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A carruagem, uma majestosa relíquia do passado dos nortenhos, traçava seu caminho com uma lentidão quase ritualística através das vastas planícies de Runyra.

O ranger suave das rodas de madeira cortava o solo de maneira quase hipnótica.

Lyriel, herdeira de Leif, observava o mundo passar pela janela, absorvendo a pulsante energia emanada da terra sob a carruagem. Conforme avançava, a paisagem mudava gradualmente, desdobrando-se em um espetáculo pitoresco, com vilarejos meticulosamente construídos emergindo no horizonte.

As casas, esculpidas em pedras cinzentas, ostentavam telhados de ardósia que reluziam como joias sob os raios do sol. Jardins adornados com flores vibrantes derramavam suas cores vivas e fragrâncias frescas pelo ar, criando uma bela tapeçaria visual.

A vista contemplava campos expansivos, testemunhando uma proeza de agricultura orquestrada com maestria.

Fazendeiros, dedicados artesãos da terra, labutavam diligentemente nas colheitas, enquanto a carruagem passava por campos arados, preparando a terra fértil para abraçar as sementes da próxima safra.

O aroma enredador de terra úmida e vegetação impregnava o ar, deixando a princesa com os olhos brilhando.

Ela observou crianças brincando, rostos sorridentes de pessoas que acenavam à passagem da carruagem, e comerciantes locais exibindo suas mercadorias com orgulho.

Tudo parecia perfeitamente em harmonia.

Enfim, a carruagem aproximou-se dos muros da cidade de Runyra, um marco da arquitetura gótica que se erguia como uma imponente sentinela. Os muros de pedra seculares, ornamentados com esculturas góticas, erguiam como se estivessem nascendo da própria terra. Torres de vigilância se alçavam orgulhosas, suas agulhas alongadas perfurando os céus, enquanto vitrais coloridos lançavam uma luz mágica sobre as ruas estreitas.

À medida que a carruagem seguia seu caminho, uma aura de imponência se infiltrava na alma da mulher. Ela contemplou crianças brincando nos arredores das vilas, rostos sorridentes que pareciam transportados diretamente de um conto de fadas gótico.

Com a carruagem cruzando os portões, ela pôde sentir a riqueza da história e da cultura que emanavam da cidade. As ruas sinuosas estavam ladeadas por edifícios de pedra ornamentada, suas fachadas góticas ostentando a grandiosidade do passado da era de Fangil.

Os habitantes da cidade lançaram olhares de curiosidade à visitante.

Seguiu mais um pouco, até os portões do palácio onde estava Tuly, aguardando a moça.

Assim que a carruagem parou, o cocheiro abriu a porta.

Lyriel era uma mulher deslumbrante, com cabelos vermelhos como chamas vibrantes, fluindo em cascata pelos ombros como um manto de rubis vivos.

Seus olhos verdes eram tão profundos quanto misteriosos, refletindo a serenidade de uma floresta intocada, onde segredos antigos se escondiam sob a copa das árvores. Cílios longos e escuros emolduravam essas esmeraldas preciosas, deixando seu olhar ainda mais hipnotizante.

O rosto dela era um retrato da perfeição. Maçãs do rosto delicadamente esculpidas, pele pálida e imaculada que contrastava de maneira deslumbrante com os cabelos de fogo.

Ela usava roupas pesadas de inverno, confeccionadas com tecidos de qualidade que combinavam com a elegância de uma princesa.

Um longo casaco de lã negra envolvia seu corpo como um abraço caloroso, realçando suas curvas delicadas. Sob o casaco, uma blusa de seda branca, que se destacava de forma deslumbrante contra a pele clara.

Uma saia longa e escura alcançava os tornozelos, e botas de couro eram robustas o suficiente para enfrentar as intempéries, mas ainda assim elegantes em sua simplicidade.

Luvas de couro adornavam suas mãos, protegendo-as do frio que ainda fazia naquele clima primaveril. Um cachecol de lã enrolado em torno de seu pescoço era acentuado com detalhes de renda que acrescentavam um toque feminino à sua aparência.

— Princesa Lyriel — Tuly fez uma reverência. — Espero que tenha aproveitado a viagem.

Foi a vez de ela fazer uma reverência. — Obrigada por me receber…

— A rainha está em uma reunião no momento, está com fome? Posso te apresentar a cozinha.

Ela assentiu com um sorriso. — Eu adoraria, senhor.

— Ótimo, me siga.


Lyriel acompanhou Tuly pelos corredores suntuosos do palácio de Runyra, seus passos ecoando nos mármores polidos que revestiam o chão.

Enquanto passavam por imponentes quadros retratando os membros da família real, Lyriel sentiu uma sensação de reverência diante da história e do poder que aquelas imagens evocavam. Os rostos nos retratos pareciam encará-los com olhos vigiantes, fazendo-a sentir-se pequena diante de todo aquele resplendor.

