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Capítulo 348 – Conversa.

Quando a manhã os encontrou, Colin e Brighid se aconchegaram sob as cobertas, seus corações pulsando em uníssono. O silêncio do quarto era apenas quebrado pelo suave sussurro das respirações entrelaçadas, como se o tempo tivesse se rendido à intensidade daquele momento singular.

— Quer que eu traga café para você? — indagou Brighid, depositando um beijo carinhoso. — Só me diga o que vai querer; tem de tudo naquela cozinha.

— Não precisa, não estou com fome ainda… Brighid… como chegou até aqui?

Ela repousou a cabeça no peito dele.

— Na noite em que Ultan caiu, Morgana me salvou… ela cuidou de mim quando eu não podia. Tive problemas com os caçadores de espectros e fui até a ilha das fadas… Reencontrei minha mãe e foi lá que tive os nossos filhos.

— Morgana está…

— Não sei, mas quero acreditar que ela está bem. Coen atacou a ilha das fadas, a destruiu, raptou os meus filhos e eu fui obrigada a ir atrás deles… ele tinha me falado que você havia se casado com outra mulher…

— …

— Acabei capturada por alguns bandidos, traficantes de escravos, e Elhad estava entre eles. Ele me ajudou a escapar, fiz amizade com um garoto, reencontrei Kurth, fiz amizade com uma espiã que trabalha para Ayla, venci o cultista e aqui estou… parece que Coen entregou as crianças para Ayla, acho que ele sabia que eu te procuraria.

O mais chocante de tudo isso era saber que Elhad e Kurth estavam vivos.

— Elhad e Kurth… eles… estão aqui?

— Sim… Sashiri e Samantha também.

— Uau… todos reunidos… me faz lembrar dos velhos tempos. Ayla colocou gente atrás do rastro de Morgana?

— Sim, qualquer notícia dela a gente vai saber.

Colin assentiu.

— Tenho que confessar uma coisa… quando passei um tempo com Alunys e Leona, nós trabalhamos como mercenários, caçamos principalmente grupos de bandidos. Aproveitei isso para procurar por você… a única pista que encontrei foi a de caçadores estarem atrás da mulher que fez um massacre em uma vila próxima ao mar oeste. A única coisa que estava ao meu alcance era a de destruir esse grupo, e eu o fiz.

Colin começou a acariciar o cabelo de Brighid.

— Então resolvi me tornar duque para ser notado por você, mas com o tempo esse não foi mais o meu objetivo. Algo me remoía por dentro, eu precisava me satisfazer, e em vez de atraí-la, atraí gente perigosa como o pontífice Alexander, e isso foi ótimo para mim.

Os olhos dele encontraram os dela.

— Me casei com Ayla por ambição, vaidade, mas também por poder. Ela é tão bela quanto você, e você não tem ideia do quão imponente soa dizerem que você é casado com duas mulheres poderosas. Quando entrei pela porta e vi vocês juntas, me senti satisfeito.

Ele colocou a outra mão livre atrás da cabeça.

— Isso passou a ser mais sobre como eu me sentia do que sobre como vocês se sentiam. Os nobres abaixavam a cabeça para mim por medo, e eu gosto que se sintam assim. No começo, tratei Ayla como uma qualquer. Quanto mais poderoso eu ficava, mais ela sentia isso. Eu fazia questão de fazê-la sentir. Na verdade, ainda me sinto assim. O que aconteceu entre nós, mais cedo, foi o reflexo disso. Você se entregou para mim como nunca, e eu aproveitei. Foi a melhor noite que já tivemos.

Brighid não desviou os olhos dele, ouvindo cada palavra com atenção.

— Brighid, Ayla significa muito para mim. Ela tornou tudo isso possível.

— … E você, a ama?

— Não do mesmo jeito que amo você, mas sim, eu tenho amor por ela. Eu me importo com o bem-estar dela, e, além disso, ela está esperando um filho meu. — Ele a encarou com um olhar sério. — Nossa família vai aumentar bastante, então espero que vocês se entendam.

Brighid notou a mudança nele. Falava com mais autoridade, maior confiança. Aquilo pareceu um pedido, mas soou como uma ordem.

