas brilhantes de mana amarela, avançaram velozmente na direção da Alada. Sua agilidade quase divina permitiu que ela se esquivasse com destreza de algumas delas, enquanto com habilidade ímpar, rebateu a maioria de volta para o solo.

O ar ao redor pulsava com eletricidade, criando um cenário espetacular de luzes dançantes e sombras fugazes.

Sem pausa, Colin entrou em sintonia com a tempestade mágica que o cercava. Com movimentos fluidos, ele fez outros sinais de mãos, e uma espada de raios elétricos intensos surgiu em sua frente.

O brilho amarelo intenso emanava da lâmina reluzente, revelando a extensão do poder que ele havia invocado.

Determinado e confiante, Colin segurou a espada, pronto para enfrentar a Alada em um confronto direto.

Os olhos de ambos se encontraram em um momento de tensão, um desafio mútuo gravado no olhar de cada um.

Cabrum!

O choque dos metais eletrificados ressoou como trovões, irradiando energia em todas as direções. Raios crepitantes de luz amarela dispararam da colisão, transformando pequenas ilhas ao redor em destroços e cinzas, obliterando tudo o que ousava se aproximar daquele campo de batalha eletrizante.

Ting! Cabrum! Ting!

As faíscas voavam, traçando um rastro incandescente enquanto os golpes se intensificavam.

A luta entre Colin e a Alada era uma dança perigosa de poder e habilidade, cada golpe lançando ondas de energia e eletricidade pelo espaço infinito do plano astral.

Aquela lança dourada da Alada e a espada de raios elétricos de Colin se cruzavam repetidamente em uma sequência feroz de ataques e bloqueios, cada movimento ecoando com a força de suas convicções. A Alada era rápida e poderosa, mas Colin era incansável.

Enquanto as ilhas ao redor eram consumidas pela eletricidade caótica, a batalha prosseguia em meio ao caos.

— Você… — resmungou a Alada na troca de golpes. — Quem é você?

Colin abriu um sorriso. — Quem você acha?

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Olá, eu sou o Stuart Graciano!

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