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A única coisa que se ouvia naquela sala era o barulho de explosões que vinham do hall de entrada.

Aqueles dois continuavam se encarando, até que o silêncio foi quebrado.

— Como você continua linda, Kag’thuzir — disse Drez’gan, usando o corpo do cultista. — O tempo só te favoreceu.

— Desde quando você se aliou a Coen?

— Coen? O último filho das cinzas? Não faço ideia, isso é coisa do Braz’gallan. — Ele se aproximou um passo. — Por que está tão tensa? Finalmente aceitou o nome que eu te dei?

Brighid não respondeu nada e Drez’gan prosseguiu. — Eu soube que você se casou com um fraco. — Ele sorriu com escárnio. — Você o escolheu em vez de mim… que decisão estúpida, não acha? Quando eu chegar a este plano, vou torturá-lo até a morte, e você vai assistir tudo. — Ele caminhou até ficar bem perto dela. — Eu também fiquei sabendo que você teve filhos e que não pôde protegê-los… que tristeza. Com esse poder quase inexistente, você é uma piada para mim, fada.

Drez’gan ficou frente a frente com ela.

— O poder que eu tenho agora é mais do que o suficiente para acabar com esse seu culto ao abismo — disse Brighid.

— Não seja tão arrogante, e mesmo que consiga, não vai evitar a rachadura no céu. A queda do véu é inevitável, e quando acontecer, você vai se lamentar. Meus apóstolos e meu exército vão devorar este plano, e depois os outros. Eu serei o único sobrevivente quando tudo acabar. O cosmo será perfeito, livre das monstruosidades que são as outras formas de vida.

Brighid também sorriu, mas com desdém. — Quando você vier, você vai morrer aqui, neste plano. Eu não estou sozinha, e você sabe que eu não posso ser derrotada como os demônios do abismo que você enfrenta.

Drez’gan se virou de costas e voltou ao trono, sentando-se novamente.

— Até lá, você vai ter que enfrentar Braz’gallan e Thaz’geth no auge do poder deles. Pelo que eu vejo pelos olhos dos que me adoram, não há ninguém neste plano que possa me desafiar. Foi bom conversar com você, Kag’thuzir. Espero que aproveite sua vida medíocre até eu chegar.

Ele fechou os olhos e o abriu, assumindo a cor amarela. Suando frio, ele colocou a mão na testa.

— Tsc… isso me deixou enjoado. — Ele a encarou. — Onde estão os meus modos? Eu sou Thohand, líder do culto ao abismo no império do sul.

Thohand se ergueu, fazendo uma reverência. — Será uma honra enfrentá-la, Anjo do desespero.

Ficando ereto, ele ergueu a mão na direção dela, e sangue começou a ganhar forma na ponta de seus dedos, formando uma gota que em instante acumulou sangue o bastante para ficar do tamanho de uma bola de golfe.

Seu sangue foi tomado por runas negras e ele disparou.

TING! BOOOM!

Antes do projétil atingi-la, Brighid o rebateu para cima, abrindo um pequeno buraco no teto abobadado. Uma mecha do cabelo de Brighid ficou frente ao seu rosto quando ela se posicionou, movendo a katana para o lado de seu corpo e espaçando suas pernas.

— Seus reflexos são incríveis! — ele gracejou. — Claro, você venceu todos os subordinados que mandei atrás de você, não esperava menos!

Ele estalou o dedo, e Brighid saltou para trás.

Uma lança de sangue desceu do buraco no teto, atravessando o chão onde ela estava.

CRACK!

Thohand esticou a mão, e seu sangue transformou-se em correntes. Com um movimento abrupto do braço, ele lançou as correntes na direção dela. Brighid esquivou-se, abaixando-se como se ficasse quase deitada ao chão.

BOOM!

As paredes atingidas rasgaram como se fossem papel. Thohand moveu o braço novamente enquanto parte daquele cômodo começava a desabar. Suas correntes foram na direção da fada, e ela rebateu algumas enquanto esquivou-se de outras que continuavam a rasgar as paredes.

TING! TING!

Brighid ficou calma, procurando com sua análise uma brecha; então ela encontrou, uma bela abertura no meio de todos aqueles movimentos desordenados das correntes.

Foi como se o tempo para ela tivesse parado.

 Mana deixou seu anel de casamento, passou por suas mãos e concentrou-se em sua Katana. Em seu saque rápido, ela lançou um corte de mana arqueado, atingindo Thohand em cheio.

BOOM!

Lutando contra mortos vivos do lado de fora, Eden viu uma grande explosão de mana esverdeada arrebentar com as paredes, lançando destroços como chuva.

Correntes de sangue saíram da nuvem de poeira e foram em direção ao telhado.

WOOSH!

Com um profundo rasgo no peito, Thohand chegou ao telhado. Suando frio, o ferimento do cultista começou a curar-se lentamente. Suas correntes deram lugar para uma foice enorme de sangue.