— Colin… eu ainda não me adaptei a isso… a ter que dividir você com outra mulher… não é que eu não goste da Ayla, mas…

Ele se acomodou na cama, sentou-se e puxou Brighid para o seu colo. Segurou-a pela cintura e a aproximou, sentindo sua respiração. Ele a tocou com força, mas também com carinho, como se quisesse transmitir conforto e segurança.

— Sou seu, Brighid, sempre fui. Amo Ayla porque cuido dela, e sempre acabamos nos afeiçoando ao que cuidamos, mas a decisão é sua, quer que eu a mate?

Ela arregalou os olhos.

— O quê? Não! Ela está grávida, como pode me perguntar algo assim?!

— E depois disso, depois que as crianças nascerem?

Ela desviou o olhar.

— No começo, eu pensei nisso, mas não quero carregar o peso dessa decisão… Ela cuidou tão bem das crianças… foi tão atenciosa e carinhosa comigo que me senti mal por desejar o mal dela… Não sou ingrata, e a gente acabou se tornando amiga…

— Então, seja sincera comigo, o que sente em relação a ela?

— Não sei… não a odeio, apesar de ela ter engravidado do meu marido. — Ela franziu o cenho. — Mas isso é mais culpa sua que dela, você acabou de me confessar… Com quantas mulheres você dormiu? — Ela desviou o olhar. — É um rei agora… o que não deve faltar a você são oportunidades…

Colin permanecia calmo.

— Acha que eu faria isso com você?

— Não sei… você parece tão… diferente…

Colin ergueu a mão direita e seus dedos se entrelaçaram nos dela.

— Você é minha, Brighid, só minha. Não há nada nem ninguém que eu ame mais do que você, então por favor, confie em mim.

Brighid sentiu um nó na garganta.

Ela se sentia hipnotizada pelas palavras dele, que soavam tão doces e sinceras. Colin tinha mudado, ela podia ver isso no seu olhar mais tranquilo, na sua postura mais firme, que transmitiam confiança e autoridade.

Brighid quase se esqueceu da traição que ele cometeu, algo que ele admitiu ter feito porque quis.

Concentrando-se nos olhos apaixonados da esposa, Colin segurou o rosto dela com a outra mão, acariciando a sua pele com o polegar.

— Ayla é uma aliada valiosa, é corajosa, esperta, tem muito a oferecer. Vocês duas podem se ajudar muito, e se algo acontecer comigo como diz o Lithium, terão uma à outra.

— … Isso não é justo… você sempre volta nesse assunto do Lithium… se tornar rei, imperador… por que fez tudo isso se tem tanta certeza assim de que irá morrer?

Colin apoiou ambas as mãos no rosto dela.

— Quem são os nossos oponentes, Brighid?

— … Os Caídos e os apóstolos de Drez’gan…

— Exato. Coen está por trás dos Caídos, e até onde sei ele orquestrou toda desgraça que vivenciamos. Além disso Drez’gan é um deus imortal, uma criatura mais poderosa que eu e você juntos. 

Brighid desviou o olhar.

— Você mal acabou de chegar e já está colocando distância entre a gente… Às vezes eu só queria uma vida normal, longe de tudo isso, esses problemas…

Colin a beijou na testa.

— A força que você tem, que eu tenho, se a gente só ficar parado milhares de pessoas vão morrer. Você é generosa, Brighid, por isso ajudou o povo de Ultan a escapar durante o ataque. Essa é sua natureza, é quem você é, uma alma bondosa que está sempre pronta para ajudar o próximo.

Seus lábios se encontraram.

— Você foi minha primeira mestra nesse lugar, aprendi muito com você e a gente teve três filhos lindos… os mesmos filhos que Ayla cuidou como se fossem dela quando sua ilha foi destruída… por causa de ela estar aqui, eu fui capaz de ir para o plano astral e me fortalecer. Ela me ensinou a refinar mana, e por causa disso alcancei a variação mais poderosa de um usuário da árvore do céu.

— …

— Se algo acontecer comigo, toda responsabilidade cairá sobre vocês duas, o destino não só desse plano, mas o de milhões de outros que irão colapsar se o véu cair.

Com um suspiro, ela assentiu.

— Acho que é disso que tenho medo… mesmo depois de Coen ter levado os nossos filhos, mesmo depois de Ultan cair, não teve um único dia que não pensei em você, se estava bem, se alimentando direito…

Os olhos dela encheram-se d’água e Colin a abraçou, acariciando suas costas.