O corredor era amplo e iluminado por candelabros dourados que pendiam do teto abobadado. Os empregados do palácio, trajados com vestes luxuosas e abotoaduras reluzentes, inclinavam-se respeitosamente à passagem de Tuly e Lyriel, sussurrando palavras de boas-vindas.

Finalmente, eles chegaram à cozinha real, que era um salão grandioso, quase digno de um baile de gala. Uma longa mesa de carvalho estava coberta por uma variedade de iguarias deliciosas, desde pratos de carne assada e aves douradas até frutas frescas e queijos requintados.

Vinho e bebidas finas repousavam em taças de cristal, brilhando à luz das velas que decoravam a sala.

Um grupo de pessoas alegres conversava animadamente.

— Não foi só isso — disse Samantha com um dos pés em cima da mesa enquanto falava com Kurth, Eden e Sylvana. — Eles vieram, me cercaram em um quarto pequeno e, quando vi, lá estava eu, de frente para o melhor assassino do submundo do império do sul, mas ele não era tão bom assim.

— Senhores, e senhoritas — disse Tuly. — Essa é princesa Lyriel, majestade Ayla tem uma reunião com ela em breve, cuidem da visita, a deixem à vontade.

Ele virou-se para a princesa. — Estes são os amigos do senhor Colin, não se preocupe, você está em boas mãos.

Tuly fez uma reverência e afastou-se.

Aqueles quatro ficaram encarando, até que Samantha pegou um pão e jogou para a princesa, que o pegou no reflexo, quase o deixando cair.

— Senta aí — disse Samantha. — Você é a filha do cara que está na frente dos oito países da extinta Ultan, não é? As coisas não estão nada boas para o seu pai.

Engolindo em seco, Lyriel sentou-se, olhando para aqueles quatro. — Eu… vim em paz…

— Claro que veio. — Samantha tirou os pés da mesa. — Eu sou Samantha, esse é Kurth, Sylvana e Eden. Espero que tenha aproveitado a viagem. Mas me diz, o que a filha do cara mais odiado pela rainha no momento está fazendo aqui?

Ela engoliu em seco. — Eu… vim… vim me oferecer ao rei Colin para acabar com a guerra.

Samantha assentiu. — E seu pai achou que isso iria funcionar?

Lyriel desviou o olhar. — Eu não sei…

— Seu pai está quase acabado, sabia? Não é como se uma mulher bonita e um matrimônio forçado fosse o suficiente para parar uma guerra desse nível. Claro, esse é só um palpite, mas conhecendo Ayla, sua vinda aqui deve ter outros motivos. — Ela apontou com o queixo para o pão na mão da princesa. — Por que não come? Eu estava contando do dia em que destruí o submundo do império do sul.

Engolindo em seco, a princesa começou a comer o pão, usando a análise em cada um deles.

“Eles… são bem fortes… e nem estão na guerra… não tem como derrotar Runyra, e por que a rainha me aceitou aqui se está na vantagem? Ela tem mais homens, mais força… droga, ela vai… enviar minha cabeça ao meu pai como um aviso?”


Tuly entrou na sala de reuniões com passos hesitantes, sentindo o peso dos olhares das duas rainhas, de Isabella, Valagorn, Jane e Cykna.

— A filha de Leif já está aqui, segura e bem alimentada, junto com Samantha e os outros.

— Que bom — Ayla disse com um sorriso gentil. — Venha, sente-se conosco.

Tuly obedeceu, acomodando-se na cadeira que ela lhe indicou.

Ayla trocou um olhar significativo com Brighid e a fada concordou com um aceno.

— Vocês estão aqui porque receberam a nossa carta, né? E devem saber o que queremos com isso. Runyra cresceu demais para que eu possa cuidar de tudo sozinha, e mesmo com a ajuda de Brighid, ainda seria muito para nós duas. Em dois meses terei o meu bebê, e vocês sabem como crianças pequenas exigem atenção… além disso, Brighid e eu vamos nos dedicar ao nosso treinamento, deixando os assuntos do reino em segundo plano para enfrentarmos as ameaças que se aproximam.

— Conversamos muito sobre isso — disse Brighid. — E se vocês aceitarem os cargos que oferecemos, ficará a cargo de vocês escolherem quem os auxiliará em suas funções. Tuly, por exemplo, pode selecionar quem ele quiser para administrar a segurança do império, confiando apenas em homens leais e capazes, assim como Cykna também pode distribuir tarefas se assim desejar.

Isabella lançou um sorriso malicioso. — E para quem passo as informações que eu descobrir, já que todos os regentes estarão… ocupados…

— Para Cykna — respondeu Ayla. — Ela liderou os Elfos da floresta por séculos, é mais do que competente para governar Runyra. Valagorn, meu marido, confia em seu julgamento e, como homem sábio, você pode apoiar Cykna na missão, além de criar novas leis para uma melhor gestão de tudo.

