Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 358 – Segredos.

Na aurora de um novo dia, Colin encontrava-se no topo de um morro majestoso, de onde podia vislumbrar todo o esplendor do vale estendendo-se diante de seus olhos.

As primeiras luzes do amanhecer pintavam o céu com tons de rosa pálido, enquanto os raios do sol emergiam timidamente por entre as montanhas distantes, tingindo a paisagem com uma aura dourada.

Colin, trajado em suas vestes nobres, exibia uma figura imponente contra o horizonte em transformação. Seu manto escuro fluía ao vento como as asas de um corvo, enquanto seu cabelo, penteado com meticulosidade, caía em mechas rebeldes sobre sua testa, emoldurando sua expressão séria.

 O silêncio do amanhecer envolvia o morro que foi palco da libertação de Claymore.

Uma semana havia transcorrido desde que Samantha e Elhad haviam partido em sua missão. A espera por seus companheiros e pelo dia em que Ayla daria à luz a seus filhos era um jogo de paciência, e o nobre estava imerso em pensamentos profundos, contemplando o desdobrar do destino e o que aguardava os destemidos companheiros.

A brisa matinal acariciava sua pele morena, trazendo consigo os perfumes da terra e das flores selvagens que pontilhavam as encostas do morro. Então, ele sentiu um abraço por trás, e ao olhar por cima dos olhos, avistou Jane esboçando seu sorriso sedutor.

— Começou a vir aqui todos os dias, Colinzinho?

— Me acalma… alguma coisa para mim?

Ela assentiu, ficando frente a ele.

— Vamos fingir que essa informação não veio daquela fofoqueira da Isabella, e sim, de mim, está bem?

— …

— Os Elfos negros estão reestruturando seu exército, acho que estão se preparando contra Runyra. — O sorriso dela ficou ainda mais largo. — Não é excitante? Eles se sentiram ameaçados por você e agora querem guerrear!

— Há outros países no caminho até que eles cheguem a Runyra.

— O que foi, não está empolgado? Milveg, o rei deles, é bem poderoso.

Ouvir isso o deixou interessado.

— Poderoso?

— Hurum! A sua fadinha continua se recuperando, a bonitinha de cabelo branco mal consegue se mover, isso significa que você é o ser mais poderoso do Leste. — Ela apoiou o indicador nos lábios. — Não posso afirmar, mas dizem que Milveg é um Monarca Arcano da Pujança. Ele deve ser mais forte que você, Colinzinho…

— Se quer me fazer ir até o Oeste lutar com ele, pode esquecer.

Jane deu de ombros. — Eu tentei. Sei que você anda entediado, só estava querendo animar, o meu rei.

— Tenho que esperar os meus filhos nascerem, e se esse Milveg quiser mesmo desafiar Runyra, ele terá um longo caminho até nos alcançar. Não duvido que tomem os países que invadirem, mas devem perder pessoal também, enquanto Runyra se fortalece.

Jane o abraçou apertado, suas bochechas vermelhas. — Não está se importando com as pessoas que morrerem? Valéria está no caminho deles, sabia?

— É impossível ajudar todo mundo, além disso, estamos próximos de uma crise financeira. Guerras custam caro, e nossos cofres estão quase vazios.

— Ver você sendo tão racional é estranho, mas que bom que sabe o que está fazendo, afinal, não esqueça que Drez’gan é o nosso alvo principal.

— Não vou esquecer.

— Ótimo, agora tenho que ir, até mais, majestade.

Tão rápido quanto ela chegou, Jane desapareceu, sem deixar rastros.

“Hora de ir, tenho aquele compromisso.”


Os degraus de pedra rangiam sob os passos cautelosos de Colin, ecoando pelos corredores frios e úmidos das masmorras que desciam rumo à escuridão.

O fedor dos esgotos começava a envolvê-lo à medida que se aprofundava, um perfume nauseante de decomposição que se misturava às sombras.

As paredes, enegrecidas pelo tempo e cobertas por musgo, pareciam exalar a história desoladora do castelo. O rei sentia a umidade penetrar em suas roupas.

Ratos esquivos e baratas ousadas cruzavam seu caminho, correndo para se esconder nas frestas escuras e úmidas.

A luz do orbe tremeluzia, lançando sombras grotescas que dançavam nas paredes. O ar pesado, carregado com o odor pútrido, impelia Colin a avançar, ainda que seus sentidos protestassem contra o ambiente opressivo.

Após uma descida íngreme, ele emergiu em uma câmara mais seca, onde a umidade dava trégua. Uma luz tênue revelou um caixote desgastado e, sobre ele, uma mulher pálida, envolta em panos nobres.