— Você sempre foi boa demais para mim, mas sem você eu poderia ter seguido outro caminho. — Com as mãos em seu rosto, ele a encarou no fundo dos olhos. — Também queria uma vida normal, mas não acho que tenhamos isso nessa vida, quem sabe na próxima, né? Não importa em qual plano nasçamos e o quão longe estivermos um do outro, a gente vai se reencontrar e ter a vida que merecemos, eu prometo.

Ela o abraçou apertado, sentindo o calor, o cheiro, os batimentos dele.

— Quero te mostrar uma coisa — Ele ergueu-se, a puxando pela mão.

Ambos ainda estavam nus, mas Colin não se importou, indo até a sacada, vislumbrando toda Runyra. Suas vistas alcançavam as montanhas ao longe, e as pessoas pareciam formigas lá embaixo.

Colin a abraçou por trás, beijando o pescoço dela.

— Tudo isso é para você, para os nossos filhos. Eu não fazia ideia de como isso era, Brighid, mas isso é poder. Você é forte há séculos, e Ayla cresceu em berço de ouro, mas para mim, isso é novo. Consegui conquistar tudo até onde sua vista alcança sem precisar derramar uma gota de sangue. Quando você chega ao topo dessa forma, passa a querer mais.

Sua mente o levou para aqueles tempos.

— Então vieram as lutas. Venci batalha por batalha, conquistei território por território, afinal, eu estou aqui, no topo. No plano astral, eu tive ideia da minha força, consegui matar um dos pandorianos do Coen.

Brighid virou-se rapidamente, ficando frente a ele o encarando com os olhos arregalados.

— Sério?

— Sim, e não foi só isso. Encontrei Safira. Ela cresceu, já é uma mulher. Nós lutamos e eu pude ver o quão forte ela está, mas algo me diz que ela estava se segurando… não acho que ela queria me matar de verdade… acho que nossa Safira ainda pode ser salva.

Brighid engoliu em seco.

— Tem certeza?

— Tenho. Matei o pandoriano, Coen deve ter enfraquecido com isso. — Ele apoiou a mão no rosto dela. — Brighid, a gente consegue vencer, vencer o meu pai, vencer Drez’gan. Não sou o mesmo de quando Ultan caiu, consigo proteger todo mundo. As pessoas lá embaixo, pais, mães, irmãos, filhos… Eles vieram até Runyra por minha causa, por esse país ser um porto seguro para que todos eles possam prosperar. Tudo isso é minha responsabilidade, afinal sou o rei. Se depender de mim, mais ninguém desse país morrerá.

Ele a abraçou pela cintura, aproximando seus lábios.

— E tem você, Ayla e as crianças, a minha principal prioridade. Não sou um covarde como o meu pai, assumo as responsabilidades pelos meus atos e não ficarei chorando pelos cantos pensando se o que fiz foi uma decisão ruim ou não. Depois do plano astral, percebi que sou o que sou, e isso não mudará. Tomei Ayla como minha esposa, a engravidei e arco com a consequência disso, mas não vou me desculpar por ter feito. Isso significaria que eu me arrependo, e eu não me arrependo, não por tudo de bom que veio com essa união, não me arrependo de nossa família estar unida aqui, nesse palácio que pertence a mim.

Ele a beijou na testa.

— Estou aqui para servir, servir a vocês duas e às crianças, mas também estou aqui porque sou o escudo dessa família. Antes de qualquer coisa atingir vocês, ela atingirá a mim primeiro, por isso fui presenteado com esse corpo, essa força, essa árvore. Antes de ser pai, marido, eu sou um homem, Brighid. Não voltarei em nada do que acabei de te dizer, eu juro.

Brighid sentiu uma maré avassaladora de emoções inundar seu peito. Ao fitá-lo, seus olhos captaram a determinação e o amor que irradiavam dele. Uma intensidade indescritível a envolveu, fazendo seus próprios olhos brilharem e seu coração pulsar com mais vigor.

Era incrível em como toda propaganda que havia sobre ele por todo castelo havia causado algo que ela ainda não entendia.

Todo quadro glorioso, toda história que ouvia, a forma como as pessoas comuns se sentiam gratas a ele, essa lavagem cerebral a fez relevar suas atitudes mais horríveis, e em vez de bater o pé e discutir, ela somente ficou em silêncio.