Valagorn assentiu.

— Então… — ele suspirou na cadeira. — Vocês estão abdicando da posição de regentes, para serem mães e guerreiras em tempo integral?

Elas se encararam e confirmaram. — Colin e nós… vamos nos concentrar em coisas maiores, vocês ficam com a manutenção do reino.

— E por quanto tempo? — perguntou Cykna. — Essa nova administração… pelo jeito que falam, parece que estão se preparando para partir do reino.

— Vai durar até o perigo ser eliminado — respondeu Ayla. — E o nosso objetivo é fazer vocês terem o mínimo de trabalho possível. Jane vai cuidar da casa das moedas, vai remunerá-los com um ótimo salário como um incentivo para continuarem o trabalho bem-feito.

Jane piscou para Isabella. — Viu? Fofoqueira.

Isabella retrucou com seu sorriso sedutor.

— Estes são os nossos termos. O departamento administrativo já está preparando os documentos que vocês precisam assinar. Brighid, eu e meu marido confiamos em vocês, por isso os escolhemos. Depois de tantas batalhas, queremos que amigos leais liderem o conselho, além de serem competentes.

— É uma honra, majestades — disse Tuly, levantando-se e curvando-se. — Farei de tudo para proteger o império.

— Que bonitinho — disse Jane, irônica. — Você treinou bem o seu servo, rainha, tão obediente… — Ela piscou para Tuly e ele corou.

— Vocês respondem a Cykna, todos vocês, e quando os papéis estiverem prontos, vocês terão liberdade para agirem como quiserem no reino. Só não esperem que eu me meta nas suas decisões.

Jane se levantou com um sorriso malicioso. — Sempre tão autoritária, né? Que pena que com o meu Colinzinho você vira uma gatinha mansa, né? — Ela piscou de novo. — Vou para as fontes, me divertir um pouco, mande suas cadelinhas me encontrarem lá.

Jane saiu, e Isabella também se pôs de pé. — Será um prazer trabalhar com vocês, faremos coisas incríveis aqui. Com licença, majestade…

Ayla acenou. — Podem ir, estão dispensados. E Tuly, traga a princesa até aqui.

Um por um, eles saíram do quarto e, antes de Valagorn partir, Ayla o chamou.

— Valagorn! — Ele se virou. — Você é um homem sábio, mantenha as coisas sob controle.

Ele assentiu. — Como quiser, majestade.

Quando o Elfo saiu do quarto, Ayla suspirou, passando a mão na testa.

— Você está bem? — perguntou Brighid. — Posso falar com a princesa, você devia descansar.

— Estou bem, eu aguento. — Ela se aconchegou na cadeira e olhou para Brighid com um sorriso carinhoso. — Você… obrigada… às vezes penso que ainda te devo muito mais do que te dou, de verdade… você é um anjo…

Brighid apenas sorriu de volta. — Faltam só dois meses, devia repousar, cuidar do corpo e da mente. Um parto não é fácil, ainda mais de gêmeos.

A porta se abriu.

— Majestades — disse Tuly. — A princesa chegou.


No centro do Reino do Norte, que se ergueu sobre as Cinzas de Ultan, seu rei, Leif, estava inquieto em sua cadeira. Sua filha havia sido enviada, mas isso era apenas sua cortina de fumaça.

Mesmo com a ajuda do pontífice, seu reinado havia sido colocado em xeque. Se nem mesmo Alexander conseguiu acabar com os Runyrianos, então as coisas estavam perdidas, mas ele tinha outra opção que fugia das poções de sangue modificado ou bolar estratégias mirabolantes.

Havia um grupo que residia isolado naquele continente, um grupo que permanecia adormecido, mas que, se atiçado, poderia trazer a ruína como fizeram séculos atrás por todo o Oeste.

— Os Elfos Negros — disse o rei a seu conselheiro no canto daquela sala. — E se pedirmos ajuda para eles?

— …

— Diga alguma coisa!

— Majestade… há uma razão do porquê ninguém mexer com eles… e uma delas é porque eles são péssimos em fazer amigos e não são nada receptivos. Da última vez que os provocaram, foi um caos, é o que a história conta… genocídio, estupros em massa, a criação de Caliman… nem mesmo o rei Colin seria louco de provocá-los.

Leif alisou o queixo, pensativo.

— E se eu oferecer a minha filha a eles?

— Elfos Negros são supremacistas, odeiam qualquer um que não seja da raça deles, e odeiam ainda mais mestiços… por isso cometeram todas aquelas atrocidades, acreditam não haver maior desonra do que misturar seu sangue com o de uma raça que não seja a sua. Não bastava somente violar aquelas mulheres, eles a deram mestiços… uma mancha eterna na árvore familiar.

Leif suspirou.

— De qualquer modo, escreva para eles. Quem sabe eles nos recebam…

— Como queira, senhor…

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Olá, eu sou o Stuart Graciano!

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