Seu olhar, profundo e enigmático, encontrou o de Colin, como se ela houvesse esperado por sua chegada há bastante tempo.

— Colin? — perguntou, surpresa.

— Me conhece?

— Si-sim, mas o que aconteceu com Ayla?

— Ela não se sente bem, a gravidez a limita por hora, então ela me pediu para vir em seu lugar, Eithel, né?

O cheiro singular que emanava dela cortava o fedor que impregnava o lugar.

— Si-sim, mas sou Nebora, na verdade.

Não era um nome estranho para ele.

— Vou mostrar!

O rosto dela começou a borbulhar até que mudou completamente. Foi algo assustador de presenciar, mas funcionou.

— Você… é a irmãzinha do Stedd?

— Eu não sou a irmãzinha, Stedd é o mais novo, mas sim, sou eu.

Colin esboçou um sorriso de canto e se sentou no caixote frente a ela. — E Stedd, tem notícias dele?

— Ele está nas ilhas Janesi, aquela oriental está com ele, como é mesmo o nome…?

— Lei Song? — Ele abriu um sorriso genuíno. — Eles estão vivos? É bom saber, mas o que estão fazendo lá?

A empolgação dele a contagiou.

— Uma missão para tomar as ilhas em nome da família Song. Meu pai está no oriente também, mas está lutando contra um grupo que se chama encruzilhada, no continente do oriente. Ele soube que você tinha se tornado um rei quando se casou com Ayla, desde então eu a ajudo.

— Por que seu pai te mandaria aqui para me ajudar?

— Ele acredita que, se conquistar o continente, poderá enviar navios para ajudar Stedd e também ajudá-lo. Ah, bem, eu já estava me esquecendo, aqui!

Enfiando a mão na bolsa, ela entregou uma carta nas mãos dele.

— As coisas não andam nada bem para o pontífice Alexander. A revolta dos escravos havia perdido bastante força, mas ela parece estar voltando com tudo depois de pessoas relatarem que Alexander usava os escravos como cobaias para seus experimentos.

— Experimentos de que tipo?

— Não sei ao certo, mas ele guardava algo em seus calabouços, e esse algo acabou fugindo. Soube que era uma mulher com sangue especial capaz de aumentar a força de seus homens se ingerissem o sangue dela.

“Heilee…”

— Entendi… mais alguma coisa?

— Sulestino é um dos nobres aliados de Alexander que também ajuda a rainha Ayla. Os negócios dele vão de mal a pior, Alexander não compra mais escravos, então, se estava procurando uma chance para eliminar Alexander, essa é a hora.

— Não temos pessoal o suficiente, além disso-

— Ele morre de medo de você, devia aproveitar essa chance. Com a ligação que ele tem com o abismo, nunca se sabe quando ele irá se reestabelecer.

Com um suspiro, ele coçou a nuca. — Certo, vou pensar sobre…

— Muito bem, eu tenho que ir, foi bom ver você, antes de ir, pode me mostrar?

Ele ergueu uma das sobrancelhas.

— Mostrar o quê?

— Sua marca. — Nebora mostrou a aranha tatuada nas costas da mão esquerda. — Também é um seguidor dela, né?

“Jane?”

— Ah, sim, aqui está — Os olhos dela brilharam.

— Eu sabia! A gente poderia ficar aqui conversando por horas, mas realmente tenho que ir. A gente se vê, tchau!

Sacudindo a mão em despedida, ela caminhou até a penumbra, desaparecendo.  Ele ficou ali sentado, relendo a carta com todas as informações que Nebora passou.

Aquela rápida reunião havia acendido nele algo que estava adormecido há dias, sua vontade de lutar. Se ele cogitasse a partida, Ayla e Brighid poderiam ficar irritadas, mas ele não poderia desperdiçar essa oportunidade.

— Jane, ouviu a garota?

Uma aranha minúscula saiu do ouvido dele e cresceu de tamanho, descendo pela mão e saltando para o chão. Aos poucos, a aranha tomou forma, até se tornar Jane.

— Ela é uma seguidora fiel, faz oferendas em meu nome toda semana. Devia aproveitar, meus seguidores são bem livres. — Seu sorriso sedutor se alargou. — Por que não disse que sirvo a você? Ela lamberia os seus pés.

— Onde você está agora?

— Na minha sala. — Ela se aproximou, apoiando as mãos no ombro dele. — Queria ver meu corpo verdadeiro, Colinzinho? Vem para a sala que sua cadelinha de cabelo branco fez para mim, eu tô sempre sozinha, sua companhia matará o tédio.