Brighid já havia conhecido homens poderosos antes, havia visto o que eles fizeram com o mundo, com as pessoas, mas seu marido agora também era um homem poderoso, porém, ele era diferente.

O Colin de antes não falava com tamanha autoridade a ponto de sentir-se responsável por milhares de pessoas.

Brighid o conheceu quando ele era um garoto tentando se aproveitar das pessoas, do mundo. O viu se tornar responsável por crianças órfãs, depois de uma guilda, um ducado e agora de um império.

Na noite passada, antes de ele chegar, ela ainda estava dividida, pensando em quanto tempo levaria até perdoá-lo por completo, mas essa preocupação não existia mais.

Talvez fosse todo aquele assunto sobre amor, família e poder, e isso a fez sentir-se segura em relação a ele. Seu marido provavelmente era um dos homens mais fortes do continente, e sua eterna paixão misturou-se com extinto de sobrevivência e pragmatismo.

Mesmo que para Ayla não existisse rivalidade, para Brighid, pelo menos uma noite atrás, havia. Ayla dormiu com ele, o seu marido, e Jane sempre a provocava do quão boa Ayla era em quatro paredes.

Inconscientemente, Brighid acabou entrando em uma disputa com ela, e quando Colin havia dito que foi a melhor noite em sua vida, ela sentiu que havia vencido.

Também sentiu o quão infantil aquilo poderia ter soado, mas ela estava com ciúmes. Sumir por um tempo e ver que seus amigos, seu marido e seus filhos estavam a cuidados de outra mulher tão jovem a fez sentir que estava perdendo seu espaço.

Ainda era difícil entender os homens, principalmente homens como Colin que fugiam em muito do senso comum, então ela se sentiu impelida a ceder, principalmente pelo medo de perder seu marido e seus filhos.

Ayla não era combativa, não com ela, e sempre cedia espaço para que Brighid ficasse à sua frente. Em um exercício, Brighid colocou tudo que sentia na balança. Morgana já havia dito o que sentia por seu marido, e isso nunca a incomodou, não depois de tudo que Morgana havia feito por ela.

Ela não sabia que estar naquela encruzilhada pudesse ser tão torturante, mas um detalhe sobressaltava em sua mente. Ayla havia confessado como ele a tratava, e ela se sentiu mal por isso, porém, por outro lado, ouviu da boca de Colin que ele não amava Ayla como ele a amava, e para fadas que vivem em um eterno estado de paixão, isso fazia toda diferença.

Movendo-se na direção dele, Colin a envolveu em um abraço firme, imersa na sensação reconfortante de seu calor e no aroma que emanava dele.

— Colin, eu acredito em você — murmurou, a voz levemente embargada. — Mas não precisa resolver tudo sozinho, carregar todo esse peso…

Brighid recuou ligeiramente.

— Eu vou ficar mais forte, e assim que Ayla der à luz, ela também vai nos ajudar.

— Eu sei, mas o peso maior fica comigo, e isso não está aberto à discussão. Depois da minha incursão no plano astral, percebi que sou mais forte do que achei que fosse. O meu pai… soube que ele nunca me quis… se dependesse dele, eu estaria morto. Não quero ser esse tipo de pai, quero que as crianças se lembrem de mim, que se inspirem em mim. Serei o pai que nunca tive, por isso você, Ayla e as crianças precisam se preservar. Não importa a dor ou o peso que eu tenha que carregar, eu aguento.

Os olhos dela encheram-se d’água mais uma vez.

— Colin…

Ele a tocou na testa com o indicador e abriu um sorriso.

— Não faça essa cara, mesmo com tudo isso, eu não vou morrer, farei de tudo para que o Lithium não se torne real, e quem sabe, se a gente der sorte, consigamos viver em paz ainda nessa vida! Acha que deixarei vocês duas criando esse monte de crianças sozinhas?

Ela limpou as lágrimas rapidamente.

— Preciso falar com Ayla agora — disse ele.

— Tá…

Eles voltaram para dentro e Colin começou a se vestir. Ele suspirou novamente, mas logo um sorriso desenhou os seus lábios. Aos poucos, as coisas estavam voltando a ser como antes, e com a derrota de um dos pandorianos de Coen, uma chama de esperança iluminou o futuro de Runyra.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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