— Um ataque inesperado! — Os olhos dele concentraram-se em Brighid chegando ao telhado. — Você não tem mana o bastante, e mesmo assim usou mana o suficiente nesse ataque, não é? Hehe, é uma pena que tenha falhado.

Brighid continuou em silêncio, sua mente comtemplava o mais absoluto vazio, concentrando apenas no que estava a sua frente.

“Entendi, ela está focando na qualidade. É como eu esperava, não posso cometer erros como o anterior, ou acabarei morto. Uma luta a curta distância também está fora de cogitação. Com a velocidade que ela se move é provável que eu acabe com a cabeça decepada em um ou dois ataques.”

Thohand apontou a foice de sangue na direção de Brighid. A foice começou a desfazer-se, em gotas vermelhas que escorreram pelo telhado, formando um sinistro círculo mágico no chão.

O sangue se agitou dentro do círculo, ganhando vida e substância. Cinco formas se ergueram, cada uma mais terrível que a outra.

Uma era um gigante musculoso, com um machado que parecia capaz de partir um cavalo. Outra era uma figura alada, esbelta e cruel, empunhando uma maça coberta de espinhos. As outras três eram criaturas baixas e ágeis, armadas com correntes, lanças e tridentes. Vestiam mantos escuros que ocultavam seus corpos, deixando apenas suas máscaras à mostra.

Máscaras que eram como pesadelos feitos de metal, com olhos vazios e bocas torcidas.

— Você é boa no um contra um, mas e se for vários contra você, como agirá, Kag’thuzir?

As bestas de sangue se lançaram sobre a fada, rápidas e implacáveis.

A primeira a chegar foi a alada, com sua maça espinhenta.

Brighid sacou sua katana e cortou a criatura ao meio, mas não adiantou. O sangue se juntou novamente, e a alada se refez, erguendo a maça para esmagar a fada.

CRASH!

Brighid se esquivou por um triz, mas logo se viu cercada pelos outros três pequenos. Eles a atacaram com suas armas, tentando perfurar, enlaçar e rasgar sua carne. Ela se defendeu como pôde, desviando da lança, do tridente e das correntes com sua lâmina.

TING! WOOSH! TING!

Ela saltou para trás, mas não teve tempo de respirar. O grandalhão veio voando, com seu machado monstruoso, e acertou o telhado com tanta força que fez tudo tremer.

BOOM!

Brighid mal se equilibrou, e já viu os quatro restantes vindo para cima dela, mais rápidos e furiosos do que antes.

SWIN!

O pequeno com a lança conseguiu arranhar o braço de Brighid e ela concentrou a análise no telhado abaixo e abriu um buraco com um golpe de sua katana.

Saltou para dentro, sem olhar para trás.

O grandalhão do machado a seguiu, voando em sua direção. Ela sentiu a mana fluir de seu anel de casamento, e um círculo mágico se formou debaixo dos seus pés.

Brighid dobrou os joelhos e impulsionou, passando pelas criaturas que continuavam em uma queda vertiginosa atrás dela.

Quando saiu do buraco, viu o rosto de Thohand se contorcer. Ele não esperava que ela fosse tão ágil.

Concentrando ainda mais mana nas pernas, Brighid avançou, arrebentando o telhado a cada passo.

CRASH!

Ela conseguiu cortar Thohand, mas cortou algo mais resistente que havia se posto em sua frente. O Alado de sangue havia sido cortado ao meio, mas antes de Brighid completar seu movimento a criatura se reconstituiu.

Apertando o cabo de sua maça, ele a cingiu acima de sua cabeça e Brighid saltou para trás, fazendo-o golpear o telhado.

BAAM!

A onda de choque o arrebentou por completo, e Thohand saltou em uma queda livre.

O castelo inteiro começou a ruir, e Brighid saltou para uma torre próxima, correndo enquanto ela se inclinava.

As criaturas ainda a perseguiam.

Ela desviou da lança de um dos pequenos e pegou a corrente de outro, puxando-o para si. Cortou sua cabeça com um movimento rápido, e jogou o corpo para o lado. O grandão e o do tridente vieram correndo, enquanto a torre se desfazia.

Com um movimento rápido da katana, ela arrebentou as paredes abaixo de seus pés, correndo pelo corredor caótico da torre que já estava quase horizontal. Desviou dos móveis e saltou pela janela.

BOOM!

A torre desabou, os destroços atingindo alguns mortos vivos que lutavam contra Eden. A terra daquele plano chacoalhou e o castelo desmoronou.

Em segundos, não restou nada, apenas escombros e poeira.

— Senhorita Brighid! — bradou a voz de Sylvana em meio à crise de tosse. — A senhorita está bem?

Brighid estava de pé em um pilar quebrado. Sua capa esvoaçando, dando a ela uma notoriedade ímpar, como se tudo estivesse sob controle.

— O que aconteceu com o irmão de Safira? — indagou ela sem encarar a pandoriana.