— Vou até Noron enfrentar Alexander, pode tomar conta das coisas até eu voltar?

— … Sabe que terei que me transformar em você e criar um boneco para se passar por mim, né? Isso drenará a minha mana.

— Ótimo, volto em três dias no máximo.

Ela fez beicinho. — Não tem mesmo pena de mim, né?

— Você é uma entidade mais antiga que a queda do véu, você consegue. Não esqueça de cuidar das crianças, e sempre que Brighid volta, ela fica horas falando sobre sua enciclopédia, finja algum interesse. Ayla deve te chamar algumas vezes, ela está arriscando algo sobre tricô, ficará imaginando as crianças nas roupinhas que ela fez e pedirá sua opinião no quarto das crianças. Não importa o que você diga, ela fará do jeito dela.

— E-espera aí, você já vai?

— Não ouviu, Nebora? Não posso perder tempo.

Suspirando, ela coçou a nuca. — Três dias, esse é o limite da minha técnica, seja rápido.

— Obrigado.

— Tsc… o que não faço por você.


A sala escura estava impregnada por uma luminosidade sobrenatural emanada por orbes de luz esverdeados, que flutuavam no ar como olhos de entidades ancestrais.

Na mesa, Alexander estava sentado. A luz esverdeada jogava reflexos fantasmagóricos em seu rosto, destacando as linhas marcadas do tempo e a intensidade de seus olhos.

Diante dele, um espelho flutuante pairava. Nele, reflexos de outros tempos e lugares pareciam se entrelaçar.

— É impossível — disse Alexander. — Thaz’geth ainda não se recuperou, e esse corpo que possuo já alcançou o seu limite. — Ele suspirou, relaxando na cadeira. — O sangue que tentamos recriar do experimento 33 se mostrou ineficaz. Só o sangue original tem um efeito totalmente satisfatório.

— Devia recuperá-lo — disse Sour’uth do espelho. — Se a tivéssemos, nossa ida completa ao plano da raiz poderia acontecer antes da próxima lua cheia.

— Isso é impossível. O marido da Kag’thuzir fez dela um de seus contratos.

— Essa traidora continua cuspindo no rosto de quem a estendeu a mão, não vejo a hora de colocar minhas mãos nela e em todos os seus filhotes.

Alexander ajeitou-se na cadeira e coçou a cabeça irritado.

— Ela continua nos atrasando. A outra rainha consorte do rei de Runyra criou uma ordem que está caçando cultistas. Eles já eliminaram centenas dos nossos. Estamos sendo colocados contra a parede.

— Isso não adiantará nada — disse Sour’uth, irritada. — Kag’thuzir está apenas ganhando tempo.

— Isso é ainda pior. Kag’thuzir é poderosa, se ela recuperar todo seu poder, precisarei do meu corpo original, e mesmo assim não sei se consigo vencê-la. Em um milênio, ela superou cada um dos apóstolos, só não superou Og’tharoz por causa de sua força, mas esse garoto com quem ela se casou continua ficando mais forte.

— … Acha que esse sempre foi o plano dela? Conseguir aliados poderosos para nos destruir? 

Alexander suspirou. — Sinceramente, acredito que não. Ela sempre foi um ser puro. Kag’thuzir deve realmente amar esse homem, e agora que tem filhotes, fará de tudo para protegê-los. É por isso que não sei se consigo vencê-la, ela lutará com tudo.

— … E Thaz’geth? Ela não havia recuperado mais da metade de seu poder?

— Recuperou, mas ainda precisa de tempo até que consiga trazer todo seu exército para esse plano. Quando atacarmos, não podemos parar. Kag’thuzir e aqueles que a rodeiam precisam morrer em nosso primeiro encontro, ou há uma enorme chance de eles voltarem mais poderosos.

— Então, o seu alvo principal é…

— Kag’thuzir. Se ela morrer, nós vencemos e Lorde Drez’gan virá a este plano para devorá-lo… acredito que será melhor eu me retirar e ficar junto a Thaz’geth para me fortalecer.

— E todo avanço que você fez?

— Não sou páreo para Runyra nesse estado. Detesto admitir, mas o marido de Kag’thuzir conseguiria me vencer…

— … Certo… caso se retirar do jogo seja a melhor escolha, saiba que eu o apoio.

— Obrigado, agora tenho que ir…

Picture of Olá, eu sou Stuart Graciano!

Olá, eu sou Stuart Graciano!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