— Ele saiu correndo quando o castelo começou a desabar!

— E onde Kurth está?

— Aqui! — disse o garoto saltando sobre os destroços. — Estou aqui!

— Kurth! Ajude Eden, os mortos-vivos devem aumentar agora que o plano do cultista ficou instável. Sylvana, você fica e conjure a maior bola de fogo que conseguir.

— Sim! — assentiram os dois em uníssono.

Sylvana ergueu seu cajado, começando a recitar o encantamento. Começou com uma minúscula labaredas, que logo ganhou forma e tamanho, ficando tão grande quanto uma casa de médio porte.

A bola de fogo estava acima de Brighid, iluminando a escuridão como se fosse um sol em miniatura.

— E agora? — berrou Sylvana em meio ao barulho assustador do fogo. — Quer que eu lance?

— Não! A deixe bem onde está!

Brighid ergueu a mão direita e um círculo esverdeado apareceu abaixo da bola de fogo, que aos poucos foi devorada pelo círculo da fada.

Quando ela desapareceu, veio o silêncio.

BOOM!

As criaturas de sangue deixaram os destroços e foram na direção da Fada que apontou o indicador para as criaturas. Um círculo mágico enorme surgiu na ponta de seu dedo, e a bola de fogo absorvida por ela ganhou forma, uma bola de fogo com chamas esverdeadas.

Thohand estava ao longe, encarando o mini sol de raios esverdeados iluminar todo seu plano.

“Merda! A habilidade de apógrafo do lorde Drez’gan?”

Foi quando seus olhos, mesmo distantes, se cruzaram com os dela. Eram olhos que exalavam terror, algo que nem mesmo ele conseguia compreender.

Por um instante se sentiu uma formiga na mão de um titã.

Seu corpo começou a suar involuntariamente, e somente pensava em fugir dali o mais rápido possível.

“Se eu não fizer nada, eu-”

A bola de fogo foi na direção das criaturas, consumindo-as por completo, mas não parou por aí, seguiu até Thohand que conjurou uma redoma de sangue entorno de si, até que a bola de fogo explodiu.

BOOM!

O fogo verde varreu o plano, queimando tudo em seu caminho. Kurth e os outros se encolheram quando as chamas se aproximaram, mas o fogo não os afetava.

Os mortos-vivos viraram cinzas, assim como as plantas, as pedras, o concreto. Nada escapou. Eles viram o chão se rachar e se despedaçar sob seus pés.

O céu escuro se abriu, e eles se viram em um campo florido, com pássaros cantando no vale que se aquecia. As chamas se extinguiram, deixando apenas a beleza da natureza.

Brighid caminhou sem pressa até Thohand, que jazia na grama, com metade do corpo carbonizado, mas ainda vivo. Quando a fada chegou perto dele, Thohand sorriu com sangue nos dentes.

— Hehe, e ainda chamam você de Santa… você não tem nada divino, é só uma aberração como lorde Drez’gan…

— Sinto muito que tenha terminado assim.

— Sente muito? Hehe, diz isso com essa cara?

O semblante dela continuava indiferente, encarando Thohand como se ele não fosse absolutamente nada.

— Ainda está vendo isso, Drez’gan? Quando você vier, estarei com força total.

Os olhos de Thohand ficaram verdes lentamente, enquanto veias de sua têmpora estavam saltadas.

— Claro… por isso você superou Thaz’heth, Braz’gallan e Sor’uth em poucos séculos… devia ter aceitado se tornar a minha rainha. Iríamos devorar o mundo como você devorou esse garoto.

Ela apontou a katana para a garganta dele.

— Você não é Deus algum, é só um homem e morrerá como um.

— Hehe, eu não teria tanta certeza. — O brilho nos olhos dele começou a desaparecer. — Mesmo se recuperar seus poderes, mesmo se o seu marido ficar ainda mais forte, eu ainda continuarei mais poderoso que todos vocês. Lembre-se do que eu disse, devorarei tudo que pertence a você enquanto você assiste impotente.

O brilho dos olhos dele desapareceu, e seu coração parou de bater. Thohand estava morto. Seu corpo aos poucos murchou, sua pele começou a desfazer-se, transformando-se em pó, assim como seus ossos.

Nem mesmo suas roupas sobraram.

Brighid devolveu a katana a bainha e desceu o capuz sombreando seus olhos. Mesmo após o combate, ela permanecia séria. 

— Os cavalos estão por perto — disse ela passando por Kurth e Eden. — Vamos.

Ao longe, em um morro, escondido em meio as árvores, Elnan observava aquele grupo se afastar. Ele estava com um dos olhos cerrados, sua cabeça sangrava e parte de seu corpo havia sofrido queimaduras severas.

Cansado, encostou o ombro na árvore.

— Hehe, então essa vadia está mesmo voltando para a festa… as coisas vão ficar agitadas daqui para frente, é melhor eu me preparar.

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Olá, eu sou o Stuart Graciano!

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